A Idade Maior

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A Idade Maior
Am Ende einer Kindheit
Portugal Portugal  Alemanha
1991 •  cor •  118 min 
Género drama
Direção Teresa Villaverde
Produção João Pedro Bénard
Joaquim Pinto
Roteiro Teresa Villaverde
Elenco Ricardo Colares
Joaquim de Almeida
Teresa Roby
Maria de Medeiros
Diretor de fotografia Elfi Mikesch
Edição Vasco Pimentel
Manuela Viegas
Distribuição Portugal Atalanta Filmes
Lançamento Alemanha16 de fevereiro de 1991 (FICB)
Portugal6 de setembro de 1991
Idioma português

A Idade Maior é um filme luso-alemão de 1991 do género drama, realizado e escrito por Teresa Villaverde e produzido por João Pedro Bénard e Joaquim Pinto.[1] Esta longa-metragem de ficção marca a estreia de Villaverde na realização.[2] O filme é centrado em Alex (interpretado por Ricardo Colares) um menino que enfrenta o vazio deixado pela figura do seu pai Pedro (Joaquim de Almeida), quando este parte para a Guerra Colonial em Moçambique.[3]

A Idade Maior estreou a 16 de fevereiro de 1991 no Festival Internacional de Cinema de Berlim.[4] Comercialmente, o filme foi lançado nos cinemas de Portugal a 6 de setembro do mesmo ano.[5]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Alex, de 22 anos, responde com "Não" a quem pergunta se se lembra dos seus pais. Sente a falta de ambos ao tentar recordar os acontecimentos passados na sua infância, e como esta terminou, nos anos de 1972 e 1973. Nesse período, Alex tinha apenas 9/10 anos e Portugal estava orgulhosamente isolado do resto do mundo, enquanto homens eram obrigados a deslocar-se para lutar em países que muitos portugueses não conseguiam apontar no mapa. Pedro, o pai de Alex, é um desses homens convocados para participar no conflito colonial.[6]

Pai e filho têm uma relação estreita. Alex despede-se do pai, antes deste partir relutantemente para a guerra em Moçambique. Manuela, a mãe de Alex, para sustentar a família, gere sozinha o pequeno bar Aurora na aldeia remota onde vivem. Mantêm um contacto regular por carta com Pedro. As cartas de Pedro para a sua família são amorosas. Com o passar do tempo, tornam-se menos frequentes, amargas e deprimentes.[7] Até que, eventualmente, a família deixa de receber notícias vindas de África. As semanas de silêncio transformam-se em meses e Alex vive na incerteza, à espera ao lado da mãe. Manuela perde gradualmente as esperanças de rever o marido.[8]

Enquanto uns morreram nessas guerras, outros foram mudados por elas. Um dia, um outro soldado regressado informa Manuela de que o seu marido terminou o serviço ativo em Moçambique e se encontra em Portugal, clandestinamente escondido dos familiares há vários meses.[9] O grande silêncio de Pedro causa impacto na vida quotidiana de Alex. Pedro sai do contexto de guerra sem ser capaz de compartilhar as suas experiências traumáticas com ninguém.[10]

O verdadeiro infortúnio começa apenas quando Pedro regressa a casa, e se torna evidente de que não é a mesma pessoa. Alex não fecha os olhos ao momento em que fica órfão.[11]

Elenco[editar | editar código-fonte]

Equipa técnica[editar | editar código-fonte]

Produção[editar | editar código-fonte]

A Idade Maior é uma co-produção europeia entre Portugal e Alemanha, liderada pela produtora Invicta Filmes (produção executiva de Joaquim Pinto) em associação com a alemã ZDF-Arte e Grupo de Estudos e Realizações.[15] Contou com o apoio financeiro do Instituto Português do Cinema, Audiovisual e Multimédia, Rádio e Televisão Portuguesa e Fundação Calouste Gulbenkian. A longa-metragem gravada num formato 35 mm, teve uma versão portuguesa e internacional de 118 minutos de duração e uma versão alemã de 125 minutos.[13]

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Nos anos 80, Teresa Villaverde deixou a meio a sua formação na Escola de Televisão e Cinema da Academia de Artes Performativas de Praga (República Checa), onde encontrou a equipa que viria a reunir para A Idade Maior.[16] Antes de avançar para a realização, a experiência profissional cinematográfica de Villaverde cingia-se à sua participação como atriz em À Flor do Mar, de João César Monteiro e colaboradora na escrita de argumentos de João Canijo e José Álvaro Morais.[17] Apesar desta falta de formação e experiência, Villaverde diz que "tinha uma coisa íntima, que dizia a mim própria, na maior das calmas. «Quero ser realizadora, se não conseguir fazer um filme até aos 25 anos, atiro-me ao rio!» (...) Tinha 15 anos. Não foi preciso atirar-me ao rio porque aos 24 fiz o filme".[18] A escrita do argumento de A Idade Maior terá ajudado a idealizar a operacionalização da produção.

