Óstia
Óstia Antiga
Ostia Antica | |
|---|---|
| Teatro de Óstia Antiga | |
| Localização atual | |
| Localização de Óstia Antiga na Itália | |
| Coordenadas | 41° 45′ 15″ N, 12° 17′ 15″ L |
| País | Itália |
| Região | Lácio |
| Comuna | Roma |
| Bairro | Óstia |
| Dados históricos | |
| Império | Romano |
| Notas | |
| Acesso público | |

Óstia Antiga (em latim: Ostia Antica) é um grande sítio arqueológico, perto da cidade moderna de Óstia, que é o local da cidade portuária da Roma Antiga, a 25 km a sudoeste de Roma. "Ostia" (plur. De "ostium") é uma derivação de "os", a palavra latina para "boca". Na foz do rio Tibre, Óstia era o porto marítimo de Roma, mas devido ao assoreamento, o local fica agora a 3 quilômetros do mar.[1][2] O local é conhecido pela excelente preservação de seus edifícios antigos, afrescos magníficos e impressionantes mosaicos.
História
[editar | editar código]A data da fundação do assentamento ainda é desconhecida pelos estudos arqueológicos, porém há uma citação sobre a fundação da cidade, escrita por historiadores antigos, dizendo que Óstia foi fundada em 620 a.C., por Anco Márcio, o quarto rei de Roma, para a exploração de sal na foz do rio Tibre. Esta data não foi confirmada através de pesquisas arqueológicos feitos no sítio; os vestígios mais antigos encontrados foram de um castro, datado por volta de 330 a.C.[3][4][5]
Entre os anos 264 e 201 a.C., durante a Guerras Púnicas, Óstia se tornou a principal base da costa oeste para a marinha romana.[6] Em 67 a.C., piratas cilícios saquearam a cidade e incendiaram o porto, destruindo uma frota de navios. Cneu Pompeu, através da lei Lex Gabinia, reuniu tropas e conseguiu derrotar os saqueadores.[3][4]
A cidade passou por ampliações durante o governo de Júlio César, onde a cidade foi fortificada. Durante o governo de Tibério, foi construído um fórum e um novo porto. Óstia se tornara um importante porto para Roma, tendo a função de regular o comércio marítimo, e armazenar e distribuir os bens e mantimentos das províncias para a capital. Atingiu seu auge no século II, possuindo mais de 50.000 habitantes. Calígula foi responsável pela construção do aqueduto e instalação de canos de chumbo para a distribuição de água potável pela cidade. A partir do século III, a cidade passou a receber poucas ampliações; houve uma diminuição no comércio marítimo, com a construção de um novo porto a alguns quilômetros de Óstia a mando de Cláudio, chamado Porto. Óstia tornou-se, popularmente, uma cidade residencial para a elite.[2][3][4]
Com a transferência da capital do império de Roma para Bizâncio, durante o governo de Constantino, Óstia começou a declinar; passou por invasões bárbaras nos anos 408 e 537, que devastou a cidade, ocasionando a queda populacional e econômica; logo depois, a presença dos mouros no mediterrâneo ocidental atrapalhou o comércio marítimo no porto, acelerando o declínio da cidade.[3][4]
Em meados do século IX, muitos monumentos, pedras e mármores de Óstia foram saqueados para construir edifícios em outras cidades como Orvieto e Pisa. Em 1598, o papa Clemente VIII sancionou o direito de extrair mármore das ruínas de Óstia para as obras de Roma, como foi utilizado na base da estátua de São Pedro no topo da Coluna de Trajano e na Basílica de São João de Latrão.[7]
Até o século XVI, devido as batalhas travadas na costa e aos ataques de piratas, sarracenos e outros povos, a cidade recebeu constantes obras de fortificação como a Torre Bovacciana, construída entre 1451 e 1454; a Rocca al Borgo di Ostia, em 1485; e a Torre de S. Michele, em 1569.[7]
