Armação baleeira
A armação baleeira é uma instalação litorânea estruturada para a pesca ou caça às baleias e o processamento dos seus produtos. No Brasil existiu desde o início do século XVII até meados do XIX.
Estrutura da armação[editar | editar código-fonte]
A estrutura da armação consiste comumente em armazéns para os produtos das baleias, o engenho de frigir (onde a gordura das baleias é trabalhada), casas para as ferramentas de pesca e lancha e para os utensílios da manufatura, e uma estrutura de residência e subsistência para a população que vive nas armações[1]
A armação baleeira no Brasil[editar | editar código-fonte]
A indústria baleeira brasileira era uma indústria sazonal, pois dependia diretamente do período de migrações das baleias do Polo Sul para os trópicos durante o inverno.[2] Ela compreendia estes dois processos: a pesca e o trabalho com os produtos da baleia.
Trabalho: pesca e produção[editar | editar código-fonte]
A pesca era feita por trabalhadores assalariados, geralmente pequenos agricultores da região coagidos mesmo à força pois a atividade é perigosa,[3] e o seu trabalho era pago de acordo com o número de baleias pescadas.[4] O óleo foi o principal produto da indústria baleeira, utilizado para iluminação e liga para construções, e, após a segunda metade do século XVIII também a cera para velas. Para a confecção do óleo, a gordura era tirada da baleia e derretida em tanques no engenho de frigir. Cada baleia produzia em média de 12 a 20 pipas de óleo.
A produção das armações era sempre concentrada no Rio de Janeiro, para daí ser transportada até a metrópole.[4] O trabalho com os produtos das baleias, considerado menos arriscado que a pesca, era feito pelos escravos,[5] com população variando entre 20 e 80 nas armações. Também estavam presentes nas armações baleeiras o administrador da armação e os feitores - assalariados pagos ou pelo contratante ou diretamente pela Coroa quando a armação não estava arrendada.
História[editar | editar código-fonte]

A prática de pescar baleias com arpões foi inaugurada no Brasil no início do século XVII, por influência direta de pescadores bascos instalados na Bahia. Desde o início, precisamente em 1614,[6] a Coroa estabeleceu o Monopólio sobre esta atividade, garantindo o seu controle dos impostos, da qualificação social dos seus administradores e do destino do produto da pesca. A indústria baleeira “foi uma das que Portugal permitiu no Brasil Colonial”.[7] Durante o século XVII, a Bahia foi a principal produtora de óleo, mas, com o aval da Coroa para implementação de novas armações sempre descendo pela costa brasileira, já no século XVIII as principais armações eram as do sul – Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Sabe-se do surgimento no total de 14 ou 15 armações ao longo do litoral brasileiro nestes dois séculos.[8]
O auge da pesca das baleias começa em 1765, ano em que é feita a unificação de todos os contratos de pesca da baleia no Brasil, refletindo a época das reformas pombalinas; a partir daí proliferam construções de novas armações (em Santa Catarina são construídas 4 das 6 ou 7 armações da capitania ).[9] O período de grande produção na indústria baleeira termina no ano de 1789, decaindo sem recuperação a partir daí. Esta queda da produtividade é reflexo, por um lado, da redução do número de baleias pescadas, que se deve à extinção e à concorrência inglesa e norte-americana que pescava as baleias em alto-mar antes de chegarem à costa e estava se maquinizando. E, por outro lado, dos métodos utilizados na confecção do óleo, que são tidos como falhos pelos observadores da época, devido à quantidade de desperdício. Uma causa da falta de competitividade da indústria baleeira brasileira e destas técnicas falhas pode ter sido o privilégio do monopólio que “parece ter-lhe entravado um maior avanço técnico, o que constituiu, tempos depois, um dos fatores de sua decadência” .[10] Com esta queda na produção, aliada à influência do pensamento político-econômico liberal e dos observadores críticos da indústria baleeira, a Coroa extingue o monopólio em 1801.
