Carole Roussopoulos
Carole Roussopoulos | |
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Nome completo | Carole de Kalbermatten Roussopoulos |
Nascimento | 25 de maio de 1945 Lausanne, Suíça |
Morte | 22 de novembro de 2007 (62 anos) Molignon, Sion, Suíça |
Nacionalidade | Suíça |
Ocupação | cineasta, videasta, feminista e activista |
Magnum opus | SCUM Manifesto (1976) |
Carole Roussopoulos (Lausanne, Suiça, 25 de maio de 1945 - Molignon, Suíça, 22 de outubro de 2009) foi uma cineasta, videasta, feminista e activista pelos direitos LGBT suíça conhecida principalmente pelos seus primeiros documentários sobre o movimento de libertação das mulheres em França. Durante toda a sua carreira, realizou cerca de 150 documentários. Foi casada com o exilado político, físico e pintor grego Paul Roussopoulos, sendo ainda mãe da pintora Alexandra Roussopoulos e avó da activista e cineasta Callisto McNulty.[1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Primeiros Anos
[editar | editar código-fonte]Nascida Carole de Kalbermatten, a 25 de maio de 1945 em Lausanne, Suíça, Carole viveu os seus primeiros anos em Sion, no cantão de Valais, tendo estudado posteriormente literatura na sua cidade natal.
Em 1967, com vinte e um anos, fixou residência em Paris, França, onde começou a trabalhar na revista Vogue.[2] Dois anos depois, demitiu-se por não se sentir realizada e, aconselhada por Jean Genet, adquiriu uma câmara Portapak da Sony, o primeiro gravador de vídeo analógico portátil disponível para o público em geral, utilizado em França até então apenas por Jean-Luc Godard. Carole tornou-se assim na segunda utilizadora conhecida do novo sistema de gravação e na primeira mulher cineasta a abraçar a nova tecnologia que permitia ser operada por apenas uma pessoa.[3]
Carreira Artística
[editar | editar código-fonte]Em 1969, Carole e o seu marido, Paul Roussopoulos, fundaram um dos primeiros grupos colectivos militantes de vídeo, chamado Video Out. Interessada em experimentar e ver a reação do público, Carole começou a apresentar os seus trabalhos nos mercados de Paris, acompanhada pela cantora e comediante Brigitte Fontaine e a acordionista Julie Dassin. Um ano depois, realizou o seu primeiro documentário, Genet parle d'Angela Davis (conhecido em inglês como Angela Davis Is at Your Mercy) sobre a activista política americana Angela Davis.[4]
Durante o início de sua carreira, assumindo-se como uma activista pelos direitos de todos que os eram ostracizados ou discriminados pela sociedade, Carole Roussopoulos focou-se essencialmente em testemunhar e filmar vários eventos importantes nas cruzadas dos direitos humanos, realizando os documentários FHAR (Front Homosexuel d'Action Révolutionnaire)[5] (1971), o qual relatava a primeira parada pelos direitos dos homossexuais em Paris, LIP (1973-1976), uma colecção de pequenos documentários sobre as várias marchas e acções grevistas das trabalhadoras das fábricas LIP em Besançon, Les Prostituées de Lyon parlent (1975), que dava voz à reivindicação de direitos e apelava pelo fim do assédio policial, fiscal e social de duzentas profissionais do sexo que ocuparam a igreja de Saint-Nizier em Lyon, ou ainda Munique (1972), sobre a luta palestiniana e a repressão vivida nos campos de refugiados da Jordânia, entre outros. Para além destes temas, Carole passou a retratar, periodicamente, a vida de várias mulheres que começavam a trilhar caminho na luta dos direitos das mulheres, como Gabrielle Nanchen, a primeira mulher eleita para o Conselho Nacional da Suiça, ou ainda a artista plástica Gina Pane, filmando as suas chocantes e inovadoras performances, durante toda a década de 1970.[6]
Em pleno período de contestação social, Carole Roussopoulos tornou-se muito rapidamente num dos nomes mais conhecidos do público francês, sendo convidada a leccionar na Universidade de Vincennes, cargo o qual assumiu como professora de vídeo de 1973 a 1976.
