Talha-mar-asiático

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Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Charadriiformes
Família: Laridae
Gênero: Rynchops
Espécie: R. albicollis
Nome binomial
Rynchops albicollis
(Swainson, 1838)
Sinónimos
Rhynchops albicollis

O talha-mar-asiático (Rynchops albicollis), também conhecido como bico-de-tesoura-indiano, é uma dentre três espécies que pertencem ao gênero Rynchops, família Laridae. Esta ave aparenta-se com a família Sternidae, mas como outros talha-mares, tem a mandíbula superior curta e a mandíbula inferior alongada, esta última sendo sulcada na superfície da água quando ocorre o sobrevoo da lâmina, buscando a pescaria de presas aquáticas. É encontrado na Ásia meridional, onde se distribui de maneira desigual, principalmente em rios ou estuários — atualmente, seus números populacionais diminuem. Bem visível, sua coloração preta, branca e laranja é vívida.

Descrição[editar | editar código-fonte]

O bico é delgado e falciforme para reduzir a resistência mecânica

A ave é negra em maior parte de sua envergadura, contrastando com o corpo branco e o bico laranja. Suas asas são longas e pontiagudas, assemelhando-a com os esternídeos, medindo cada uma 40—43 cm, e a envergadura em si, 108 cm. O topo destas asas e do tronco é na coloração preta de tom escuro, com uma borda posterior branca. Já as partes baixas são maioritariamente alvas, mas escurecendo gradativamente às proximidades da ponta das asas e das penas. A capa negra da cabeça não cobre a fronte e a nuca, que são brancas. Sua cauda é curta e ramificada, alva, com a porção superior das penas centrais enegrecida. O bico alongado é alaranjado, mas com a ponta em coloração amarela; como os outros talha-mares, possui a mandíbula inferior maior que a superior. Os membros inferiores são vermelhos.[2] No bico, a metade articulada pela mandíbula inferior é flexível e tem formato de uma lâmina com a ponta cortada. Já a mandíbula superior é dotada de considerável mobilidade.[3] Os bicos dos juvenis são normais, com a mandíbula inferior crescendo à medida que crescem.[4]

Ilustração feita em 1713 por Edward Bulkley para a obra Synopsis methodica avium & piscium de John Ray, retrata o "corvo do mar de Madras"

Adultos que não se reproduzem são mais escuros, apresentando tonalidade marrom se comparados com espécimes reprodutores. A coloração dos juvenis varia entre cinza e marrom no topo do corpo, com franjas pálidas nas penas das costas e das asas. Neste estágio, a cabeça apresenta mais branco do que numa ave adulta, enquanto o bico se colore numa mescla de laranja com marrom, findando numa ponta escura.[2] A espécie emite vocalização nasalada em alto volume — kyap-kyap — mas geralmente é bastante silenciosa.[2]

Rynchops niger, originário da América, é maior e seu bico dispõe de uma extremidade enegrecida. O talha-mar-africano, por sua vez, é menor, com uma cauda mais negra e sem a nuca branca da espécie asiática.[5]

Distribuição e biótopo[editar | editar código-fonte]

Este talha-mar é encontrado em vastos rios e lagos, pântanos, além de zonas úmidas costeiras como os estuários. Sua presença é mais comum à água doce, particularmente durante a temporada de acasalamento. Colônias de procriação se situam em ilhas ou lidos, usualmente fluviais. O âmbito da espécie tem se tornado cada vez mais fragmentado nas últimas décadas. Ainda é localizada em partes do Paquistão (como a rede de drenagem do rio Indo na Caxemira), da Índia — norte e centro, ao longo do rio Ganges[6] —, de Bangladesh e Birmânia. Anteriormente também ocorria em Laos, Camboja e Vietnã. Visita o Nepal raramente, quando não está reproduzindo, e já foi registrada como espécie errática no Omã, Tailândia central, com antigas menções ao Irã e à China. Presentemente, os últimos refúgios deste talha-mar são a Índia e Bangladesh.[7] É mais habitual durante o inverno, sendo encontrado em estuários costeiros da Índia ocidental e oriental, e chegando tão a sul quanto Karwar na primeira, e a Chennai e Puducherry na última.[8][9][10][11][12]

A área do rio Chambal é conhecida como locação de colônias reprodutivas da espécie.[13][14] Juntamente foi documentada chocagem às margens do rio Mahanadi na barragem de Munduli (divisão de vida selvagem de Chandaka) em Cuttack.[15]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

Indivíduo a espumar por alimento no rio Chamba, próximo à Dholpur no Rajastão

A ave apanha seu alimento ao voar baixo com o bico aberto sobre a superfície, adentrando a mandíbula inferior na água para escumar através dela. Quando um peixe é encontrado, acaba por mover a mandíbula inferior, o que leva a ave a levantar a mandíbula superior, capturando a presa com um movimento da cabeça.[3] Predam em pequenos bandos e muitas vezes com a presença de esternídeos. A alimentação se consiste principalmente de peixes, mas também ingerem pequenos crustáceos e larvas de insetos. Frequentemente se nutrem ao crepúsculo e podem ser noturnos.[2]

Coloração do ovo

A época de reprodução se dá principalmente entre março e maio. Procriam em colônias com até 40 pares, geralmente com esternídeos e outras aves. O ninho é uma pequena cavidade no solo, efetuada principalmente em bancos de areia expostos, o que permite um ponto de vista desobstruído em caso de predadores que se aproximem.[2] Os ovos são da cor de camurça ou brancos com manchas e listras marrons.[16] A ninhada contém de 3 a 5 ovos. A espécie pode indultar em parasitismo de ninhada heteroespecífico de baixa intensidade, depositando seus ovos em ninhos de gaivina fluvial (Sterna aurantia).[17] Tende a incubar os ovos durante os períodos do dia com menores temperaturas, e frequentemente se ausentam do ninho durante o trecho calorento do dia.[18] Há registros de que adultos incubadores costumam molhar as penas do abdômen para arrefecer os ovos.[19] Um espécime ao ninho foi observado retirando um filhote invasor de Sterna aurantia com sua pata, posteriormente lançando-o na água.[3]

