Arsacavana

Arsacavana[1] (em latim: Arsacavana) ou Arxacavão (em armênio: Արշակավան; romaniz.: Aršakawan) foi uma cidade da Armênia no distrito (gavar) de Cogovita da província de Airarate, no Reino da Armênia.
Nome
[editar | editar código-fonte]Arsacavana é um topônimo composto por Aršak (Արշակ), a grafia armênia de Ársaces, e -awan (ավան), "cidade". Nesse sentido, significa "Cidade de Ársaces".[2]
História
[editar | editar código-fonte]Arsacavana estava localizada no distrito (gavar) de Cogovita da província de Airarate,[3] no sopé do monte Ararate, num amplo vale fluvial. Tentativamente foi proposto que possa ter sido fundada no sítio de Carababazar (Xarababazar), próximo da atual Doubaiazete, onde no fim do século XIX foram encontrados ruínas de caravançarais e outras estruturas.[4][5] Foi fundada pelo rei Ársaces II (r. 350–368), provavelmente aos moldes das inúmeras Alexandria e Selêucia helenísticas, ou suas contrapartes armênias (Artaxata, Tigranocerta etc.). Segundo Fausto, o Bizantino, o assentamento cresceu de um dastacerta (propriedade) real para uma cidade pequena (awan) e então para uma cidade grande (kʼalakʼ). No contexto no qual o último termo foi empregado por Fausto, parece ser uma alusão à fortificação do assentamento em vez de seu tamanho, pois Arsacavana também foi mencionada como cosmópole (gewłakʼalakʼ).[2]


A cidade continha uma residência real e talvez foi pensada como uma nova capital.[5] Por decreto, o rei concedeu o direito de viver nela a todos que estavam sendo oprimidos por seus senhores, os devedores e os perseguidos. Sua medida surtiu efeito, e em pouco tempo a cidade cresceu em tamanho e população.[6] As fontes, de modo geral mais inclinadas aos interesses da nobreza (nacarar) latifundiária, fizeram duras críticas à medida de Ársaces e caracterizaram a cidade como símbolo do caos e seus habitantes como ladrões, bandidos, desertores, assassinos e vagabundos. Em específico, Moisés de Corene alegou que ele concedeu refúgio aos que tivessem cometido delitos e quisessem se isentar de investigação.[7] Os nobres se reuniram e atacaram a cidade, matando homens e mulheres, exceto infantes lactantes. O católico Narses I, o Grande (r. 353–373) foi rapidamente informado da situação, mas não chegou a tempo de impedir o massacre. Ao chegar, libertou as crianças poupadas, que estavam presas como cativas, ordenou que fossem colocadas em cestas e levadas a um estábulo, onde providenciou cuidados e freiras para elas.[8]
A destruição da cidade, além de beneficiar os nacarares, era positiva aos interesses do Império Sassânida, que durante o reinado do xainxá Sapor II (r. 309–379) tentava conquistar a Armênia e se favorecia desse tipo de dissidência.[9] No momento da destruição, Ársaces havia se refugiado no Reino da Ibéria, pois Sapor II conduziu uma nova invasão. Ciente do ocorrido, retornou com tropas iberas e marchou contra os responsáveis. Os revoltosos estavam sob liderança do camsaracânida Narses I e impuseram forte resistência. No interim, tropas de Sapor II e do imperador Valente (r. 364–375) invadiram. Se sentindo cercado por todos os lados, Ársaces pediu a intervenção do católico Narses, que conseguiu obrigar os nobres a interromperem o conflito.[10] Ao todo, se estima que ao menos 20 mil pessoas foram mortas em Arsacavana.[11]
Referências
- ↑ Moisés de Corene 1736, p. 260.
- ↑ a b Fausto, o Bizantino 1989, p. 446.
- ↑ Hewsen 1992, p. 218, nota 296.
- ↑ Hakobyan, Melik-Baxšyan & Barsełyan 1988–2001, p. 476.
- ↑ a b Hakobyan 1987, p. 69.
- ↑ Hakobyan 1987, p. 69-70.
- ↑ Moisés de Corene 1978, p. 282.
- ↑ Moisés de Corene 1978, p. 283.
- ↑ Hakobyan 1987, p. 70-71.
- ↑ Moisés de Corene 1978, p. 285.
- ↑ Hakobyan 1987, p. 71.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard
- Hakobyan, Tadevos (1987). «Արշակավան». Patmakan Hayastani kʻałakʻnerě Պատմական Հայաստանի քաղաքները [Cities of historical Armenia]. Erevã: Hayastan
- Hakobyan, Tadevos X.; Melik-Baxšyan, Stepan T.; Barsełyan, Hovhannes X. (1988–2001). «Աշկալայի». Hayastani ev harakitsʻ šrjanneri tełanunneri baṛaran [Հայաստանի և հարակից շրջանների տեղանունների բառարան] [Dicionário de Toponímia da Armênia e Territórios Adjacentes]. 1–5. Erevã: Yerevan State University Publishing House
- Hewsen, Robert H. (1992). The Geography of Ananias of Širak. The Long and Short Recensions. Introduction, Translation and Commentary. Wiesbaden: Dr. Ludwig Reichert Verlag
- Moisés de Corene (1736). Historiae Armeniacae libri III. Londres: Caroli Ackers
- Moisés de Corene (1978). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachusetts; Londres: Harvard University Press