Batalha de Cucha

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Campanha Tangue contra Cucha
Campanhas Tangue conta os estados oásis

Um mapa das campanhas contra os estados oásis da bacia do Tarim que levou à derrota de Cucha.
Data 19 de janeiro de 649
Local Bacia do Tarim
Desfecho Vitória decisiva Tangue
  • Cucha é capturada
  • Tangue estabelece controlo sobre o norte da Bacia do Tarim
  • Guarnição militar Tangue é instalada em Cucha
Beligerantes
Império Tangue  
Comandantes
Axina Xir
Qibi Heli
Guo Xiaoke 
Haripuspa(P.D.G.)
Nali 
Forças
100 000 homens Tiele a cavalo
número desconhecido da infantaria Tangue
50 000 soldados de Cucha
10 000 reforços turcos

Campanha Tangue contra Cucha[1] (Kucha), foi uma campanha militar liderada pelo general do Império Tangue, Axina Xir, contra o estado de Cucha, na Bacia do Tarim, em Sinquião, que estava em sintonia com o canato turco ocidental. O conflito teve início em 648 e terminou a 19 de janeiro de 649, após a rendição das forças cuchanas; na sequência de um cerco de quarenta dias em Aquesu. Soldados cuchanos tentaram ocupar o reino com o apoio do canato turco ocidental, porém acabaram derrotados pelo exército Tangue.

A corte Tangue estabeleceu uma guarnição militar em Cucha e firmou o estado oásis sob a governação do protectorado Anxi. As hostilidades entre o canato turco ocidental e o Império Tangue persistiram após a queda de Cucha. O Império Tangue foi mais tarde anexada ao canato, depois de uma expedição militar em 657.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Retrato do monge Xuanzang que visitou Cucha em 630

Cucha, um reino situado na Bacia do Tarim, era um estado arrendatário do canato turco ocidental.[2] Sob o reinado do Imperador Gaozu, o rei Suvarnapushpa (chinês: Sufabuxi) rendeu homenagem à corte Tangue, em 618. Em 630, o sucessor de Suvarnapushpa, Suvarnadeva (chinês: Sufadie) expôs-se enquanto estado vassalo da corte Tangue. Suvarnadeva tinha hospedado um monge budista da seita Hinaiana, Xuanzang quando este visitou Cucha nesse mesmo ano.[3]

Cucha passou a apoiar Caraxar quando o estado oásis fez uma aliança matrimonial com os turcos ocidentais e deu por terminada a relação tributária com a corte Tangue, em 644. O rei de Cucha, Suvarnadeva, renunciou a suserania com os Tangue e aliou-se com os turcos ocidentais. Em resposta, o imperador Taizong envia uma campanha militar contra Caraxar, liderada pelo general Guo Xiaoke.[4]

Caraxar foi sitiada em 644 por Guo. O exército Tangue derrotaram o domínio, capturaram o rei e um membro pró-Tangue da família real foi entronizado como governante.[4][3] O novo rei foi deposto pelos turcos ocidentais logo depois e os turcos ocidentais recuperaram a soberania sobre Caraxar. Suvarnadeva morreu entre 646 e 648, e o seu irmão Haripuspa (chinês: Helibuxibi) herdou o trono como rei de Cucha.[3] Apesar de Haripuspa ter enviado duas embaixadas em tributo à corte Tangue, Tangue Taizong já havia decidido punir a posição pro-turca de Cucha ao lançar uma expedição contra o reino.

Em 646 Irbis Seguy dos turcos ocidentais procurou uma princesa chinesa para sua noiva. Em troca, Taizong pediu várias cidades da bacia do Tarim. A recusa de Ibris foi um dos pretextos para a guerra. A maioria do exército expedicionário Tangue era composto por 100 000 soldados de cavalaria enviados pelos aliados Tiele do Império Tangue. O comandante-chefe do exército expedicionário Tangue, Axina She´er era membro da família real dominante do canato turco oriental. Juntou-se às forças Tangues após render-se em 635, e serviu como general que liderou a campanha contra Karakhoja. A sua convivência na região enquanto ex-governante turco contribuiu para o seu sucesso no comando das campanhas militares contra Cucha e Caraxar. Antes do seu recrutamento como general Tangue, Axina reinou durante cinco, entre 630 e 635, administrando a cidade de Besbalique na bacia de Zungária.[2]

