Carlos Decotelli
Carlos Decotelli | |
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Carlos Decotelli | |
Dados pessoais | |
Nascimento | 19 de abril de 1952 (72 anos)[1] Rio de Janeiro, DF |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | Universidade do Estado do Rio de Janeiro |
Ocupação | economista e professor |
Carlos Alberto Decotelli da Silva (Rio de Janeiro, 19 de abril de 1952) é um economista e professor brasileiro. Foi nomeado ministro da Educação do Brasil em 25 de junho de 2020[2] mas, cinco dias depois, sua nomeação foi tornada sem efeito,[3][4] antes mesmo que ele assumisse o cargo, em virtude de uma série de controvérsias em relação à titulação acadêmica informada em seu currículo.[1][5][6][7]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Segundo informações do Ministério da Educação, Carlos Decotelli é bacharel em ciências econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).[8][9]
Em 1981, integrava a Federação Nacional dos Bancos.[10] Em 1986, Decotelli era consultor financeiro, membro da Comissão de Economia do Sindicato dos Bancos do Rio de Janeiro, e docente do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec),[11] onde ainda lecionava em 1993,[12] da Febraban-IBCB e da FGV-Rio.[11]
Em 1992, fazia parte do corpo técnico da Revista brasileira de mercado de capitais, publicada pelo IBMEC.[13] Em agosto e setembro do mesmo ano foi contratado pela Caixa Econômica Federal, na qualidade de especialista em open, por 400 milhões de cruzeiros, para treinamento de pessoal. Um dos cursos, ministrado a dez turmas de vinte alunos, abordava o tema Política monetária e encaixe bancário, tendo sido considerado extemporâneo e desnecessário por especialistas da área, uma vez que o encaixe bancário era então estabelecido pela matriz, e por número limitado de funcionários. A contratação, feita sem licitação, foi considerada um desperdício de recursos pela instituição, à época mergulhada numa profunda crise de liquidez.[14]
Ainda nos anos 1990, conviveu com Paulo Guedes na privatização do Ibmec, no Rio de Janeiro, num grupo também integrado por Roberto Castello Branco, atual (2020) presidente da Petrobras.[15] Foi co-autor do livro Gestão de Riscos no Agronegócio, juntamente com Félix Schouchana e Hsta Hua Sheng, publicado pela FGV Editora em 2013.[16]
Em janeiro de 2016, Decotelli participou de um projeto de pesquisa na Universidade de Wuppertal, na Alemanha, durante três meses, sob a orientação de Brigitte Wolf, professora de Teoria do Design, naquela universidade até 2017.[9][17] Em abril de 2017, leccionava no ISAE/FGV - Escola de Negócios.[18]
Em abril de 2020, Decotelli coordenava o MBA em Gestão Financeira: Mercados Financeiros e de Capitais da FGV/Decision.[19] Em junho de 2020, na sequência da revelação de uma série de inconsistências no currículo informado por Decotelli,[1] a FGV esclareceu que o economista nunca havia sido professor em nenhuma das escolas da Fundação, nem tampouco conduzido pesquisas financiadas pela FGV, tendo atuado somente nos cursos de educação continuada e nos programas de formação de executivos.[20]
A declaração de ser "oficial da reserva" da Marinha do Brasil também é imprecisa. De fato, Decotelli pertence à reserva de segunda classe, ou seja, prestou o serviço militar obrigatório (temporário) à Marinha. Ao contrário dos militares de carreira, os temporários não passam pelas escolas de formação de oficiais e vão para a reserva sem remuneração. O fato de um "temporário" se apresentar como "oficial da reserva" de qualquer Força soa "um exibicionismo indevido", aos olhos dos militares.[21] Além disso, embora tenha declarado que coordenou atividades da Escola de Guerra Naval (EGN), na verdade ministrou um treinamento de curta duração - um jogo acerca de Organizações Militares Prestadoras de Serviço (OMPS) -, na EGN.[1][22]
Mestrado
[editar | editar código-fonte]Em 2008, Decotelli apresentou uma dissertação de mestrado à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), sobre o tema Banrisul: do PROES ao IPO com governança corporativa, sob a orientação de Luis César Gonçalves de Araújo.[23][24]
Em junho de 2020, logo após a nomeação como Ministro da Educação, Decotelli foi acusado de ter plagiado pelo menos 10% da sua dissertação de mestrado, concluída em 2008, a partir de um relatório da Comissão de Valores Mobiliários publicado em fevereiro do mesmo ano, onde 4.200 palavras foram copiadas diretamente desse relatório para a dissertação.[24][25] Uma investigação da Folha de S.Paulo revelou que na dissertação constam trechos copiados de várias dissertações de mestrado publicadas em 1996, 1998, 2004, 2005 e 2006. Em nenhum dos casos Decotelli mencionou as fontes usadas, apresentando os trechos copiados como sendo trabalho próprio.[24][26] Se comprovado, o caso constitui plágio acadêmico, considerado uma falha científica grave.[27] A FGV anunciou que está apurando a denúncia de plágio, tentando localizar o orientador do trabalho.[28] Decotelli refutou as acusações de dolo, afirmando que, "caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas", dispondo-se a revisar o trabalho apresentado por forma a providenciar as devidas correções caso considere terem havido omissões, informando também que revisará o trabalho "por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados".[29]
