A Arte Brasileira (livro)

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A Arte Brasileira
Autor Luiz Gonzaga Duque Estrada
Título original Brasil
País Brasil
Data de publicação 1888

Referência para compreender o desenvolvimento da arte no Brasil, o livro A Arte Brasileira foi publicado pelo jornalista e crítico de arte, Gonzaga Duque (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1863 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1911), em 1888. Na tentativa de identificar as condições e o desenvolvimento da arte brasileira, a publicação é construída em cima de uma crítica sobre a produção artística do século XIX. Para isso, o escritor realiza um balanço em cima da produção como pintura, escultura e decoração desde a época colonial.[1]

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

A vinda da Família Real para o Brasil, em 1888, acabou por dar novos rumos à arte brasileira. D João VI trouxe a corte para o Rio de Janeiro, e, admirador das artes, trouxe da França um grupo de artistas para registrar e documentar a paisagem natural e ensinar técnicas de pintura e arquitetura no país. Chefiada por Lebreton, os franceses chegaram em 1816, ano em que o representante criou a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.[2]

Marcando o início da Academia de Belas-Artes, ela foi inaugurada somente em 1826, dez anos após a chegada dos artistas. Apesar de não ser comprovado o real motivo da colônia francesa ao país, alguns nomes importantes estavam entre pintores paisagistas e pintores históricos.[2]

Com a proclamação da Républica e as novas tecnologias impactando o cotidiano, as reformas urbanistas faziam parte do processo de regeneração da imagem do Brasil no exterior. Tentando tornar o Rio de Janeiro receptivo não apenas para os cidadãos, mas para as próprias mercadorias que chegavam no porto a partir de modernos navios. Todas essas mudanças foram acompanhadas por Gonzaga Duque em suas obras, até então de maneira entusiasta e positiva.[3]

Junto às transformações de um novo e moderno Rio de Janeiro, a produção e o ensinamento das artes começou a seguir uma lógica de produção diferente. O novo mercado permitia que um artista saísse de seu atelier e ingresasse na Academia, processo realizado a partir de concursos.[2]

O autor[editar | editar código-fonte]

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, 21 de junho de 1863, Gonzaga Duque foi um crítico de arte profissional e autor da primeira exposição sobre arte no Brasil ao publicar A Arte Brasilera, no auge de seus vinte e cinco anos.[2]

Retrato de Gonzaga Duque (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1863 — Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1911)

Sem seguir ensinos superiores, Gonzaga Duque ingressou no Colégio Abílio, um dos mais importantes da cidade, e mais tarde transferiu-se para o Colégio Meneses Vieira. Terminou o curso secundário no Colégio Paixão, em Petrópolis.

Após os estudos básicos, Gonzaga Duque entrou para o jornalismo literário e teve sua estreia ao fundar, em 1880, a revista Guanabara, com apenas dezessete anos de idade. Mais tarde, colaborou para a fundação de outras revistas, como a Galáxia, a Rio Revista, o O Mércurio e a Fon-Fon.[1]

Na imprensa, escreveu sob vários pseudônimos, entre eles, J. Meirinho, Amadeu, Diabo Coxo, Barrabás-Brentano, André Rezende e Risonho.[4]

Presente no meio artístico do Rio de Janeiro, foi retratado por inúmeros artistas, como Eliseu Visconti (1866 — 1944), Belmiro de Almeida (1858 — 1935) e Presciliano Silva (1883 — 1965).

Além da obra A Arte Brasileira, que permanece até os dias atuais como referência aos estudiosos da História da Arte, suas obras não sobreviveram às críticas e ao tempo. Gonzaga Duque sofreu com inúmeros problemas de saúde, e no dia 8 de março de 1911 faleceu em decorrência de um infarto.[3]

O livro A Arte Brasileira[editar | editar código-fonte]

Publicado em 1888, o livro teve três edições e apresenta um panorama da pintura e da escultura desde os tempos coloniais até a década de 80, do século XIX. A primeira edição foi crivada por erros, a segunda foi formatada pelo professor Dr. Tadeu Chiarelli, e a terceira foi . disponibizada na internet pelo professor Carlos Maciel Lévy.[4]

Tratando-se de uma apresentação do desenvolvimento das artes plásticas no Brasil, o livro expõe uma resposta pessimista e crítica sobre sua formação no país.[2]

Resumo[editar | editar código-fonte]

Ao analisar a arte brasileira desde suas primeiras manifestações, em A Arte Brasileira, o autor divide a história em três períodos, sendo eles Manifestação, Movimento e Progresso. A partir do desenvolvimento da Academia de Belas-Artes, ele crítica uma arte baseada nas técnicas acadêmicas e acredita que o artista precisa se desvencilhar dos mestres para alcançar um estilo próprio e conseguir tranpassar uma interpretação das coisas.[2]

Uma das principais deficiências encontradas por Gonzaga Duque é a falta de nacionalidade e patriotismo por parte dos artistas brasileiros. Acreditando que a influência estrangeira era exagerada e inviabilizava uma escola nacional, ele teve cuidado em compreender e analisar a arte no início da República e sua relação com a busca pela modernização da cidade.[2]

