Almançor (califa)

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Almançor
2.º Califa abássida
Almançor (califa)
Dinar de ouro de Almançor
Reinado 754-775
Antecessor(a) Açafá
Sucessor(a) Almadi
Nascimento 714[1]
Morte 775 (61 anos)[1]
Nome completo  
Abu Jafar Abedalá ibne Maomé Almançor
أبو جعفر عبدالله بن محمد المنصور
Abu Ja'far Abdallah ibn Muhammad al‑Mansur
Dinastia Abássidas
Pai Maomé ibne Ali ibne Abedalá [a]
Mãe uma mulher berbere
Filho(s) Almadi

Abu Jafar Abedalá ibne Maomé Almançor (em árabe: أبو جعفر عبدالله بن محمد المنصور; romaniz.:Abu Ja'far Abdallah ibn Muhammad al-Mansur), mais conhecido somente como Almançor, foi o segundo califa abássida e reinou entre 754 e 775.[2][3]

História[editar | editar código-fonte]

Um manco, ou dinar em ouro, do rei inglês Offa da Mércia (r. 757–796), uma cópia de um dinar de Almançor. Ela combina a legenda em latim OFFA REX com letras em árabe. A data de 157 A.H (773-774) está legível.[4]
No Museu Britânico.

Almançor nasceu na família abássida após a emigração do grupo da cidade de Hejaz em 714. Seu pai, Muhammad, era supostamente o bisneto de Abas ibne Abdal Mutalibe, o tio mais novo do profeta Maomé. Sua mãe foi descrita pelo historiador mouro Ali ibne Abedalá em sua Rawd al-Qirtas como "uma mulher berbere que fora dada ao seu pai".[5] Em 762, ele fundou, como seu palácio e nova residência imperial, a cidade de Madinat as-Salam ("cidade da paz"), que se tornaria o centro da capital imperial de Bagdá.

Ele se preocupava com a solidez de seu novo regime após a morte de seu irmão, Açafá ("sanguinário"). Em 755, ele articulou o assassinato do líder militar Abu Muslim, que era um leal escravo liberto da província oriental do Irã, o Grande Coração, e que havia liderado as forças abássidas em sua vitória sobre a família dos omíadas durante a Terceira Guerra Civil Islâmica de 749-750. Durante o reinado de Almançor, ele era um líder subordinado, mas indiscutível da região do Irã e da Transoxiana. O assassinato parece ter ocorrido para prevenir uma disputa de poder dentro do império.

Almançor depôs Issa bin Musa bin Muhammad bin Ali (escolhido de seu irmão) como seu sucessor por suspeitas de corrupção e, em seu lugar, apontou Almadi, obtendo para isso o apoio público da corte. Como seu irmão, ele queria manter o império unido e, para isso, eliminou toda forma de oposição.

Durante seu reinado, a literatura e as obras acadêmicas do mundo islâmico começaram a aparecer com força total, apoiada pela nova tolerância dos abássidas aos persas e outros grupos que eram oprimidos pelos omíadas. Embora o califa omíada Hixame ibne Abedal Maleque tenha adotado práticas persas em sua corte, não foi até o reinado de Almançorque a literatura persa e seus trabalhos acadêmicos passaram de fato a serem apreciados no mundo islâmico. A emergência da Shu'ubiya[6] entre os acadêmicos persas ocorreu durante o governo de Almançor.

Talvez mais importante que a emergência do conhecimento acadêmico persa foi a conversão de muitos não-árabes ao Islã. Os omíadas ativamente tentaram desencorajar a conversão para continuar a coletar a jizia, o imposto pago pelos não-muçulmanos. A política inclusiva dos abássidas - e de Almançor - resultou na expansão do Islã em todo território. Em 750, por volta de 8% dos residentes no califado eram muçulmanos, o que dobraria para 15% ao final do reinado do novo califa.

Em 756, Almançor enviou 4 000 mercenários árabes para apoiar os chineses na Rebelião de An Lushuan contra An Lushan. Após a guerra, eles permaneceram na China[7][8][9][10][11] Almançor foi chamado de "A-p'u-ch'a-fo" nos Anais da Dinastia Tang chineses[12][13][14][15][16][17][18] .[19][20][21][22][23]

Almançor morreu em 775 a caminho de Meca, para onde estava se dirigindo para fazer a haje. Ele foi enterrado no caminho em uma das centenas de covas que haviam sido cavadas para esconder seu corpo dos omíadas. Ele foi sucedido por seu filho Almadi.

