Saltar para o conteúdo

Édouard Louis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Édouard Louis
Nascimento
30 de outubro de 1992 (33 anos)

Nacionalidadefrancesa
OcupaçãoEscritor

Édouard Louis (de seu nome original Eddy Bellegueule;[1] 30 de outubro de 1992),[2] é um escritor e tradutor francês.

Biografia

[editar | editar código]

Édouard Louis (de seu nome original Eddy Bellegueule) nasceu em Hallencourt, localidade da Picardia, Norte de França, em 30 de Outubro de 1992.[3] Louis cresceu numa família pobre, apoiada por subsídios sociais do governo: o seu pai foi trabalhador de fábrica durante uma década até que um dia no trabalho, um contentor de armazém lhe caiu em cima e lhe esmagou as costas, deixando-o acamado e incapaz de trabalhar.[4] Eddy fugiu de casa aos 16 anos, rompeu com seu passado e mudou de nome.[5] Fez isso quando, em 2011, ganhou uma bolsa de estudos em Amiens. De lá, ingressou na Universidade da Picardia Jules Verne e, em seguida, na prestigiosa École Normale Supérieure, em Paris. Na sua família, Édouard Louis foi o primeiro a frequentar a universidade.

No seu primeiro romance, O fim de Eddy, descreve a sua infância e adolescência como filho de uma família operária pobre e num meio onde o racismo, a homofobia e o alcoolismo eram uma constante e violenta presença. O romance narra a infância e adolescência de Eddy Bellegueule numa aldeia da Picardia, a rejeição que sofre de pessoas da aldeia e da sua própria família por causa de seus modos efeminados, e a violência e humilhações que suporta num ambiente que detesta homossexuais.

As experiências do narrador retratam um mundo onde a pobreza e o álcool acompanham a reprodução social, que leva as mulheres a se tornar caixas depois de abandonar seus estudos e homens a passar da escola directamente para a fábrica. Eddy Bellegueule finalmente percebe sua atração sexual por homens, e sua aversão para as relações heterossexuais, mas tenta retornar à norma. Antes da conclusão de seu fracasso, ele decidiu fugir e acaba deixando o caminho que lhe foi traçado para se juntar a uma escola de Amiens, onde descobriu uma outra classe cujos códigos de conduta são diferentes.[6][7] No livro seguinte, História da Violência, o escritor ficcionaliza um estupro que sofreu em Paris, quando finalmente sua vida parecia apontar para um caminho melhor.[8]

O seu livro, publicado em Portugal com o título Acabar com Eddy Bellegueule, mereceu elogiosas referências da crítica devido ao seu mérito literário, e provocou controvérsia pela forma como descreve a sua família e classe social.

Em 2013, dirigiu a obra colectiva dedicada a Pierre Bourdieu, Pierre Bourdieu, l’insoumission en héritage.

Em 2024 veio ao Brasil participar da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty)[9] e foi entrevistado pelo programa Roda Viva da TV Cultura[10].

Obras Publicadas

[editar | editar código]

En finir avec Eddy Bellegueule (2014) apresenta, em chave autobiográfica, a infância e adolescência do autor em Hallencourt, no norte da França, tematizando pobreza, violência e homofobia como dispositivos de reprodução social; a recepção crítica destacou a força política e formal do romance de estreia.[11]

Histoire de la violence (2016) reconstrói a noite em que o narrador é estuprado e quase assassinado, explorando trauma, racismo e o funcionamento da justiça por meio de uma narrativa fragmentada que contrapõe vozes e memórias.[12]

Qui a tué mon père (2018) é uma carta contundente ao pai que transforma a intimidade filial em acusação política, responsabilizando políticas de diferentes governos franceses pela deterioração do corpo e da vida da classe trabalhadora.[13]

Combats et métamorphoses d’une femme (2021) volta-se à trajetória da mãe do autor, retratando opressões de classe e de gênero e a conquista de autonomia na idade adulta; críticos destacaram o tom mais terno sem perder a dimensão estrutural das violências narradas.[14]

Changer: méthode (2021) aprofunda a autoficção como relato de “mudança de pele”, examinando a mobilidade social como ruptura afetiva e corporal; a crítica sublinhou a ambição política do livro e seu ceticismo quanto ao mito da ascensão meritocrática.[15]

Monique s’évade (2024) retoma a figura da mãe para narrar, em registro urgente, a operação de fuga de uma relação abusiva, refletindo sobre o custo da liberdade e as tramas de classe e gênero que aprisionam mulheres em situações de violência.[16]

L’effondrement (2024) investiga a distância entre o autor e o irmão falecido, articulando luto, determinismos sociais e exame de consciência num romance de forte teor introspectivo que revisita os vínculos familiares da sua obra.[17]

  • Au cœur de la violence, Éditions du Seuil, 2019 — Adaptação de seu livro Histoire de la violence.

