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Bumba meu boi

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BUMBA MEU BOI
Origens estilísticasAfricanas, indígenas e europeias
Contexto culturalSéculo XVIII nas regiões do Piauí e do Maranhão.
PopularidadePopular no Norte e Nordeste do Brasil
Formas derivadasBoi-bumbá e búfalo-Bumbá

Bumba meu boi, boi-bumbá[1] ou búfalo-bumbá[2][3] é uma festa do folclore popular brasileiro, com personagens humanos e animais fantásticos, que gira em torno de uma lenda sobre a morte e ressurreição de um boi.[1][4]

Em diversas cidades do Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, mas também em algumas do Sudeste, existem agremiações chamadas de "bois" que realizam cortejos ou outros tipos de apresentações utilizando a figura do animal, tendo muitas vezes caráter competitivo.

A festa tem ligações com diversas tradições, africanas, indígenas e europeias, inclusive com festas religiosas católicas, sendo associada fortemente ao período de festas juninas.[5]

Embora com gênese no Piauí[6], e tido um de seus primeiros registros em Pernambuco, é mais popular no Maranhão. O bumba meu boi maranhense recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) o título de Patrimônio Cultural do Brasil, e o de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.[7][8]

Ao espalhar-se pelo país, a manifestação adquire nomes, ritmos, formas de apresentação, indumentárias, personagens, instrumentos, adereços e temas diferentes. Em Pernambuco é chamado boi-calemba ou bumbá; no Maranhão, Rio Grande do Norte, Alagoas e Piauí é chamado bumba meu boi; no Ceará, é boi de reis, boi-surubim e boi-zumbi; na Bahia é boi-janeiro, boi-estrela-do-mar e mulinha-de-ouro; em Minas Gerais e no Rio de Janeiro é bumba ou folguedo-do-boi; no Espírito Santo é boi de reis; em São Paulo é boi de jacá e dança-do-boi; no Pará, Rondônia e Amazonas é boi-bumbá;[4] no Paraná e em Santa Catarina é boi-de-mourão ou boi-de-mamão;[4] e no Rio Grande do Sul é bumba, boizinho ou boi-mamão.[4] No Pará, especificamente na Ilha de Marajó, também há o Búfalo-Bumbá,[9] organizado desde 1973 por Mestre Damasceno.[10]

História

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Boi de reis no Paço Alfândega, no Recife

Manifestações culturais e religiosas em torno da figura do boi existiram em diversas culturas antigas pelo mundo.[11] O Bumba Meu Boi tem sua gênese no Piauí e Maranhão, desenvolvendo-se durante o ciclo do gado no Brasil, ao incorporar elementos dos folguedos portugueses, culturas africana e indígena. O Ciclo do Gado, iniciado na Bahia, expandiu-se no século XVII por duas rotas principais ao longo do rio São Francisco: uma seguia o curso do rio em comboios e a outra o atravessava em direção ao Norte, até chegar ao Piauí, apontado por Câmara Cascudo como “o grande produtor de gadaria”. A pecuária promoveu o deslocamento de vaqueiros baianos vindos da região do São Francisco para o Piauí, que na época era um território sob a influência política da Bahia e de Pernambuco. Azevedo Neto destaca ainda a importância simbólica das relações entre o ser humano e o boi como elemento central na construção da narrativa do Bumba Meu Boi.[12][13][6]

Detalhe da apresentação do bumba-meu-boi de Axixá, em São Luís

Seu primeiro registro ocorre num jornal denominado "O Carapuceiro", em Recife, Pernambuco no ano de 1840.[14]

Mas, é no estado do Maranhão que o bumba meu boi tem sido mais valorizado em todo o Nordeste e, dali, foi exportado para o estado do Amazonas com o nome de boi-bumbá, visitado anualmente por milhares de turistas que vão conhecer o famoso Festival Folclórico de Parintins, realizado desde 1965.[1]

