Autorretrato (Beaux)
| Autorretrato | |
|---|---|
| Autor | Cecilia Beaux |
| Data | 1925 |
| Género | Autorretrato |
| Técnica | Óleo sobre tela |
| Dimensões | 109 cm × 71 cm |
| Localização | Uffizi, Florença |
Autorretrato é uma pintura da artista Cecilia Beaux conservada na prestigiosa Galeria dos Autorretratos da Galeria Uffizi, em Florença.[1][2]
Descrição e Análise
[editar | editar código]Esse autorretrato de Cecilia Beaux, realizado em 1925, é uma obra notável não apenas por seu valor artístico, mas também por seu posicionamento simbólico dentro da tradição do autorretrato feminino — sobretudo ao ser incorporado à prestigiosa coleção da Galeria Uffizi, onde tantas artistas se autorrepresentaram como pintoras profissionais, e não meramente como musas ou damas da sociedade.[3][4]
Mesmo aos setenta anos, Beaux constrói uma imagem de autoridade e presença. A posição de costas, voltada em três quartos, é uma escolha audaciosa: afasta-se do confronto direto e sugere ao espectador que a artista se deixa ver apenas parcialmente — um jogo de reserva e controle que contrasta com o tratamento mais expressivo da paleta. Os tons de vermelho profundo, aliados a pinceladas densas e atmosféricas, criam um espaço carregado, quase sepulcral, que remete tanto à solenidade do tempo quanto ao peso da memória.[5]
A composição é sofisticada: o corpo elegantemente trajado se integra ao ambiente cromático, e apenas o rosto — e particularmente a tez clara — se destaca como ponto de foco. Há uma contenção emocional, mas também um gesto firme de autoafirmação: a artista, ciente do seu legado, se coloca não como uma senhora idosa, mas como uma figura de prestígio, controlando os códigos visuais da respeitabilidade burguesa e da autoridade artística.[6]
Os três pequenos frascos à direita funcionam como elementos simbólicos discretos, mas cruciais — sugerem o ofício, a prática, o estúdio. É o gesto típico de muitas pintoras mulheres que, ao longo da história, incluíram pincéis, paletas, ou referências simbólicas à prática artística para legitimar sua presença no espaço público da arte.
A comparação crítica com John Singer Sargent não é gratuita: ambos exploram a sofisticação do retrato como espetáculo visual e psicológico. Mas enquanto Sargent muitas vezes busca a vitalidade e o esplendor mundano de seus retratados, Beaux — especialmente neste autorretrato tardio — prefere uma gravidade silenciosa, um gesto de despedida contido e poderoso.[7]
Ver também
[editar | editar código]Referências
- ↑ Cecilia Beaux, Autorretrato. Galeria Uffizi. Consultado em 25 de abril de 2025.
- ↑ Pierguidi, Stefano. La collezione di autoritratti della Galleria degli Uffizi: storia e catalogazione. Firenze: Centro Di, 2010.
- ↑ Carter, Alice A. Cecilia Beaux: A Modern Painter in the Gilded Age. New York: Rizzoli, 2005.
- ↑ Nochlin, Linda. Women, Art, and Power and Other Essays. New York: Harper & Row, 1988.
- ↑ Pollock, Griselda. Vision and Difference: Feminism, Femininity and Histories of Art. London: Routledge, 1988.
- ↑ Cikovsky, Nicolai Jr. The Life and Art of Cecilia Beaux. Smithsonian Institution Press, 1974.
- ↑ Cecilia Beaux, Autorretrato. Galeria Uffizi. Consultado em 25 de abril de 2025.