A Febre

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A Febre
A Febre
Pôster oficial do filme.
Brasil
França
Alemanha
2019 •  cor •  98 min 
Género drama
suspense
Direção Maya Da-Rin
Produção Tamanduá Vermelho
Enquadramento Produções
Still Moving
Komplizen Film
Roteiro Maya Da-Rin
Elenco Regis Myrupu
Rosa Peixoto
Distribuição Vitrine Filmes
Idioma português
tukano
tikuna

A Febre é um filme franco-teuto-brasileiro de drama e suspense dirigido por Maya Da-Rin. Falado em português e nas línguas indígenas tukano e tikuna, é escrito por Maya Da-Rin, Miguel Seabra Lopes e Pedro Cesarino, e protagonizado por Regis Myrupu e Rosa Peixoto.[1] Seu elenco principal é composto por atores indígenas do Alto Rio Negro, pertencentes aos Desanos, Tucanos e Tarianas, tendo sido para muitos deles a primeira experiência no cinema.

O filme estreou na competição internacional do 72º Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, onde ganhou o Leopardo de Ouro de Melhor Ator para Regis Myrupu, o prêmio da crítica internacional da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) e o prêmio Environment is Quality of Life concedido pelo júri jovem.[2] Além do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno, Regis Myrupu também recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília, tendo sido a primeira vez que um ator indígena é premiado em ambos festivais.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A Febre narra a história de Justino (Regis Myrupu), um indígena do povo Desana que migrou ainda jovem de sua aldeia no Alto Rio Negro para a cidade de Manaus. Viúvo, Justino trabalha como vigilante em um porto de cargas, enquanto sua filha Vanessa (Rosa Peixoto) concilia vários empregos como técnica de enfermagem e seu filho mais velho (Johnatan Sodré) vive em sua própria casa com sua esposa e filho. Enredados em uma vida modesta, o cotidiano de Justino e Vanessa se resume ao transito entre o trabalho e sua casa na periferia de Manaus.

Quando Vanessa recebe a notícia de que foi aprovada para estudar medicina na Universidade de Brasília (UnB), a frágil habilidade de seu pai para lidar com as demandas da vida urbana, faz com que ela questione sua decisão de partir. Ao mesmo tempo, a inquietude que se fazia presente nos sonhos de Justino passa a se manifestar na forma de uma febre misteriosa e intermitente, que coincide com rumores sobre a presença de uma criatura misteriosa na vizinhança.

No porto, a rotina monótona de trabalho é quebrada com chegada de um novo vigia (Lourinelson Wladmir), com quem Justino é obrigado a conviver durante as trocas de turno. Ex-capataz de uma fazenda de gado no interior, Wanderlei não esconde o profundo preconceito que tem dos indígenas. Enquanto isso, a visita de seu irmão (Edmildo Vaz) e de sua cunhada (Anunciata Teles) faz com que Justino rememore sua aldeia na floresta, de onde partiu vinte anos atrás.

Elenco[editar | editar código-fonte]

  • Regis Myrupu como Justino
  • Rosa Peixoto como Vanessa
  • Johnatan Sodré como Everton
  • Edmildo Vaz Pimentel como André
  • Anunciata Teles Soares como Marta
  • Kaisaro Jussara Brito como Jalmira
  • Lourinelson Wladmir como Wanderlei
  • Suzy Lopes como Rose

Produção[editar | editar código-fonte]

A Febre é uma co-produção entre o Brasil (Tamanduá Vermelho e Enquadramento Produções), França (Still Moving) e Alemanha (Komplizen Film),[3] produzida por Maya Da-Rin, Leonardo Mecchi e Juliette Lepoudre e co-produzida por Pierre Menahem, Janine Jackowski e Jonas Dornbach. O projeto participou da residência de roteiro Cinéfondation do Festival de Cannes e dos laboratóris Script&Pitch e FrameWork promovidos pelo TorinoFilmLab.[4] Foi rodado na cidade e zona metropolitana de Manaus, durante 7 semanas e meia, entre os meses de abril e junho de 2018. Sua equipe e elenco são majoritariamente formados por nomes locais amazonenses.[5]

