Bruxas da Noite

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46° Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda "Taman"
588º Regimento de Bombardeiros Noturnos

A líder de esquadrão Maria Smirnova, a comandante regimental Yevdokiya Bershanskaya e a tenente-coronel Polina Gelman (1944)
País União Soviética
Corporação Força Aérea Soviética
Missão Bombardeio tático
Período de atividade 1942–1945
História
Guerras/batalhas Frente Oriental (II Guerra Mundial)
Comandante de Regimento Yevdokiya Bershanskaya

"Bruxas da Noite" (em alemão: Nachthexen; em russo: Ночные ведьмы, Nochnye Vedmy) foi o apelido alemão da Segunda Guerra Mundial dado às mulheres aviadoras militares do 588° Regimento de Bombardeiros Noturnos, conhecido mais tarde como 46° Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda "Taman", da Força Aérea Soviética.[1] Embora mulheres fossem inicialmente impedidas de combater, o premiê soviético Josef Stálin emitiu uma ordem em 8 de outubro de 1941 para implantar três unidades da força aérea compostas por mulheres, incluindo o 588º regimento.[2] O regimento, formado pela coronel Marina Raskova e dirigida pela major Evdokia Bershanskaia, foi feito inteiramente de mulheres voluntárias no fim da adolescência e início dos vinte anos.

O regimento voou em missões de bombardeio de assédio e bombardeio de precisão contra o exército alemão, a partir de 1942 até o final da guerra.[3] No seu auge, ele tinha 40 equipes de duas pessoas. O regimento voou em mais de 24 000 missões e despejou 23 000 toneladas de bombas.[4] Ela foi a unidade cem por cento feminina mais condecorada da Força Aérea Soviética, cada piloto tendo voado mais de 800 missões com o fim da guerra e vinte e três tendo sido premiadas com o título de Heroína da União Soviética. Trinta de suas integrantes morreram em combate.[5]

Um Polikarpov Po-2, similar às aeronaves operadas pelas Bruxas da Noite

O regimento voou em biplanos Polikarpov Po-2 de madeira e lona, um design de 1928 originalmente usado como avião de treinamento e pulverização de culturas e até hoje o biplano de estrutura de madeira mais produzido na história da aviação. Os aviões podiam levar apenas seis bombas ao mesmo tempo, então por muitas vezes foram necessárias oito ou mais missões por noite.[6] Embora a aeronave fosse obsoleta e lenta, as pilotos fizeram uso ousado de sua excepcional capacidade de manobra; elas tinham a vantagem de ter uma velocidade máxima que era menor do que a velocidade de estol tanto do Messerschmitt Bf 109 quanto do Focke-Wulf Fw 190, e, como resultado, os pilotos alemães tinham muita dificuldade em derrubá-las. Uma técnica de ataque dos bombardeiros noturnos era colocar o motor em lenta "idle" ( igual a marcha lenta dos carros quando parados) perto do alvo e planar para o ponto de liberação das bombas, com apenas o ruído do vento a revelar sua localização. Os soldados alemães compararam o som ao de vassouras e batizaram as pilotos de "Bruxas da Noite". Devido ao peso das bombas e à baixa altitude do voo, as pilotos não levavam paraquedas.[7]

A partir de junho de 1942, o 588º Regimento de Bombardeiros Noturnos tornou-se parte do 4º Exército do Ar. Em fevereiro de 1943, o regimento foi homenageado com uma reorganização no 46º Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda, e em outubro de 1943, tornou-se o 46º Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda "Taman".[8] "Taman" se refere ao envolvimento da unidade em duas famosas vitórias soviéticas na Península de Taman durante 1943.

Pessoal[editar | editar código-fonte]

Tenente sênior Yevgeniya Rudneva, navegadora aérea
Capitã Nadezhda Popova, piloto, em 2009
Comandantes
Membros notáveis

Unidades exclusivamente femininas[editar | editar código-fonte]

Em 8 de outubro de 1941, a Ordem número 0099 especificou a criação de três esquadrões de mulheres—todo o pessoal, de técnicos a pilotos seria inteiramente composto de mulheres. Estes foram:[9]

Embora todos os três regimentos tenham sido planejados para terem exclusivamente mulheres, apenas o 588° permaneceria exclusivamente feminino durante toda a guerra. O 586º Regimento teve de empregar mecânicos masculinos já que nenhuma mulher tinha recebido formação para trabalhar em aviões de combate Yakovlev antes da guerra. A comandante do 586º, major Tamara Aleksandrovna Kazarinova, foi substituída por um homem, o major Aleksandr Vasilievich Gridnev, em outubro de 1942. O 587º Regimento foi originalmente comandado por Marina Raskova, mas depois de sua morte, em 1942, um comandante, Major Valentin Vasilievich Markov, a substituiu. Os bombardeiros de mergulho Petlyakov Pe-2 do 587° também requeriam uma pessoa de altura suficiente para operar a metralhadora traseira superior, mas não havia mulheres altas o suficiente entre as recrutadas, sendo necessários alguns homens para unir-se a tripulação como operador de rádio/artilheiro de cauda.[10]

Representações no cinema e televisão [editar | editar código-fonte]

Em 1981, um longa-metragem soviético chamado Bruxas da Noite no Céu (В небе ночные ведьмы) foi dirigido por Evgenia Jigulenko, Heroína da União Soviética e uma dos membros do 588°.[11]