Existem algumas variações a respeito da lenda do boi. A história mais comum aborda a escrava Catirina (ou Catarina), grávida, que pede ao marido Chico (ou Pai Francisco) para comer língua de boi. O escravo atende ao desejo da esposa, matando o boi, e sendo preso a mando do dono da fazenda. Com a ajuda de curandeiros, o boi é então ressuscitado.[5]

Bumba-Meu-Boi Mimoso, de São Bento, no Maranhão, em apresentação

Dependendo da versão, outros personagens podem ser incorporados, tais como: Battião, Arlequim, Pastorinha, Turtuqué, o engenheiro, o padre, o médico, o diabo, entre outros. Quase todos quase sempre interpretados por homens, que se travestem para compor os personagens femininos.[5]

Em algumas versões, Pai Chico chama-se Mateus[15] e o boi não é morto por ele, mas apenas se perde e acaba morto no decorrer da história, sendo também ressuscitado no fim.[15]

Personagens

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O Capitão é o comandante do espetáculo. Há também Francisco e Catirina, personagens bastante conhecidos que apresentam os bichos, cantam e dançam de forma cômica.[15]

Búfalo-Bumbá de Mestre Damasceno

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Búfalo-Bumbá de Mestre Damasceno. Salvaterra, Ilha de Marajó, Pará (foto: Guto Nunes)

O Búfalo-Bumbá de Mestre Damasceno é uma manifestação cultural que acontece todos os anos na cidade de Salvaterra, na Ilha de Marajó, estado do Pará. A manifestação popular surgiu em 1973, quando Mestre Damasceno colocou o 1º Boi-Bumbá da carreira, chamado “Estrela de Ouro”. Desde então, muitos outros bois-bumbás vieram, entre nascimentos, batizados, mortes, ressurreições e retornos de bois fugidos. Apenas em 2012 veio o nome "Búfalo-Bumbá", apesar de já utilizar o afigurado do Búfalo há muitos anos.[16] Mestre Damasceno teve sua obra artística declarada como patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará em 2023.[17][18][19]

O Búfalo-Bumbá foi ideia minha mesmo, depois que eu vi que temos que falar sobre a nossa região. E como trabalho com a cultura popular, achei de inventar o Búfalo-bumbá, porque a o búfalo é o caboclo marajoara. Quando você fala que vai para o Marajó, sabe que vai andar de búfalo, tomar leite, comer queijo de búfalo, e por quê não brincar com o boneco do búfalo-bumbá?!

Festival Folclórico de Parintins

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O Festival Folclórico de Parintins é um festival de boi-bumbá que acontece todos os anos na cidade de Parintins, no interior do Amazonas. É considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[20]

