Alessandra Korap
Alessandra Korap | |
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Nascimento | 1984 Itaituba |
Cidadania | Brasil |
Etnia | Mundurucus |
Alma mater | |
Ocupação | líder, ativista |
Prêmios |
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Alessandra Korap (Itaituba, Pará, 1985) é uma líder indígena e ativista pelo meio ambiente brasileira, da etnia mundurucu. Seu principal trabalho é a defesa pela demarcação do território indígena e a proteção dessa terra, denunciando a exploração e atividades ilegais do garimpo, mineração e da indústria madeireira. Alessandra é reconhecida internacionalmente por seu trabalho e em 2020 recebeu o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, nos Estados Unidos. [1][2][3]
Biografia[editar | editar código-fonte]
Desde jovem se interessa pela política e participava de reuniões do conselho de sua aldeia, em um tempo em que não era costume mulheres participarem. Com a progressiva invasão das terras indígenas e a perda de seus direitos, passou a se envolver mais no ativismo. Em 2019 mudou-se para Santarém a fim de cursar direito pela Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA),[4] para preparar-se melhor para as suas lutas reivindicatórias.[5]
Vem se destacado como uma advogada dos interesses dos povos indígenas contra a invasão de suas terras por mineradoras e garimpeiros. Foi a primeira mulher a liderar a Associação Indígena Pariri, que reúne dez aldeias na região do Médio Tapajós, no Pará.[6] Uma das principais consequências da exploração desse território para as vidas indígenas no Médio Tapajós, denunciado por Alessandra, é o impacto do mercúrio usado largamente em atividade de garimpo. Um estudo realizado pela Fiocruz em parceria com o WWF-Brasil indicou que todos os participantes da pesquisa estão afetados por este contaminante. De cada dez participantes, seis apresentaram níveis de mercúrio acima de limites seguros: cerca de 57,9% dos participantes apresentaram níveis de mercúrio acima de 6µg.g-1 – que é o limite máximo de segurança estabelecido por agências de saúde.[2]
Em 2020 ganhou reconhecimento internacional ao receber o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos,[7][6][8] sendo a segunda pessoa brasileira a receber o prêmio. Na justificativa da premiação, foi dito que "como liderança, Alessandra defende os direitos indígenas, principalmente na luta pela demarcação dos territórios indígenas e contra grandes projetos que afetam terras indígenas e territórios tradicionais na região do Tapajós".[9] Na ocasião, John Kerry, enviado especial do presidente norte-americano Joe Biden, fez o discurso principal, quando disse:
- "O povo mundurucu no Brasil é guerreiro de muitas formas diferentes. Tem resistido ativamente à pressão constante, violenta, ilegal e, às vezes, patrocinada pelo Estado, de madeireiros e mineradores para explorar suas terras. Alessandra, você falou e continua a falar a verdade ao poder. E é extraordinária a maneira como você luta pelos pulmões do planeta, a maneira como você luta para proteger nossa terra e por todos os bens comuns que precisamos nos esforçar para salvar".[10]
Ao receber a premiação Alessandra declarou que "o prêmio não é apenas para mim, é pela luta do povo mundurucu e de outros povos da floresta que pedem socorro, que gritam, mas não são ouvidos".[11] Também trabalha para minimizar o impacto da pandemia de covid-19 entre os indígenas.[12]
Em 2020, a Fundação Oswaldo Cruz, representada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, através do seu podcast, entrevistou Alessandra Korap. Alessandra Korap e Andrey Moreira Cardoso, médico e pesquisador da Escola Nacional de Saúde, dialogaram sobre as principais diferenças entre o coronavírus e a gripe comum, os seus sintomas e sobre como as comunidades indígenas deveriam agir mediante o contexto pandêmico.[13]
