Bassula

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A bassula é um tipo de desporto de combate e arte marcial tradicional de Angola.[1] Consiste em agarrar e imobilizar o oponente, mas principalmente derrubá-lo pegando ou tocando-o e, sem golpes, levá-lo ao chão.[2]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo "bassula" significa "rasteira", ou a queda dada ao adversário, que é o zênite do desporto.[1]

Histórico[editar | editar código-fonte]

Esta arte era praticada pelos axiluandas e bessangães no litoral da província luandina, uma tradição desenvolvida principalmente entre os pescadores da baía de Luanda.[1]

Um dos últimos mestres foi António Joaquim "Cabetula" que nasceu em na Ilha de Luanda, em 1920, e faleceu em 2004, aos 84 anos, no bairro da Boavista (antiga Mussenda). A Cabetula é atribuído a passagem de conhecimento das técnicas de quedas (kibwas) e chaves (kapangas), praticadas em forma de jogo acrobático entre a comunidade tradicional litorânea. Esta desenvolveu adeptos no Mussulo, na Samba-Corimba e no Cacuaco. Como a prática envolvia áreas praianas e costeiras, a presença do sol e do verão ensolarado passou a ser somada ao rito de treinamento do desporto.[1]

Estilos[editar | editar código-fonte]

Bassula de bissoco[editar | editar código-fonte]

A "bassula de bissoco" (amizade) era a verdadeira luta desportiva e recreativa onde familiares, amigos e pessoas de confiança praticavam em ocasiões reservadas.[1]

Em cerimônias de casamento, algumas famílias testavam a bravura do genro numa "bassula de bissoco" com o futuro sogro, onde se revelaria seu caráter. Se fugisse do sentido recreativo e se tornasse competitivo, seu caráter era tido como mal, e se fingisse que não era bom lutador para não faltar com o respeito e simulando derrota, pagaria multa em quantidade de bebidas e alguns quitutes.[1]

A transformação da bassula num desporto majoritariamente de amizade, de fraternidade e de preparação física para a defesa pessoal, tem sido visto como uma forma de perpetuar a cultura para as gerações presentes e vindouras, e em particular para celebração entre os vários elementos miscigenados e cosmopolitas da sociedade pós-independência angolana. A bassula, assim torna-se um desporto que atrai praticantes em todo o país.[1]

Bassula de coesão ou bessangana[editar | editar código-fonte]

Já os pescadores geralmente treinavam a bassula de coesão (ou bessangana), em que se preparavam para determinados desafios, enfrentamentos na vida social e na defesa pessoal em caso de conflitos com rivais ou vizinhos. A prática vinha da filosofia popular que "a riqueza e a alegria do homem africano é a sua coesão social", vislumbrada em praticas como a bassula. Além disto, a comunidade pescadora ainda conserva crenças na Rainha do Mar e na Quianda, alvo de evocações e de preces nos rituais de prática. Na bassula bessangana há uma tentativa de manter as técnicas e manuseamento dos instrumentos de pesca, a rebita, os trajes peculiares dos homens e mulheres pescadores.[1]

Bassula de jinvunda[editar | editar código-fonte]

Em outras ocasiões, muitas das vezes grupos de dança rivais se enfrentavam no carnaval em Angola com lutas de bairros, com conflitos violentos com uso da bassula. Este combate violento é denominado "bassula de jinvunda" e não exclui o uso de técnicas e habilidades proibidas, e uso artefatos como aduelas (tábuas de barril) e navalhas.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i Bassula. Escola de Capoeira Antiga Auvergne. 2022.
  2. Maduka T. J. Desch Obi. Angola e o Jogo de Capoeira. Niterói: Antropolítica. n. 24, p. 102-124, 1. sem. 2008.