Bájulo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Bájulo (em latim: bajulus; em grego medieval: βαΐουλος; romaniz.:baioulos) foi um termo usado no Império Bizantino para se referir ao preceptor ou tutor dos príncipes imperiais. Apenas uns poucos titulares são conhecidos, mas devido a íntima proximidade do ofício com a família imperial, e os laços que criou com os futuros imperadores, vários bájulos estiveram entre os mais importantes oficiais de seu tempo.

História[editar | editar código-fonte]

O termo deriva do latim baiulus ("portador"), que no século IV significava "freira" ou "preceptor". Assim, no século XII o teólogo Teodoro Bálsamo alegou que veio de baïon (βαΐον, folha de palmeira), pois o preceptor era encarregado de supervisionar o crescimento das mentes jovens.[1] O termo foi raramente usado e não há nenhuma atestação posterior ao período bizantino.[2] O estudioso do século XIII Manuel Moscópulo oferece os termos gregos equivalentes de pedagogo (παιδαγωγός; paidagogós) e pedotribes (παιδοτρίβης, paidotribes).[3]

O termo foi aplicado aos tutores e preceptores dos príncipes imperiais, que gozavam duma autoridade bastante extensa. Como escreve Vitalien Laurent, não era apenas "encarregado de instrução e educação, mas tudo o que era necessário para ajudar a criança a se tornar, física e intelectualmente, um homem".[3] O ofício manteve seus detentores em estreito contato com a família imperial, e o vínculo criado entre um bájulo e seu aluno poderia levar a uma influência política significativa. Não é por acaso que dois dos poucos titulares conhecidos, Antíoco no século V e Basílio Lecapeno no X, passaram a ser ministros-chefe todo-poderosos sob suas respectivas alas, enquanto até os outros parecem ter desempenhado um papel político importante.[4] Basil Lecapeno, em particular, recebeu o título ainda mais elevado de mega bájulo (μέγας βαΐουλος, "grande preceptor"),[5] que pode ter existido posteriormente ao lado de vários bájulos juniores.[6]

Apesar de sua importância, o ofício está totalmente ausente dos manuais de ofícios e cerimônias imperiais, até o século XIV. Pseudo-Codino, escrevendo depois de meados do XIV, não sabia onde o mega bájulo seria classificado na hierarquia bizantina, mas outras listas contemporâneas de ofício, como o apêndice ao Hexabiblo e a lista de versos de Mateus Blastares, que refletia o uso sob Andrônico II (r. 1282–1328) ou durante o reinado de Andrônico III Paleólogo (r. 1328–1341), colocam-o no 18º lugar, depois do paracemomeno do dormitório imperial e antes do curopalata.[7][8] Ernst Stein propôs que o bájulo foi substituído pelo tatas da corte, mas essa conjectura foi rejeitada por Laurent.[9]

Lista de titulares conhecidos[editar | editar código-fonte]

Name Tenure Notes Refs
Antíoco Início dos anos 400 Enviado pelo do Império Sassânida como tutor do futuro Teodósio II (r. 408–450), tornou-se um poderoso ministro chefe sob Teodósio. O título é quiçá anacrônico, dado pelos historiadores do século IX. [10]
Estêvão Anos 580/590 Tutor de Teodósio, filho de Maurício (r. 582–602). O título ocorreu numa tradução grega dum texto siríaco, e pode ser anacrônico também. [11]
João Picrídio c. 789–790 Protoespatário e bájulo de Constantino VI (r. 780–797). Foi torturado, tonsurado e exilado à Sicília sob o regime da imperatriz regente Irene de Atenas em 789, mas quando Constantino VI assumiu o poder em 790, foi reconvocado. Provavelmente pode ser o fundador do Mosteiro de Picrídio em Constantinopla. [12][13]
Gregório c. 873/75–885 Intitulado primicério e protoespatário imperial, era estratego no sul da Itália e lutou contra os sarracenos: em 876, capturou Bari e em 877–879 foi destinatário de quatro cartas do papa João VIII, pedindo sua ajuda contra os sarracenos. Sua última atestação ocorre em 885, quando esteve ativo em Monte Cassino [12][14]
Manuel, o Armênio c. 842/43 Um distinto comandante militar sob Teófilo (r. 829–842), foi um dos oficiais mais relevantes sob os primeiros anos do reinado de Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) até se arruinar numa luta pelo poder com Teoctisto. Um selo do período registra-o como "patrício, protoespatário imperial, magistro e bájulo do imperador". [12][14]
Sérgio Final do século IX / começo do X Conhecido apenas através de um selo que dá seus títulos como "primicério, protoespatário imperial e bájulo". [15]
Basílio Lecapeno c. 944/47 Filho bastardo de Romano I Lecapeno (r. 920–944), tornou-se mega bájulo e depois paracemomeno e dominou o governo imperial de facto como ministro chefe por boa parte do período 947–985, sob os imperadores Constantino VII (r. 913–963) (seu cunhado), Nicéforo II (r. 963–969) João I (r. 969–976) e Basílio II (r. 976–1025) (seu sobrinho). [16][17][18]
Leão de Maralda c. 1019 Conhecido apenas através de Lupo Protoespatário como um dos emissários enviados por Troia a Basílio Bioanes em 1019. É incerto que o título de bájulo é autêntico ou se uma interpolação posterior ou mesmo má tradução, ou se se refere à posição áulica bizantina de qualquer modo. "Maralda" é provavelmente o nome de seu pai. [19][20]
Anônimo ca. anos 1230 Tutor anônimo de Teodoro II (r. 1254–1258). [4]

Referências

  1. Laurent 1953, p. 198–200.
  2. Laurent 1953, p. 198.
  3. a b Laurent 1953, p. 200.
  4. a b Laurent 1953, p. 202.
  5. Laurent 1953, p. 204.
  6. Laurent 1953, p. 204–205.
  7. Verpeaux 1966, p. 140, 300, 307, 321, 335.
  8. Laurent 1953, p. 202–203.
  9. Laurent 1953, p. 203.
  10. Laurent 1953, pp. 200, 204.
  11. Laurent 1953, pp. 201, 204.
  12. a b c Laurent 1953, p. 201.
  13. Lilie 2013, Ioannes (#3110/corr.).
  14. a b Lilie 2013, Gregorios (#22357).
  15. Lilie 2013, Sergios (#27016).
  16. Laurent 1953, pp. 194–197, 204.
  17. Cutler 1991, p. 270.
  18. Lilie 2013, Basileios Lakapenos (#20925).
  19. Laurent 1953, pp. 201–202.
  20. Lilie 2013, Leon (#24659).

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Cutler, A.; Kazhdan, A. (1991). «Basil the Nothos». In: Kazhdan, Alexander. The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-504652-8 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt 
  • Verpeaux, Jean (1966). Pseudo-Kodinos, Traité des Offices. Paris: Éditions du Centre National de la Recherche Scientifique