Campanha[editar | editar código-fonte]

Imperador Taizong lança campanhas militares contra os estados oásis da Bacia do Tarim

Os soldados de Axina estavam organizados em cinco colunas.[2] O exército de Tangue contornou Caraxar e atacou Cucha a partir do norte, movendo-se através da bacia de Zungária, que era território de Chuyue (possivelmente Chiguil) e Chumi, duas tribos turcas aliadas ao estado oásis. O exército de Tangue derrotou os Chuyue e Chumi antes de entrar na bacia do Tarim, na qual o rei de Caraxar fugiu da sua capital e tentou encontrar uma posição defensável nos territórios do leste de Cucha. As forças de Axina Xir perseguiram o rei de Caraxar, aprisionaram-no e depois executaram-no.[5]

As forças que defendiam Cucha, compostas por cerca de 50 000 soldados, foram atraídos para uma emboscada por Axina. Estes perseguiram um grupo de 1 000 cavaleiros usados por Axina como chamariz, mas acabaram por se deparar com as adicionais forças Tangues que montaram um ataque surpresa. As forças cuchanas foram derrotadas e retiradas para Aquesu, um reino próximo na Bacia do Tarim. Axina capturou o rei depois de um cerco de quarenta dias, que acabou com a rendição de Cucha em 19 de janeiro de 649. Um dos oficiais de Axina, que exercia a função de diplomata, persuadiu os caciques da região a renderem-se ao invés de revidar.[6]

Guo Xiaoke, que tinha comandado a primeira campanha Tangue contra Caraxar em 644, foi elegido em Cucha como General-Protector do Protetorado Anxi, ou Protectorado do oeste pacificado.[7] A sede do General-Protector foi então transferida do seu local de origem em Gaochang para Cucha. Enquanto Axina procurava o rei cuchano, Nali, um lorde local, viajava na busca por ajuda dos turcos ocidentais.[5] Guo foi assassinado após os soldados cuchanos retomarem o reino com o apoio militar dos turcos ocidentais. Axina regressou a Cucha, capturou cinco das cidades do reino e forçou as restantes a renderem-se. O domínio Tangue foi restabelecido no estado oásis.[8] O irmão do antigo rei, um yabgu ou vice-rei, sucedeu-o no trono como rei do império Tangue.[5]

O rei de Cucha, Haripuspa, foi levado para a capital Tangue e preso.[9] De acordo com a lei Tangue, a execução era entendida como punição à insurreição.[10] O rei foi perdoado por Taizong e libertado após um ritual de veneração aos ancestrais do imperador. Foi também nomeado Grande Comandante do Exercito pelos Guardas Militares da Esquerda, um título que recebera do imperador.[9]

Desfecho[editar | editar código-fonte]

Busto de um bodhisattva de Cucha, século VI—VII

Em retribuição pela morte de Guo Xiaoke, Axina ordenou a execução de onze mil habitantes cuchanos por decapitação. Foi registado que "destruiu cinco grandes cidades e com elas miríades de homens e mulheres... as terras do oeste foram tomadas pelo terror."[5] Depois da derrota de Cucha, Axina enviou para Cotã uma pequena força de cavalaria liderada pelo tenente Xue Uambei, governado pelo rei Yuchi Fushexin. O acordo da invasão persuadiu o rei a visitar a corte Tangue em pessoa.[11]

O exército expedicionário Tangue substituiu Haripuspa pelo seu irmão mais novo (o "yabgu"), erigiu uma estela inscrita em comemoração da sua vitória e retornou para Chang’an com Haripuspa, Nali e o general de Cucha mantidos em cativeiro. Todos os três homens receberam sinecuras e mantiveram-se na corte imperial até 650, quando foram enviados de volta para Cucha depois de ter ficado claro que o vácuo de poder criado pela sua ausência reduzira o reino a um estado de guerra civil e anarquia. A expedição de Cucha também causou a morte do rei pró-turco de Caraxar substituindo-o por um primo, mas não existem provas de que uma guarnição militar Tangue estivesse estacionada em Caraxar entre 648 e 658. Da mesma forma, a viagem forçada do rei Cotã a Changã parece não ter tido influência no envio da guarnição Tangue para Cotã.