De acordo com diversas fontes, o imame Abu Hanifa Anumane foi aprisionado por Almançor. O imame Maleque ibne Anas, o fundador de uma escola de direito, foi açoitado durante o seu reinado, mas sem a concordância do califa - na realidade, foi o seu primo, que era governador de Medina na época, que o fez. Almançor, por sua vez, puniu o primo e recompensou o imame Maleque.[24]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Almançor (califa)
Nascimento: 712 Morte: 775
Precedido por:
Açafá
Califa Abássida
754 – 775
Sucedido por:
Almadi

Notas

Referências

  1. a b Al-Souyouti, Tarikh Al-Kholafa'a (The History of Caliphs)
  2. Stanley Lane-Poole, The Coins of the Eastern Khaleefahs in the British Museum
  3. Axworthy, Michael (2008); A History of Iran; Basic, USA; ISBN 978-0-465-00888-9. See p.81.
  4. Medieval European Coinage By Philip Grierson p.330
  5. World's Great Men of Color vol. II
  6. Shu'ubiya era um movimento literário entre os persas que expressava a crença de que a cultura e a arte persas eram superiores às dos árabes. O movimento serviu para catalisar a emergência de diálogos árabe-persas no século VIII.
  7. Oscar Chapuis (1995). A history of Vietnam: from Hong Bang to Tu Duc. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. p. 92. ISBN 0313296227. Consultado em 28 de junho de 2010 
  8. Joseph Mitsuo Kitagawa (2002). The religious traditions of Asia: religion, history, and culture. [S.l.]: Routledge. p. 283. ISBN 0700717625. Consultado em 28 de junho de 2010 
  9. Bradley Smith, Wango H. C. Weng (1972). China: a history in art. [S.l.]: Harper & Row. p. 129. Consultado em 28 de junho de 2010 
  10. Hugh D. R. Baker (1990). Hong Kong images: people and animals. [S.l.]: Hong Kong University Press. p. 53. ISBN 9622092551. Consultado em 28 de junho de 2010 
  11. Charles Patrick Fitzgerald (1961). China: a short cultural history. [S.l.]: Praeger. p. 332. Consultado em 28 de junho de 2010 
  12. Marshall Broomhall (1910). Islam in China: a neglected problem. LONDON 12 PATERNOSTER BUILDINGS, E.C.: Morgan & Scott, ltd. p. 25, 26. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  13. Frank Brinkley (1902). China: its history, arts and literature, Volume 2. Volumes 9-12 of Trübner's oriental series. BOSTON AND TOKYO: J.B.Millet company. p. 150, 150, 151, 152. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  14. Frank Brinkley (1904). Japan [and China]: China; its history, arts and literature. Volume 10 of Japan [and China]: Its History, Arts and Literature. LONDON 34 HENRIETTA STREET, W. C. AND EDINBURGH: Jack. p. 150, 150, 151, 152. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  15. Arthur Evans Moule (1914). The Chinese people: a handbook on China ... LONDON NORTHUMBERLAND AVENUE, W.C.: Society for promoting Christian knowledge. p. 317. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  16. Herbert Allen Giles (1886). A glossary of reference on subjects connected with the Far East 2 ed. HONGKONG: Messrs. Lane. p. 141. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  17. Herbert Allen Giles (1926). Confucianism and its rivals. [S.l.]: Forgotten Books. p. 139. ISBN 1606802488. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  18. Confucianism and its Rivals. [S.l.]: Forgotten Books. p. 223. ISBN 145100849X. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  19. Everett Jenkins (1999). The Muslim diaspora: a comprehensive reference to the spread of Islam in Asia, Africa, Europe, and the Americas. Volume 1 of The Muslim Diaspora illustrated ed. [S.l.]: McFarland. p. 61. ISBN 0786404310. Consultado em 14 de dezembro de 2011. China • Arab troops were dispatched by Abu Gia- far to China. 
  20. Confucianism and its Rivals. [S.l.: s.n.] p. 295. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  21. Stanley Ghosh (1961). Embers in Cathay. [S.l.]: Doubleday. p. 60. Consultado em 14 de dezembro de 2011. During the reign of Abbassid Caliph Abu Giafar in the middle of the eighth century, many Arab soldiers evidently settled near the garrisons on the Chinese frontier. (Original from the University of Michigan, Library of Catalonia )
  22. Heinrich Hermann (1912). Chinesische Geschichte (em alemão). [S.l.]: D. Gundert. p. 77. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  23. Deutsche Literaturzeitung für Kritik der Internationalen Wissenschaft, Volume 49, Issues 27-52. [S.l.]: Weidmannsche Buchhandlung. 1928. p. 1617. Consultado em 14 de dezembro de 2011 
  24. Ya'qubi, vol. III, p. 86; Muruj al-dhahab, vol.III, p. 268-270.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Almaçudi, The Meadows of Gold, The Abbasids, transl. Paul Lunde and Caroline Stone, Kegan Paul, London and New York, 1989
  • Kennedy, Hugh, When Baghdad Ruled The Muslim World, Cambridge, Da Capo Press, 2004
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