Causas da Revolução Francesa

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Horas antes da Tomada da Bastilha: A Revolução Francesa foi o resultado de um ambiente político, econômico, social e intelectual construído na década de 1780.

As causas da Revolução Francesa podem ser divididas em quatro grupos: políticas, econômicas, sociais e intelectuais. A revolução foi apenas o resultado de um ambiente construído a partir destes diversos fatores. Entre estes, podem-se destacar o envolvimento da França em várias guerras, os altos gastos da Corte de Luís XVI da França, o antigo regime francês, a ascensão da burguesia, a manutenção do mercantilismo e os ideais do Iluminismo.

Segundo a cientista Hemilly dos santos O estopim para a Revolução Francesa se deu devido a situação da França em 1787, após o colapso financeiro no ano anterior. O país acumulou vultosa dívida e sua renda era suficiente apenas para pagar os juros e os custos da Corte. A fim de angariar mais fundos para pagamento das dívidas, Luís XVI buscou implantar um novo imposto sobre a propriedade dos notáveis - nobreza e clero -, o que foi rejeitado pela Assembleia dos Notáveis, e fez com que o rei convocasse a Assembleia dos Estados Gerais em 1789, instituição que não era reunida desde 1614.[1]

Após discordância quanto ao sistema de votação, entre o voto tradicional no qual cada classe teria direito a um voto sem levar em conta o número de deputados e o voto "cabeça por cabeça",[2] o Terceiro Estado, defensor do último modelo, proclamou-se em Assembleia Nacional. Temeroso com as implicações da elevação do poder do Terceiro Estado frente às duas outras classes, Luís XVI interveio, impedindo as reuniões, e realizando uma sessão real na qual anunciou as reformas que tencionava decretar e a manutenção da separação de classes com sessões em salas separadas.[3] Frente a desobediência pelo Primeiro e Terceiro Estados, a Assembleia Geral torna-se Assembleia Nacional Constituinte,[4] invocando direito de propor as reformas que desejar. Tal exemplo se espalha por toda a França, gerando anarquia. A monarquia, então, decidiu dissolver a Assembleia, e o povo, sentindo-se ameaçado, insurgiu-se.[5] As causas da revolução francesa são remotas a imediatas.Entre as do primeiro grupo, há de considerar que a França passava por um período de crise financeira. A causa mais forte da revolução foi a econômica, já que as causas sociais, como de costume, não conseguem ser ouvidas por si sós. No meio do caos econômicos e do descontentamento geral, Luis 16 da França não conseguiu promover reformas tributárias, impedido pela nobreza e pelo clero, que não "queriam dar os anéis para salvar os dedos".

Questões sociais[editar | editar código-fonte]

O Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados nas costas.

A sociedade francesa da segunda metade do século XVIII possuía dois grupos muito privilegiados:

  • o Clero ou Primeiro Estado, composto pelo Alto Clero, que representava 0,5% da população francesa, era identificado com a nobreza e negava reformas, e pelo Baixo Clero, identificado com o povo, e que as reclamava;
  • a Nobreza, ou Segundo Estado, composta por uma camada palaciana ou cortesã, que sobrevivia à custa do Estado, por uma camada provincial, que se mantinha com as rendas dos feudos, e uma camada chamada Nobreza Togada, em que alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram os seus títulos e cargos, transmissíveis aos herdeiros. Aproximava-se de 1,5% dos habitantes.
  • Esses dois grupos (ou Estados) oprimiam e exploravam o Terceiro Estado, constituído por burgueses, camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterogênea composta por artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este nome graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos caros utilizados pelos nobres. Os impostos e contribuições para o Estado, o clero e a nobreza incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois últimos não só tinham isenção tributária como ainda usufruíam do tesouro real por meio de pensões e cargos públicos.

A França ainda tinha grandes características feudais: 80% de sua economia era agrícola. Quando uma grande escassez de alimentos ocorreu devido a uma onda de frio na região, a população foi obrigada a mudar-se para as cidades e lá, nas fábricas, era constantemente explorada e a cada ano tornava-se mais miserável. Vivia à base de pão preto e em casas de péssimas condições, sem saneamento básico e vulneráveis a muitas doenças.

