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Barragem de Cariba

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Barragem de Cariba

A barragem vista do Zimbábue
Localização
Localização Distrito de Siavonga
Distrito de Kariba
País Zâmbia
Zimbábue
Barragem de Cariba está localizado em: Zâmbia
Barragem de Cariba
Localização da barragem na Zâmbia
Dados gerais
Proprietário Zambezi River Authority
Período de construção 1955
Data de inauguração 1960
Custo de construção US$ 480 milhões
Características
Tipo barragem em arco, usina hidrelétrica
Altura 128 m
Dados da central
Capacidade de geração Norte: 960 MW

Sul: 1,050 MW
Total: 2,010 MW

Unidades geradoras Norte: 4 x 150 MW, 2 x 180 Francis

Sul: 6 x 125 MW, 2 x 150 MW Francis

Dados da albufeira
Nome Lago Cariba

A barragem de Cariba (ou Kariba) é uma barragem em arco de dupla curvatura situada no desfiladeiro de Cariba, na bacia do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbábue. A barragem tem 128 metros de altura e uma extensão de 579 metros. O represamento forma o Lago Cariba, maior lago artificial do mundo, que se estende por 280 quilômetros e contém 185km³ de água.[1]

Etimologia

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Kariba vem da palavra "kariva" ou "kaliba", que significa armadilha. Era o nome de uma rocha que se projetava do desfiladeiro onde as paredes da barragem foram construída. Os tongas acreditavam ser o lar do Nyami Nyami, o deus do rio Zambeze, cujo qualquer um que ousasse chegar próximo à rocha seria arrastado para passar a eternidade debaixo d'água.[2]

Construção

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Construtores na barragem de Cariba (1955)

A barragem foi construída por ordem da Federação da Rodésia e Niassalândia, uma colônia federal da Coroa britânica. Formou-se joint venture de engenheiros consultores, que incluía a Sir Alexander Gibb & Partners, liderada por Angus Paton,[3] e a Coyne et Bellier, liderada por André Coyne,[4] no ano de 1955.[5]

A barragem em arco duplo foi construída entre 1955 e 1959, pela italiana Cogefar-Impresit,[4] custando 135 milhões de dólares, apenas com a casa de força subterrânea Sul (Zimbábue) no estágio inicial. O estágio final da construção e a adição da casa de força subterrânea Norte (Zâmbia) foi feito pela Mitchell Construction,[6] e até 1977, não havia sido completada, devido a diversos problemas políticos, custando um total de 480 milhões de dólares. Durante a construção, 86 operários da construção civil morreram.[3]

A barragem foi inaugurada oficialmente pela Rainha Isabel, a Rainha Mãe, no dia 17 de maio de 1960.[7][8]

Geração

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A barragem de Cariba fornece 2,010 megawatts de eletricidade para ambos países (Zâmbia e Zimbábue) e gera 6,400 gigawatt-horas anualmente. Cada país tem sua própria usina na parte norte e sul da barragem, respectivamente. A usina ao sul, pertencente ao Zimbábue, está em operação desde 1960 e possui seis geradores de 125 megawatts, sendo um total de 750 megawatts.[9][10]

Em 11 de novembro de 2013, foi anunciado pelo ministro financeiro de Zimbábue, Patrick Chinamasa, que a capacidade da estação hidroelétrica Sul teria um aumento 30%, com a instalação de duas novas turbinas, gerando 300 megawatts. O custo das melhorias seria feito com ajuda de um empréstimo de 319 milhões de dólares da China. O projeto teve início em 14 de novembro de 2014 e foi finalizado no dia 10 de março de 2018.[11] Foi realizado pela Sinohydro e teve um custo de 533 milhões de dólares.[12]

A usina localizada no norte, pertencente à Zâmbia, está em operação desde 1976, e inicialmente possuía quatro geradores de 150 megawatts cada, totalizando 600 megawatts de potência. Em dezembro de 2013, foram realizados trabalhos para adicionar mais dois geradores de 180 megawatts, totalizando 960 megawatts.[13][14]

