Ângelo Francisco Carneiro

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Ângelo Francisco Carneiro
Nascimento 1795
Cidadania Brasil
Ocupação diplomata, empresário
Prêmios
  • Comendador da Ordem Militar de Cristo

Ângelo Francisco Carneiro ComC (25 de Julho de 1791 / 25 de Maio de 1791/1795 - 31 de Agosto de 1858), 1.° Visconde de Loures, foi um negociante de escravos, empresário comercial, diplomata e filantropo português.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em Portugal, filho de André João Carneiro e de sua mulher Gertrudes Rosa, Ângelo Francisco Carneiro, como Negociante estabelecido no Recife,[1] iniciou os seus investimentos em Pernambuco, a terceira maior praça do tráfico atlântico de escravos, no então Reino do Brasil, por volta de 1818.[3]

Entre 1824 e 1830, período em que o comércio atingiu altos índices na África Centro-Ocidental, estabeleceu-se nessa região para organizar o embarque de cativos. Em Luanda, seria nomeado Capitão de Milícias do Bailundo, e manteria uma empresa articulada com os cunhados, em Pernambuco, e com Joaquim Ferreira dos Santos, futuro 1.° Barão de Ferreira, 1.° Visconde de Ferreira e 1.° Conde de Ferreira, no Rio de Janeiro.[3]

Em Abril de 1830, retornaria ao Recife, onde formaria uma Sociedade com outros traficantes para continuar o comércio de escravos na ilegalidade. A empresa tinha uma Feitoria bem articulada no Benim, correspondentes na Europa e nas outras Províncias do Brasil. Integravam a sua rede negreira tanto grandes comerciantes como José Bernardino de Sá, Arsênio de Carpo e Ana Obertally, como pequenos investidores, como o Africano liberto e, depois, Alufá, Rufino José Maria.[3]

Em 1842, o Cônsul Britânico em Pernambuco informava o famoso Lord Palmerston do caso dum traficante da Província, que se organizava para desafiar a Grã-Bretanha e Irlanda, por ter tido um de seus navios negreiros apreendido. Na carta, ele dizia que Ângelo Francisco Carneiro, o tal contrabandista, "era o mais bem sucedido e notório traficante de escravos do Norte do Brasil".[3]

O carácter dos seus negócios era do domínio público, e foi alvo de comentários de estrangeiros, como o Agente Britânico e o famoso Engenheiro Francês Louis Léger Vauthier. Grande negreiro, reconhecido pelos seus contemporâneos, Ângelo Francisco Carneiro, contudo, era mestre em esconder as suas actividades, mesmo durante o período legal do comércio, algo que o torna de difícil apreensão para o trabalho historiográfico, sendo, todavia, possível seguir as suas pistas por variadas fontes como jornais, processos de navios negreiros e as correspondências das autoridades Britânicas.[3]

Dono duma das maiores fortunas de Pernambuco, Ângelo Francisco Carneiro foi Gerente do Consulado dos Estados Pontifícios, e financiou os projetos de urbanização do Recife, na década de 1840. Foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo.[1][3]

Depois de 1850, com a intensificação da repressão, foi um dos muitos contrabandistas que retornaram a Portugal. Aí, ele compraria o título de Visconde de Loures e, mesmo nobre, pode não ter deixado o tráfico. Ainda está em investigação a sua participação na Associação Portuguesa que armava navios em Luanda para desembarcar escravos no Brasil.[3] Posteriormente, é referido como antigo negociante em Pernambuco, Brasil.[2]

Homem caridoso, sua memória permaneceria nos jornais Pernambucanos até 1880, com o Hospital Português anunciando, frequentemente, as Missas que rezavam pelo descanso da alma de seu grande benfeitor.[3]

Por outro lado, em Portugal, o Palacete do Visconde de Loures ou Palácio Loures, na Rua Ivens, em Santa Maria Maior, Lisboa, é, actualmente, a sede do elegante Grémio Literário de Lisboa.[3][4]