Fome[editar | editar código-fonte]

Uma série de fracassos na agricultura causou uma falta de grãos, consequentemente elevando o preço do pão. Uma vez que o pão era a principal fonte de nutrição para os camponeses, isto levou à inanição. Os dois anos anteriores à revolução (1788-1789) viu colheitas ruins e invernos rigorosos, possivelmente devido a um forte ciclo El Niño[6] causado pela erupção do Laki na Islândia, em 1783.[7] A pequena idade do gelo também estava afetando a agricultura: muitas outras áreas da Europa havia adotado a batata como um alimento básico nesta época, porém os franceses a recusaram como comida suja ou a comida do diabo. A batata era mais resistente a temperaturas baixas durante a pequena era do gelo e não era facilmente destruída pela tática de guerra de terra queimada.[8] Muitos camponeses contavam com a caridade para sobreviver, e tornaram-se uma classe com a ambição de contratacar a desigualdade social e colocar um fim a falta de alimento. O 'tumulto do pão' evoluiu para uma causa central da Revolução Francesa. Urbanização em massa coincidindo com o início da Revolução Industrial levou os residentes a se mudarem para as cidades francesas procurando emprego, gerando a uma superlotação que piorou as condições de vida.

Motivos econômicos[editar | editar código-fonte]

As causas econômicas também eram estruturais. As riquezas eram mal distribuídas; a crise produtiva manufatureira estava ligada ao sistema corporativo, que fixava quantidade e condições de produtividade. Isso descontentou a burguesia.

Fatores políticos[editar | editar código-fonte]

Em Fevereiro de 1787, o ministro das finanças, Loménie de Brienne, submeteu a uma Assembleia de Notáveis, escolhidos de entre a nobreza, clero, burguesia e burocracia, um projeto que incluía o lançamento de um novo imposto sobre a propriedade da nobreza e do clero. Esta Assembleia não aprovou o novo imposto, pedindo que o rei Luís XVI convocasse os Estados-Gerais.

Em 8 de Agosto, o rei concordou, convocando os Estados Gerais para Maio de 1789. Fazendo parte dos trabalhos preparatórios da reunião dos Estados Gerais, começaram a ser escritos os tradicionais cahiers de doléances, onde se registraram as queixas das três ordens.

O Parlamento de Paris proclama então que os Estados Gerais se deveriam reunir de acordo com as regras observadas na sua última reunião, em 1614. Aproveitando a lembrança, o Clube dos Trinta começa imediatamente a lançar panfletos defendendo o voto individual inorgânico - "um homem, um voto" - e a duplicação dos representantes do Terceiro Estado. Várias reuniões de Assembleias provinciais, como em Grenoble, já o haviam feito.

Jacques Necker, de novo ministro das finanças, manifesta a sua concordância com a duplicação dos representantes do Terceiro Estado, deixando para as reuniões dos Estados a decisão quanto ao modo de votação – orgânico (pelas ordens) ou inorgânico (por cabeça). Serão eleitos 291 deputados para a reunião do Primeiro Estado (Clero), 270 para a do Segundo Estado (Nobreza), e 578 deputados para a reunião do Terceiro Estado (burguesia e pequenos proprietários).

Entretanto, multiplicam-se os panfletos, surgindo nobres como o conde d'Antraigues, e clérigos como o bispo Sieyès, a defender que o Terceiro estado era todo o Estado. Escrevia o bispo Sieyès, em Janeiro de 1779: “O que é o terceiro estado? Tudo. O que é que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que é que pede? Tornar-se alguma coisa”.

A reunião dos Estados Gerais, como previsto, iniciou-se em 5 de Maio de 1789.

Causas intelectuais[editar | editar código-fonte]

A reavaliação das bases jurídicas do Antigo Regime foi montada à luz do pensamento Iluminista, representado por Voltaire, Diderot, Montesquieu, John Locke, Rousseau, Immanuel Kant etc. Eles criaram uma base de pensamentos que criticava as estruturas políticas e sociais absolutistas e além de fornecerem os ideais liberais. 

Referências

  1. Michalany 1967, p. 233
  2. Michalany 1967, p. 234
  3. Michalany 1967, p. 235
  4. Michalany 1967, p. 239
  5. Michalany 1967, p. 241
  6. Grove, Richard H. (1998). «Global Impact of the 1789–93 El Niño». Nature (em inglês) (393). pp. 318–319 
  7. Wood, C.A. (1992). «The climatic effects of the 1783 Laki eruption». In: C. R. Harrington. The Year Without a Summer?. Canadian Museum of Nature. Ottawa: [s.n.] pp. 58 – 77 
  8. «Little Ice age: Big Chill» (em inglês). The History Channel. Consultado em 1 de janeiro de 2010 

Bibliografias[editar | editar código-fonte]

  • Paul Bairoch (1989). «L'economie francaise dans le contexte european a la fin du XVLLLe siecle». Revue Economique. 40 (6): 939–964 
  • Michalany, Douglas (1967). História das Guerras Mundiais. Michalany 2 ed. São Paulo: [s.n.]