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Assassinato de Fernando Vilaça

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Assassinato de Fernando Vilaça
Fernando Vilaça da Silva, de 17 anos, assassinado em 2025.
Local do crimeRua Três Poderes, Bairro Gilberto Mestrinho, Zona leste de Manaus, Amazonas, Brasil
Coordenadas3° 03′ 46,07″ S, 59° 55′ 14,01″ O
Data3 de julho de 2025 (4 meses)
Tipo de crimehomicídio
lesão corporal
crime de ódio
agressão física
injúria
homofobia
calúnia
Mortos1 (A vítima)
Feridos1 (A vítima)
Réu(s)2 adolescentee
PromotorLeda Mara Nascimento Albuquerque (Procuradora-geral de Justiça do Estado do Amazonas [1])
Alexandre Torres Jr (Advogado de defesa da família de Vilaça.)
JuizEliézer Fernandes Júnior
Local do julgamentoJuizado da Infância e Juventude Infracional do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas
ConsequênciaOs dois adolescentes responsáveis foram punidos com a medida socioeducativa máxima prevista no Estatuto da Criança e Adolescente

No dia 3 de julho de 2025, na rua Três Poderes, no bairro Gilberto Mestrinho, zona leste de Manaus, Amazonas, Fernando Vilaça da Silva, de 17 anos de idade, foi espancado após reagir às ofensas de cunho homofóbico proferidas por dois primos durante uma confraternização em via pública.[2][3][4] Após dois dias internado em estado grave com traumatismo craniano, hemorragia intracraniana e edema cerebral, Vilaça não resistiu e faleceu no dia 5 de julho.[5] O crime gerou repercussão nacional, sendo repudiado por diversas personalidades e entidades ligadas aos direitos humanos, além de autoridades como a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo e a deputada federal por São Paulo, Erika Hilton.[6][7][8][9] O Ministério Público do Estado do Amazonas representou para com o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, uma internação por vias de medidas socioeducativas para os dois adolescentes responsáveis pelo crime. O titular do Juizado da Infância e Juventude Infracional, juiz Eliézer Fernandes Júnior acatou a representação, determinando a punição máxima prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.[10][11]

Assassinato

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No dia 3 de julho de 2025, o adolescente Fernando Vilaça da Silva, de 17 anos de idade, após sair para comprar pão e leite, quando sofreu novamente injúrias e ofensas homofóbicas por outros dois adolescentes, que são primos; todavia, Vilaça reagiu às ofensas, querendo saber a razão das mesmas, e acabou por ser agredido.[12] Conforme depoimentos, investigações, e o inquérito da Polícia Civil do Estado do Amazonas, concluiu-se que Vilaça sofreu agressões físicas, como chutes e socos, e em um desses chutes, ele sofreu uma queda no chão e teve uma convulsão. Imagens de uma câmera de segurança e de testemunhas mostraram que os agressores de Fernando fugiram, deixando-o ferido e convulsionado.[13]

Vilaça chegou a ser socorrido, sendo inicialmente levado ao Hospital e Pronto-Socorro Dr. Aristóteles Bezerra Platão de Araújo, seguindo por uma transferência para o Hospital e Pronto-Socorro Dr. João Lúcio Pereira Machado; ele passou por uma cirurgia de controle de danos e permaneceu internado durante dois dias, em estado grave, porém o adolescente teve traumatismo craniano, hemorragia intracraniana e edema cerebral, acabando por não sobreviver e falecendo em 5 de julho de 2025, conforme perícia do Instituto Médico Legal.[14][15]

Consequências e penalizações

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No dia 9 de julho, um dos adolescentes responsáveis pelo assassinato de Fernando Vilaça se entregou à Polícia Civil, ele tem 16 anos.[16] No dia 15 de julho, o advogado de defesa da família de Vilaça, Alexandre Torres Jr e a própria Polícia Civil do Amazonas, confirmaram a apreensão do segundo responsável pelo homicídio, que também é primo do seu cúmplice. O adolescente declarou que só reagiu a Fernando Vilaça, porém a Polícia descartou tal possibilidade em seu inquérito.[13]

