Alfredo Eidelsztein

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Alfredo Eidelsztein (Buenos Aires, 9 de dezembro de 1954) é um psicanalista argentino, pesquisador e autor de livros sobre psicanálise. É diretor científico da sociedade psicanalítica Apertura para Otro Lacan, que reúne centenas de psicanalistas na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, Itália e México em torno do Programa de Investigação Científica[1] por ele proposto.

É doutor em psicologia pela Universidade de Buenos Aires. Foi professor dos cursos de pós-graduação em psicologia na mesma instituição entre 1980 e 2013.

No Brasil, deu cursos e conferências[2] no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Campinas e em diversas sociedades psicanalíticas. Vários dos seus livros foram traduzidos para o português pela Toro Editora.

Outro Lacan[editar | editar código-fonte]

Em sua leitura da obra de Jacques Lacan, Eidelsztein sustenta que o “lacanismo” contemporâneo e o discurso hegemônico em psicanálise encontram-se em sentido contrário ao modelo teórico proposto pelo próprio Lacan, que teria sido assimilado às concepções substancialistas de Sigmund Freud em decorrência de um desvio teórico-ideológico[3] promovido por seus herdeiros intelectuais.

Otro Lacan, publicado em 2017, resgata a crítica de Lacan à orientação ontológica na psicanálise (que o próprio Lacan denominou de sua “antifilosofia”). Eidelsztein critica a metafísica em psicanálise e indica diferenças fundamentais entre as teorias de Sigmund Freud e Jacques Lacan, especialmente em relação ao tema da ontologia.[4]

A tese de Eidelsztein é que as ideias anti-ontológicas de Lacan foram apagadas do discurso hegemônico em psicanálise, por um desvio teórico-ideológico condizente com a ideologia neoliberal e com o senso comum.[5] A leitura de Eidelsztein apresenta uma crítica contundente ao programa de Jacques-Alain Miller, genro e editor de Jacques Lacan, cuja concepção de sujeito constituiria uma nova ontologia. A leitura proposta por Eidelsztein em Otro Lacan opõe “o corpo real, biologizado e biologizante dos lacanianos ao corpo situado no imaginário do nó borromeano de Lacan; o real do pretendidamente inefável dos lacanianos ao real lógico-matemático de Lacan”.[6]

As ideias que Eidelsztein sustenta em Otro Lacan também foram recebidas como uma nova proposta de método de investigação, por meio do qual se aborda a psicanálise em uma perspectiva epistemológica[7] e como uma nova teoria, radicalmente distinta e oposta à psicanálise hegemônica; fundamentada no ensino de Lacan, mas resultado da sistematização e lógica proposta por Eidelsztein.[8]

Freudolacanismo e estado de atraso da psicanálise contemporânea[editar | editar código-fonte]

Para Eidelsztein, a psicanálise sofre de importante atraso em sua articulação e debate com teorias modernas como as físicas relativista e quântica, a matemática das incertezas, a lógica paraconsistente, as neurociências, a análise do discurso, os estudos de gênero e o feminismo.[9]

Por “freudolacanismo”, ao qual Eidelsztein e seus seguidores se opõem, designa-se o estado atual das concepções da comunidade psicanalítica em suas várias escolas e instituições, cujas características seriam:

  • considerar a acumulação de experiências pessoais, tanto para o paciente como para o praticante, como fonte principal do saber;
  • sustentar a psicanálise em posição de extraterritorialidade científica;
  • orientar-se em direção ao passado a partir do “retorno a Freud” - ou ao retorno a Lacan - e às velhas figuras de pai, homem, mulher, família, etc;
  • trabalhar incansavelmente para fundir e dissolver a novidade do modelo teórico de Lacan nos conceitos legados por Freud.[10]

Psicanálise e Big Bang[editar | editar código-fonte]

Em A origem do sujeito em psicanálise, publicado em português em 2020, Eidelsztein opõe a teoria evolucionista-biologicista de Sigmund Freud às ideias criacionistas (creatio ex-nihilo) de Jacques Lacan. Enquanto para Freud a psicanálise opera sobre uma pessoa/indivíduo, matéria prima tangível e substancial, para Lacan, segundo a leitura crítica de Eidelsztein, não há realidade pré-discursiva. A linguagem sempre esteve presente, como estrutura prévia que aloja o sujeito. Relacionando o surgimento da linguagem ao Big Bang, Eidelsztein trabalha as diferentes concepções de ciência, tempo, espaço, matéria e energia nas obras de Freud e Lacan, extraindo daí consequências para a teoria e clínica psicanalíticas.[11]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • 2020 - “A origem do sujeito em psicanálise”. São Paulo, Toro.
  • 2019 - “Modelos, esquemas e grafos no ensino de Lacan”. São Paulo, Toro.
  • 2018 - “El origen del sujeto en psicoanálisis: del Big Bang del lenguaje y el discurso”. Buenos Aires: Letra Viva (em castelhano).
  • 2018 - “La Topología en la Clínica Psicoanalítica”. Buenos Aires: Letra Viva (em castelhano).
  • 2017 - “O Grafo do Desejo”. São Paulo: Toro.
  • 2017 - “Las Estructuras Clínicas a partir de Lacan” (2 volumes). Buenos Aires: Letra Viva (em castelhano).
  • 2015 - “Otro Lacan: estudio crítico sobre los fundamentos del psicoanálisis lacaniano”. Buenos Aires: Letra Viva (em castelhano).
  • 2004 - “La Pulsión Respiratoria En Psicoanálisis”. Buenos Aires: Letra Viva (em castelhano).

Referências

  1. Apertura para Otro Lacan, Programa de Investigación, APOLa, 7 de setembro de 2020
  2. A Topologia na Clínica Psicanalítica de Jacques Lacan, [1], Canal do IP-USP no YouTube, 7 de setembro de 2020
  3. Agustin Palmieri, El por-venir del lacanismo: discusión en torno al concepto de sujeto, la antifilosofia y la doctrina de la causalidad estrucutral (tese doctoral), Universidad Nacional de La Plata, 2018
  4. Christian Ingo Lenz Dunker, A psicanálise como crítica da metafísica em Lacan, Analytica, vol. 6, n. 10, 2017
  5. Emiliano Exposto e Gabriel Rodríguez Varela, El Goce del Capital. Hipótesis para la reconstrucción de un psicoanálisis marxista”, Demarcaciones - Revista Latioamericana de Estudos Althusserianos, n. 8, abril 2020
  6. Gabriel Meraz Arriola, “Otro lacan?”, Revista Litoral, vol. 45-46, 2017
  7. Haydée Montesano, Otro Lacan, un método de investigación, Revista El Rey está Desnudo, 7 de setembro de 2020
  8. Mariana Latorre, Un acontecimiento: Otro Psicoanálisis, Revista El Rey está Desnudo, 7 de setembro de 2020
  9. Bruno Bonoris, El nacimiento del sujeto del inconsciente, contracapa, Letra Viva, 2019
  10. Bruno Bonoris, El nacimiento del sujeto del Inconsciente, contracapa, Letra Viva, 2019
  11. Rafael Arroyo Guillamón, El origen del sujeto en psicoanálisis. Del Big Bang del lenguaje y el discurso (reseña), p. 41-45, Boletín de la Asociación Madrileña de Salud Mental, vol. 45, 2019

Ligações externas[editar | editar código-fonte]