Museu Casa Quissamã

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Museu Casa Quissamã
Museu Casa Quissamã
Tipo museu, quinta
Inauguração 2006 (18 anos)
Geografia
Coordenadas 22° 6' 0.36" S 41° 28' 36.55" O
Mapa
Localização Quissamã - Brasil

O Museu Casa Quissamã é um museu brasileiro localizado na antiga sede da Fazenda de Quissamã, símbolo nobiliário da região e residência de um dos mais influentes homens de seu tempo, José Carneiro da Silva, mais conhecido como Barão e Visconde de Araruama.

História[editar | editar código-fonte]

Foi erguida em 1826[1] por iniciativa de José Carneiro da Silva, primeiro barão e visconde de Araruama, que a passou como herança para um de seus filhos, João Caetano Carneiro da Silva, barão e visconde de Quissamã

Anteriormente, o futuro primeiro barão e visconde de Araruama residia na casa da fazenda Mato de Pipa, uma habitação rural muito simples e rústica, construída por seu avô por volta de 1777, e que também foi preservada até os dias de hoje.

A casa da fazenda Quissamã mostra o enriquecimento da aristocracia rural do norte fluminense com os engenhos de açúcar no século XIX, fato que seria ainda mais visível na geração seguinte, quando os filhos e netos do primeiro barão e visconde de Araruama construíram os solares das fazendas Mandiqüera, Machadinha, São Manuel e Santa Francisca, e habitações urbanas como a Chácara São João. A seqüência cronológica de construção da Casa da Fazenda Mato de Pipa (1777), da Casa da Fazenda Quissamã (1826, ampliada em 1860) e da Casa da Fazenda Mandiqüera (1875) exemplifica o enriquecimento da oligarquia rural da família Carneiro da Silva e os diversos gostos e estilos arquitetônicos prevalecentes em cada época.

A casa hospedou o imperador D. Pedro II e sua comitiva em 1847, quando estes visitavam a região norte fluminense e foram inspecionar as obras de construção do canal Campos-Macaé. Aproveitou-se a ocasião para realizar o casamento de Bento Carneiro da Silva, futuro segundo barão, segundo visconde e conde de Araruama, e filho primogênito do primeiro barão e visconde de Araruama, com a filha do barão de Muriaé. O imperador D. Pedro II foi padrinho da cerimônia religiosa. As pessoas mais ricas e importantes de toda a região participaram do baile de comemoração. Como não havia lugar para todos na casa grande, vários tiveram que dormir nas senzalas e armazéns da fazena. A casa recebeu o imperador D. Pedro II uma segunda vez, em 1877, para inauguração do Engenho Central de Quissamã.

Em 1925, o filho do barão e visconde de Quissamã, Joaquim Carneiro da Silva, herdou o solar com as terras da fazenda Quissamã. Com a sua morte, em 1942, o solar foi desocupado e fechado. A fazenda Quissamã foi então vendida no final da década de 1950 para a Cia. Engenho Central de Quissamã que tinha apenas interesse em plantar cana-de-açúcar nas suas terras.

Assim como diversas outras propriedades imponentes construídas no século XIX na região, e que foram adquiridas com suas terras pela Cia. Engenho Central de Quissamã, o solar ficou abandonado durante várias décadas. Recentemente foi adquirido pela Prefeitura Municipal de Quissamã, restaurado e transformado no Museu Casa de Quissamã e futura sede do Parque Municipal, que utilizará o trecho local do canal Campos-Macaé como local de lazer.

Arquitetura[editar | editar código-fonte]

Fazenda Quissamã retratada por Ribeyrolles em 1863

A construção atual consiste de uma casa principal no estilo das casas de bandeiristas paulista e uma torre lateral. A casa principal foi a um vasto telhado colonial de beiral encachoeirado, com uma varanda frontal ladeada por aposentos fechados.

O conjunto está em uma extensa planície, no centro de um jardim murado circundado por campos gramados. Uma alameda de palmeiras imperiais centenárias conduz da estrada até o conjunto.[2] O jardim possui um dos poucos baobás (árvore típica do semi-árido africano) existentes no Brasil; a tradição diz que ele foi plantado por um escravo trouxe a semente consigo da África. O local é próximo do centenário canal Campos-Macaé.

A casa principal foi construída em 1826. Por volta de 1860, foi construído o torreão central e um sobrado à direita para que se pudesse abrigar toda a grande família do primeiro barão e visconde de Araruama durante as festas de final de ano (ele teve cerca de 10 filhos e incontáveis netos). Com a construção deste sobrado anexo, a casa passou a contar com 48 quartos. As senzalas, que já não existem, ficavam também à direita. O conjunto original possuía também armazéns, serraria, engenho e hospital.

O conjunto casa principal, torre e sobrado foi retratado por Charles Ribeyrolles em 1863.

O sobrado anexo foi demolido no século XX e a construção perdeu sua originalidade devido às várias reformas que foram nela feitas.

Casa principal e torre em Janeiro de 2011 apos a bela reforma realizada pela Prefeitura.