Ciências Políticas

[editar | editar código]
  • , L'Insoumission en héritage, Paris, PUF, 2013. (com Pierre Bergougnioux, Annie Ernaux, Didier Eribon, Arlette Farge, Geoffroy de Lagasnerie e Frédéric Lebaron)
  • Dialogue sur l'art et la politique, PUF, 2021. (com Ken Loach)

Traduções

[editar | editar código]

Obras traduzidas para o português

[editar | editar código]
  • O fim de Eddy, Tusquets, 2018 (tradução de Francesca Angiolillo)
  • História da violência, Tusquets, 2020.
  • Para Acabar de Vez com Eddy Bellegueule, Elsinore, 2022.
  • Lutas e metamorfoses de uma mulher, Todavia, 2023.
  • Quem matou meu pai, Todavia, 2023
  • Mudar: Método, Todavia, 2024 (tradução de Marília Scalzo)
  • Monique se liberta, Todavia 2024. (tradução de Marília Scalzo)
  • O colapso, Todavia, 2025.[18]

Referências

  1. Curtet-Poulner, Isabelle (15 de fevereiro de 2014). «En finir avec Eddy Bellegueule: chronique de la haine populaire» [En finir avec Eddy Bellegueule: chronicle of the popular hate] (Review) (em francês). Marianne. Consultado em 13 de julho de 2014. Louis signe un premier roman époustouflant, En finir avec Eddy Bellegueule, son patronyme originel. 
  2. Notice autorité BnF
  3. «Bibliothèque nationale de France -Catalogue Général». Bibliothèque nationale de France. 23 de Maio de 2013. Consultado em 17 de Março de 2017 
  4. Frota, Gonçalo (23 de Julho de 2021). «Édouard Louis : "Não há nada mais revolucionário do que a verdade"». Público 
  5. Cañas, Gabriela (28 de junho de 2016). «Édouard Louis, escritor francês: "Eu protegia meus agressores homofóbicos"». El País Brasil. Consultado em 6 de novembro de 2024 
  6. Vavasseur, Pierre (26 de Janeiro de 2014). «Rencontre avec Edouard Louis, l'auteur d'«En finir avec Eddy Bellegueule» -em francês, com vídeo)». Le Parisien. Consultado em 19 de Março de 2017 
  7. Busnel, François (30 de Janeiro de 2014). «En finir avec Eddy Bellegueule: différence exclue». L'Express 
  8. «Conheça Édouard Louis, jovem escritor francês que virou sensação ao expor luta de classes e violência sexual narrando a própria vida». Brasil de Fato. 13 de julho de 2024. Consultado em 6 de novembro de 2024 
  9. «Quem é Édouard Louis, destaque da Flip?». ELLE Brasil. 9 de outubro de 2024. Consultado em 6 de novembro de 2024 
  10. «Roda Viva recebe o escritor Édouard Louis, estrela da Flip 2024, nesta segunda-feira (21)». TV Cultura. Consultado em 6 de novembro de 2024 
  11. Garth Greenwell (1 mai. 2017). «Growing Up Poor and Queer in a French Village». The New Yorker (em inglês). Consultado em 30 ago. 2025  Verifique data em: |data= (ajuda)
  12. Edmund White (20 jun. 2018). «History of Violence by Édouard Louis review – complex, subtle and shocking». The Guardian (em inglês). Consultado em 30 ago. 2025 
  13. Tim Adams (18 fev. 2019). «Who Killed My Father by Édouard Louis review – a short, sharp shock». The Guardian (em inglês). Consultado em 30 ago. 2025 
  14. Anthony Cummins (12 jul. 2022). «A Woman's Battles and Transformations by Édouard Louis – review». The Guardian (em inglês). Consultado em 30 ago. 2025 
  15. Keiran Goddard (8 fev. 2024). «Change by Édouard Louis – review». The Guardian (em inglês). Consultado em 30 ago. 2025 
  16. Raphaëlle Leyris (5 mai. 2024). «« Monique s'évade » : Edouard Louis se met en quatre pour sa mère». Le Monde (em francês). Consultado em 30 ago. 2025  Verifique data em: |data= (ajuda)
  17. Raphaëlle Leyris (4 out. 2024). «« L'Effondrement » : Edouard Louis mesure l'écart entre son frère et lui». Le Monde (em francês). Consultado em 30 ago. 2025 
  18. «Quando chegará ao Brasil o novo livro de Édouard Louis | Metrópoles». www.metropoles.com. 2 de novembro de 2024. Consultado em 6 de novembro de 2024 
Ícone de esboço Este artigo sobre um(a) escritor(a) é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.