Acróstico

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Na versificação, um acróstico[nota 1] é qualquer composição poética na qual certas letras de cada verso, quando lidas em outra direção e sentido, formam uma palavra ou frase.[1][2]

Tipos de acróstico[editar | editar código-fonte]

Em um acróstico (genérico), as letras que compõem a nova palavra ou frase podem estar em qualquer posição, dentro de cada verso.[1] Exemplo:


Vencido está de amor meu pensamento,
O mais que pode ser vencida a vida,
Sujeita a vos servir e instituída,
Oferecendo tudo a vosso intento.

Contente deste bem, louva o momento
Ou hora em que se viu tão bem perdida;
Mil vezes desejando a tal ferida,
Outra vez renovar seu perdimento.

Com esta pretensão está segura
A causa que me guia nesta empresa.
Tão sobrenatural, honrosa e alta,
Jurando não seguir outra ventura,
Votando só para vós rara firmeza,
Ou ser no vosso amor achado em falta.

 
Luís de Camões em "Soneto CLIX"[3][nota 2].

No entanto, existem alguns tipos especiais de acróstico em que as posições dessas letras são mais bem definidas. Alguns desses tipos são os abaixo enunciados.

Acróstico propriamente dito[editar | editar código-fonte]

Quando se juntam as letras iniciais de cada verso para formar a palavra ou frase desejada, tem-se o acróstico propriamente dito, que se lê na vertical, de cima para baixo ou no sentido inverso.[1] Exemplo:


Leitor não levantei falso
Escrevi o que se deu,
Aquele grande sucesso
Na Bahia aconteceu,
Da forma que o velho cão,
Rolou morto sobre o chão
Onde o seu senhor morreu.

 
Última estrofe do cordel "O cachorro dos mortos"[4].

No trecho de cordel do exemplo acima, o autor Leandro Gomes de Barros utilizou-se de um acróstico propriamente dito para firmar sua autoria.

Abecedarius[editar | editar código-fonte]

Transcrição do abecedarius búlgaro "Oração alfabética", de Constantino de Preslav. Nessa obra, a primeira letra de cada verso, destacada em negrito, é parte de uma sucessão de letras que estão em ordem alfabética (de cima para baixo).

Um subtipo especial de acróstico propriamente dito é o abecedarius, também denominado acróstico alfabético. Nesse tipo de acróstico, a primeira letra de cada verso (ou de cada palavra de cada verso) forma com as demais primeiras letras (de cada verso ou palavra) uma sucessão que é idêntica à sucessão de letras do alfabeto ou abecedário.[1]

O búlgaro Constantino de Preslav escreveu um dos mais famosos abecedarius: a "Oração alfabética" (Азбучна молитва), um poema cristão escrito em versos dodecassílabos que se iniciam, cada um, com uma das letras do alfabeto glagolítico. A obra foi inspirada em uma similar, de autoria de Gregório de Nazianzo, que utilizava o alfabeto grego.[5]

Mesóstico[editar | editar código-fonte]

Tipo de acróstico em que os ajuntamentos de letras ocorrem no meio dos versos.[1] Exemplo:

  are J ando
  os  O uvidos
  com o barul H o do silêncio
  para defe N der o novo
 
  de Varèse a Nan C arrow
  de S A tie a Webern
  de Schoenber G  
  a Sc E lsi
       
Augusto de Campos[6] (em homenagem a John Cage)

Teléstico[editar | editar código-fonte]

Tipo de acróstico em que todos os ajuntamentos de letras ocorrem no fim dos versos.[1]

Acróstico cruzado[editar | editar código-fonte]

Tipo de acróstico em que o nome ou frase é formado pelo ajuntamento da primeira letra do primeiro verso com a segunda letra do segundo verso, às quais se juntam a terceira letra do terceiro verso, também a quarta letra do quarto verso, e assim sucessivamente até o último verso.[1]

Notas

  1. Do francês acrostiche, por sua vez oriundo do grego akrostíkhion, em que ákros = "extremidade" e stikhos = "verso".[1]
  2. Neste acróstico muito bem cifrado lê-se VOSO COMO CATJVO, MVI ALTA SENHORA, que em português contemporâneo traduz-se em Vosso como cativo, mui alta senhora.

Referências

  1. a b c d e f g h Moisés, Massaud (2004). Dicionário de Termos Literários 12 ed. São Paulo: Cultrix. p. 11. ISBN 85-316-0130-4. Consultado em 27 de agosto de 2014 
  2. MARIETTI, Melissa Andréa (2008). «A Construção do Sujeito Poético e a Noção de Tempo na Poesia de Paulo Verlaine e na de Camilo Pessanha» (PDF). São Paulo: Universidade de São Paulo (USP). p. 93. 129 páginas. Consultado em 3 de setembro de 2014 
  3. CAMÕES, Luís Vaz de (1861). Visconde de Juromenha, ed. Obras de Luís de Camões. III. Portugal: [s.n.] 
  4. DINIZ, Marcela Bezerra de Menezes; RAMIRES, Vicentina (10 de março de 2014). «Literatura de Cordel: História e Oralidade» (PDF). Sergipe: Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET). Cadernos do Tempo Presente (15): 7. 14 páginas. ISSN 2179-2143. Consultado em 27 de agosto de 2014 [ligação inativa]
  5. Diliana Ivánova Kovatcheva (2009). «Plegaria alfabética, una obra fundamental de las letras búlgaras» (PDF). Mundo Eslavo - nº 8 (em espanhol). issn: 1579-8372; eISSN: 2255-517X. Universidade de Granada (Espanha). Consultado em 27 de agosto de 2014 
  6. Augusto de Campos (1998). Música de Invenção. São Paulo: Perspectiva. 280 páginas. ISBN 9788527301671