Decadência[editar | editar código-fonte]
No século XIX, as armações baleeiras começaram a desaparecer. Para a liberalização desta atividade, as armações foram postas à venda pela Coroa, e, enquanto não havia interessados – como de fato não houve até 1816,[11] a não ser com relação às duas armações no norte – a sua administração ficou com o governo. A maior parte das armações não foram compradas, e a administração, tanto da Coroa quanto do Império, não foi cuidadosa e não conseguiu levantar novamente a indústria baleeira.
Em algumas armações, com a inadimplência dos pagamentos dos administradores locais e dos trabalhadores escravos, havia fugas, e até mesmo utilização da estrutura da armação por pescadores estrangeiros, principalmente norte-americanos. Várias estratégias foram tomadas para se desfazer das armações para interessados particulares, como contratos anuais, arrendamentos, até o desmonte com as vendas das peças e instalações. Ao longo do século, no Rio de Janeiro, São Paulo e em Santa Catarina, as armações foram sendo abandonadas, restando apenas 2 armações na Bahia, que já estavam em mãos de particulares, e continuaram a pequena atividade até meados do século XX.
Referências[editar | editar código-fonte]
Fontes[editar | editar código-fonte]
- ↑ ELLIS, 1958a, p.152-156.
- ↑ OLIVEIRA e CARIGNATTO, 2002. p. 39
- ↑ ELLIS, 1958b, p.152-156
- ↑ a b ELLIS, 1958a, p. 161
- ↑ ELLIS, 1958b, p. 395
- ↑ OLIVEIRA e CARIGNATTO, 2002, p. 41
- ↑ ELLIS, 1958b, p. 399
- ↑ ELLIS, 1958a, Fig. 1; ELLIS, 1969 apud MOREIRA, 1995
- ↑ COMERLATO
- ↑ ELLIS, 1958b, p. 399-400
- ↑ ELLISb, op cit, p. 386
Leituras adicionais[editar | editar código-fonte]
- CASTELUCCI JUNIOR, Wellington. Pescadores e baleeiros: a atividade da pesca da baleia nas últimas décadas dos oitocentos. Itaparica: 1860-1888.
- CASTELUCCI JUNIOR, Wellington. Salvas pelo petróleo. Antes de sumirem sob os arpões, baleias foram trocadas por uma nova fonte de riqueza. Revista de História - Especial Baleias , 16 de setembro de 2009.
- COMERLATO, Fabiana. A instalação das armações de pesca da baleia em Santa Catarina no século XVIII. Núcleo de Estudos Açorianos – UFSC.
- DIAS, Camila Baptista. A pesca da baleia no Brasil Colonial: contratos e contratadores do Rio de Janeiro no século XVII. Niteroi: UFF, 2010.
- ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia no Brasil colonial (Notas prévias de um trabalho em preparo). Revista de História. São Paulo, v. XVI, nº 32 pp 416 - 462
- ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia no Brasil colonial II. Revista de História. São Paulo, v. XVI, nº 33, p. 149-175, jan, 1958a.
- ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia no Brasil colonial III. Revista de História. São Paulo, v. XVI, nº 34, p. 379-424, abril, 1958b.
- ELLIS, Myriam. A Baleia no Brasil colonial. São Paulo: Melhoramentos, 1969 apud MOREIRA, Sônia Miriam Teixeira. Porto de Itajaí : da gênese aos dias atuais. Florianópolis, 1995. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina.
- OLIVEIRA, João Rafael Moraes de e CARIGNATTO, Denílson. A Pesca das Baleias no Brasil: um estudo de história e meio ambiente. UNESP, 2002.
- OLIVEIRA, João Rafael Moraes de. Gigantes à proa: A arriscada atividade de caçar baleias valia a pena: tudo se aproveitava. Revista de História - Especial Baleias , 16 de setembro de 2009.