Calabar: o Elogio da Traição

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura outros significados, veja Calabar.
Parecer do Centro de Informações do Exército sobre a peça, datado de 22 de outubro de 1973

Calabar: o elogio da traição é o título da peça de teatro musicada, escrita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra, e editada em livro pela editora Civilização Brasileira.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A peça relativiza a posição de Domingos Fernandes Calabar no episódio histórico em que ele preferiu tomar partido ao lado dos holandeses contra a coroa portuguesa, a quando a Insurreição Pernambucana.

Vivia o Brasil sob o regime ditatorial militar de Portugal, fruto da Guerra da Restauração, e era comum o uso das metáforas nas produções artísticas a fim de, por um lado, burlar a censura rigorosa do sistema (sendo popular a figura de Armando Falcão, Ministro da Justiça, encarregado dessa tarefa canhestra) e, por outro, denunciar a situação contemporânea.

Chico Buarque foi um mestre no uso dessas figurações: e o episódio histórico do traidor Calabar, comum em todos os livros didáticos como um dos maiores exemplos de perfídia - serviu de mote para justamente questionar a chamada versão oficial.

Na peça, Calabar passa de comerciante que visava o lucro e que, por isto, traíra os portugueses e colonos brasileiros - para um quase herói, que tinha por objetivo não o ganho pessoal, mas o melhor para o povo brasileiro (na verdade um conceito ainda inexistente, no século XVII), mas a história é contada por outros personagens, como Barbara, esposa de calabar, e não pelo próprio Calabar.

A intenção dos autores, porém, não era denunciar um erro histórico, nem tinha a pretensão de promover uma revisão: o alvo era, justamente, o próprio regime militar, sua censura, os veículos de comunicação que, engessados pelas versões dos fatos sempre acordes com o sistema, passavam ao povo imagens que precisavam ser questionadas em sua veracidade.

Músicas[editar | editar código-fonte]

Artigo principal: Chico Canta

Dentre as músicas que compõem o repertório da obra, algumas foram sucesso, como "Não existe pecado ao sul do Equador" (cantada por Ney Matogrosso); "Cala a boca, Bárbara", e outras.

Iniciativa ousada[editar | editar código-fonte]

Calabar: o elogio da traição, foi escrita no final de 1973, em parceria com o cineasta Ruy Guerra e dirigida por Fernando Peixoto. Era uma das mais caras produções teatrais da época, custou cerca de trinta mil dólares e empregava mais de oitenta pessoas.

A peça e a ditadura[editar | editar código-fonte]

A censura do regime militar deveria aprovar e liberar a obra em um ensaio especialmente dedicado a isso. Depois de toda a montagem pronta e da primeira liberação do texto, veio a espera pela aprovação final. Foram três meses de expectativa e, em 20 de outubro de 1974, o general Antônio Bandeira, da Polícia Federal, sem motivo aparente, proibiu a peça, proibiu o nome Calabar do título e proibiu que a proibição fosse divulgada.

O prejuízo para os autores e para o ator Fernando Torres, produtores da montagem, foi grande.

Seis anos mais tarde, uma nova montagem estrearia, desta vez, liberada pela censura.

O livro[editar | editar código-fonte]

Publicado em livro no ano de 1994, pela editora Civilização Brasileira, Calabar já teve 23 edições. (ISBN 8520001378).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Sinopse - reapresentação em 1998.