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Vologases IV

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(Redirecionado de Vologases IV da Pártia)
 Nota: Para outros significados, veja Vologases.
Vologases IV
Xainxá
Vologases IV
Tetradracma de Vologases III cunhado em Selêucia do Tigre em 153
Xá do Império Arsácida
Reinado 147–191
Antecessor(a) Vologases III
Sucessor(a) Osroes II (rival)
Vologases V (sucessor)
 
Morte 191
Dinastia arsácida
Pai Mitrídates V
Religião Zoroastrismo

Vologases IV (em parta: 𐭅𐭋𐭂𐭔; romaniz.: Walagaš) foi xainxá do Império Arsácida de 147 a 191. Era filho de Mitrídates V (r. 129–140). Vologases passou os primeiros anos de seu reinado reafirmando o controle parta sobre o Reino de Caracena. De 161 a 166, travou guerra contra o Império Romano; embora inicialmente bem-sucedido, conquistando a Armênia e a Síria, acabou sendo repelido, perdendo brevemente o controle das capitais partas de Selêucia do Tigre e Ctesifonte para os romanos. Os romanos sofreram pesadas perdas com uma praga que irrompeu de Selêucia em 166, forçando-os a se retirar. A guerra terminou logo depois, com Vologases perdendo a maior parte do norte da Mesopotâmia para os romanos. Morreu em 191 e foi sucedido por seu filho Vologases V.

Nome[editar | editar código-fonte]

Vologases é a forma grega e latina do parta Walagaš (𐭅𐭋𐭂𐭔). O nome também é atestado no persa novo como Balāš e no persa médio como Wardāḫš (também escrito Walāḫš). A etimologia do nome não é clara, embora Ferdinand Justi proponha que Walagaš, a primeira forma do nome, seja um composto das palavras "força" (varəda) e "bonito" (gaš ou geš em persa moderno).[1]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Conquista de Caracena[editar | editar código-fonte]

Vologases IV era filho de Mitrídates V, que havia disputado o trono contra o xainxá Vologases III (r. 110–147) de 129 a 140.[2][3] Vologases IV encenou um golpe de estado e sucedeu Vologases III em 147, marcando o estabelecimento de um novo ramo da dinastia arsácida no trono parta.[4] Em 150/1, derrotou o governante arsácida de Caracena (também conhecido como Mesena), Meredates, e nomeou Orabazes II, provavelmente um parente seu, como o novo xá.[5] As forças de Vologases IV apreenderam uma estátua de Héracles, o deus patrono da realeza caracena. A estátua foi levada ao templo de Apolo em Selêucia do Tigre, onde foi exibida como demonstração da vitória de Vologases IV.[4] Uma inscrição bilíngue (grega e parta) foi esculpida na estátua, que relata a conquista de Caracena por Vologases IV:[6]

No ano dos gregos 462 (151), o xainxá Ársaces Vologases, filho do rei Mitridates, liderou uma expedição militar a Mesena contra o rei Mitridates, filho do governante anterior Pácoro, e depois que o rei Mitridates foi expulso de Mesena, tornou-se o governante de toda Mesena e desta estátua de bronze do deus Héracles, que transportou de Mesena, colocada neste Santuário do deus Apolo que guarda a Porta de Bronze.[6]

Guerra com o Império Romano[editar | editar código-fonte]