Colectivo Les Insoumuses
[editar | editar código-fonte]Em 1975, após conhecer a actriz francesa Delphine Seyrig e a tradutora Ioana Wieder, num workshop de edição de vídeo que a própria organizou no seu apartamento, Carole começou a colaborar com as duas, tornando-se num trio quase inseparável. Juntas formaram o vídeo coletivo feminista Les Insoumuses, um neologismo que combina "insoumise" (desobediente) e "muses" (musas), e pouco depois realizaram o documentário sobre a luta pelos direitos das mulheres, intitulado SCUM Manifesto, baseado no manifesto homónimo, escrito pela feminista radical Valerie Solanas.[7]
Anos mais tarde, em 1982, Carole, Seyrig e Ioana fundaram o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, em homenagem à autora e filósofa feminista francesa, com o objectivo de documentar e servir de arquivo histórico para o movimento pelos direitos das mulheres.[8]
Últimos Anos
[editar | editar código-fonte]Durante a década de 80 e 90, Carole Roussopoulos continuou a realizar inúmeras séries documentais, focando-se essencialmente em obras biográficas de activistas e artistas, assim como em estudos e retratos sobre as desigualdades de direitos e condições de vida das mulheres em França e no estrangeiro, ou ainda sobre crime ou violência contra as mulheres, desde violência doméstica ao abuso sexual, para além de ter dirigido de 1986 a 1994 o l'Entrepôt, um cinema de arte criado e dirigido anteriormente por Frédéric Mitterrand, em Paris.
Em 1995, Carole regressou à Suíça para documentar vários assuntos urgentes ou problemáticos que, na sua opinião, não estavam a receber a devida atenção no seu país. Durante esse período, Carole fez uma série de filmes onde retratava diversos temas, como a saúde, a doença, o envelhecimento e a morte.
Morte
[editar | editar código-fonte]Carole Roussopoulos faleceu a 22 de outubro de 2009 em Molignon, Suíça.
Homenagens e Legado
[editar | editar código-fonte]Em 2001, Carole foi nomeada Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra em França pelos seus trinta e dois anos de serviço pela sétima arte, o cinema.
Em 2007, a Cinémathèque Française (Cinemateca Francesa) dedicou-lhe um ciclo de exibições. Nesse mesmo ano, foi criada a Associação Carole Roussopoulos, dirigida por Hélène Fleckinger. Tal como o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, que ainda permanece activo, a associação tem a missão de funcionar como arquivo, promoção e exibição do seu trabalho cinematográfico.
Em 2008, o documentarista Tristan Aymon realizou o filme "C comme Carole", sobre a cineasta.[9]
Em 2011, a cineasta suíça Emmanuelle de Riedmatten realizou um documentário sobre a vida de Roussopoulos, intitulado de "Carole Roussoupoulos, une femme à la caméra".[10]
Em 2019, a Associação Escouade instalou temporariamente cem placas de nomes de ruas em Genebra com o nome de cem ilustres mulheres suiças, em homenagem a elas e ao seu trabalho. Uma das mais ilustres praças da cidade, a Place Neuve (Praça Nova), ficou temporariamente conhecida pela Praça Carole Roussopoulos como parte da iniciativa 100Elles.
Em 2019, o documentário "Delphine et Carole: les insoumuses" foi realizado por Callisto McNulty, neta de Carole Roussopoulos. O filme serve como tributo e retrata a amizade de Carole com Delphine Seyrig, as suas lutas e causas feministas nos anos 70 usando um novo meio, o vídeo.[11]
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- Genet parle d'Angela Davis (Angela Davis Is at Your Mercy) (1970)
- Y'a qu'à pas baiser (1971)
- FHAR (1971)
- Grève des femmes à Troyes (1971)
- LIP (série de seis documentários, 1973-1976): LIP I: Monique (1973); LIP II: La marche de Besançon (1973); LIP III: Monique et Christiane (1976); LIP IV: Jacqueline et Marcel (1977);
- Y'a qua pas baiser (1973)
- L'enterrement de Mahmoud AL Hamchari (1973)
- Performance Art de Gina Pane (série documental): Action Autoportrait(s) (1973); Action Psyché (Essai) (1974); Mise en place de Action Mélancolique 2X2X2 (1974); Action Mélancolique 2X2X2 (1974); Action Death Control (1975);
- Les Prostituées de Lyon parlent (1975)
- Death Control 1 (1975)
- Death Control 2 (1975)
