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Centro de Inteligência da Marinha

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Centro de Inteligência da Marinha (CIM)
Brasão
Brasão
Resumo da agência
Formação 20 de novembro de 1947[1]
Sede Brasília[2]
Agência mãe Comando da Marinha

O Centro de Inteligência da Marinha (CIM), antigo Centro de Informações da Marinha (Cenimar), é um órgão de assessoramento do Comando da Marinha do Brasil e órgão central de seu Sistema de Inteligência (SIMAR). Suas responsabilidades são a supervisão técnica da atividade de inteligência na Marinha,[3] o monitoramento do pessoal, a contrainteligência e o lobby da Marinha nas Comissões de Orçamento do Legislativo.[4]

Mais antigo serviço de inteligência nas Forças Armadas, surgiu como o Serviço Secreto da Marinha (SSM) em 1947, depois reorganizado como o Serviço de Informações da Marinha (SIM), em 1955, e Centro de Informações da Marinha (Cenimar), em 1957. O Cenimar era inicialmente subordinado ao Estado-Maior da Armada[1] e organizado com um diretor (capitão de mar e guerra), um vice-diretor e divisões de Busca, Registro e Seleção e Serviços Gerais.[5] Nos primeiros anos, seus interesses eram exclusivos à Marinha, como a diplomacia, as fronteiras marítimas e a própria corporação.[6]

Após a Revolta dos Sargentos de 1963, o Cenimar monitorou de perto a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, a entidade que protagonizou a Revolta dos Marinheiros de 1964. Imediatamente após o golpe de Estado de 1964, oficiais do Cenimar perseguiram e prenderam marinheiros ligados à Associação.[7] Em 18 de setembro de 1964 o jornalista Márcio Moreira Alves denunciou no Correio da Manhã que o Cenimar era um dos centros de tortura na Guanabara, publicando cartas de presos alegando terem sofrido torturas de oficiais da Marinha nas dependências do Centro. Naquele momento o general Ernesto Geisel presidia uma investigação sobre tortura em unidades militares, ordenada pelo presidente Castelo Branco com base nas denúncias do Correio.[8] Em resposta, a Marinha negou a existência de tortura no Cenimar e pediu ao Ministro da Justiça Milton Campos que processasse o Correio.[9]

Nos primeiros anos da ditadura militar subsequente, a organização permaneceu focada em assuntos internos, transferindo suas atenções à chamada subversão devido ao crescimento da luta armada de esquerda no final dos anos 60.[5] Em 1971 o órgão foi reorganizado, passando à subordinação do Ministério da Marinha,[1] para o qual, além de coletar informações, poderia realizar operações especiais.[10] O diretor passou a ser um oficial-general, e funcionários civis foram admitidos ao quadro de pessoal. A produção de informações foi centralizada no órgão, em detrimento das 2.ª Seções, que informavam o Estado-Maior da Armada.[5] O maior crescimento do órgão foi no governo Médici (1969–1974).[6]

Trecho de informe do Cenimar sobre movimentos subversivos em São Paulo, 1967

O Cenimar, seus congêneres nas outras Forças, o Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) e Centro de Informações do Exército (CIE), e o Serviço Nacional de Informações (SNI) formavam a “comunidade de informações” da ditadura.[11] Os serviços de inteligência das três Forças não só coletavam informações sobre os opositores da ditadura, como também os reprimiam fisicamente.[6] A Comissão Nacional da Verdade aponta oficiais do Cenimar como responsáveis por casos de tortura em bases da Marinha, como a ilha das Flores, por onde passaram 200 presos políticos entre 1969 e 1971.[5]

Militares das demais Forças tinham rivalidade e inveja com o Cenimar, considerado o órgão de informação militar mais eficiente. Isto provavelmente se deve à sua antiguidade, pois ele já tinha uma estrutura montada, com uma rede de informações e quadro profissional formado, antes de entrar na repressão política.[1] Seus agentes infiltrados permitiam-no conhecer a organização, estrutura e doutrina das principais organizações de esquerda.[5] Seu acervo de informações sobre o Partido Comunista era imenso. O Cenimar era também o serviço mais fechado, e revelava pouquíssimo sobre sua estrutura e pessoal.[6]

Em 1991 o órgão passou à sua denominação e sigla atuais.[3]

Referências

  1. a b c d Quadrat, Samantha Viz (1998). «O sistema de informações e a ditadura militar no Brasil». ANPUH-Rio. VIII Encontro Regional de História 
  2. «Centro de Informações da Marinha». Marinha do Brasil. Consultado em 29 de agosto de 2023 
  3. a b Soares, Jorge Luiz Ferrari de Lima (2021). Possíveis contribuições da inteligência marítima em proveito da atividade de inteligência desenvolvida no estado do Rio Grande do Sul (PDF) (Artigo científico) . p. 8-10.
  4. Cruz, Eduardo Lucas de Vasconcelos (2009). Desafios dos Serviços de Inteligência das Forças Armadas: a projeção de cenários como subsídio à capacidade de pronta-resposta e à estimativa dos prazos críticos de mobilização (PDF) (Trabalho) . p. 7.
  5. a b c d e Comissão Nacional da Verdade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade (volume I) (PDF). Brasília: CNV . p. 158-159.
  6. a b c d Santos, Valdir Erick dos (2022). A luta anticomunista a partir dos órgãos de informação da ditadura brasileira (1969-1979) (PDF) (Dissertação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul . p. 81-82, 84.
  7. Rodrigues, Flávio Luís (2017). Marinheiros contra a ditadura brasileira: AMFNB, prisão, guerrilha-nacionalismo e revolução? (PDF) (Tese). Universidade de São Paulo .p. 74, 107.
  8. Márcio Moreira Alves (18 de setembro de 1964). «GB: Presos confirmam torturas». Correio da Manhã, ano LXIV, edição 21920, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de setembro de 2023 
  9. GASPARI, Elio (2002). A Ditadura Envergonhada. [S.l.]: Cia da Letras. p. 148. ISBN 978-85-359-0277-8 
  10. Fico, Carlos (2001). Como eles agiam. Os subterrâneos da Ditadura Militar: espionagem e polícia política. Rio de Janeiro: Record . p. 91.
  11. Gomes, Bianca Maselli (2011). O serviço nacional de informações: as visões dos militares (PDF) (Monografia). Universidade de Brasília . p. 28.