Por fim, ao lado do advogado da família, o Ministério Público do Estado do Amazonas abriu uma representação para com o Tribunal de Justiça do Estado, solicitando a aplicação de punição máxima prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente. A representação foi acatada pelo TJ, que por meio de seu juiz titular do Juizado da Infância e Juventude Infracional, Eliézer Fernandes Júnior, decidiu pela aplicação da internação dos dois adolescentes, como forma de medida socioeducativa.[10][17][18]

Reações

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 Brasil: Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, emitiu nota de pesar pela morte do jovem por meio do site oficial do Governo federal do Brasil, o gov.br, na qual declara:[nota 1]

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, manifesta seu profundo pesar e solidariedade à família e à comunidade do jovem Fernando Vilaça da Silva, adolescente de 17 anos, brutalmente assassinado em um episódio de violência homofóbica no estado do Amazonas.
Na madrugada de sic 5 de julho de 2025, no bairro Gilberto Mestrinho, zona leste de Manaus (AM), Fernando foi espancado após reagir a ofensas de cunho homofóbico proferidas por um grupo de indivíduos durante uma confraternização em via pública. Após três dias internado em estado grave com traumatismo craniano, hemorragia intracraniana e edema cerebral, o jovem não resistiu e faleceu no dia sic 7 de julho.
Tais atos atentam diretamente contra os fundamentos constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da liberdade, representando também crimes previstos em nossa legislação penal, incluindo o homicídio qualificado por motivo torpe e os crimes de LGBTQIAfobia, reconhecidos como formas de racismo pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26/2019.
O MDHC reforça seu compromisso com a defesa da vida e dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e com o enfrentamento à violência motivada por ódio, preconceito e discriminação. Nos solidarizamos com os familiares de Fernando Vilaça da Silva, colocamo-nos à disposição para acompanhamento do caso e informamos que os encaminhamentos cabíveis já estão sendo realizados junto à Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.
Fernando Vilaça da Silva não será esquecido. Toda forma de violência LGBTfóbica deve ser combatida com rigor e com políticas públicas estruturantes.
 
Nota de pesar do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A deputada federal por São Paulo, Erika Hilton (PSOL), notável defensora dos Direitos LGBTIA no Brasil e primeira mulher trans e travesti a ser deputada federal do Brasil e São Paulo, repudiou o evento e acionou os órgãos federais como o próprio ministério dos Direitos Humanos no dia 7 de julho por via de suas redes sociais, em especial pelo Twitter.[19]

Erika Hilton Logo do X, uma letra X estilizada
@ErikakHilton

Estou requerendo, ao Ministério dos Direitos Humanos, o acompanhamento da investigação da morte do menino Fernando Vilaça, assassinado aos 17 anos em um crime de motivação homofóbica em Manaus.
É inaceitável um jovem sair para comprar leite e, pela homofobia alheia, não voltar pra casa. É dilacerante pensar que uma pessoa, que tinha a vida toda pela frente, teve sua trajetória interrompida por questionar o porquê de estarem lhe chamando de "viadinho".
E é revoltante saber que, conforme a mídia local, pessoas a mando dos agressores - que já foram identificados e estão foragidos - compareceram ao velório de Fernando para filmar o caixão.
A atuação do Ministério dos Direitos Humanos é essencial. Por conta de uma presunção, do ódio, da LGBTfobia e da violência alheia, Fernando não teve nem seu direito à vida respeitado.
E agora, após a sua morte, sua família está tendo o direito ao luto, à dignidade e à justiça negados.
Aos familiares de Fernando, dedico os meus mais sinceros pêsames e coloco o meu mandato à disposição para tudo que nos for possível.