Conservação[editar | editar código-fonte]

Gavial e talha-mar-asiático no Santuário Nacional de Chambal

No passado, a espécie tinha uma ampla distribuição de habitat ao longo dos rios do subcontinente indiano,[20] das redes de drenagem dos rios mianmarenses, e também do rio Mekong. Registros oriundos do Laos,[21] Camboja e Vietnã provêm principalmente do século XIX e relatos contemporâneos são escassos.[22]

A população restante atualmente se concentra na Índia e no Paquistão e estimam-se números de 6,000 a 10,000 indivíduos. Tais cifras em declínio levaram o talha-mar-asiático a ser classificado como espécie vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza.[1] Trata-se de espécie ameaçada por destruição de biótopo, poluição e perturbação antropogênica. A maioria das colônias da ave não é legalmente protegida, ainda que exceções sejam abarcadas por reservas naturais, como a do Santuário Nacional de Chambal, Índia.[13]

Referências

  1. a b «IUCN red list Rynchops albicollis». Lista vermelha da IUCN. Consultado em 13 de maio de 2022 
  2. a b c d e Rasmussen, P. C.; Anderton, J. C. (2005). Birds of South Asia: The Ripley Guide. 2. [S.l.]: Smithsonian Institution & Lynx Edicions. p. 201 
  3. a b c Ali, S.; Ripley, S. D. (1981). Handbook of the birds of India and Pakistan. 3 2 ed. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 74–76. E. H. N. Lowther citado como observador original em 1949 
  4. Whistler, Hugh (1949). Popular handbook of Indian birds 4ª ed. Londres: Gurney and Jackson. pp. 487–489 
  5. Le Messurier, A. (1904). Game, shore, and water birds of India. [S.l.]: W. Thacker & Co. p. 230 
  6. Jha, S. (2006). «Records of some rare birds from Farakka Barrage (West Bengal, India)» (PDF) 4 ed. Indian Birds. 2: 106 
  7. Das, D. K. (2015). «Breeding status of Indian Skimmer Rynchops albicollis in the National Chambal Sanctuary, India.» (PDF) 2 ed. Indian Birds. 10: 53 
  8. Madhav, V.; Nagarajan, D. (2010). «Indian Skimmer Rynchops albicollis: a recent record from Tamil Nadu» (PDF). BirdingASIA. 13: 98 
  9. Stairmand, D. S. (1970). «Occurrence of the Indian Skimmer or Scissorbill (Rhynchops albicollis Swainson) in Salsette Island» 3 ed. Journal of the Bombay Natural History Society. 67: 571 
  10. Sivasubramanian, C. (1992). «Indian Skimmer Rynchops albicollis Swainson and Black Stork Ciconia nigra (Linn.) - new additions to the avifauna of Keoladeo National Park, Bharatpur» 2 ed. Journal of the Bombay Natural History Society. 89: 252–253 
  11. Gopi, G. V.; Pandav, B. (2007). «Avifauna of Bhitarkanika mangroves, India» (PDF) 10 ed. Zoos' Print Journal. 22: 2839–2847. doi:10.11609/jott.zpj.1716.2839-47 
  12. Majumdar, N.; Roy, C. S. (1993). «Extension of range of the Indian Skimmer, Rynchops albicollis Swainson (Aves: Laridae)» 3 ed. Journal of the Bombay Natural History Society. 90: 511 
  13. a b Gopi Sundar, K. S. (2004). «Observations on breeding Indian Skimmers Rynchops albicollis in the National Chambal Sanctuary, Uttar Pradesh, India» (PDF). Forktail. 20: 89–90. Consultado em 1 de janeiro de 2019. Arquivado do original (PDF) em 11 de outubro de 2008 
  14. Hornaday, W. T. (1904). Two years in the Jungle. Nova Iorque: Charles Scribner's Sons. p. 34 
  15. «Birds In The Sand». Sanctuary Asia 
  16. Oates, E. W. (1901). Catalogue of the collection of birds' eggs in the British Museum. 1. [S.l.]: Museu Britânico. p. 202 
  17. Debata, Subrat; Kar, Tuhinansu; Palei, Himanshu S. (2018). «Occurrence of Indian Skimmer (Rynchops albicollis) eggs in River Tern (Sterna aurantia) nests». Bird Study. 1 páginas. doi:10.1080/00063657.2018.1443056 
  18. Hume, A. O. Nests and eggs of Indian birds. 1. Londres: R H Porter. p. 378 
  19. Maclean, G. L. (1974). «Belly-soaking in the Charadriiformes». Journal of the Bombay Natural History Society. 72: 74–82 
  20. Jerdon, T. C. (1864). Birds of India. 3. [S.l.]: George Wyman & Co. p. 847 
  21. Harmand, F. J. (1879). «Les Laos et les populations sauvages de l'Indochine». Le Tour du Monde. 38; 39. Banguecoque: White Lotus. pp. 1–48; 214–370 
  22. Evans, T. D. (2001). «Ornithological records from Savannakhet Province, Lao PDR, January–July 1997» (PDF). Forktail. 17: 21–28. Consultado em 1 de janeiro de 2019. Arquivado do original (PDF) em 11 de outubro de 2008 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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