António da Cunha Aragão

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António da Cunha Aragão
Nascimento 20 de fevereiro de 1904
Lisboa
Morte 12 de setembro de 1974
Cidadania Portugal
Ocupação militar
Prêmios
  • Grande-Oficial da Ordem Militar de Avis
  • Comendador da Ordem Militar de Avis
  • Oficial da Ordem Militar de Avis

António da Cunha Aragão MOVMOAComAGOAM?MM (Lisboa, Santa Isabel, 20 de fevereiro de 1904Porto, 12 de setembro de 1974) foi um oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, onde atingiu o posto de comodoro, que se distinguiu pela sua acção como comandante do NRP Afonso de Albuquerque durante a invasão da Índia Portuguesa em dezembro de 1961.[1][2] Foi irmão de Francisco Xavier da Cunha Aragão, conhecido como o herói de Naulila.

Biografia[editar | editar código-fonte]

António da Cunha Aragão nasceu no seio de uma família com tradições militares, filho do capitão-de-fragata Militão Constantino Aragão e de sua esposa Ana Henriqueta da Cunha Aragão. Destinado a seguir a carreira paterna, matriculou-se na Escola Naval, ingressando na Armada como aspirante a 1 de outubro de 1923. Terminado o curso, a 1 de setembro de 1926 foi promovido a guarda-marinha e iniciou o seu serviço ativo. Ainda guarda-marinha, em 1928 casou em Macau, numa cerimónia realizada a bordo do navio de transporte NRP Pêro de Alenquer.

Especializado em radiotelegrafia, embarcou em diversos navios da Armada Portuguesa, com destaque para os afetos à Divisão Naval do Índico, em longas comissões de embarque, maioritariamente em águas ultramarinas, separadas por períodos de serviço em terra. Pertenceu à guarnição do cruzador Adamastor, do cruzador República, das canhoneiras Pátria, Damão e Mandovi e dos avisos NRP Bartolomeu Dias e NRP João de Lisboa. Comandou o vapor Lidador e os avisos NRP Pedro Nunes e NRP Afonso de Albuquerque, sendo que nestes últimos navios o serviço foi prestado nas águas do Estado da Índia. Em terra, foi, entre outras funções, comandante da Força Naval do Continente, Comandante Naval dos Açores e capitão dos portos da Guiné Portuguesa (1933-1938) e de Viana do Castelo (1956-1960).[2]

Como capitão-tenente da marinha exerceu o cargo de encarregado do governo de Timor português, entre os dias 8 e 13 de junho de 1950.

Ao comando do aviso de 2.ª classe NRP Pedro Nunes, então em missão nas águas do Estado da Índia, distinguiu-se no salvamento da tripulação do navio Eugenia, de bandeira liberiana, que naufragara em situação de temporal frente ao porto de Mormugão.

Obteve grande notoriedade nacional e reconhecimento internacional quando, como comandante do NRP Afonso de Albuquerque protagonizou um dos principais combates durante a invasão de Goa pelas forças da União Indiana. O combate ocorreu a 18 de dezembro de 1961, opondo o Afonso de Albuquerque, que se encontrava fundeado frente ao porto de Mormugão, a forças navais indianas vastamente superiores.

O confronto ocorreu no contexto da disputa entre a União Indiana e Portugal pela soberania do então Estado da Índia, um território repartido pela costa ocidental do subcontinente indiano que após a independência da Índia (1947) e a incorporação no novo Estado da antiga Índia Francesa (concluída de facto em 1954) passou a constituir uma situação singular na região. Logo em 1954 os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli foram ocupados por forças da União Indiana, sendo frequentes as escaramuças na fronteira dos territórios remanescentes, em geral protagonizados por satyagraha (sânscrito: सत्याग्रह, satyāgraha; satya, "verdade" + agraha, "firmeza") seguidores de Mahatma Gandhi. O desfecho da contenda ocorreu de 17 para 18 de Dezembro de 1961, quando a União Indiana enviou as suas forças sobre os territórios portugueses, ao tempo apenas guarnecidos por cerca de 5000 militares do Exército, três pequenas lanchas de fiscalização costeira e o aviso NRP Afonso de Albuquerque,[2] de 1800 t de deslocamento bruto, construído em 1934 e já obsoleto.

O Afonso de Albuquerque largara de Lisboa a 18 de Março de 1960 numa viagem de instrução de cadetes da Escola Naval, aportando a Goa no dia 16 de Junho daquele ano. Transferidos os cadetes para o aviso NRP Bartolomeu Dias, da mesma classe, que regressou a Lisboa, o Afonso de Albuquerque ficou em comissão nas águas do Estado da Índia. Na madrugada de 18 de Dezembro de 1961, quando as forças navais indianas se aproximaram de Goa, o navio estava num fundeadouro frente ao porto de Mormugão, recebendo às 06:40 uma mensagem do Comando Naval que dava conta da invasão do território. A guarnição do aviso ocupou os postos de combate às 06:55, tendo avistado três fragatas indianas em aproximação cerca das 09:00. Por volta da 12:00 a força indiana aproou ao porto a grande velocidade e abriu fogo, atingindo um dos navios mercantes fundeados na baía. Cunha Aragão deu então ordens picar a amarra e abrir fogo com as quatro peças de 120 mm que equipavam o navio, ignorando os sinais de morse acústico emitidos pelos navios indianos que o intimavam à rendição.[2]

Em posição desfavorável, manobrando numa área restrita e confinada e enfrentando um inimigo superior em número e poder de fogo, o navio português foi atingido várias vezes. A torre directora ficou encravada e a ponte alta atingida, com um morto e vários feridos, entre eles o comandante Cunha Aragão, atingido com gravidade. Com as peças de artilharia fora de ação, o Afonso de Albuquerque perdeu capacidade de combate e cerca das 12:50 foi dada ordem à guarnição para abandonar o navio, permanecendo a bandeira portuguesa içada.[2]

O comandante Cunha Aragão foi levado para o Hospital Escolar de Pangim, onde foi capturado pelas forças da União Indiana, que entretanto haviam assumido o controlo de todo o território da Índia Portuguesa. Em 1963 foi promovido por distinção ao posto de comodoro, passando à reserva à reserva em 1965.[2]

Recebeu diversos louvores e foi agraciado com várias condecorações, nomeadamente a Medalha de Ouro de Valor Militar, com palma, a Medalha de Mérito Militar, e foi feito Oficial da Ordem Militar de Avis a 3 de Fevereiro de 1939, sendo Capitão de Fragata, tendo sido elevado a Comendador da mesma Ordem a 8 de Janeiro de 1960 e a Grande-Oficial a 31 de Agosto do mesmo ano pelo presidente da República, Américo Thomaz,[3][4] e com a Cruz de 2.ª Classe com Distintivo Branco da Ordem do Mérito Naval de Espanha a 22 de Outubro de 1958.[5]

Referências e Notas

  1. «Comodoro António da Cunha Aragão (1904-1974): Patrono do Curso de 1991». www.facebook.com .
  2. a b c d e f Carlos Manuel Valentim (coordenador), Patronos dos Cursos Tradicionais da Escola Naval (1936-2007). Lisboa, Escola Naval, 2007, 490 pp.
  3. Presidência da República, Chancelaria das Ordens, Anuário das Ordens Honoríficas Portuguesas, Lisboa, Execução Gráfica da SPEME, p. 41.
  4. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António da Cunha Aragão". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 18 de março de 2016 
  5. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "António da Cunha Aragão". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 18 de março de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]