Áureo de Marco Aurélio celebrando a vitória contra os partas

Quando Marco Aurélio se tornou o novo imperador romano em 161, Vologases IV inesperadamente declarou guerra contra os romanos, marcando a única vez num conflito romano-parta em que os partas declararam guerra.[1] Vologases IV invadiu a Armênia e substituiu seu cliente romano, o rei Soemo, por seu próprio filho Aurélio Pácoro. Ao mesmo tempo, uma invasão parta inesperada da Síria levou à derrota dos soldados romanos designados para lá. Confiante, Vologases IV recusou uma oferta de paz dos romanos em 162. Embora a Guerra romano-parta de 161-166 tenha começado auspiciosamente para os partas, depois que os romanos se recuperaram do primeiro choque e contratempos, contra-atacaram, restaurando Soemo ao trono armênio em 163.[7][8] Na mesma época, os partas capturaram Edessa e instalaram Uael como rei fantoche.[9][10] Manu VIII, o rei legítimo, foi forçado a fugir ao Império Romano.[11] As forças partas foram expulsas da Síria, em 164, e também perderam Dura-Europos, o que levou muitos governantes vassalos partas a desertar Vologases IV.[7] Os romanos sitiaram Edessa em 165; durante o cerco, os cidadãos da cidade massacraram a guarnição parta e abriram seus portões aos romanos. Os romanos entraram na cidade e restauraram Manu VIII como governante de Edessa/Osroena; ele também recebeu o epíteto Filorromeu ("Amigo dos Romanos").[9][10][12] As capitais partas de Selêucia do Tigre e Ctesifonte foram capturadas pelo general romano Avídio Cássio em 165 ou 166. Provavelmente na mesma época, legiões romanas invadiram a Atropatena e Adiabena. No entanto, os romanos sofreram pesadas perdas com uma praga que irrompeu de Selêucia em 166, forçando-os a se retirar. A guerra terminou logo depois, com Vologases IV perdendo a maior parte do norte da Mesopotâmia para os romanos.[7]

Anos finais[editar | editar código-fonte]

As crônicas não relatam distúrbios ou rebeliões após a derrota parta, à qual o historiador moderno Michael Sommer se refere como um "revés militar desastroso". Isso provavelmente indica que Vologases IV conseguiu manter a estabilidade política.[13] A perda parta da maior parte do norte da Mesopotâmia significou que a cidade de Hatra agora se tornou sua nova fronteira no oeste.[14] Hatra era governada por vassalos partas que detinham o título de malca (senhor).[15] No entanto, devido à sua agora maior importância estratégica, Vologases IV elevou a titulação da família governante atrena à de rei, e também permitiu-lhes certas cerimônias e juramentos rituais tradicionais.[13][16] Após a morte de Soemo em 180, o filho de Vologases IV conseguiu ganhar o trono armênio como Vologases II (r. 180–191).[8][17] O fim do reinado de Vologases IV foi marcado pela revolta de Osroes II em 190, que cunhou moedas de si em Ecbátana, na Média.[18] No entanto, o filho de Vologases IV, Vologases II, o sucedeu e parece ter rapidamente derrubado Osroes II, ascendendo ao trono como Vologases V.[17][19]

Moeda de Uael, com o anverso retratando Vologases IV

Cunhagem[editar | editar código-fonte]

No anverso de seus tetradracmas, Vologases IV é retratado com uma tiara abobadada com um chifre na lateral e usa uma aba de pescoço cobrindo ambas as orelhas. Por vezes, aparece no anverso com uma tiara sem o chifre.[20] Vologases IV é o primeiro monarca parta a usar apenas uma tiara em suas moedas.[21] Em alguns dos reversos das moedas de bronze de Vologases IV, uma águia é retratada, que é associada ao khvarenah, ou seja, glória real.[22] No anverso das moedas do breve governante de Edessa/Osroena, Uael, um retrato de Vologases IV é exibido.[20]

