Carcinoma intraósseo primário
O carcinoma intraósseo primário (CIOP) é uma neoplasia odontogênica maligna muito rara.[1] Segundo a Classificação de 2017 da OMS das lesões orais, o CIOP se desenvolve no interior dos ossos gnáticos, sem contato inicial com a mucosa oral, desenvolvendo-se a partir de restos epiteliais odontogênicos.[1][2]
Sinais e sintomas
[editar | editar código-fonte]Muitas das lesões de CIOP podem ser assintomáticas e descobertas como um achado radiográfico em exames de rotina.[1] Lesões mais avançadas podem produzir sinais e sintomas inespecíficos, como[1][3][4]:
- Tumefação
- Dor
- Ulceração
- Mobilidade dentária
- Alvéolo que não cicatriza
- Fraturas patológicas
- Parestesia
Aspectos radiográficos e histológicos
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O CIOP é radiograficamente uma lesão radiolúcida, uni ou multilocular, de tamanho, forma e margens variáveis.[1] Normalmente possui bordas irregulares e mal delimitadas.[1][3][4] A ausência de delimitação radiográfica e deslocamento do canal mandibular podem ser sugestivas de CIOP.[1]
Histologicamente, esse tumor não possui características patognomônicas que possam imediatamente distingui-lo, sendo seu diagnóstico primariamente por exclusão de outros tumores.[1][2] É caracterizado por hipercelularidade, células epiteliais escamosas com atipia e alto número de mitoses.[1][2] Pode haver diferenciação das células escamosas, sem queratinização protuberante.[1] Em alguns casos, pode haver um padrão de crescimento plexiforme ou células em paliçada periféricas que sugerem a origem odontogênica.[1] Áreas de necrose são incomuns.[1]
Causas
[editar | editar código-fonte]Sua etiologia é desconhecida, mas teoriza-se que a inflamação crônica seja um estimulador da transformação de cistos benignos em lesões malignas.[1][4] O CIOP pode surgir como uma lesão de novo, mas cerca de 70% dos casos se desenvolve a partir de cistos pré-existentes.[4]
Cistos frequentemente associados ao CIOP são[1][4]:
- Cisto residual
- Cisto dentígero
- Cisto periodontal lateral
- Cisto odontogênico calcificante
- Queratocisto odontogênico
Epidemiologia
[editar | editar código-fonte]Afeta primariamente a mandíbula posterior (corpo e ramo), mas também pode acontecer na maxila.[1][3][4] Possui predileção por homens (2:1), e a maior parte dos pacientes afetados possui mais de 55-60 anos.[1][3][4]
Diagnóstico
[editar | editar código-fonte]O diagnóstico do CIOP é feito através de exame anatomopatológico e se dá por exclusão: ao excluir-se lesões metastáticas, outros tumores odontogênicos malignos, tumores de glândulas salivares intraósseos e carcinomas de outras estruturas adjacentes (carcinoma espinocelular gengival, carcinoma de assoalho de cavidade oral), qualquer tumor maligno de origem escamosa é classificado como CIOP.[1][2]
A última classificação da OMS unificou as três subcategorias anteriores em uma só, sob o nome de CIOP[4]:
- Tipo 1: carcinoma CIOP ex-cístico
- Tipo 2: CIOP ex-queratocisto odontogênico
- Tipo 3: CIOP sólido ou de novo
Tratamento
[editar | editar código-fonte]Recomenda-se ressecção cirúrgica radical e, em casos de linfonodos afetados, dissecção dos linfonodos cervicais ipsilaterais.[1] Quimioterapia e radioterapia têm sido usadas em lesões não controladas cirurgicamente.[1] Radioterapia adjuvante pode ser utilizada, com melhor desempenho na sobrevida global ao ser associada com cirurgia.[3] De quimioterápicos, a associação de cisplatina com paclitaxel ou gencitabina é utilizada.[3] Novas terapias-alvo com nimotuzumabe e cetuximabe também podem ser utilizadas.[3]
O prognóstico é desfavorável, e a taxa de sobrevida global em 2 anos e em 5 anos, respectivamente, é de 60,7% e 38,5%.[3] A taxa de sobrevida livre de progressão em 2 anos e em 5 anos, respectivamente, é de 42,9% e 30,8%.[3]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s Rio, Maria Ivanda Rabelo do; Rodrigues, Bruno Teixeira Gonçalves; Freire, Nathália de Almeida; Chagas, Wagner Pinto das; Ramos, Maria Eliza Barbosa; Israel, Mônica Simões (2020). «CARCINOMA INTRAÓSSEO PRIMÁRIO: REVISÃO DE LITERATURA». Ciência Atual – Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário São José (2). ISSN 2317-1499. Consultado em 8 de setembro de 2024
- ↑ a b c d Soluk-tekkesin, Merva; Wright, John M. (2013). «The world health organization classification of odontogenic lesions: a summary of the changes of the 2017 (4th) edition». Turkish Journal of Pathology. ISSN 1018-5615. doi:10.5146/tjpath.2017.01410. Consultado em 8 de setembro de 2024
- ↑ a b c d e f g h i Long, En; You, Dongling; Wang, Shubin; Lu, Shun; Xu, Peng; Zhou, Jie; Li, Lu; Wu, Jian; Zhang, Biqin (julho de 2023). «Outcome of primary intraosseous carcinoma: Case review of a single institution». Oral Diseases (em inglês) (5): 2027–2033. ISSN 1354-523X. doi:10.1111/odi.14233. Consultado em 8 de setembro de 2024
- ↑ a b c d e f g h Borrás-Ferreres, Jordi; Sánchez-Torres, Alba; Gay-Escoda, Cosme (1 de dezembro de 2016). «Malignant changes developing from odontogenic cysts: A systematic review». Journal of Clinical and Experimental Dentistry (5): e622–e628. ISSN 1989-5488. PMC 5149102
. PMID 27957281. doi:10.4317/jced.53256. Consultado em 8 de setembro de 2024