As ruínas da cidade passaram por um longo período de esquecimento, até 1783; neste ano, o ministro português De Norogna junto à Santa Sé realizaram escavações no sítio, que levaram à descoberta de vários bustos, estatuetas, colunas e mosaicos. Em 1788, o pintor escocês Gavin Hamilton conduziu escavações na área das Termas de Porta Marina, encontrando obras de arte que foram vendidas para fazer parte de coleções inglesas, francesas, russas e do Vaticano. Muitas outras escavações ocorreram no sítio, todas com intuito de vender os artefatos encontrados. O papa Pio VII proibiu esse tipo de escavação nas ruínas de Óstia, e entre 1802 e 1804, estabeleceu escavações sob a supervisão do Diretor Geral de Antiguidades para as coleções dos museus papais. Somente as escavações ocorridas entre 1855 e 1866, a pedido do papa de Pio IX, manteve os artefatos encontrados no Museu de Escavações de Visconti, e teve relatórios publicados dos artefatos e da topografia do sítio.[7]
Com o novo governo italiano estabelecido, em 1909 uma nova estratégia de escavações do sítio foram traçadas, com maior empenho entre os anos 1939 e 1942. Até o momento, cerca de dois terços do sítio foi explorado. Em 23 de janeiro de 2016, através do Decreto Ministerial nº 44, Óstia Antiga se tornou um Parque Arqueológico com autonomia especial.[2][4][5][7]
Construções
[editar | editar código]Fortificação
[editar | editar código]A cidadela possui um formato retangular, medindo aproximadamente 193 metros x 120 metros, semelhante a um castro, fortemente muralhada, com técnicas de construção pós-gaulesas de Roma. Duas estradas cortam a cidadela: o cardo máximo, no eixo norte-sul, e o decúmano máximo, no eixo leste-oeste. A muralha, provavelmente construída no início do século III a.C., possui três portões com torres retangulares: a Porta Romana, que está no lado leste; a Porta Marina, no lado oeste; e a Porta Laurentina, ao sul. Próximo a Porta Romana, encontra-se as ruínas de uma torre feita de blocos retangulares de tufos, que servia para a defesa do Rio Tibre.[4][5][8]
Edificações
[editar | editar código]Dentro das muralhas, foram encontradas ruínas bem preservadas de ruas, casas, lojas, armazéns, termas públicas, templos, teatro, fórum, e outros monumentos. As edificações privadas e comerciais foram construídas com tijolos em cores diversas, sem gesso, e receberam decorações como pinturas elaboradas e pisos com mosaicos; alguns prédios foram construídos com até 5 pavimentos. As edificações públicas, em sua maioria, foram construídos ou revestidos em mármore.[2][4]
Fórum
[editar | editar código]Construído no cruzamento das duas principais vias, o cardo máximo e a decúmano máximo. Foram descobertos, durante as escavações, edificações religiosas ao redor do Fórum. Ao norte, foram escavados dois templos; acredita-se que o templo maior era dedicado a Júpiter; durante o reinado de Adriano, foi construído um grande Capitólio sobre esses dois templos. Ao sul, foi escavado um templo dedicado a Roma e Augusto, construído entre o final do século I e início do II; e também algumas lojas, à direita do templo. A oeste, escavaram uma basílica e uma cúria. O Fórum foi ladeado por um pavimento elevado com piso de mármore acessado por degraus e pórticos com colunas de granito.[8]
Teatro
[editar | editar código]Inicialmente, foi construído no final do século I a.C., a mando de Agripa. Foi totalmente reconstruído a mando de Cómodo, e reinaugurado em 196 d.C. por Sétimo Severo. A fachada principal era revestida em mármore e possuía vinte e um pórticos em arco de dois níveis, com a entrada principal voltada para a decúmano máximo, ladeada por lojas com murais pintados, e em seu corredor principal possuía um estuque de Hércules coroado pela deusa Vitória. A orquestra possuía formato semicircular com piso de mármore e o auditório (cávea) tinha a capacidade para quatro mil espectadores, dividido em três níveis. O nível inferior da cávea era acessado por um corredor central e duas entradas nas laterais, o segundo e terceiro nível eram acessados por escadas entre as lojas.[5][9]