Referências de época[editar | editar código-fonte]

A imagem da fazenda Quissamã na sua época de maior grandeza foi gravada para historiografia através dos trabalhos dos artistas Jean-Victor Frond e Charles Ribeyrolles.

Além de retratar a fazenda em uma gravura famosa na historiografia brasileira, Charles Ribeyrolles impressionou-se com o fausto da residência, com a gentileza dos anfitriões e com as inovações tecnológicas introduzidas pelo 1º barão e visconde de Araruama no seu engenho. Assim escreveu no seu livro Brasil Pitoresco de 1859: “o acolhimento fidalgo que se presta ao estrangeiro nessa grande e antiga casa, onde a hospitalidade é costume de séculos, a simplicidade verdadeiramente nobre do anfitrião e a cordialidade liberal de seus filhos permitiram-nos tudo ver, tudo examinar com detalhe, desde os trabalhos dos campos até às especialidades das usinas, das oficinas e seus aparelhamentos. Vimos aí uma máquina de procedência inglesa que aciona três cilindros horizontais. A engrenagem é simples e segura, a peça fortemente instalada, a rotação de grande força. Pode-se movê-la com rapidez em caso de necessidade. Para a destilação da aguardente de cana completa o sistema um alambique a vapor, aparelho que se encontra nos sete estabelecimentos açucareiros que se grupam, num raio de algumas léguas, em torno da fazenda-mãe. Não pára neste ponto o progresso, como aplicação dos métodos europeus; por isso acaba de se introduzir no país um novo moinho de 4 cilindros, para a cana, duas turbinas para purificar o açúcar e uma máquina locomobil, que se desloca e transporta segundo as necessidades. As caldeiras destas máquinas são dispostas verticalmente, nada se perdendo do foco interior do fogo e ardendo muito menos. Estes melhoramentos rápidos, que seguem a ciência, passa a passo, e que vemos instalar-se em sertões, acaso não anunciam outros novos progressos?”.[3]

Jean-Victor Frond fotografou o trabalho escravo em Quissamã. A partir de suas fotos foram feitas diversas litogravuras famosas que são estudadas por historiadores e que ilustram vários livros didáticos de ensino fundamental e médio.

O construtor da casa da fazenda Quissamã, primeiro barão e visconde de Araruama, estabeleceu fortes vínculos de amizades e interesses político-econômico com a nobreza e a burocracia político-administrativa da Corte Imperial no Rio de Janeiro. Portanto, qualquer alto dignitário que viesse do Rio de Janeiro e passasse pela região iria hospedar-se em suas propriedades, seja na casa da fazenda Mato de Pipa ou no solar da fazenda Quissamã. Assim, a fazenda Quissamã hospedou o imperador D. Pedro II, a Imperatriz Tereza Cristina, o duque de Caxias, a princesa Isabel, o conde d'Eu, o ministro e conselheiro Eusébio de Queirós e vários outros políticos e nobres importantes do Segundo Império. Em 1847, a casa da fazenda Quissamã acomodou a comitiva imperial de D. Pedro II em uma viagem de inspeção das obras do canal Campos-Macaé, cuja construção tinha sido incentivada pelo primeiro barão e visconde de Araruama.

O Almanaque Laemmert de 1865 diz no discurso necrológico primeiro barão e visconde de Araruama que a "sua fazenda de Quissamã tinha sido visitada por pessoa da mais alta categoria, tais como o falecido bispo do Rio de Janeiro, ministros de estado, presidentes de província etc., e tanto dos grandes da terra como dos pequenos não podia deixar de cativar as simpatias gerais”.[4]

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • PEREIRA, Rubem Carneiro de Almeida. “Velhos Solares de Quissamã”. In: Mensário do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 13 (2): 39-56, fev. 1982.
  • FROSSARD, Larissa; GAVINHO, Vilcson (Org.). Macaé, Nossas Mulheres, Nossas Histórias. Macaé, RJ: Macaé Offshore, 2006, verbete 159.
  • GAVINHO, Vilcson. Viscondessa de Araruama (Coluna Naquele tempo... Instituto Histórico e Geográfico de Macaé; Fundação Macaé de Cultura; Petrobras - E & P - Bacia de Campos). In: O Debate: Diário de Macaé. Macaé/RJ, 28 de março de 1999, p. 3, Caderno Dois.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Prefeitura de Quissamã; Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável - Anexo: Ficha de Inventário de Bens Imóveis; Março de 2006; pág. 154
  2. Projeto Jurubatiba Sustentável - Fazenda Quissamã
  3. Ribeyrolles, Charles; Brazil Pittoresco: Historia - Descripções - Viagens - Instituições - Colonisação; Typographia Nacional; 1ª ed: 1859; pag. 15
  4. "Almanak administrativo, mercantil e industrial da corte e província do Rio de Janeiro para o ano de 1865", seção “Almanak - necrológio das Casas Titulares”, pág 50; Editora Eduardo & Henrique Laemmert; 1865; citado por Marquese, Rafael de Bivar Marques, e Parron, Tâmis Peixoto; in "Azeredo Coutinho, Visconde de Araruama e a Memória sobre o comércio dos escravos de 1838"; Revista de História da USP, nº 152, pág. 117

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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