Ação de grupo

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Definição[editar | editar código-fonte]

Na matemática, uma ação de um grupo G num conjunto X é uma operação α : G × XX compatível com as operações do grupo G, nos seguintes aspectos:

  • sendo e a identidade de G, vale α(e, x) = x para cada xX;
  • vale α(gh, x) = α(g, α(h, x)) para quaisquer g, hG e xX.

O conceito de ação de grupo assemelha-se ao de espaço vetorial, ainda mais quando se usa a abreviação gx para α(g, x).[1][2].

As mais básicas ações de grupos podem ser tratadas geometricamente, como simetrias. Por exemplo, o n-ésimo grupo diedral age no conjunto de vértices, mudando-os de posições por meios de reflexões e rotações; neste caso, a ação é fiel. O mesmo grupo diedral também tem outra ação dada por α(g, x) = x, isto é, sem mover os vértices, e neste caso a ação não é fiel.

As muitas propriedades de ações de grupos aplicam-se em áreas como a teoria dos corpos, teoria dos grafos e até a física quântica.

Tipos de ações[editar | editar código-fonte]

Uma ação de grupo α : G × XX pode ser equivalentemente tratada como um homomorfismo σ : G → Aut(X), levando elementos de G a bijeções, dado por σ(g)(x) = α(g, x), de modo que se possam aproveitar resultados sobre homomorfismos de grupos no estudo de suas ações.[1]

  • A ação α é dita ser fiel quando σ é função injetiva, isto é, quando o único elemento gG tal que ∀ (xX), α(g, x) = x é a identidade.
  • A ação α é dita ser transitiva quando qualquer elemento de X pode ser levado a qualquer outro, isto é, quando, para quaisquer x, yX, existe g tal que α(g, x) = y.
  • A ação α é dita ser livre quando, se α(g, x) = x para algum xX, deve ser que g é a identidade. (Quando X é não vazio, isto é uma condição mais forte do que ser fiel.)[1]

Exemplos[editar | editar código-fonte]

  • Todo grupo age sobre si mesmo, por α(g, h) = gh, e ação é fiel, transitive e livre. (Esta afirmação básica, de que todo grupo admite ação fiel, é conhecida por teorema de Cayley.)
  • Todo grupo age trivialmente em qualquer conjunto, por α(g, x) = x, e ação é (quando X é não vazio), não fiel nem livre, e quando X tem pelo menos dois elementos, também não é transitiva.
  • A operação (g, h) ↦ g−1h não é uma ação de grupo (à esquerda), mas é uma ação de grupo à direita: uma operação β : X × GX (neste caso β(h, g) := g−1h) satisfazendo propriedades análogas.
  • Todo grupo G age em qualquer subgrupo normal seu H por conjugação: α(g, h) = ghg−1.
  • Sendo subgrupo HG, não necessariamente normal, há ação canônica de G no conjunto de classes laterais G/H, dada por: α(g, xH) = (gx) ⋅ H.[1][2]

Órbitas e estabilizadores[editar | editar código-fonte]

Seja ação α : G × XX. A órbita de um elemento xX é o subconjunto Ox := {gx | gG}. O estabilizador de xX é o subgrupo Gx := {gG | gx = x}.[2]

O teorema da órbita e do estabilizador diz que há isomorfismo canônico OxG/Gx entre ações. Em particular, no caso finito, pelo teorema de Lagrange, tem-se a fórmula |Ox| ⋅ |Gx| = |G|, onde as barras verticais denotam cardinalidade.

Eis uma aplicação desse teorema básico:[3]

  • Dado p primo, seja G um p-grupo não trivial, isto é, um grupo com precisamente pn elementos, onde n é um inteiro positivo. Prova-se que o seu centro Z(G), o conjunto dos elementos de G comutando-se com qualquer outro elemento, é não trivial. Para tal, considera-se a ação de conjugação de G em G. O conjunto G pode ser particionado em suas órbitas; as órbitas triviais (de um só elemento cada) constituem-se precisamente dos elementos do centro; sejam n1, …, nk > 1 os tamanhos das outras órbitas, não triviais. Então, |G| = |Z(G)| + n1 + … + nk. Cada ni é divisor de |G|, que é uma potência do primo p, logo também é potência do mesmo primo, e sendo diferente de um, há de ser múltiplo de p. Desse como, como |G| é múltiplo de p, a parcela restante |Z(G)| também é múltiplo de p; como a identidade é elemento central, há pelo menos outros p − 1 elementos centrais.

Outras aplicações desse teorema ocorrem nas provas dos teoremas de Sylow.

Variantes[editar | editar código-fonte]

Há o conceito similar de ação de semigrupo, cuja teoria, porém, se complica pela ausência da operação de inversão.

Representação de grupo é um conceito mais estrito, usado quando se deseja escrever uma ação de grupo em termos de multiplicação de matrizes.

O conjunto X pode ter mais estrutura, e pode-se exigir que a ação de grupo seja compatível com essa estrutura; isso leva, por exemplo, ao estudo de ação de grupo contínua.

Todas essas variantes são casos particulares do conceito de functor.

Referências

  1. a b c d (Aluffi 2009, §II.9)
  2. a b c (Judson 2020, §14.1)
  3. (Judson 2020, §14.2)

Bibliografia[editar | editar código-fonte]