Rodagem[editar | editar código-fonte]

A maior parte da rodagem decorreu em Nisa, onde se situa o Café Novo, estabelecimento chamado Aurora no filme. A cena que encerra a obra foi rodada em Vila Velha de Ródão.[19] As gravações de A Idade Maior iniciaram a 2 de janeiro de 1990 e estenderam-se ao longo do mês.[18]

Pós-produção[editar | editar código-fonte]

Elfi Mikesch garantiu o apoio da ZDF durante a montagem de A Idade Maior.

Os constrangimentos financeiros de A Idade Maior sentiram-se particularmente na fase de montagem. A cinematógrafa Elfi Mikesch, regressou a Berlim, onde habitava, tendo aí garantido uma reunião com a Zweites Deutsches Fernsehen onde mostrou o trabalho o de edição que já havia sido completado. Dessa reunião surgiu a participação financeira essencial para terminar o filme. A pós-produção de som foi realizada em Hamburgo.[16]

Temas e estética[editar | editar código-fonte]

A Idade Maior aborda os impactos psicológicos da guerra colonial, um tema que se tornou tabu na sociedade portuguesa no período pós-revolucionário. A narrativa desenvolve-se em paralelo com a história de Portugal no fim do fascismo, algo que é evidente logo no início do filme, quando um Alex já adulto se recusa a reconhecer memórias dos seus pais, sugerindo a vergonha de uma nação sobre a sua história.[7] Também o retorno a Portugal em segredo de Pedro e a sua permanência na clandestinidade são uma indicação desse embaraço. O argumento de Villaverde revela um olhar empático sobre o sofrimento interior daqueles que regressaram do conflito com traumas, mas também do impacto do mesmo nos familiares que ficam em Portugal.[2] Acima de tudo, a narrativa parece querer dar voz ao conjunto de pessoas que se mantiveram em silêncio enquanto se sentiam isoladas com o isolamento do próprio país.[10]

Villaverde tenta usar as cores da memória para representar o declínio de uma família, que sofre tanto sob o clima opressor característico do Estado Novo, como com a perda afetiva da figura paterna. Os personagens principais exibem grande resiliência e tenacidade perante este tipo de sofrimento. Conseguindo esse ponto de vista emocional, a câmara subtil de Elfe Mikesch segue o olhar seletivo e inocente de Alex.[6] Esse olhar é demonstrativo da crise de identidade e abandono vivida por Alex. A desorientação dos jovens de classes mais desfavorecidas é um outro tema que se tornaria recorrente ao longo da filmografia de Villaverde.[20]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Lançamento[editar | editar código-fonte]

A Idade Maior foi selecionado para a edição de 1991 do Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde estreou na secção Fórum do Jovem Cinema a 16 de fevereiro.[21][22] Em Portugal, a ante-estreia do filme decorreu a 5 de setembro do mesmo ano, na Cinemateca Portuguesa.[23] A distribuição comercial do filme em Portugal, pela Atalanta Filmes, iniciou-se no dia seguinte, onde estreou no cinema King (Lisboa).[5] A distribuição internacional ficou encarregue da Uniportugal - Produção e distribuição de filmes.[24]

Festivais[editar | editar código-fonte]

A longa-metragem foi selecionada para vários festivais de cinema e, mas recentemente, tem sido consecutivamente incluída em sessões de retrospetiva da filmografia de Teresa Villaverde. Destacam-se os seguintes:

Receção[editar | editar código-fonte]

Audiência[editar | editar código-fonte]

Em Portugal, A Idade Maior teve cerca de 7.100 espetadores nas salas de cinema.