- Messe pour un corps (1975)
- Maso et Miso vont en bateau (1975)
- Les mères espagnoles (1975)
- La marche du retour des femmes à Chypre (1975)
- La marche des femmes à Hendaye (1975)
- Society for Cutting Up Men (1976)
- Manifesto SCUM (1976)
- Le viol, Anne, Corinne et les autres (1978)
- Point d'émergence (série de três documentários): Aline Gagnaire; Charlotte Calmis; Vera Pagava (1978)
- Le juge et les immigrés (1980)
- Ça bouge à Mondoubleau (1982)
- Ça bouge à Vendôme (1982)
- Flo Kennedy : portrait d'une féministe américaine (1982)
- Profession (série documental): Agricultrice (1982); Conchylicultrice (1984);
- S.O.S. j'accouche (1982)
- Yvonne Netter, avocate (1983)
- Pionnières et dictionnaires du cinéma 1900-1960 (1984)
- Colette Auger : une nouvelle loi sur le nom (1984)
- Femmes d'immigrées de Gennevilliers (1984)
- La mort n'a pas voulu de moi: portrait de Lotte Eisner (1984)
- Une journée ordinaire de Christine Ockrent (1984)
- Y'a vraiment des gens qui vivent avec très peu (1985)
- Les travailleuses de la mer (1985)
- Les cavistes nouveaux sont arrivés (1985)
- La drogue on peut s'en sortir, disent-elles (1986)
- L'égalité professionnelle (série documental): Ça bouge (1986); Ça avance dans les transports (1987);
- Les clés de Mauzac (1987)
- L'inceste (série documental): la conspiration des oreilles bouchées (1988); lorsque l'enfant parle (1992); brisons le silence! (2005);
- Nouvelles qualifications: les entreprises innovent avec des jeunes (1988)
- La ballade des quartiers / parole d'en France (1989)
- Nous femmes contre vents et marées (1990)
- Mort des malades (série documental): souffrance des soignants (1991); souffrance des médecins (1992); souffrance des familles (1993);
- Les hommes invisibles (1993)
- L'accueil temporaire des personnes âgées ou le répit des familles (1993)
- La drogue… Non merci : drogues images prévention (1994)
- Être avec (1996)
- L'accueil familial : vieillir comme chez soi (1996)
- En équipe avec le malade (1996)
- Les violences du silence (1997)
- Les murs du silence: agressions sexuelles en institutions (1998)
- Quand les jours sont comptés… (1999)
- Debout! Une histoire du mouvement de libération des femmes (1999)
- Paroles de résidents (2000)
- Cinquantenaire du deuxième sexe: 1949-1999 (2001)
- Marchons avançons résistons en Suisse Romande (2002)
- Vieillir en liberté (2002)
- Viol conjugal, viol à domicile (2003)
- Qui a peur des Amazones? (2003)
- Il faut parler: portrait de Ruth Fayon (2003)
- Le jardin de Lalia: des microcrédits pour les femmes maliennes (2004)
- Familles d'ici, familles d'ailleurs (2004)
- L'Europe, parlons-en… (2004)
- Je suis un être humain comme les autres (2006)
- Pour vous les filles! (2006)
- Femmes mutilées, plus jamais! (2007)
- Des fleurs pour Simone de Beauvoir (2007)
- Mariages forcés, plus jamais ! (2008)
- Delphine Seyrig, un portrait (2009)
Lista de Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Fernandez Ferrer, Nicole. «Carole Roussopoulos». Newmedia-art
- ↑ Pallister, Janis L.; Hottell, Ruth A. (2005). French-speaking Women Documentarians: A Guide (em francês). [S.l.]: Peter Lang
- ↑ Robinson, Hilary (20 de abril de 2015). Feminism Art Theory: An Anthology 1968 - 2014 (em inglês). [S.l.]: John Wiley & Sons
- ↑ Cahiers du cinéma (em francês). [S.l.]: Éditions de l'Étoile. julho de 2009
- ↑ Brenez, Nicole; Roussopoulos, Carole (2010). Caméra militante: luttes de libération des années 1970 (em francês). [S.l.]: MētisPresses
- ↑ Bonnet, Marie-Jo (9 de novembro de 2006). Les Femmes artistes dans les avant-gardes (em francês). [S.l.]: Odile Jacob
- ↑ Seyrig, Delphine; Roussopoulos, Carole (25 de abril de 2018). SCUM Manifesto (em francês). [S.l.]: Art Book Magazine Distribution
- ↑ Nelmes, Jill; Selbo, Jule (29 de setembro de 2015). Women Screenwriters: An International Guide (em inglês). [S.l.]: Springer
- ↑ «Tristan Aymon | Filmographie». Terrain Vague (em francês)
- ↑ «Carole Roussopoulos, une femme à la caméra - Tënk». Tenk, le documentaire d'auteur (em francês)
- ↑ «Feminismo: Callisto McNulty na peugada de Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos». C7nema. 17 de outubro de 2019