Localização da barragem

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Construção da barragem de Cariba (1955)

A barragem de Cariba foi planejada e executada pelo governo da Federação da Rodésia e Niassalândia. A Federação era normalmente referida como Federação Centro-Africana (CAF). A CAF era uma "colônia federal" do Império Britânico na África Austral nos anos de 1953 até 1963, compreendendo a antiga colônia britânica autônoma da Rodésia do Sul e os antigos protetorados britânicos da Rodésia do Norte e Niassalândia. Antes da formação da Federação, a Rodésia do Norte decidiu, em 1953, construir uma barragem em seu território, no Rio Cafué, tributário do Rio Zambeze, estando mais próximo localizado ao Cinturão de cobre da África Central, que necessitava de mais energia elétrica. Este seria um projeto mais barato e menos grandioso, com menor impacto ambiental. A Rodésia do Sul, mais rica das três, contestou a construção da barragem no rio Cafué e insistiu que a localização seria no rio Cariba. A capacidade de geração no rio Cafué também seria inferior do que aquela em Cariba.[9]

Inicialmente, a barragem era de responsabilidade da Central African Power Corporation.[15] Atualmente, a barragem de Cariba é de propriedade da Zambezi River Authority, um empreendimento conjunto dos dois países, Zâmbia e Zimbábue.[16]

Desde a sua independência, Zâmbia construiu três barragens no rio Cafué.[17]

Impactos ambientais

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Deslocamento e reassentamento populacional

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A criação do reservatório da barragem forçou o reassentamento de aproximadamente 57 mil tongas que viviam em ambos os lados do rio Zambeze.[18]

Há muitas perspectivas diferentes sobre a ajuda que foi dada aos povos reassentados. O autor britânico David Howard descreveu os esforços pela Rodésia do Norte:

"Tudo o que um governo pode fazer com um orçamento escasso está sendo feito. Hortas de demonstração foram plantadas para tentar ensinar aos tongas métodos agrícolas mais sensatos e encontrar culturas comerciais que possam cultivar. As terras montanhosas foram aradas nos contornos das serras para protegê-los da erosão. Em Sinazongwe, uma horta irrigada produziu uma safra prodigiosa de mamões, bananas, laranjas, limões e vegetais, e demonstrou que os restos do vale poderiam ser prolíficos se houvesse dinheiro para irrigação. Mercados cooperativos foram organizados, e os tongas estão aprendendo a administrá-los. Os empreendedores receberam empréstimos para se estabelecerem como agricultores. Mais escolas foram construídas do que os tongas jamais tiveram, e a maioria dos tongas agora está perto de dispensários e hospitais".[19]

O antropólogo Thayer Scudde, que estudou as essas comunidades desde a década de 1950, escreveu:

Hoje, a maioria ainda é "refugiada do desenvolvimento". Muitos vivem em áreas menos produtivas e propensas a problemas, algumas das quais foram tão gravemente degradadas na última geração que se assemelham a terras à beira do Deserto do Saara.[20]

O escritor americano Jacques Leslie, em Deep Water (2005), focou na difícil situação das pessoas deslocadas pela represa de Cariba e constatou que a situação mudou pouco desde a década de 1970. Em sua opinião, Cariba continua sendo o pior desastre de reassentamento causado por represas na história africana.[21]

Basilwizi Trust

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Em 2002, comunidades do Vale do Zambeze, no noroeste do Zimbábue, formaram uma organização de desenvolvimento chamada Basilwizi Trust, buscando melhorias de vida para essa população que foi deslocada por meio de projetos e servindo como um canal entre o Vale e o processo de tomada de decisões do país.[22]

Ecologia do rio

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A barragem de Cariba controla 90% do escoamento total do Rio Zambeze, mudando significantemente a ecologia a jusante.[23]

Resgate da vida selvagem

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De 1958 a 1961, foi realizado a Operation Noah (Operação Noé), capturando e removendo cerca de 6 mil animais de grande e pequeno porte ameaçados pela elevação do nível da água do lago Cariba.[24]