A avaliação de Gonzaga Duque começa logo com a colonização do Brasil e a escravização do índio e do negro. Feita por uma população heterogênea, a sociedade resultou em uma mistura de condições nas quais não havia um meio para proporcionar bons frutos e uma produção artística de boa qualidade.[2]

Preocupado com a formação do artista no Brasil, o autor criticava principalmente o cultivo às referências europeias e realçava a própria formação da cidade do Rio de Janeiro, calcada pela moda europeia. O desenvolvimento do mercado promovia a maior independência dos artistas e seu afastamento da igreja e senhores de terra. Assim, ele passa a servir à Academia e ao negócio.[2] O problema está, de acordo com Duque, em um ensino arcaico, e calcado na cópia e na representação de assuntos clássicos.[4]

No livro, o escritor afirma que falta espírito e reflexão para produzir-se uma arte com pensamento e distanciada das alegorias tradicionais da nacionalidade. Ele queria que a arte do Brasil retratasse um país burguês e urbano.[4] Seu conceito de modernidade segue diferentes ideias e não está relacionado com as vanguardas modenistas, essas que trazem, de acordo com ele, um novo que não consegue ser revelado pela produção poética e explode com um nacionalismo ligado a valores circunstanciais.[5]

Para Gonzaga Duque, fazer nascer uma arte não é apenas a partir do movimento e da realidade, mas de algo que realmente a movimente, dando-lhe uma produção de sentido.[2]

Manifestação[editar | editar código-fonte]

O primeiro capítulo da divisão do livro, de 1695 até 1816, Manifestação representou a arte como produto da fé religiosa e compreendeu o final do século e a chegada da colônia francesa, em 1816.[2] É nesse período que ocorre a fundação da Academia de Belas-Artes.

Para construir e retratar o quadro da sociedade, Duque utiliza textos de Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845 — 1894), um historiador português, e faz referências ao poeta Gonçalves Dias (1823 — 1864).[4]

Movimento[editar | editar código-fonte]

De 1830 a 1870, Gonzaga Duque retratou a chegada da colônia francesa e os estrangeiros que passaram pelo país, como os artistas Félix-Émile Taunay (1795 – 1881), August Muller (1815 — 1883) e François Auguste Biard (1798 — 1882).[2] Além de indicar suas devidas personalidades e caracterizações, também apontou as contribuições de cada um na arte brasileira.[2]

Até esse período, a arte ainda não possuía expressão e não representava nenhum sentimento.[2]

Progresso[editar | editar código-fonte]

Em um momento no qual a arte oscilava em várias estéticas, Gonzaga Duque, em Progresso, comenta inúmeros artistas e suas ações.[2] Tratando os artistas que circulavam na cidade, incluindo os próprios alunos da Academia, ele ressaltou a importância de dois nomes da cena artística, Pedro Américo (1843 — 1905) e Vitor Meirelles (1832 — 1903).[4]

O primeiro, Pedro Américo, foi o artista que mais recebeu atenção e Gonzaga Duque buscou cuidadosamente destacar seu trabalho, seu desenvolvimento e sua autonomia em relação às regras acadêmicas. O autor elogiou seu brilhantismo e apesar de algumas críticas, revelou simpatia pelo artista.[2]

Meirelles, visto como um artista convencional, foi apresentado por seus ascpetos físicos e pessoais, além de ser categorizado por Duque como um artista mediano e incapaz de se livrar das regras impostas pela Academia.[2]

Enquanto isso, outros artistas também são citado e vistos por Gonzaga Duque, como é o caso de Almeida Junior (1850 — 1899) Georg Grimm (1846 — 1887), Castagneto (1851 — 1900) e Henrique Bernadelli (1858 — 1936).[2]

Junior é visto pelo escritor como um artista original e com uma comprenssão nítida e moderna da arte.[2] Grimm foi citado como uma pessoa que tem talento, mas possui pouca sensibilidade pela pintura paisagista.[2]Castagneto foi retratado por um artista com sensibilidade e amor pela representação marinha, o que o destacava.[2]

Por último, Bernardelli foi caracterizado como um artista dotado de sentimento artístico, e possuidor de uma obra vigorosa e original. Estudante na Itália, o escritou destacou a importância que o meio teve para o desenvolvimento das obras do pintor. Na opinião do crítico, suas obras eram grandiosas, inovadoras e independentes.[2]

Linguagem[editar | editar código-fonte]

Característica do simbolismo, Gonzaga Duque trabalha com uma linguagem minuciosa e simbólica. Entre as principais figuras de linguagem encontradas em seu texto, estão as sinestesias, aliterações e assonâncias,[2] usadas na tentativa de construir uma linguagem que possa sugerir ao invez de descrever.[6]

A musicalidade encontrada nas combinações de palavras e nas construções das orações, auxiliam o escritor a descrever pessoas e lugares por meio de sugestões e ideias que o narrador deixa para o próprio leitor localizar após acabar a história.[7]