Ver também

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Referências

  1. a b c Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (agosto de 1999). «O Boi-Bumbá de Parintins, Amazonas: breve história e etnografia da festa». Consultado em 15 de junho de 2013. Cópia arquivada em 24 de fevereiro de 2014 
  2. «Do quilombo paraense para a Sapucaí: quem é Mestre Damasceno, o criador do Búfalo-Bumbá». Nonada Jornalismo. Consultado em 31 de maio de 2023. Cópia arquivada em 20 de março de 2023 
  3. Nunes, Augusto César Miranda; Pacheco, Agenor Sarraf (10 de junho de 2012). «Arte(manhas) da cultura afroindígena: Trajetórias e Experiências de Mestre Damasceno pelo Marajó dos Campos». Boitatá (13): 1–19. ISSN 1980-4504. doi:10.5433/boitata.2012v7.e31233. Consultado em 2 de setembro de 2024 
  4. a b c d Silvio Essinger. «Bumba-Meu-Boi, Uma tradição que corre o Brasil de Norte a Sul». Consultado em 15 de agosto de 2013. Cópia arquivada em 22 de junho de 2009 
  5. a b c Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. «Bumba-Meu-Boi». Consultado em 15 de agosto de 2013. Cópia arquivada em 19 de dezembro de 2012 
  6. a b FERREIRA, Elio (2016). O Bumba-Meu-Boi do Piauí: poesia afro-brasileira, cantigas, gênese, memórias e narrativas de fundação do Boi de Né Preto de Floriano Piauí. Teresina: Revista Vozes. p. 1. 15 páginas 
  7. «Ministério da Cultura: "Iphan entrega títulos de patrimônio cultural a grupos de Bumba-meu-boi no Maranhão"». Cópia arquivada em 28 de dezembro de 2014 
  8. «Bumba Meu Boi do Maranhão agora é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade». UNESCO. 11 de dezembro de 2019. Consultado em 16 de dezembro de 2019. Cópia arquivada em 16 de dezembro de 2019 
  9. «Mestre Damasceno leva seu Búfalo-Bumbá Junino às ruas de Salvaterra». Roma News. Consultado em 14 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 14 de julho de 2024 
  10. «Mestre Damasceno comemora 50 anos de produção cultural». O Liberal. Consultado em 2 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 13 de junho de 2023 
  11. Enciclopédia Nordeste. «Bois do Carnaval». Onordeste.com. Consultado em 5 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 5 de janeiro de 2012 
  12. Pedrazani, Viviane. No "Miolo" da Festa: um estudo sobre o bumba-meu-boi do Piauí. Tese (Doutorado em História), UFF, 2010.
  13. «Por que o Piauí foi colonizado pelo interior?». Super. Consultado em 23 de maio de 2025. Cópia arquivada em 31 de outubro de 2020 
  14. Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro (setembro de 2000). «O Boi-Bumbá de Parintins, Amazonas: breve história e etnografia da festa». História, Ciências, Saúde-Manguinhos: 1019–1046. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/S0104-59702000000500012. Consultado em 23 de maio de 2025 
  15. a b c Fonte: GASPAR, Lúcia. Bumba-meu-boi. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em: 15/08/2013.
  16. «Mestre Damasceno coloca nas ruas de Salvaterra o seu Búfalo-Bumbá Junino; entenda a manifestação». O Liberal. Consultado em 13 de agosto de 2024. Cópia arquivada em 13 de junho de 2024 
  17. Oliveira, Daleth (19 de novembro de 2023). «Criador do Búfalo-Bumbá, mestre Damasceno tem obra reconhecida como patrimônio do Pará». Revista Cenarium. Consultado em 1 de julho de 2024. Cópia arquivada em 21 de junho de 2024 
  18. «Encantador de búfalos, Mestre Damasceno tem obra reconhecida como patrimônio cultural do Pará». Portal ALEPA. Consultado em 1 de julho de 2024. Cópia arquivada em 1 de julho de 2024 
  19. Online, DOL-Diário (22 de novembro de 2023). «Mestre Damasceno: obra torna-se patrimônio cultural do Pará». DOL - Diário Online. Consultado em 1 de julho de 2024. Cópia arquivada em 1 de julho de 2024 
  20. «Complexo Cultural do Boi-Bumbá do Médio Amazonas e Parintins». portal.iphan.gov.br. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Consultado em 29 de setembro de 2019. Cópia arquivada em 29 de setembro de 2019 

Bibliografia

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  • BARROS, Antonio Evaldo Almeida. 2007. O Pantheon Encantado: Culturas e Heranças Étnicas na Formação de Identidade Maranhense (1937-65). Dissertação de Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos. Salvador: PÓS-AFRO/CEAO/UFBA.
  • CARVALHO, Maria Michol Pinho de. 1995. Matracas que desafiam o tempo: é o bumba-boi do Maranhão. São Luís: s/e.
  • PRADO, Regina de Paula Santos. 1977. Todo ano tem: as festas na estrutura social camponesa. Dissertação de Mestrado em Antropologia. Rio de Janeiro: PPGAS-MN/UFRJ.

Ligações externas

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