Ela já recebeu ameaças de morte e teve sua casa invadida e roubada por conta de seu ativismo, e em 2019 um grupo de deputados federais da Alemanha solicitou ao governo brasileiro que providenciasse sua proteção. A invasão da sua casa ocorreu dez dias após sua viagem a Brasília com outros indígenas para denunciar a ação de garimpos ilegais e madeireiras e cobrar a demarcação de terras indígenas. Entre 2018 e 2019, segundo o Greenpeace, o desmatamento nas terras mundurucus aumentou seis vezes.[14] Os deputados alemãs assinaram uma carta endereçada ao presidente Jair Bolsonaro e entregue à embaixada do Brasil em Berlim, solicitando que as autoridades brasileiras instruissem os responsáveis pela investigação a iniciar uma apuração aprofundada. Na mesma carta, eles ainda manifestaram sua preocupação com a situação dos defensores dos direitos humanos no Brasil e pediram que o governo "faça da proteção destes líderes legítimos uma prioridade" e que "faça tudo o que estiver ao seu alcance para facilitar o trabalho das organizações da sociedade civil".[15]
Prêmios e reconhecimento[editar | editar código-fonte]
2020: Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, Estados Unidos.[16][17]
2020: Prêmio Taz Pantera, Berlim.[18]
Referências
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de. «Manobra de diversão. Bolsonaro acusado de usar Covid-19 para desflorestar Amazónia». Manobra de diversão. Bolsonaro acusado de usar Covid-19 para desflorestar Amazónia. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ a b «Estudo analisa a contaminação por mercúrio entre o povo indígena munduruku». Fiocruz. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ «Alessandra Korap Munduruku: uma trajetória de resistência». InfoAmazonia. 20 de janeiro de 2021. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ Discente do curso de Direito/ICS ganha prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos 2020. Portal ICS/UFOPA. 15 de outubro de 2020.
- ↑ Fellet, João. "Muros, pedintes e venda de água: as descobertas da indígena que mudou para a cidade para entender a lei dos brancos". BBC Brasil, 14/02/2020
- ↑ a b Galvani, Giovana. "Líder indígena Alessandra Munduruku ganha prêmio de direitos humanos". Carta Capital, 13/10/2020
- ↑ Pedrosa Neto, Cícero; Abreu, Adriana; Schramski, Sam. "The Amazon’s Burning Libraries". Pulitzer Center, 10/02/2021
- ↑ "Brazilian Indigenous leader Alessandra Korap wins Robert Kennedy rights award". NBC News, 23/10/2020
- ↑ "Alessandra Munduruku ganha Prêmio Robert F. Kennedy de direitos humanos". Amazônia - Notícia e Informação, 13/10/2020
- ↑ Sanches, Marina. "Enquanto Bolsonaro patina em se aproximar de Biden, oposição brasileira ganha terreno com democratas". Notícias UOL, 17/12/2020
- ↑ Boadle, Anthony. "Líder indígena brasileira ganha prêmio de direitos humanos Robert Kennedy". Reuters, 22/10/2020
- ↑ "Vozes indígenas: a guerreira Munduruku vê a pandemia". Revista Humanitas — Unisinos, 11/11/2020
- ↑ Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz Escola Politécnica de Saúde Joaquim (23 de março de 2020). «As diferenças entre o coronavírus e a gripe: sintomas e como agir». Consultado em 30 de agosto de 2023
- ↑ "Parlamentares alemães cobram de Bolsonaro proteção a líder indígena ameaçada". Deutsche Welle, 06/12/2019
- ↑ «Parlamentares alemães cobram de Bolsonaro proteção a líder indígena ameaçada». operamundi.uol.com.br. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ «Liderança indígena do Pará ganha Prêmio Robert F. Kennedy de direitos humanos». Folha de S.Paulo. 12 de outubro de 2020. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ «'Não esperamos nada de positivo do governo, mas jamais vamos desistir', diz líder indígena brasileira que recebeu prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos». O Globo. 24 de novembro de 2020. Consultado em 19 de fevereiro de 2021
- ↑ «Panter Preis 2020: Es geht nur gemeinsam». Die Tageszeitung: taz (em alemão). 17 de novembro de 2020. ISSN 0931-9085. Consultado em 8 de setembro de 2022