Em 2001, uma co-produção entre a Rússia e o Reino Unido estrelada por Malcolm McDowell, Sophie Marceau e Anna Friel estava em planejamento, mas não conseguiu obter o apoio de um estúdio americano.[12]

Em 2013, duas produções diferentes foram lançadas. Primeiro veio um curta de animação chamado The Night Witch comemorando Nadezhda Popova — que morreu no início daquele ano, encomendado em colaboração com The New York Times Magazine, e dirigido por Alison Klayman.[13] Em segundo lugar, uma série de TV russa intitulada The Night Swallows foi produzida e distribuída.[14] Também houve um anúncio no mesmo ano de um filme a ser escrito por Gregory Allen Howard e financiado pelo neto de Boris Yeltsin, mas não houve novidades desde o anúncio inicial.[15]

Referências culturais[editar | editar código-fonte]

  • As Bruxas da Noite apareceram na tira de quadrinhos britânica Johnny Red, criada por Tom Tully e Joe Colquhoun para a revista Battle Picture Weekly.[16] O roteirista Garth Ennis, fã da tira desde criança, escreveria mais tarde uma minissérie em quadrinhos de três partes chamada Battlefields: The Night Witches.[17]
  • Outro quadrinho onde as Night Witches aparecem é "The Grand Duke" de Yann e Romain Hugault (Archaia Entertainment, 2012.)[18]
  • Jason Morningstar's Night Witches é um Role-playing game de mesa (Bully Pulpit Games, 2015).[19]
  • Em 2017, Big Finish Productions, companhia de audiolivros que produz radionovelas oficiais de Doctor Who, lançará The Night Witches, uma aventura histórica escrita por Roland Moore, na qual participará o Segundo Doutor.[20]
  • A banda sueca de heavy metal Sabaton, famosa por seu material com tema de guerras, compôs uma música intitulada "Night Witches".
  • A banda holandesa de death metal Hail of Bullets tem uma música chamada "Nachthexen".
  • Varvara Sidorovna, personagem recorrente nos livros e quadrinhos da série Rivers of London de Ben Aaronovitch, é uma bruxa literal (ou "praticante de magia") que foi membro das Bruxas da Noite. Embora tenha cerca de noventa anos durante o tempo em que a história se desenrola (início do século XXI), seu envelhecimento reverteu em algum momento de 1966 e ela parece uma mulher jovem atualmente.
  • A tenente Ludmila Gorbunova de Worldwar por Harry Turtledove é membro das Bruxas da Noite.
  • A banda britânica de rock progressivo Wolf People tem uma música chamada "Night Witch".

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Bruxas da Noite: a incrível história das pilotos soviéticas que ajudaram a derrotar os nazistas - FlatOut!». FlatOut!. 8 de março de 2015 
  2. Martin, Douglas (14 de julho de 2013). «Nadezhda Popova, WWII 'Night Witch,' Dies at 91». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331 
  3. "Rakobolskaya, Irina V.; Kravtsova, Natalya F. (2005). Нас называли ночными ведьмами [We were called the Night Witches] (em Russian). Moscow: Universidade Estatal de Moscou. ISBN 5-211-05008-8 
  4. «Britannica Academic». academic.eb.com (em inglês). Consultado em 11 de setembro de 2017 
  5. Noggle, Anne; White, Christine (2001). A Dance with Death: Soviet Airwomen in World War II. College Station, Texas: Texas A&M University Press. pp. 20–21. ISBN 1-58544-177-5 
  6. Garber, Megan. «Night Witches: The Female Fighter Pilots of World War II». The Atlantic (em inglês) 
  7. Axell, Albert (2002). Russia's Heroes 1941–45. New York: Carroll & Graf Publishers. pp. 60–62. ISBN 0-7867-1011-X 
  8. Ерохин, Евгений. «missiles.ru :: 65-летие 4-ой Армии ВВС и ПВО - Ростов-на-Дону». www.missiles.ru. Consultado em 11 de setembro de 2017 
  9. «Авиаторы». allaces.ru. Consultado em 11 de setembro de 2017 
  10. Bhuvasorakul, Jessica Leigh (25 de março de 2004). «Unit Cohesion Among the Three Soviet Women's Air Regiments During World War II» (PDF). Tallahassee, Florida: Florida State University. Consultado em 29 de junho de 2016. Cópia arquivada (PDF) em 25 de fevereiro de 2012 
  11. «V nebe 'Nochnye vedmy' (1981)». IMDb 
  12. Birchenough, Tom (28 de junho de 2001). «'Witches' hitches U.K.-Russian team». Variety (em inglês) 
  13. KLAYMAN, ALISON (19 de dezembro de 2013). «'The Night Witch'». The New York Times (em inglês). ISSN 0362-4331 
  14. «Night Swallows». YouTube 
  15. Kroll, Justin (4 de novembro de 2013). «'Remember the Titans' Scribe to Pen World War II Drama 'Night Witches' (EXCLUSIVE)». Variety (em inglês) 
  16. «Garth Ennis And Keith Burns Revive 'Johnny Red' At Titan». ComicsAlliance (em inglês) 
  17. «Garth Ennis's Battlefields: Night Witches». Dynamite Entertainment 
  18. «Review time! with The Grand Duke». Comics Should Be Good @ CBR 
  19. «Night Witches». Bully Pulpit Games. ISBN 978-0-9883909-2-8 
  20. «4.1. Doctor Who: The Night Witches - Doctor Who - The Early Adventures - Big Finish». www.bigfinish.com. Consultado em 11 de junho de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Leitura complementar[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]