Batalha de Chester

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Batalha de Chester
Data circa 615/616
Local Chester
Desfecho Vitória da Nortúmbria
Beligerantes
Nortúmbria Powys
Rhôs (um cantref de Venedócia
Mércia?
Comandantes
Etelfrido Selyf ap Cynan
Iago ap Beli?
Cearl of Mercia?
Baixas
Desconhecido Selyf ap Cynan
Iago ap Beli?

A Batalha de Chester ou, na sua forma portuguesa, de Céstria (em galês antigo: Guaith Caer Legion; em galês:Brwydr Caer) foi uma grande vitória para os anglo-saxões contra os nativos britânicos perto da cidade de Chester, na Inglaterra, no início do século VII. Etelfrido da Nortúmbria (Æthelfrith) aniquilou as forças reunidas dos reinos galeses de Powys, Rhôs (um cantref do Reino de Venedócia) e, possivelmente, da Mércia. A batalha ainda resultou na morte dos líderes galeses Selyf Sarffgadau de Powys e Cadwal Crysban de Rhôs. Evidências circunstanciais sugerem ainda que o rei Iago de Venedócia também pode ter perdido a vida nesta batalha.

Um grande número de monges do mosteiro de Bangor on Dee, que tinham vindo para testemunhar a batalha, foram mortos por ordem de Etelfrido antes da batalha. Ele pediu aos seus guerreiros que massacrassem os religiosos por que, ainda que eles não portassem armas, eles estariam rezando pela derrota da Nortúmbria.[1]

A importância estratégica da batalha permanece incerta, pois Etelfrido também perdeu a vida em combate logo após a vitória.[2] Já foi sugerido que Cearl, o rei anglo-saxão da Mércia, pode também ter se envolvido e divido a derrota com os britânicos, pois o seu senhorio sobre Gales oriental e a Mércia efetivamente foi eliminado até a ascensão de seu sucessor, Penda, em 633 d.C.[3]

Fontes históricas[editar | editar código-fonte]

Batalha[editar | editar código-fonte]

O historiador Charles Plummer acreditava que a batalha teria ocorrido entre 615 e 616.[4] Porém, anais quase contemporâneos fornecem uma variedade de datas. A Crônica Anglo-Saxônica relata 605 em uma versão e 606 noutra:

And her Æðelfrið lædde his færde to Legercyestre, 7 ðar ofsloh unrim Walena. 7 swa wearþ gefyld Augustinus witegunge. þe he cwæþ. Gif Wealas nellað sibbe wið us. hi sculan æt Seaxana handa farwurþan. Þar man sloh eac .cc. preosta ða comon ðyder þæt hi scoldon gebiddan for Walena here. Scrocmail was gehaten heora ealdormann. se atbærst ðanon fiftiga sum.

E aqui, Æðelfrið liderou seu exército em Chester e lá ele matou incontáveis galeses. E assim se realizou a profecia de Agostinho, que dizia que "Se ele não fizerem a paz conosco, morrerão pelas mãos dos saxões". Lá também ele assassinou 200 padres que vieram para rezar pelo exército galês. Scrocmail era o seu líder e ele escapou como um de cinquenta."

 

Na Brut y Brenhinedd (em inglês: Chronicle of the Kings - "Crônica dos Reis"),[5] que é uma coleção de variadas versões em galês médio da crônica latina de Godofredo de Monmouth, Historia Regum Britanniae ("História dos Reis da Grã-Bretanha"), a batalha é chamada de Perllan Fangor (em inglês: Bangor Orchard - "Pomar de Bangor").[6] Brut se mostrou particularmente influente na Gales medieval, onde ele era amplamente considerado como uma fonte confiável sobre a história primitiva dos britânicos.[7] Ela, portanto, sugere que a batalha teria ocorrido perto de Bangor on Dee ao invés de Chester.

Massacre[editar | editar código-fonte]

Beda é o único autor contemporâneo que menciona a morte dos monges. Ele escreveu:

Passaram...a rezar na batalha...Rei Etelfrido, informado [disto].... disse, "Se eles então irão rogar para o seu deus contra nós, é fato que, ainda que eles não portem armas, ainda assim eles lutam contra nós, pois se opõem através de suas orações.". Ele, assim, os comandou que os atacassem primeiro...Diz-se que por volta de 1200 dos que vieram para rezar foram assassinados."
 