Aproximando-se do romantismo ao tentar fugir de um mundo físico que não satisaz, o poeta simbolista sente-se desconfortável por conta de uma frustração causada pelo avanço tecnológico e pela era realista.[6] Além de produzir uma crítica à modernidade, também escreve com emoção as impressões que recebe da tela e usa as figuras de linguagem para descreves imagens. Assim, cheia de sensações, as paisagens dela tornam-se vivas.[2]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CRUZ, Andréa Garcia Dias da; KUSHIDONTI, Bárbara Jane Carneiro; ANDRADE, Viviane Alves de (org.). Gonzaga Duque: Textos na Revista Kósmos. 19&20, Rio de Janeiro, v. VII, n. 1, jan./mar. 2012. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/artigos_imprensa/gd_kosmos.htm>
  • COUTO, Renata de Campos. Gonzaga Duque: crítica, arte e a experiência da modernidade. 2007. Disponível em: <http://livros01.livrosgratis.com.br/cp048682.pdf>
  • ESPINDOLA, Alexandra Filomena. Gonzaga Duque - Vida na arte: Uma concepção artística-filosófica. 2009. Acesso em: <https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/4587/96667_Alexandra.pdf?sequence=1&isAllowed=y>
  • FONSECA, Bruna de Oliveira. Gonzaga Duque e Revoluções Brasileiras: um olhar para a História do Brasil.  2015. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-A3BFSX/disserta__o___gonzaga_duque_e_revolu__es_brasileiras.pdf?sequence=1>
  • FRANÇA, Cristina Pierre de. Gonzaga Duque: Crônicas dos Salões na Revista Kósmos. 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 2, abr. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/criticas/gd_kosmos.htm>.
  • Lins, Vera. Gonzaga Duque: crítica e utopia na virada do século. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1996. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/k-n/FCRB_VeraLins_GonzagaDuque_Critica_utopia_virada_seculo.pdf>
  • LINS, Vera. Arquivo Gonzaga Duque. Disponível em: http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/literatura/gonzaga_duque/arquivosliterarios_gonzagaDuque.htm.
  • PESSANHA, Elaine Durigam Ferreira. Gonzaga Duque: Um flâneur brasileiro. 2008 Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8146/tde-30092008-173647/publico/DISSERTACAO_ELAINE_DURIGAM_FERREIRA_PESSANHA.pdf>
  • SILVA, Frederico Fernando Souza. 2016. Disponível em: <https://www.google.com/url?q=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27160/tde-27092016-145031/publico/FREDERICOFERNANDOSOUZASILVAVC.pdf&sa=U&ved=0ahUKEwipwIf7q7bdAhXP11MKHXbGAiwQFggOMAQ&client=internal-uds-cse&cx=011662445380875560067:cack5lsxley&usg=AOvVaw3Dj1KHNIGxOeyUumTU_rNg>
  • SILVA, Rosangela de Jesus. Angelo Agostini, Felix Ferreira e Gonzaga Duque Estrada: contribuições da crítica de arte brasileira no século XIX. 2010. Disponível em: <http://www.unicamp.br/chaa/rhaa/downloads/Revista%2010%20-%20artigo%203.pdf>
  • VERMEERSCH, Paula Ferreira. Notas de um estudo crítico sobre A Arte Brasileira, de Luiz Gonzaga Duque Estrada. 2002. Disponível em :<http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_ba0f6a9342a3f13437503d188575e096>

Referências

  1. a b Arnone, Marianne Farah. «A gravura como difusora da arte: um estudo sobre a gravura brasileira no final do século XIX a partir da análise dos textos e produão crítica de Félix Ferreira» 
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x Espindola, Alexandra Filomena (13 de julho de 2016). «Mocidade Morta: A vida na arte do século XIX». Revista Crítica Cultural. 11 (1). 153 páginas. ISSN 1980-6493. doi:10.19177/rcc.v11e12016153-162 
  3. a b Fonseca, Bruna de Oliveira (2015). «Gonzaga Duque e Revoluções Brasileiras: um olhar para a História do Brasil.» (PDF). UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: CONHECIMENTO E INCLUSÃO SOCIAL. Consultado em 25 de novembro de 2018. Arquivado do original (PDF) em 29 de novembro de 2018  line feed character character in |publicado= at position 37 (ajuda)
  4. a b c d e f «Descrição: Notas de um estudo critico sobre A Arte Brasileira, de Luiz Gonzaga Duque Estrada». bdtd.ibict.br. Consultado em 25 de novembro de 2018 
  5. Lins, Vera (1996). «Gonzaga Duque: crítica e utopia na virada do século» (PDF). FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA. Consultado em 25 de novembro de 2018 
  6. a b «Simbolismo na literatura». InfoEscola 
  7. Pessanha, Elaine Durigam Ferreira (2008). «Gonzaga Duque: um flâneur brasileiro» (PDF). Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em estudos línguisticos e litérarios em francês. Consultado em 25 de novembro de 2018