A conquista de Cucha estabeleceu as leis Tangues sobre o norte da Bacia do Tarim em Sinquião.[6] A região foi governada pela mesma estrutura administrativa que as prefeituras da China Tangue.[12] Os exércitos Tangue tiveram primeiro que anexar-se a Caraxar e Caracoja, enquanto que Casgar, Cotã e Iarcanda acabaram por se render livremente. Cucha tornou-se o centro do Protectorado Anxi em 649, criado em 640 para administrar as partes de Sinquião controladas pela Império Tangue.[13] A guarnição militar Tangue foi instalada no estado oásis como uma das Quatro Guarnições de Anxi, juntamente com as guarnições que ocupavam Casgar, Cotã e Caraxar.[12]

A queda de Cucha conduziu ao declínio da Bacia do Tarim Indo-Europeia. Enquanto que o governo chinês exercia influência na cultura da região tanto na arte como política, sendo que a mudança mais pronunciada refletiu-se na crescente influência da língua e cultura turca.[14] A estrutura do exército Tangue na Ásia Central contribuiu para esta alteração. A grande maioria dos soldados e generais Tangue instalados na Bacia do Tarim pelos chineses eram de ascendência turca.[15]

OP Império Tangue deu continuidade à guerra contra os turcos ocidentais sob o reinado do Imperador Gaozong, o sucessor de Taizong. Gaozong conduziu uma campanha contra o grão-cã dos turcos ocidentais, Ashina Helu, liderado pelo general Su Dinfang, em 657.[6] O grão-cã rendeu-se, os turcos foram derrotados e os antigos territórios do canato foram consolidados pelos Tangues.[16] Tangue recuou para além das montanhas Pamir no Tajiquistão moderno e Afeganistão após uma revolta turca em 662, mas manteve uma presença militar na região de Sinquião. Os Tangues, Tibetanos e Turcos competiram pela influência na Bacia do Tarim durante o restante período da dinastia.[17] O Império Tangue teve fim em 907 com a renúncia do imperador Ai.[18]

Referências

  1. Boletim 1906, p. 150.
  2. a b c Skaff 2009, p. 181.
  3. a b c Grousset 1970, p. 99.
  4. a b Wechsler 1979, p. 226.
  5. a b c d Grousset 1970, p. 100.
  6. a b c Skaff 2009, p. 183.
  7. Wechsler 1979, pp. 226-228.
  8. Wechsler 1979, p. 228.
  9. a b Eckfeld 2005, p. 25.
  10. Skaff 2009, p. 285.
  11. Grousset 1970, p. 101.
  12. a b Hansen 2012, p. 79.
  13. Twitchett 2000, p. 118.
  14. Millward 2007, pp. 41-42.
  15. Millward 2007, p. 42.
  16. Skaff 2009, p. 184.
  17. Millward 2007, p. 33.
  18. Benn 2002, p. 292.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa. Lisboa: Sociedade de Geografia de Lisboa. 1906 
  • Benn, Charles D. (2002). China's Golden Age: Everyday Life in the Tang Dynasty. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-517665-0 
  • Eckfeld, Tonia (2005). Imperial Tombs in Tang China, 618-907: The Politics of Paradise. [S.l.]: Taylor & Francis. ISBN 978-0-203-08676-6 
  • Grousset, René (1970). The Empire of the Steppes: A History of Central Asia. [S.l.]: Rutgers University Press. ISBN 978-0-8135-1304-1 
  • Hansen, Valerie (2012). The Silk Road:A New History. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-993921-3 
  • Millward, James A. (2007). Eurasian Crossroads: A History of Sinquião. [S.l.]: Columbia University Press. ISBN 978-0-231-13924-3 
  • Skaff, Jonathan Karem (2009). Nicola Di Cosmo, ed. Military Culture in Imperial China. [S.l.]: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-03109-8 
  • Twitchett, Denis (2000). H. J. Van Derven, ed. Warfare in Chinese History. [S.l.]: BRILL. ISBN 978-90-04-11774-7 
  • Wechsler, Howard J. (1979). «T'ai-Tsung (Reign 626-49): The Consolidator». In: Denis Twitchett; John Fairbank. The Cambridge History of China, Volume 3: Sui and T'ang China Part I. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-21446-9