Beda acreditava que isto fora o castigo divino provocado pela recusa dos bispos galeses terem se recusado a se submeter a Santo Agostinho. Durante a Reforma Inglesa, acadêmicos como Matthew Parker frequentemente argumentavam que o próprio Agostinho havia sido cúmplice na batalha e no massacre, mas esta teoria rapidamente se degenerou em uma disputa sectária.[8] A data geralmente aceita de 615 / 616 para a batalha tenta mitigar este argumento, pois acredita-se que Agostinho tenha morrido em 604 d.C. Além de Beda, os Annales Cambriae e os Annals of Ulster também dão 604 d.C. como a data da batalha.

A teoria de que Agostinho tenha pedido o ataque foi disputada e rejeitada por acadêmicos como Elizabeth Elstob, Henry Spelman, Henry Wharton, e Jeremy Collier durante os séculos XVIII e XIX[8] . Historiadores modernos geralmente representam os comentários de Beda como uma tentativa de interpretar a ameaça de Agostinho (que ele ouviu provavelmente de um informante em Cantuária) como uma profecia e a batalha, sem relação com ela, como sua realização, provando assim a santidade de Agostinho. Uma passagem de Beda que livra Agostinho claramente da culpa de ter instigado a violência não aparece na tradução para o inglês antigo de sua obra. Acredita-se que seja uma interpolação posterior cujo objetivo era justamente distanciar Agostinho da violência que ele havia ameaçado (ou profetizado).[8]

Importância[editar | editar código-fonte]

O real motivo por trás da batalha é desconhecido, mas Godofredo afirma que o adversário político de Etelfrido, Eduíno, estaria exilado em Venedócia. Ainda que ele seja geralmente considerado como "pouco confiável", há também referências em seu favor nas obras de Reginaldo de Durham e nas Tríades Galesas. O que de fato não há são evidências de que Etelfrido estaria perseguindo Eduíno.

Também parece improvável que Etelfrido estivesse protegendo colonos anglos na área[1] e é possível que ele estivesse, na verdade, planejando atacar Powys.

Referências

  1. a b Michelle Ziegler at http://www.mun.ca/mst/heroicage/issues/2/ha2pen.htm
  2. Beda. «12». História eclesiástica do povo inglês. How Edwin was persuaded to believe by a vision which he had once seen when he was in exile. [Circ. 616 A.D.] (em inglês). 2. [S.l.: s.n.] 
  3. Higham, "King Cearl, the Battle of Chester and the origins of the Mercian 'Overkingship'", pp. 1-15
  4. Beda (731), Plummer, Carolus, ed., História Eclesiástica do Povo Inglês, Oxonii: e typographeo Clarendoniano (publicado em 1896) 
  5. Outros títulos são Ystoria Brutus e Ystorya Brenhined y Brytanyeit
  6. Brut Dingestow, ed. Henry Lewis, Brut Dingestow. Cardiff: Gwasg Pryfisgol Cymru, 1942. In Welsh.
  7. Brut Tysilio, ed. Owen Jones et al., The Myvyrian archaiology of Wales. Vol. 1. London, 1801; tr. R.E. Jones, in The Historia regum Britanniæ of Geoffrey of Monmouth, ed. A. Griscom an J.R. Ellis. London, 1929; tr. Peter Roberts, The chronicle of the kings of Britain. Traduzida da cópia galesa atribuída a Tysilio. London, 1811; tradução melhorada em Petrie's "Neglected British History"; tr. A.S. San Marte, Brut Tysilio. Gottfrieds von Monmouth Historia Regum Britanniae und Brut Tysilio. Halle, 1854 (German translation).
  8. a b c Murphy, Michael (1966). «The Elstobs, Scholars of Old English and Anglican Apologists» (PDF). Durham University Journal. 55 (131–138). Consultado em 24 de maio de 2010 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]