Doutorado
[editar | editar código-fonte]Em 2009, cursou um doutorado em Administração na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.[30] Apesar de ter cursado os créditos, nunca obteve o título de doutor mas, no seu currículo na Plataforma Lattes, declarava ter concluído o doutorado, com a tese Gestão de Riscos na Modelagem dos Preços da Soja, orientada por Antonio de Araujo Freitas Jr.[26] Do mesmo modo, no ato da nomeação como Ministro da Educação, Decotelli foi apresentado por Jair Bolsonaro como doutorado por aquela universidade. A informação foi imediatamente desmentida pelo reitor da instituição.[31] No mesmo dia, a assessoria de imprensa do Ministério da Educação publicou o diploma do ministro, afirmando terem sido concluídos os créditos de doutorado naquela universidade.[30] No entanto, apesar da conclusão dos créditos, Decotelli não chegou a obter o grau de doutor,[32] uma vez que, segundo o reitor da Universidade de Rosário, teve sua tese de doutoramento reprovada. O certificado de conclusão das aulas apresentado pelo Ministério da Educação, sem aprovação de tese, não cumpre os requisitos para conferir o grau de doutor.[31]
Após a repercussão, o ministro retirou de seu currículo na Plataforma Lattes a menção à tese e ao nome do orientador, passando a constar apenas a informação relativa aos créditos concluídos, e da ausência de defesa da tese.[26][33] Como justificação para a não conclusão do doutorado, Decotelli alegou que decidiu não submeter a versão corrigida para nova avaliação da banca devido a compromissos no Brasil e pela falta de recursos financeiros para se manter fora do país.[29]
Pós-doutorado
[editar | editar código-fonte]Ao ser anunciado como ministro da educação, o governo afirmou que Decotelli possuía um pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.[34] O mesmo constava do currículo do ministro nomeado, disponível na plataforma Lattes, que informava ainda que Decotelli havia frequentado a universidade entre 2012 e 2015. Alguns dias após a nomeação, a universidade alemã também desmentiu a informação, em nota enviada ao jornal O Globo, explicitando que Decotelli havia conduzido pesquisas na universidade durante três meses, em 2016, mas não concluíra qualquer programa de pós-doutoramento, nem obtivera qualquer título naquela instituição.[17][35][36] Após o desmentido da universidade alemã, Decotelli removeu do currículo Lattes a informação sobre o pós-doutoramento, como já fizera com o doutorado que nunca concluiu.[9]
Fundação Getúlio Vargas
[editar | editar código-fonte]Apesar de ser tido em Wuppertal como professor da Fundação Getúlio Vargas, a instituição esclareceu que Decotelli nunca fora professor em nenhuma das suas escolas, nem tampouco conduzido pesquisas financiadas pela FGV, tendo atuado somente nos cursos de educação continuada e nos programas de formação de executivos.[20]
Governo Bolsonaro
[editar | editar código-fonte]Decotelli esteve envolvido no Governo de Jair Bolsonaro desde finais de 2018, antes mesmo da posse do novo presidente, quando passou a integrar a chamada equipe de transição de Bolsonaro, que então se reunia no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, com a finalidade de elaborar os primeiros planos do governo.[22]
Gestão do FNDE
[editar | editar código-fonte]Em fevereiro de 2019, Decotelli foi indicado à presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).[37] Em maio do mesmo ano, foi anunciado que o governo tinha colocado à disposição do partido brasileiro DEM a nomeação para a chefia do FNDE, como moeda de troca na obtenção de apoio político.[38] A própria indicação de Decotelli para esse cargo foi designada por Major Olímpio, líder do Partido Social Liberal no Senado, e aliado de Jair Bolsonaro, em maio de 2020, como tentativa de ancoragem política a partidos do chamado Centrão, grupo de partidos de centro e centro-direita, considerando essa e outras nomeações no mesmo contexto como "manobra política propicia à corrupção e ao desvio de recursos públicos".[39]