Recepção[editar | editar código-fonte]

A Febre teve sua primeira exibição mundial no dia 08 de agosto de 2019 na abertura do Concorso Internazionale do 72º Festival Internacional de Locarno,[6] na Suíça, de onde saiu vencedor de três prêmios: o Leopardo de Ouro de Melhor Ator para Regis Myrupu, o prêmio da crítica internacional FIPRESCI e o Prêmio Especial “Environment is Quality of Life” concedido pelo júri jovem.[2] Participou de mais de 60 festivais no Brasil e no exterior, como os festivais de Toronto, Rotterdam e New Director New Films, tendo recebido mais de 30 prêmios, dentre eles o de Melhor Filme nos festivais de Pingyao (China), Biarritz (França), IndieLisboa (Portugal) e Mar del Plata (Argentina), e Melhor Direção no Festival Internacional de Chicago (USA) e no Festival do Rio (Brasil). O filme foi ainda o vencedor do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, tendo recebidos os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Fotografia e Melhor Som.[7]

No Brasil o filme é distribuído pela Vitrine Filmes e estreou simultaneamente nas plataformas digitais de streaming e nos cinemas no dia 12 de novembro de 2020,[8] logo após a reabertura dos cinemas fechados em razão da pandemia de Covid-19. Mesmo durante a pandemia, o filme permaneceu 5 semanas em cartaz e foi vendido para países como França, Estados Unidos, Canadá, China e Inglaterra.[9]

A Febre foi bem recebido pela crítica brasileira e internacional. Foi citado como o melhor filme de estreia de 2019 pela programadora Nicole Brenez na lista de críticos “La internacional cinefilia"[10] e incluído na lista dos filmes mais premiados de temporada de 2019-2020 pela Letterboxd.[11] O crítico e programador Diego Batlle deu 4.5 estrelas de 5 na revista eletrônica Otroscines e escreveu que A Febre “é um dos filmes de estreia mais convincentes do cinema latino-americano dos últimos anos”.[12] O crítico Nicolás Quinteros, da revista Escribiendo Cine, deu nota 8 e escreveu que “é um filme imprescindível para compreender uma parte importante da realidade latino-americana contemporânea”1.[13] Francisco Russo, da revista eletrônica AdoroCinema, considerou A Febre “um filme como poucas vezes se viu no cinema brasileiro”[14] e Geraldo Couto disse que o filme é “um marco” na forma como personagens indígenas são retratados pelo cinema.[15] Já a crítica francesa Beatrice Loayza, da revista Cinema Scope, considerou o filme “cinema em sua essência, exigindo empatia e compreensão sem piedade e didatismo, e protagonizando os indígenas com uma atenção às suas especificidades culturais como poucos filmes se preocupam em elaborar".[16]

Prêmios[editar | editar código-fonte]