7 de julho de 2025[20]
Vídeos externos
Discurso de Erika Hilton na tribuna da Câmara dos Deputados do Brasil sobre a morte de Vilaça
Deputada Erika Hilton (PSOL-SP) discursa na tribuna do Plenário Ulysses Guimarães sobre o assassinato de Fernando Vilaça

Mais tarde, no dia 9 de julho, Hilton utilizou a tribunal do Plenário Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados do Brasil para poder discursar e se pronunciar sobre o assassinato do adolescente Fernando Vilaça. A pessolista declarou que o país chora pela morte de Vilaça, exigindo em sua declaração "Parem de nos matar!" em referência à comunidade LGBT e ao caso de homofobia sofrido por Vilaça.[21]

 Amazonas: O Defensor Público Geral do Estado, Rafael Barbosa prestou solidariedade à família e repudiou a violência, ao reafirmar a gravidade do assassinato, também referendou o acompanhamento das investigações.[15] Até a manhã de 8 de julho de 2025 (cinco dias depois do episódio), nenhuma autoridade eletiva do estado do Amazonas havia se pronunciado. Nem o governador, Wilson Miranda Lima nem seu vice, Tadeu de Souza se pronunciaram. Não houve declarações por parte do prefeito de Manaus, David Almeida. Os parlamentares federais e estaduais não se pronunciaram, por exceção de Amom Mandel, deputado federal do Cidadania, Roberto Cidade, deputado estadual do UNIÃO e o deputado estadual Comandante Dan, do partido Podemos, todavia apenas Roberto Cidade, então presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas citou homofobia como a causa do crime. Já no dia 10 de julho, mais 3 deputadas estaduais repudiaram o acontecimento, sendo a deputada e procuradora especial da Criança e Adolescente, Débora Menezes, membro do Partido Liberal, que ofertou ajuda psicossocial para a família de Vilaça, além de auxiliar na articulação da operação da Polícia Civil; a parlamentar Mayra Dias, do Avante, que propôs o Projeto de Lei n.º 480/2024, que atualiza a Lei Estadual n.º 4.833/2019 e institui capacitação obrigatória para educadores na prevenção ao bullying e por fim, a companheira partidária de Roberto Cidade, deputada Joana Darc repudiou o assassinato e reafirmou seu compromisso para com a comunidade LGBTQ+. Darc é a autora do PL que planeja instituir um Disque-Bullyng, um canal permanente para denúncias de discriminações e intimidações. Cidade declarou em sua conta do Twitter o repúdio aos eventos.[22][23]

Roberto Cidade Logo do X, uma letra X estilizada
@RobertoCidadeAm

UM CRIME BÁRBARO!

Um adolescente foi espancado até a morte por ser quem é. Isso é HOMOFOBIA. Isso é crime hediondo!

Nenhuma família deveria passar por uma dor assim. Meus sentimentos e apoio aos familiares.

8 de julho de 2025[24]

Ver também

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Notas e referências

Notas

  1. As datas tanto da agressão quanto da morte de Vilaça foram divulgadas erroneamente, permanecendo incorretas no site gov.br, como pode ser visto na íntegra.