Em julho seguinte, artigo publicado na Folha de Londrina dava conta de uma eventual substituição de Decotelli na presidência do FNDE pelo advogado Rodrigo Sergio Dias, ex-presidente da Funasa, indicando o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia como o nome por detrás da mudança, que deveria ocorrer após a aprovação da reforma da Previdência.[40]
Poucos dias depois, no início de agosto, foi anunciada pelo então Ministro da Educação, Abraham Weintraub, a substituição de Decotelli no cargo, na sequência de acusações de falta de atenção a programas prioritários, entre os quais Dinheiro Direto na Escola e Programa Nacional do Livro Didático, provocando atrasos e custos adicionais na sua execução.[41] Entre as razões apontadas para a fraca prestação de Decotelli, estariam as suas constantes viagens, tendo passado 23% do tempo em que ocupou o cargo afastado da instituição, provocando consideráveis atrasos na sua atividade normal.[42] Decotelli foi efetivamente substituído no cargo por Rodrigo Dias, passando a ocupar outro cargo no Ministério.[41] Rodrigo Dias, seria também ele exonerado do cargo apenas quatro meses depois.[43]
Suspeita de irregularidades
[editar | editar código-fonte]Durante a sua gestão do FNDE, Decotelli terá dado aval a uma licitação de três bilhões de reais para compra de equipamentos eletrônicos para escolas em todo o país, suspensa pela Controladoria-Geral da União (CGU) por suspeitas de irregularidades. Entre as várias irregularidades que despertaram a atenção da CGU, contava-se o caso da Escola Municipal Laura Queiroz, no município de Itabirito, em Minas Gerais, com 255 alunos registrados na planilha, pedindo um total de 30.030 laptops educacionais, correspondendo a quase 118 laptops por aluno.[44]

Nomeação como ministro
[editar | editar código-fonte]Em 25 de junho de 2020, foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro a sua nomeação como novo ministro da Educação,[45][46] sucedendo a Abraham Weintraub, titular anterior.[47] A escolha foi anunciada por Bolsonaro através das redes sociais. A sua nomeação foi mantida em completo segredo, caindo de surpresa na cúpula do Ministério da Educação.[22]
No interior do governo, Decotelli foi considerado uma indicação dos militares mais moderados que despacham no Palácio do Planalto, diretamente com Jair Bolsonaro, e uma perda de terreno para a ala mais ideológica ligada ao escritor Olavo de Carvalho, à qual pertencia o anterior ministro, Abraham Weintraub.[22] O seu nome terá sido proposto a Bolsonaro pelo almirante Flávio Augusto Viana Rocha, titular da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República.[22]
Após serem detectadas uma série de informações incorretas no currículo de Decotelli, entre as quais a referência a um título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário, quando na realidade o curso de doutorado não fora concluído nem o título concedido, o governo anunciou o adiamento da tomada de posse do novo ministro até que pudesse proceder a uma checagem completa do currículo.[48] A sua nomeação, vista como uma tentativa de aumento do protagonismo da Marinha no Governo Bolsonaro,[7] acabou constituindo um embaraço para o próprio grupo militar que o nomeou, devido às incoerências verificadas em seu currículo, que levaram a que perdesse, também, o apoio que tinha entre professores da Fundação Getulio Vargas.[9] Apesar de nunca ter tomado posse, colocou no currículo que era Ministro da Educação.[49]
Em 30 de junho de 2020, renunciou ao cargo no MEC antes de sua posse oficial, devido ao desgaste de sua imagem ante as controvérsias de sua formação acadêmica.[50][51] No dia seguinte, foi publicado decreto tornando sem efeito a nomeação.[52]
Obras
[editar | editar código-fonte]- Matemática financeira aplicada, 2009, FGV Editora, em coautoria com Luiz Celso Silva de Carvalho e Bruno de Sousa Elia.[53]
- Gestão de finanças internacionais, 2013, FGV Editora, em coautoria com Alex Sandro Monteiro de Moraes, Ivando Silva de Faria e Ricardo Bordeaux-Rêgo.[54]
- Gestão de Riscos no Agronegócio, 2013, FGV Editora, em coautoria com Félix Schouchana e Hsta Hua Sheng.[16][55]
Referências
- ↑ a b c d Perfil: Carlos Alberto Decotelli. Ministro da Educação, 25 de junho de 2020.
- ↑ Bernardo Barbosa. «Bolsonaro nomeia Carlos Alberto Decotelli da Silva para ministro da Educação». CNN Brasil. Consultado em 25 de junho de 2020
- ↑ Publicado decreto que torna sem efeito nomeação de Decotelli. Agência Brasil, 1º de julho de 2020.
- ↑ Diário Oficial da União. Publicado em 1º de julho de 2020. Edição: 124. Seção: 2. Página: 1. Órgão: Atos do Poder Executivo. Ministério da Educação. Decreto de 30 de junho de 2020
- ↑ Ministro Decotelli cai por maquiar currículo e reforça pessimismo sobre o futuro da Educação. El País, 30 de junho de 2020.Cópia arquivada em 28 de setembro de 2020.
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