Crítica[editar | editar código-fonte]

A estreia como realizadora de Villaverde abordando um tema tão politizado como a história colonial portuguesa, foi considerado um passo ousado pela crítica.[7] Dimitri Eipides, a propósito da seleção de A Idade Maior para o Festival de Cinema de Roterdão, considerou-o um filme "sensível, poético e pessoal, que tangibiliza um episódio oculto da história portuguesa recente de uma forma especial e muito visual".[10] Stephen Holden, crítico do The New York Times descreveu a obra como "um exercício intrigante de melancolia que nunca afirma diretamente o que está por trás da sua mente".[20]

Em 2002, a propósito de uma publicação da Sight and Sound, Anneke Smelik elegeu A Idade Maior o quinto melhor filme de sempre.[26]

Premiações[editar | editar código-fonte]

Ano Premiação Categoria Trabalho Resultado Ref.
1991 Festival de Dunquerque Interpretação Feminina Teresa Roby Venceu
Prémio do Júri CICAE/Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio A Idade Maior, João Pedro Bénard e Joaquim Pinto Venceu
Festival de Valencia Prémio Especial do Júri A Idade Maior, João Pedro Bénard e Joaquim Pinto Venceu
Festival du Cinéma et Vídeo de Montreal Melhor Filme A Idade Maior, João Pedro Bénard e Joaquim Pinto Venceu [27]
Torino International Festival of Young Cinema Melhor Filme A Idade Maior, João Pedro Bénard e Joaquim Pinto Indicado [13]
Prémio SPA Revelação de Cinema Teresa Villaverde Venceu
Se7es de Ouro Interpretação Masculina Joaquim de Almeida Venceu
Revelação Teresa Villaverde Venceu

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Ecotemporâneos: Teresa Villaverde». BoCA - Biennial of Contemporary Arts. 14 de maio de 2020. Consultado em 15 de março de 2021 
  2. a b Público. «A Idade Maior». Cinecartaz. Consultado em 15 de março de 2021 
  3. Alex (em inglês), consultado em 15 de março de 2021 
  4. «A idade maior | The Major Age | Am Ende einer Kindheit». www.berlinale.de (em alemão). Consultado em 15 de março de 2021 
  5. a b «Cinema Português». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 15 de março de 2021 
  6. a b «BILDRAUSCH FILMFEST BASEL - Film». www.bildrausch-basel.ch. Consultado em 15 de março de 2021 
  7. a b c Rehman, Sharaf. (2018). TERESA VILLAVERDE: MAKING OMELETS WITHOUT EGGS. 2018. 3-8. 10.21303/2504-5571.2018.00603.
  8. a b «A IDADE MAIOR (1991)». BFI (em inglês). Consultado em 15 de março de 2021 
  9. a b LEFFEST. «A Idade Maior / Filmes // LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021». LEFFEST'21 - Lisbon & Sintra Film Festival - 11 a 20 de Novembro 2021. Consultado em 15 de março de 2021 
  10. a b c «A idade maior | IFFR». iffr.com. Consultado em 15 de março de 2021 
  11. a b «Filmfest Hamburg 2008 | A idade maior». www.filmfesthamburg.de (em alemão). Consultado em 15 de março de 2021 
  12. Infopédia. «Teresa Roby - Infopédia». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 15 de março de 2021 
  13. a b c Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «A Idade Maior». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 15 de março de 2021 
  14. «BILDRAUSCH FILMFEST BASEL - Film». www.bildrausch-basel.ch. Consultado em 15 de março de 2021 
  15. «CURRICULUM VITAE» (PDF). webcache.googleusercontent.com. Consultado em 15 de março de 2021 
  16. a b «Teresa Villaverde: 25 anos a fazer cinema - entrevista». berlinda. Consultado em 15 de março de 2021 
  17. Berlim, Camões. «Teresa Villaverde». Camões Berlim (em inglês). Consultado em 15 de março de 2021 
  18. a b «Teresa Villaverde». anabelamotaribeiro.pt. Consultado em 15 de março de 2021 
  19. Procura, A. (22 de abril de 2015). «Se há vontade há caminho». A Procura. Consultado em 15 de março de 2021 
  20. a b Holden, Stephen (24 de março de 1992). «Reviews/Film Festival; A Portuguese Boy's View Of War and Separation (Published 1992)». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331. Consultado em 15 de março de 2021 
  21. «MARFILMES». www.marfilmes.com. Consultado em 15 de março de 2021 
  22. Redacção (15 de novembro de 2018). «Todo o cinema de Teresa Villaverde em Serralves». Comunidade Cultura e Arte. Consultado em 15 de março de 2021 
  23. Mourinha, Jorge. «Geração perdida». PÚBLICO. Consultado em 15 de março de 2021 
  24. a b «A idade maior | The Major Age | Am Ende einer Kindheit». www.berlinale.de (em inglês). Consultado em 15 de março de 2021 
  25. «A idade maior | IFFR». iffr.com. Consultado em 15 de março de 2021 
  26. «BFI | Sight & Sound | Top Ten Poll 2002 - Who voted for which film». old.bfi.org.uk. Consultado em 15 de março de 2021 
  27. «um filme de TERESA VILLAVERDE» (PDF). webcache.googleusercontent.com. Consultado em 15 de março de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]