Referências

  1. Conte, Steven Castro. «Leda Mara toma posse como procuradora-geral de Justiça do MPAM». Ministério Público do Estado do Amazonas. Consultado em 22 de setembro de 2025 
  2. Ramos, Caio (10 de julho de 2025). «Suspeitos de matar adolescente por homofobia são primos da vítima | Metrópoles». www.metropoles.com. Consultado em 4 de agosto de 2025 
  3. «Entenda o caso de injúria homofóbica que levou à morte de adolescente em Manaus». G1. 11 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  4. Rodrigues, Beatriz (22 de julho de 2025). «Corpos marcados para morrer». Le Monde Diplomatique Brasil. Consultado em 22 de setembro de 2025 
  5. «Vídeo mostra jovens fugindo após agressão que matou adolescente de 17 anos em Manaus». G1. 7 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  6. Furtado, Maria Eduarda (10 de julho de 2025). «'Não será esquecido', diz Erika Hilton após crime homofóbico». Agência Cenarium. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  7. «Nota de pesar- 08.07.2025». Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania via gov.br. 8 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  8. «Morte de adolescente espancado em Manaus mobiliza defensores de direitos humanos». Folha de S.Paulo. 9 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  9. Litaiff, Paula (8 de julho de 2025). «O corpo de Fernando Vilaça e a punição social da diferença». Paula Litaiff. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  10. a b Costa, Lennon Jorge Gomes da. «Caso Fernando Vilaça: Justiça acata pedido do MPAM e determina internação de adolescentes autores do ato infracional». Ministério Público do Estado do Amazonas. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  11. Leiros, Marcela (21 de agosto de 2025). «'Caso Fernando Vilaça': Justiça do AM determina internação de adolescentes». Revista Cenarium. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  12. «O que se sabe sobre o caso do adolescente morto após reagir a ofensas homofóbicas». CartaCapital. 9 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  13. a b «Segundo adolescente suspeito de espancar jovem até a morte após injúria homofóbica é apreendido em Manaus». G1. 15 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  14. «ALEAM - Comandante Dan defende a cultura de paz aos jovens como antídoto à violência». 10 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  15. a b Silva, Luana Carvalho da (8 de julho de 2025). «DPE-AM acompanha investigações sobre morte brutal de adolescente e reforça combate à homofobia». Defensoria Pública do Estado do Amazonas. Consultado em 20 de setembro de 2025 
  16. «O que se sabe sobre morte de adolescente espancado em Manaus». G1. 10 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  17. «Justiça manda internar primos por espancar adolescente até a morte em Manaus». G1. 20 de agosto de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  18. «Acusados da morte de Fernando Vilaça são condenados e ficarão internados». 21 de agosto de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  19. «Deputada federal solicita investigação federal sobre morte de jovem vítima de homofobia em Manaus». Jornal do Commercio. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  20. Erika Hilton [@ErikakHilton] (7 de julho de 2025). «Estou requerendo, ao Ministério dos Direitos Humanos, o acompanhamento da investigação da morte do menino Fernando Vilaça, assassinado aos 17 anos em um crime de motivação homofóbica em Manaus.
    É inaceitável um jovem sair para comprar leite e, pela homofobia alheia, não voltar pra casa. É dilacerante pensar que uma pessoa, que tinha a vida toda pela frente, teve sua trajetória interrompida por questionar o porquê de estarem lhe chamando de "viadinho".
    E é revoltante saber que, conforme a mídia local, pessoas a mando dos agressores - que já foram identificados e estão foragidos - compareceram ao velório de Fernando para filmar o caixão.
    A atuação do Ministério dos Direitos Humanos é essencial. Por conta de uma presunção, do ódio, da LGBTfobia e da violência alheia, Fernando não teve nem seu direito à vida respeitado.
    E agora, após a sua morte, sua família está tendo o direito ao luto, à dignidade e à justiça negados.
    Aos familiares de Fernando, dedico os meus mais sinceros pêsames e coloco o meu mandato à disposição para tudo que nos for possível.»
    (Tweet) – via Twitter
     
  21. Furtado, Maria Eduarda (10 de julho de 2025). «'Não será esquecido', diz Erika Hilton após crime homofóbico». Agência Cenarium. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  22. Santana, por Fred (8 de julho de 2025). «Políticos do Amazonas silenciam sobre morte de adolescente por homofobia». Vocativo. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  23. «ALEAM - Assembleia Legislativa do Amazonas destaca ações de combate ao bullying e à homofobia». 10 de julho de 2025. Consultado em 19 de setembro de 2025 
  24. Roberto Cidade [@RobertoCidadeAm] (8 de julho de 2025). «UM CRIME BÁRBARO! Um adolescente foi espancado até a morte por ser quem é. Isso é HOMOFOBIA. Isso é crime hediondo! Nenhuma família deveria passar por uma dor assim. Meus sentimentos e apoio aos familiares.» (Tweet) – via Twitter 

Ligações externas

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