Veja também

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Referências

  1. «Kariba Dam: Supplying Energy For Zambia And Zimbabwe». Institution of Civil Engineers (ICE) (em inglês). 9 de maio de 2025. Consultado em 5 de setembro de 2025 
  2. «Learning From the Kariba Dam - Hydropower Reform Coalition» (em inglês). Consultado em 8 de setembro de 2025 
  3. a b Editor (15 de abril de 1999). «Obituary Sir Angus Paton». New Civil Engineer (em inglês). Consultado em 9 de setembro de 2025 
  4. a b «Facts about Kariba». www.spurwing.co.zw. Consultado em 9 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 5 de novembro de 2009 
  5. «L'ENTENTE CORDIALE – Ingénieurs et Scientifiques de France (British Section)» (PDF). IESF (em inglês). 2019. Consultado em 9 de setembro de 2025 
  6. Lwamba, Ronald (22 de dezembro de 2016). «Zambia: History of hydropower: New projects after Kariba». Daily Nation Zambia. Consultado em 9 de agosto de 2025 
  7. Opening of Kariba Dam by HM The Queen Mother, May 1960. [S.l.: s.n.] 1959–1960. Consultado em 9 de setembro de 2025 
  8. «The Double Spiritual Nature of Lake Kariba - PhMuseum». phmuseum.com (em inglês). Consultado em 9 de setembro de 2025 
  9. a b «Kariba Dam: Zambia and Zimbabwe» (PDF). dams.org. 2000. Consultado em 9 de setembro de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 13 de junho de 2010 
  10. «Hydroelectric Power Plants in Southern Africa». Consultado em 9 de setembro de 2025. Arquivado do original em 19 de julho de 2009 
  11. «Zimbabwe Kariba South Expansion Project». en.powerchina.cn. Consultado em 9 de setembro de 2025 
  12. «Zimbabwe Commissions Chinese-Built Power Plant». allAfrica.com (em inglês). Consultado em 9 de setembro de 2025 
  13. «President Michael Sata commissions the Kariba North Bank extension hydro power station - Lusaka Times-Zambia's Leading Online News Site - LusakaTimes.com» (em inglês). 4 de dezembro de 2013. Consultado em 9 de setembro de 2025 
  14. «Zâmbia – Powerchina International Group Limited do Brasil». Consultado em 9 de setembro de 2025 
  15. «40. Agreement relating to the Central African power corporation signed at Salisbury, 25 November 1963 74». www.fao.org. Consultado em 9 de setembro de 2025 
  16. «Legal Status». www.zaraho.org.zm. Consultado em 9 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 6 de abril de 2010 
  17. «ZESCO - History (iterzhitezhi)». www.zesco.co.zm. Consultado em 9 de setembro de 2025. Cópia arquivada em 7 de setembro de 2005 
  18. Terminski, Bogumil (2013). «Development-Induced Displacement and Resettlement: Theoretical Frameworks and Current Challenges» (em inglês). Consultado em 9 de setembro de 2025 
  19. Howarth, David (1961). The Shadow of the Dam. Universidade de Michigan: Collins. 191 páginas 
  20. Thayer, Scudder (31 de julho de 1993). «Pipe Dreams: Can the Zambezi River supply the region's water needs?». Consultado em 9 de setembro de 2025. Arquivado do original em 27 de setembro de 2007 
  21. «When Elephants Fight». Columbia Journalism Review. Consultado em 9 de setembro de 2025. Arquivado do original em 25 de outubro de 2007 
  22. «Home». Basilwizi Trust (em inglês). 25 de junho de 2025. Consultado em 10 de setembro de 2025 
  23. Ribeiro, Daniel (1 de novembro de 2005). «The Zambezi: Damned by Dams». International Rivers. Consultado em 10 de agosto de 2025 
  24. Amy (28 de outubro de 2021). «Lake Kariba Operation Noah · Zimbabwe». Hideaways Africa (em inglês). Consultado em 10 de setembro de 2025 
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