Termas dos cocheiros
[editar | editar código]Inicialmente, foram construídas durante o governo de Adriano, e passaram por diversas alterações durante a segunda metade do século III. Recebeu esse nome devido a um grande mosaico no piso em uma das salas desta edificação, representando carruagens puxadas por cocheiros. Encontram-se mosaicos decorativos em diversas salas, com motivos variados, desde desenhos geométricos a atletas e motivos marinhos. O edifício possui dois bares com vestígios de um balcão; e em um dos bares há um jarro de armazenamento enterrado (dolium defossum).[10]
Escola de Trajano
[editar | editar código]O edifício recebeu este nome devido a uma grande estátua do imperador Trajano encontrada em seu interior durante as escavações. A princípio, a edificação foi construída entre 60 e 50 a.C., como uma domus elegante. No final do século I a.C., devido ao aumento do nível da água subterrânea, a domus existente foi soterrada e foi construída uma nova domus, acima da antiga. Esta nova residência pertenceu a família Fabia até o início do século III a.C.; que foi confiscada após um integrante da família ter conspirado contra o imperador Heliogábalo.[11]
Sepulturas
[editar | editar código]Fora das muralhas, foram encontrados sepultamentos, ao longo das vias Ostiense e Laurentina, iniciando já nas saídas dos portões. Em sua maioria, são câmeras funerárias com paredes pintadas ou decoradas em estuque, e o piso decorado com mosaicos.[4]
Galeria de fotos
[editar | editar código]-
Mosaico. Termas de Netuno
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Mosaico. Termas de Caracalla
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Termas do Fórum
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Macellum (mercado)
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Capitólio
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Abobada pintada de uma residência
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Armazém de Epagathus. Entrada principal.
Ligações externas
[editar | editar código]- Site oficial do Parque arqueológico de Óstia Antiga (em italiano).
- Vídeo do Parque arqueológico de Óstia Antiga (Youtube).
Referências
- ↑ «Ostia - Introduction». www.ostia-antica.org. Consultado em 13 de setembro de 2019
- ↑ a b c d «Ostia | Italy». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 13 de setembro de 2019
- ↑ a b c d Salik, Magdalena (2 de abril de 2023). «Ostia Antica – ruiny antycznego portu, który karmił Rzym. Gdzie się znajduje i co w nim warto zobaczyć?». National Geographic (em polaco). Consultado em 13 de setembro de 2025
- ↑ a b c d e f g h «Ostia». Instituto da Enciclopédia Treccani (em italiano). Consultado em 13 de setembro de 2025
- ↑ a b c d Mainet, Grégory. (2020). Il Teatro di Ostia Antica. Forma Urbis, XXV, 1. (em italiano).
- ↑ «Ostia | Italy, Map, History, & Facts | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 14 de setembro de 2025
- ↑ a b c d Romano, Gabriele. (2010). Storia degli scavi di Ostia antica. Roma Una Città, Un Impero , 2. (em italiano).
- ↑ a b «Regio I - Forum». www.ostia-antica.org. 27 de abril de 2022. Consultado em 17 de setembro de 2025
- ↑ «Regio II - Insula VII - Teatro (II,VII,2) (Theatre)». www.ostia-antica.org. Consultado em 17 de setembro de 2025
- ↑ «Regio II - Insula II - Terme dei Cisiarii (II,II,3) (Baths of the Coachmen)». www.ostia-antica.org. Consultado em 17 de setembro de 2025
- ↑ «Natale di Roma, riapre la "Schola del Traiano"». RaiNews (em italiano). 21 de abril de 2022. Consultado em 14 de setembro de 2025
