Batalhão dos Periquitos

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Batalhão dos Periquitos
País Império do Brasil
Estado Bahia
Criação 1822
Período de atividade 1822-1824
História
Guerras/batalhas Batalha na estrada da Pituba[1]
Comando
Comandante Major José Antônio da Silva Castro

O 3º Batalhão de Infantaria foi uma divisão militar do Império do Brasil comandada pelo Major José Antônio da Silva Castro. Ele ficou conhecido como Batalhão dos Periquitos, e seu comandante de "Periquitão", devido à presença da cor verde em seus uniformes.[1] O batalhão foi formado durante a Independência da Bahia, em 1822, e sua integração ao exército do Império do Brasil foi formalizada em 1823.

Formação[editar | editar código-fonte]

Após as forças portuguesas terem derrotado algumas unidades do exército brasileiro no norte do Império, alguns senhores de engenho juraram lealdade a Dom Pedro I, e o mercenário francês Pierre Labatut foi enviado a Salvador para comandar as forças em nome do Império do Brasil.[2]

Naquela época o batalhão era chamado de Batalhão de Voluntários do Príncipe D. Pedro[1] e era composto por milícias rurais, patriotas e por escravos dos engenhos de proprietários portugueses sem herdeiros brasileiros, sendo que muitos destes escravos foram alistados à força por Labatut. Silva Castro, então alferes na época, ajudou na organização e treinamento dos soldados deste batalhão, o que levou à sua promoção a Major.[3]

Em setembro de 1823, após o fim dos conflitos armados, o exército do qual o batalhão fazia parte teve seus números reduzidos de quinze mil para 2 500 membros, e o batalhão foi formalmente nomeado como o 3º Batalhão de Infantaria.[3]

Batalhas[editar | editar código-fonte]

Maria Quitéria, heroína do Batalhão dos Periquitos, gravura do livro Diário de uma viagem ao Brasil, de Maria Graham.

O Batalhão dos Periquitos foi designado para a proteção da Ilha de Maré, na baía de Todos-os-Santos. No dia 22 de novembro de 1822, a caminho de Pituba foram atacados por forças portuguesas. No dia 23 de fevereiro de 1823 participaram de uma batalha em Itapuã, e no dia 23 de abril defenderam a foz do Rio Paraguaçu, onde impediram o desembarque de forças portuguesas.[4]

Os Periquitos foram responsáveis por mais de um mês de conflitos, de 21 de outubro até o início de dezembro. Tomaram a cidade de Salvador com violência e foram apoiados por outros batalhões de negros, assassinando o Governador das Armas coronel Felisberto Gomes Caldeira. Os alvos dos ataques eram os portugueses, os defensores da monarquia e até os comerciantes, afinal parte da população pobre se juntou ao grupo militar para saquear diversos estabelecimentos. É importante lembrar que Salvador, após os movimentos de independência, passa por uma grande crise econômica que se reflete na miséria e no desemprego, e este é o motivo desta revolta ser mais complexa do que as divergências políticas: pesava também a questão social.[5]

Levante dos Periquitos[editar | editar código-fonte]

De acordo com o historiador Hendrik Kraay, havia uma clara distinção entre o escravo e o soldado, sendo assim, este recrutamento era visto como uma promessa implícita de liberdade. O Conselho Interino na época foi contra o recrutamento de escravos, afirmando que "o general francês empreendera a 'horrorosa' medida de criar um 'Batalhão de negros cativos, crioulos e africanos.'"[2] A tensão racial e de classe se manteve após o fim da guerra, quando os escravos que participaram desta foram libertos, mas permaneceram como soldados do Batalhão dos Periquitos, em Salvador.[3][6]

Com o anúncio do deslocamento do 3º Batalhão de Infantaria para o Pernambuco, e de seu comandante, Silva Castro, para o Rio de Janeiro, além do constante atraso no salário dos soldados, em 21 de outubro de 1824 tem início o Levante dos Periquitos.[6] A primeira ação durante o levante foi o assassinato do Governador das Armas, o Coronel Felisberto Gomes Caldeira.[3]

Com o fim do levante, o batalhão foi eliminado e um novo Governador das Armas foi nomeado, o Brigadeiro José Egídio.[7]

Referências

  1. a b c Moreira, Neuracy Maria de Azevedo. Maria Quitéria. Resgate de Memória, n. 2, jul. 2014.
  2. a b Kraay, Hendrik. Em outra coisa não falavam os pardos, cabras, e crioulos: o "recrutamento" de escravos na guerra da Independência na Bahia. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 22, n. 43, p. 109-126, 2002.
  3. a b c d Reis, João; Kraay, Hendrik. "The Tyrant is Dead!" The Revolt of the Periquitos in Bahia, 1824. Hispanic American Historical Review, v. 3, n. 84, jul. 2009.
  4. Pinto, Raymundo. Maria Quitéria e o dois de julho. Direito UNIFACS-Debate Virtual, n. 151, 2013.
  5. «Revolta dos Periquitos – Salvador, Bahia | Revoltas | Impressões Rebeldes». www.historia.uff.br. Consultado em 3 de fevereiro de 2021 
  6. a b Reis, Arthur Ferreira. Os corcundas e os periquitos: a visão áulica sobre a Revolta dos Periquitos na Bahia. Anais dos Encontros Internacionais UFES/PARIS-EST, 2007.
  7. Santos, Tainá Araújo dos. Major Denice Santiago: o protagonismo da mulher negra na Polícia Militar da Bahia. 2018. 17 f. Tese (Bacharelado em Humanidades) – Instituto das Humanidades e Letras, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São Francisco do Conde, 2018.

Ver também[editar | editar código-fonte]