O título de 1.° Visconde de Loures foi-lhe concedido por Decreto de D. Maria II de Portugal de 13 de Maio de 1851.[1][2] Brasão de Armas: esquartelado, o 1.° e o 4.° Carneiro, o 2.° da Silva e o 3.° da Costa; timbre: Carneiro; Coroa: de Visconde; Armas esculpidas no seu Palacete do Visconde de Loures ou Palácio Loures e no Jazigo de Família, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.[5]

Casamento[editar | editar código-fonte]

Casou a 7 de Junho de 1833 com Maria Mirza Gerodê (12 de Novembro de 1812 - ?), filha de Pedro Paulo Gerodê, de ascendência Francesa, e de sua mulher Maria Madalena.[1][2]

Descendência[editar | editar código-fonte]

Foi seu filho primogénito e homónimo Ângelo Francisco Carneiro (Paris, 27 de Dezembro de 1837 - 10 de Novembro de 1870), 2.° Visconde de Loures, Doutor em Filosofia pela Universidade de Iena em Saxe-Weimar-Eisenach, que foi Moço Fidalgo da Casa Real com exercício no Paço, Guarda-Roupa Honorário da Casa Real de Sua Majestade e Comendador da Ordem Militar de Cristo,[1] que casou a 27 de Fevereiro de 1861 com Josefina Clarisse Duprat de Oliveira (Lisboa, Mártires, 21/24 de Novembro de 1840 - Lisboa, Pena, 20 de Maio de 1910), filha de António Joaquim de Oliveira, Negociante em Lisboa, Vogal do Conselho Geral do Comércio, Cônsul do Chile e do Equador e Vice-Cônsul de Oldemburgo em Lisboa, e de sua mulher Josefina Clarisse Duprat (Lisboa, Pena, Igreja de São Luís dos Franceses, 28 de Outubro de 1807 - ?), de ascendência Francesa, irmã do 1.° Visconde de Duprat, sem geração. A sua mulher, ficando no estado de viúva, passou a contrair segundas núpcias a 18 de Novembro de 1871 com o 2.° Visconde de Valmor, Fausto de Queirós Guedes, do qual foi segunda mulher, sem geração.[6] O título de 2.° Visconde de Loures foi-lhe renovado em segunda vida por Decreto de D. Pedro V de Portugal de 28 de Julho de 1859.[2][5] Foram suas filhas mais novas Genoveva Rosa Carneiro, falecida jovem a 30 de Agosto de 1856, e Maria Adriana Carneiro, falecida jovem a 17 de Julho de 1859.[2]

Referências

  1. a b c d e f Direcção de Afonso Eduardo Martins Zúquete (1989). Nobreza de Portugal e do Brasil 2.ª ed. Lisboa: Editorial Enciclopédia. pp. Volume Segundo. 699 
  2. a b c d e f Albano Antero da Silveira Pinto e Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Portugal Silva e Sousa, 1.º Visconde de Sanches de Baena (1991). Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal 2.ª ed. Braga: Fernando Santos e Rodrigo Faria de Castro. pp. Tomo II. 97 
  3. a b c d e f g h i Aline Emanuelle De Biase Albuquerque (20 de Abril de 2015). «De traficante de escravos a visconde de Loures: a trajetória atlântica de Angelo Francisco Carneiro.». Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, 7º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Consultado em 12 de Fevereiro de 2016 
  4. «Palácio Loures / Grémio Literário». Monumentos.pt. Consultado em 12 de Novembro de 2016 
  5. a b Direcção de Afonso Eduardo Martins Zúquete (1989). Nobreza de Portugal e do Brasil 2.ª ed. Lisboa: Editorial Enciclopédia. pp. Volume Segundo. 700 
  6. Antero Albano da Silveira Pinto e Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha de Almeida Portugal Silva e Sousa, 1.º Visconde de Sanches de Baena (1991). Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal 2.ª ed. Braga: Fernando Santos e Rodrigo Faria de Castro. pp. Tomo II. 96-7