Bastos Tigre
Bastos Tigre | |
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Tigre, 1944, com a revista "D. Quixote" | |
Nascimento | Manuel Bastos Tigre 12 de março de 1882 Recife Pernambuco |
Morte | 2 de agosto de 1957 (75 anos) Rio de Janeiro |
Nacionalidade | Brasileira |
Ocupação | Escritor e bibliotecário[1] |
Movimento literário | Modernismo |
Assinatura | |
Manuel Bastos Tigre (Recife, 12 de março de 1882 — Rio de Janeiro, 2 de agosto de 1957) foi um bibliotecário, jornalista, poeta, compositor, humorista e destacado publicitário brasileiro.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Estudou no Colégio Diocesano de Olinda, onde compôs os primeiros versos e criou o jornalzinho humorístico O Vigia. Diplomou-se pela Escola Politécnica, em 1906. Trabalhou como engenheiro da General Electric e depois foi ajudante de geólogo nas Obras Contra as Secas, no Ceará.
Foi homem de múltiplos talentos, pois foi jornalista, poeta, compositor, teatrólogo, humorista, publicitário, além de engenheiro e bibliotecário. E em todas as áreas obteve sucesso, especialmente como publicitário. "É dele, por exemplo, o slogan da Bayer que correu o mundo, garantindo a qualidade dos produtos daquela empresa: "Se é Bayer é bom". Foi ele ainda quem fez a letra para Ary Barroso musicar e Orlando Silva cantar, em 1934, o "Chopp em Garrafa", inspirado no produto que a Brahma passou a engarrafar naquele ano, e veio a constituir-se no primeiro jingle publicitário, entre nós." (As vidas..., p. 16).[2]>
Prestou concurso para Bibliotecário do Museu Nacional (1915) com tese sobre a Classificação Decimal. Mais tarde, transferiu-se para a Biblioteca Central da Universidade do Brasil, onde serviu por mais de 20 anos.
Exerceu a profissão de bibliotecário por 40 anos, é considerado o primeiro bibliotecário por concurso, no Brasil.
No dia 12 de março é comemorado o Dia do Bibliotecário, que foi instituído em sua homenagem.
Em 1936 foi dos que se apresentaram candidato à cadeira 6 da Academia Brasileira de Letras, para suceder a vaga de Goulart de Andrade; mas não foi eleito, o escolhido para a vaga foi o jornalista Barbosa Lima Sobrinho.[3]
Poesias
[editar | editar código-fonte]O FILHO PRÓDIGO
Manuel Bastos Tigre
- Foi na extrema hora da partida,
- Pediu-me a bênção,
- Abençoei dizendo:
- “Segue, meu filho, vai por esta vida,
- vai pelo mundo que tu achas lindo.
- Pela áurea estrada esplêndida
- E florida da tua exuberante mocidade.”
- Ele saiu dali, partiu sorrindo
- E eu, um beijo último, atirei-lhe
- envolto em uma lágrima de saudade.
- Partiu sorrindo pela estrada a fora,
- a rir feliz como um aventureiro.
- Tendo na fronte as irradiações da aurora
- E os sonhos triunfais do mundo inteiro.
- “Anda! Sê forte!
- Evita os mil perigos.
- Pela gratidão jamais esperes.
- Não creia na lisonja dos amigos.
- Não confie no sorriso das mulheres.”
- Ele saiu dali, partiu sorrindo,
- Tendo na fronte o albor dos rosicleres.
- Anos volveram.
- Perpassaram-se dias.
- As minhas pobres barbas branqueceram-se
- E nem uma palavra alentadora daquele pobre filho que se fora.
- Até que por manhã de claro estio,
- pelo claro da lisa e larga estrada,
- surge um mendigo, receoso e esguio,
- com os pés em sangue e a roupa lacerada.
- Caminha devagar e lento e lento...
- Vem, pouco a pouco, se arrastando a porta.
- Triste nênia de luto entoa o vento e a própria natureza é quase morta.
- Vem mais se aproximando o forasteiro
- já quase frente a frente, rosto a rosto.
- Quem será esse moço assaz trigueiro que encarna a própria imagem do desgosto?
- E o mendigo com voz entrecortada,
- olhando para trás, olhando a estrada,
- que ficava dali meio distante,
- num gesto contristado e claudicante
- vai dizendo entre lágrimas banhado.
- “Eu sou aquele miserável moço,
- de olhar radiante e de sonhar tão lindo.
