Barsabores (marzobã)

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 Nota: Para outros significados, veja Barsabores.
Barsabores
Morte 350
Etnia Iraniano
Ocupação Nobre
Religião Zoroastrismo

Barsabores (em grego: Βαρσαβώρης), Bar(as)sabor(s)es (em grego: Βαρασ(σα)βορ(σ)ης) foi um oficial sassânida do século IV, ativo durante o reinado do Sapor II (r. 309–379). É mencionado nas Histórias Épicas de Fausto, o Bizantino. A historiadora Nina Garsoïan sugere que seja uma personagem fictícia.[1]

Nome[editar | editar código-fonte]

Varazes (ou Barazes) é a forma latinizada do persa médio e armênio Waraz ou Varaz, que por sua vez deriva do avéstico Warāza ou Varāza, "javali selvagem". Aparece na forma helenizada Uarazes.[2][3] Já o nome Sapor (Šapur) combina šāh (rei) e pūr (filho), significando literalmente "filho do rei". Seu nome foi utilizado por vários reis e notáveis durante o Império Sassânida e além e deriva do persa antigo *xšayaθiya.puθra. Pode ter sido um título, mas ao menos desde as últimas décadas do século II tornou-se um nome próprio. As formas atestadas incluem: parta šhypwhr; persa médio šhpwr-y; pálavi maniqueísta š’bwhr; livro pálavi šhpwhl; armênio šapowh e šapuh; siríaco šbwhr; soguediano š’p(‘)wr; grego Sapor(es) e Sabur; latim Sapores e Sapor; árabe al-Sābūr; persa Šāpur, Šāhpur, Šahfur, etc.[4]

Vida[editar | editar código-fonte]

Dinar de Sapor II (r. 309–379)

Como Varazes-Sapor, foi citado somente nas Histórias Épicas de Fausto, o Bizantino, mas Nicholas Adontz e outros estudiosos consideram que seja o embaixador Barsabores que, segundo Pedro, o Patrício, foi enviado pelo Narses I (r. 262–302) ao imperador Diocleciano (r. 284–305) em 298 no contexto das guerras entre os Impérios Romano e Sassânida. Também dizem que quiçá era parta e pertencia à Casa de Surena, uma das sete famílias do Irã.[3] No final do tempo do rei Tigranes VII (r. 339–350) da Armênia, segundo Fausto, era marzobã no Azerbaijão.[5] Diz-se que à época Tigranes e Sapor II (r. 309–379) estavam em paz e o senecapetes Pisagas Siuni foi enviado como emissário a Barsabores, com quem firmou laços de amizade e relatou sobre o famoso corcel de Tigranes.[6] O marzobã invejou o animal e enviou Pisagas de volta com uma carta exigindo o animal, mas o rei se negou. Ciente de que o emissário podia criar discórdia entre eles, Tigranes buscou o corcel mais semelhante possível e ordenou que Pisagas o levasse ao marzobã com presentes e cartas oficiais. Pisagas usou a oportunidade para disseminar a discórdia entre eles e Barsabores, furioso, mandou carta a Sapor[a] difamando o rei. Ao mesmo tempo, Barsabores enviou carta a Tigranes alegando que queria visitá-lo em respeito ao amor que nutria. Chegou em Apaúnia com 3 mil homens e foi bem recebido, mas logo soube por Pisagas que foi ali recebido porque, segundo palavras do próprio Tigranes, aquela terra possuía poucos animais para caçar, uma vez que o rei se recusou a levar o oficial sassânida para as grandes zonas de caça do país.[7]

Assuristão e províncias vizinhas

Barsabores ficou ainda mais enfurecido e aguardou a oportunidade certa para se vingar. Alguns dias depois, convidou Tigranes a uma festa em sua honra. Depois que o rei e os seus soldados estavam bêbados, ordenou que seus homens cercassem todos e Tigranes foi preso nos pés e nas mãos com correntes, enquanto viu seus tesouros, sua esposa e filho serem levados. Barsabores levou o butim e o rei para a vila de Dalarique, onde teria dito: "Agora, então! Tragam carvões [brilhantes] para aquecer o ferro até o ponto incandescente, a fim de queimar os olhos do rei da Armênia." Tigranes perdeu a visão e disse que a localidade, cujo nome significava "Verde", devia se chamar agora Acul, ou seja, "carvões". Então, as tropas se apressaram rumo ao Assuristão, à capital de Ctesifonte, para entregar o rei ao xá. Os nacarares (nobres) e oficiais militares armênios se reuniram e caçaram-nos, mas não conseguiram salvar o rei, e decidiram pilhar e capturar territórios do Império Sassânida como retaliação.[8] Sapor respondeu conduzindo uma expedição em grande escala na Armênia. Os armênios enviaram os emissários Arsabero I e Antíoco II para Constantinopla, capital do Império Romano, e pediram ajuda do imperador Constâncio II (r. 337–361),[a] que concordou em ajudar. O exército romano parou em Satala antes de marchar ao campo persa em Oscai, onde o exército armeno-romano derrotou Sapor decisivamente. Ao voltar à sua corte, o xá investigou as causas do conflito e soube que tudo começou porque Barsabores queria o cavalo real. Em resposta, removeu sua diadema e seu robe cerimonial e o torturou. Depois, ordenou que sua pele fosse arrancada e recheada com palha e pendurada em praça pública como espetáculo de censura.[9]

Avaliação[editar | editar código-fonte]

Para H. Gelzer, Nina Garsoïan, Nicholas Adontz e K. Melik'-Ohanjanyan, os dois capítulos nos quais Barsabores é citado nas Histórias Épicas são presumivelmente inteiramente construídos a partir da tradição popular de eventos históricos do período, de modo que ambos não devem ser levados em conta como relatos fieis do fim da vida de Tigranes, ou mesmo da carreira de Barsabores. Os capítulos estão cheios de simbolismo e acumulam epítetos oriundos da tradição épica oral, bem como são inconsistentes na apresentação dos monarcas da Pérsia e de Roma (ora os omitindo, ora citando indivíduos anacrônicos ao contexto) e omitem o asparapetes, que seria comandante-em-chefe das tropas do país aquando da investida dos nobres contra os invasores.[10]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ No trecho, Fausto, o Bizantino chama o reinante de Narses I, porém a esta altura ele já estava morto e o xá era Sapor II, filho de Hormisda II (r. 302–309) e neto de Narses. Nina Garsoïan propõe que o anacronismo seja uma confusão do autor com o homônimo, filho de Sapor II, que foi morto em combate contra o Império Romano na Batalha de Singara de 344.[11] Em outro trecho no mesmo contexto, Fausto confunde o imperador Constâncio II (r. 337–361) com o muito posterior Valente (r. 364–378).[12]

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachussetes: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Justi, Ferdinand (1895). Iranisches Namenbuch. Marburgo: N. G. Elwertsche Verlagsbuchhandlung