Referências

  1. a b Chaumont 1988, p. 574–580.
  2. Dąbrowa 2012, p. 391–392.
  3. Kia 2016, p. 203.
  4. a b Gregoratti 2013a, p. 281.
  5. Gregoratti 2017, p. 133.
  6. a b Gregoratti 2013a, p. 281–282.
  7. a b c Dąbrowa 2010, p. 37.
  8. a b Russell 1987, p. 161.
  9. a b Drijvers 1980, p. 13.
  10. a b Segal 1982, p. 210–213.
  11. Sartre 2005, p. 146.
  12. Bivar 1983, p. 66.
  13. a b Sommer 2013, p. 43.
  14. Gregoratti 2013b, p. 53.
  15. de Jong 2013, p. 149.
  16. Gregoratti 2013b, p. 53–54.
  17. a b Toumanoff 1986, p. 543–546.
  18. Sellwood 1983, p. 297, 321.
  19. Sellwood 1983, p. 297.
  20. a b Olbrycht 1997, p. 34.
  21. Olbrycht 1997, p. 50.
  22. Curtis 2012, p. 76.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bivar, A. D. H. (1983). «The Political History of Iran under the Arsacids». In: Yarshater, Ehsan. The Cambridge History of Iran, Volume 3 (1): The Seleucid, Parthian and Sasanian Periods. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. pp. 21–99. ISBN 0-521-20092-X 
  • Chaumont, M. L.; Schippmann, K. (1988). «Balāš VI». Enciclopédia Irânica, Vol. III, Fasc. 6. Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Colúmbia. pp. 574–580 
  • Curtis, Vesta Sarkhosh (2012). «Parthian coins: Kingship and Divine Glory». The Parthian Empire and its Religions. Gotemburgo: Computus Druck Satz. pp. 67–83. ISBN 9783940598134 
  • Dąbrowa, Edward (2010). «The Arsacids and their State». In: Rollinger, Robert; Schnegg, Kordula; Schwinghammer, Gundula; Truschnegg, Birgitte. Altertum und Gegenwart: 125 Jahre Alte Geschichte in Innsbruck. Vorträge der Ringvorlesung Innsbruck 2010. Insbruque: Universidade de Insbruque 
  • de Jong, Albert (2013). «Hatra and the Parthian Commonwealth». In: Dirven, Lucinda. Hatra: Politics, Culture and Religion Between Parthia and Rome. Estugarda: Franz Steiner. ISBN 978-3515104128 
  • Drijvers, H. J. W. (1980). Cults and Beliefs at Edessa. Leida: Brill. ISBN 978-9004060500 
  • Dąbrowa, Edward (2012). «The Arsacid Empire». In: Daryaee, Touraj. The Oxford Handbook of Iranian History. Oxônia: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-987575-7 
  • Gregoratti, Leonardo (2013a). «Epigraphy of Later Parthia». Voprosy Epigrafiki: Sbornik statei. 7: 276–284 
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  • Gregoratti, Leonardo (2017). «The Arsacid Empire». In: Daryaee, Touraj. King of the Seven Climes: A History of the Ancient Iranian World (3000 BCE - 651 CE). Irvine, Califórnia: Centro da Jordânia para Estudos e Cultura Persa. ISBN 9780692864401 
  • Kia, Mehrdad (2016). The Persian Empire: A Historical Encyclopedia [2 volumes]. Santa Bárbara: ABC-CLIO. ISBN 978-1610693912 
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  • Sartre, Maurice (2005). Porter, Catherine; Rawlings, Elizabeth, ed. The Middle East Under Rome. Cambridge: Harvard University Press. ISBN 978-0674016835 
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  • Sellwood, David (1983). «Parthian Coins». In: Yarshater, Ehsan. The Cambridge History of Iran Volume 3(I) - The Seleucid, Parthian and Sasanian Periods. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Sommer, Michael (2013). «In the twilight. Hatra between Rome and Iran». In: Dirven, Lucinda. Hatra: Politics, Culture and Religion Between Parthia and Rome. Estugarda: Franz Steiner. ISBN 978-3515104128 
  • Toumanoff, Cyril (1986). «Arsacids vii. The Arsacid dynasty of Armenia». In: Yarshater, Ehsan. Encyclopædia Iranica, Volume II/5: Armenia and Iran IV–Art in Iran I. Londres e Nova Iorque: Routledge & Kegan Paul. pp. 543–546. ISBN 978-0-71009-105-5