- Que, há dez anos, daqui partiu sonhando,
- que, há dez anos, daqui partiu sorrindo.
- Pai! Eu sou aquele filho miserando.
- Que um dia, se partiu daqui sorrindo,
- agora, volta como vês: chorando.”
Obras publicadas
[editar | editar código-fonte]- Saguão da Posteridade. Rio de Janeiro: Tipografia Altina, 1902.
- Versos Perversos. Rio de Janeiro, Livraria Cruz Coutinho, 1905.
- O Maxixe. Rio de Janeiro : Tipografia Rabelo Braga, 1906.
- Moinhos de Vento. Rio de Janeiro : J. Silva, 1913.
- O Rapadura. Rio de Janeiro : Oficina do Teatro e Esporte, 1915.
- Grão de Bico. Rio de Janeiro : Turnauer & Machado, 1915.
- Bolhas de Sabão. Rio de Janeiro : Leite Ribeiro e Maurillo, 1919.
- Arlequim. Rio de Janeiro : Tipografia Fluminense, 1922.
- Fonte da Carioca. Rio de Janeiro : Grande Livraria Leite Ribeiro, 1922.
- Ver e Amar. Rio de Janeiro : Tipografia Coelho, 1922.
- Penso, logo... eis isto. Rio de Janeiro: Tipografia Coelho, 1923.
- A Ceia dos Coronéis. Rio de Janeiro : Tipografia Coelho, 1924.
- Meu bebê. Rio de Janeiro : P. Assniann, 1924.
- Poemas da Primeira Infância. Rio de Janeiro : Tipografia Coelho, 1925.
- Brinquedos de Natal. Rio de Janeiro : L. Ribeiro, 1925.
- Chantez Clair. Rio de Janeiro : L. Ribeiro, 1926.
- Zig-Zag. Rio de Janeiro, 1926.
- Carnaval: poemas em louvor ao Momo. Rio de Janeiro, 1932.
- Poesias Humorísticas. Rio de Janeiro : Flores & Mário, 1933.
- Entardecer. Rio de Janeiro, 1935.
- As Parábolas de Cristo. Rio de Janeiro : Borsoi, 1937.
- Getúlio Vargas. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1937.
- Uma Coisa e Outra. Rio de Janeiro : Borsoi, 1937.
- Li-Vi-Ouvi. Rio de Janeiro : J. Olympio, 1938.
- Senhorita Vitamina. Rio de Janeiro : Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, 1942.
- Recitália. Rio de Janeiro : H. B. Tigre, 1943.
- Martins Fontes. Santos : Sociedade dos Amigos de Martins Fontes, 1943.
- Aconteceu ou Podia ter Acontecido. Rio de Janeiro : A Noite, 1944.
- Cancionário. Rio de Janeiro : A Noite, 1946.
- Conceitos e Preceitos. Rio de Janeiro : A Noite, 1946.
- Musa Gaiata. São Paulo : O Papel, 1949.
- Sol de Inverno. Rio de Janeiro, 1955.
Referências
- ↑ [Este animal de pelo: Nome esquecido da belle époque carioca, Bastos Tigre revela muitos aspectos da vida literária no Rio de Janeiro do início do século XX http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/este-animal-de-pelo] Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 7, Nº 78, março de 2012; ISSN 1808-4001. Acesso em 13/03/2014
- ↑ «Bastos Tigre». Biblioteca Nacional digital
- ↑ «Bastos Tigre: O Sentido de sua candidatura a Academia» 12924 ed. Rio de Janeiro: Jornal Correio da Manhã, disponível na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. 27 de dezembro de 1936. p. 3. Consultado em 6 de fevereiro de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- AS VIDAS DE BASTOS TIGRE, 1882-1982. Catálogo da exposição comemorativa do centenário de nascimento. Rio de Janeiro : ABI FUNARTE, Centro de Documentação; Companhia de Cigarros Sousa Cruz, 1982. 32p. il.
- MENESES, Raimundo. Bastos Tigre e "La Belle Époque". São Paulo : Edart, 1966. 395p.
- MENESES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. 2. ed. rev. aum. e atual. Rio de Janeiro : Livros Técnicos e Científicos, 1978. 803 p.
- PARDAL, Paulo. Memórias da Escola Politécnica. Rio de Janeiro : Xerox do Brasil : UFRJ, Escola de Engenharia, 1984. 204p. (Biblioteca Reprográfica Xerox, 21)
- MENESES, Raimundo. Bastos Tigre e "La Belle Époque". São Paulo : Edart, 1966. 395p.