Ano Festival País Categoria
2015 CineMundi coproduction Market, Mostra Cine BH Brasil Menção do júri, Desenvolvimento
2017 FrameWork, TorinoFilmLab Itália Prêmio de coprodução, Desenvolvimento
2019 Festival Internacional de Cinema de Locarno Suíça Leopardo de Ouro de Melhor Ator
2019 Festival Internacional de Cinema de Locarno Suíça Prêmio FIPRESCI da Crítica Internacional de Melhor Filme
2019 Festival Internacional de Cinema de Locarno Suíça Prêmio Especial "Enviroment is Quality of Life" do Júri Jovem
2019 Festival de Biarritz França Melhor Filme
2019 Festival Internacional de Cinema de Pingyao China Melhor Filme
2019 Festival Internacional de Cinema de Chicago USA Melhor Direção
2019 Festival Internacional de Cinema de Thessaloniki Grécia Silver Alexander Award
2019 Janela Internacional do Recife Brasil Melhor Filme
2019 Janela Internacional do Recife Brasil Melhor Som
2019 Mar del Plata Film Festival Argentina Melhor Filme Latino Americano
2019 Mar del Plata Film Festival Argentina Melhor Opera Prima
2019 Festival de Brasília Brasil Melhor Filme
2019 Festival de Brasília Brasil Melhor Direção
2019 Festival de Brasília Brasil Melhor Ator
2019 Festival de Brasília Brasil Melhor Fotografia
2019 Festival de Brasília Brasil Melhor Som
2019 Festival do Rio Brasil Melhor Direção
2019 Festival do Rio Brasil Prêmio Especial do Júri de Melhor Som
2020 Punta del Este International Film Festival Uruguai Melhor Filme
2020 Punta del Este International Film Festival Uruguai Melhor Direção
2020 Punta del Este Film Festival Uruguai Prêmio da Crítica Uruguaia de Melhor Filme
2020 Portland Internation Film Festival USA Melhor Filme Future Competition
2020 FemCine Chile Melhor Filme
2020 Cologne Dortmund Women Film Festival Alemanha Melhor Filme de Estreia
2020 IndieLisboa Portugal Melhor Filme
2020 Festival Internacional de Lima Peru Melhor Filme
2020 Festival Internacional de Lima Peru Menção Especial do Júri da Crítica Internacional
2020 Primavera do Cine, Vigo Espanha Melhor Filme
2020 L'Alternativa International Film Festival Espanha Menção Especial do Júri International Federation of Film Societies

Referências

  1. Myrupu, Regis; Peixoto, Rosa; Brito, Kaisaro Jussara; Lopes, Suzy (8 de fevereiro de 2020), A Febre, Tamanduá Vermelho, Enquadramento Produções, Still Moving, consultado em 31 de janeiro de 2021 
  2. a b «Locarno Film Festival 2019 - Palmares - All the official awards of the 72nd edition». www.locarnofestival.ch. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  3. Hopewell, John; Hopewell, John (5 de agosto de 2019). «Locarno Golden Leopard Contender 'The Fever': First International Teaser (EXCLUSIVE)». Variety (em inglês). Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  4. «The Fever | TorinoFilmLab». www.torinofilmlab.it. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  5. tempo, Em (19 de janeiro de 2021). «Obras amazonenses mostram potencial do cinema local». Em tempo. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  6. «Locarno Film Festival 2019 - A Febre (The Fever)». www.locarnofestival.ch. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  7. «Filme falado em língua indígena é o grande vencedor do Festival de Brasília». Folha de S.Paulo. 1 de dezembro de 2019. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  8. «Filme 'A Febre', de Maya Da-Rin, ganha trailer e data de estreia». Radar Cultural. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  9. «A Febre | Revista de Cinema». Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  10. «LA INTERNACIONAL CINÉFILA 2019». CON LOS OJOS ABIERTOS. 28 de dezembro de 2019. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  11. «Awards Season 2019–2020 Winners». letterboxd.com (em inglês). Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  12. «Festivales: Crítica de "A febre", de Maya Da-Rin, ganadora del premio a Mejor Actor y del premio FIPRESCI (Concorso Internazionale) - #Locarno72 - Otros Cines». www.otroscines.com. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  13. «La Barbarie de la civilizacion». EscribiendoCine 
  14. AdoroCinema, A Febre: Críticas AdoroCinema, consultado em 31 de janeiro de 2021 
  15. «No cinema, o ser fragmentado dos indígenas». Outras Palavras. 5 de dezembro de 2019. Consultado em 31 de janeiro de 2021 
  16. «Cinema Scope | The Fever (Maya Da-Rin, Brazil/France/Germany) — Wavelengths». cinema-scope.com. Consultado em 31 de janeiro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • A Febre no site da produtora Tamanduá Vermelho