Cheikh Anta Diop

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Cheikh Anta Diop
Nascimento 29 de dezembro de 1923
Diourbel, Senegal
Morte 7 de fevereiro de 1986 (62 anos)
Dacar, Senegal
Nacionalidade Senegalês
Etnia uolofe
Alma mater Universidade Paris-Sorbonne
Collège de France
Ocupação antropólogo, físico, historiador, político
LocationAfrica.png
Tópicos Pan-Africanos
Geral
Pan-africanismo
Afro-asiáticos
Afro-latino
Afro-americano
Kwanzaa
Colonialismo
África
Maafa
Negros
Filosofia africana
Conservadorismo negro
Esquerdismo negro
Nacionalismo negro
Orientalismo negro
Afrocentrismo
Tópicos africanos
Arte
FESPACO
African art
PAFF
Pessoas
George Padmore
Walter Rodney
Patrice Lumumba
Thomas Sankara
Frantz Fanon
Chinweizu Ibekwe
Molefi Kete Asante
Ahmed Sékou Touré
Kwame Nkrumah
Marcus Garvey
Nnamdi Azikiwe
Malcolm X
W. E. B. Du Bois
C. L. R. James
Cheikh Anta Diop

Cheikh Anta Diop (Diourbel, 29 de dezembro de 1923Dacar, 7 de fevereiro de 1986) foi um historiador, antropólogo, físico e político senegalês que estudou as origens da raça humana e cultura africana pré-colonial. Embora às vezes Diop seja referido como afrocêntrico, ele antecede o conceito e, portanto, não era um intelectual afrocêntrico. No entanto, o pensamento diopiano, como é chamado, é paradigmático para a afrocentricidade.[1] Ao longo da sua carreira, Diop defendeu que havia uma continuidade cultural partilhada entre os povos africanos que era mais importante do que o desenvolvimento variado de diferentes grupos étnicos demonstrado pelas diferenças entre línguas e culturas ao longo do tempo.[2]Seu trabalho foi bastante polêmico — algumas obras de Diop foram criticadas como revisionistas e pseudo-históricas.[3][4]

O trabalho de Diop apresentou questões importantes sobre o viés cultural inerente à pesquisa científica.[5] A Universidade Cheikh Anta Diop (antigamente conhecida como Universidade de Dakar) em Dakar, Senegal, leva o seu nome.[6][7]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Cheikh Anta Diop nasceu em Thieytou, na região de Diourbel no Senegal, no seio de uma família aristocrática lebu muçulmana. A família de Diop era parte da irmandade Mouride, uma grande tariqa e, de acordo com Diop, a única fraternidade muçulmana africana independente.[8] Deu seus primeiros passos acadêmicos em uma escola tradicional islâmica. Obteve o equivalente colonial do baccalauréat metropolitano francês no Senegal antes de se mudar para a França para estudar.[9] Com 23 anos foi para Paris para se converter em um físico. Permaneceu lá durante 15 anos, estudando física sob a direção de Frédéric Joliot-Curie, genro de Marie Curie, chegando a traduzir partes da Teoria da Relatividade de Einstein em seu idioma nativo, o uolofe.[10]

Sua educação incluiu história africana, egiptologia, linguística, antropologia, economia e sociologia.[5][11]

Investigação[editar | editar código-fonte]

Em 1951, Diop apresentou sua tese de doutorado na Universidade de Paris onde defendeu que o Egito antigo havia sido uma cultura negra; a tese foi rejeitada. Nos nove anos seguintes, Diop trabalhou na tese, apresentando provas mais precisas do que as que defendia. Em 1960, teve êxito na defesa de sua tese e obteve o doutorado.

Em 1955, a tese havia sido publicada na imprensa popular como um livro chamado Nations nègres et culture (Nações negras e cultura). Este trabalho faria dele o historiador mais polêmico de sua época.

Após 1960 Diop voltou para o Senegal, e continuou escrevendo. A Universidade de Dakar estabeleceu um laboratório de radiocarbono para ajudar na sua investigação. Diop foi nomeado o presidente do laboratório (após sua morte, a universidade foi renomeada em sua homenagem: Universidade de Dakar Cheikh Anta Diop). Havia dito que:

Na prática é possível determinar diretamente a cor da pele e, portanto, a afiliação étnica dos antigos egípcios pela análise microscópica em laboratório; Tenho dúvidas se a sagacidade dos pesquisadores que têm estudado esta questão deixou essa possibilidade passar despercebida.[12]

Diop usou esta técnica para determinar o teor de melanina das múmias egípcias. Alguns críticos dizem que esta técnica é inapropriada para múmias egípcias antigas devido aos efeitos do embalsamento e da deterioração através do tempo.[13]

Em 1974, foi um de aproximadamente 20 participantes de um simpósio da UNESCO no Cairo, onde apresentou suas teorias a outros especialistas em egiptologia.[14] Também escreveu o capítulo sobre as origens dos egípcios na história geral da África da UNESCO.[15]

Obra[editar | editar código-fonte]

Com seu livro The African Origin of Civilization: Myth or Reality (A origem africana da civilização: mito ou realidade), publicado em 1974, ganhou uma ampla audiência para seu trabalho. Proclamou que evidências arqueológicas e antropólogicas apoiavam sua posição afrocêntrica de que os faraós eram de origem negroide. Alguns estudiosos se baseiam fortemente no trabalho inovador de Diop,[5] enquanto outros no mundo acadêmico ocidental não aceitam suas teorias.[16]

Egiptólogos como F. Yurco apontaram que entre os povos do lado de fora do Egito, os núbios eram os mais próximos geneticamente dos egípcios, compartilhavam a mesma cultura no período pré-dinástico e empregavam a mesma estrutura política faraônica.[17] Ele sugere que os povos do Vale do Nilo eram uma população regionalizada, compartilhando uma série de traços genéticos e culturais.[18] Os últimos descobrimentos do arqueólogo suíço Charles Bonnet em Querma trouxeram luz às teorias de Diop ao passo que mostram proximidade cultural entre a Núbia e o Egito Antigo, embora a relação tenha sido reconhecida há anos.[19] Isso não necessariamente implica que existisse uma relação genética.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Leitura complementar[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Molefi Kete Asante, "Cheikh Anta Diop: An Intellectual Portrait" (Univ of Sankore Press: 30 de dezembro de 2007)
  2. Cheikh, Anta Diop, The Cultural Unity of Negro Africa (Paris: Présence Africaine, 1963), versão em inglês: The Cultural Unity of Black Africa: The Domains of Patriarchy and of Matriarchy in Classical Antiquity (London: Karnak House: 1989), pp. 53–111.
  3. Howe, Stephen (1998). Afrocentrism : mythical pasts and imagined homes. London: Verso. OCLC 39218052 
  4. Derricourt, Robin (junho de 2012). «Pseudoarchaeology: the concept and its limitations». Antiquity (em inglês) (332): 524–531. ISSN 0003-598X. doi:10.1017/S0003598X00062918. Consultado em 2 de março de 2022 
  5. a b c John G. Jackson and Runoko Rashidi, Introduction To African Civilizations (Citadel: 2001), ISBN 0-8065-2189-9, pp. 13–175.
  6. Touré, Maelenn-Kégni, "Cheikh Anta Diop University (1957--)", BlackPast.org.
  7. "University Cheikh Anta Diop", Encyclopædia Britannica.
  8. S. Ademola Ajayi, "Cheikh Anta Diop" in Kevin Shillington (ed.), Encyclopedia of African History.
  9. «ANKH: Egyptologie et Civilisations Africaines». Cheikhantadiop.net. Consultado em 31 de maio de 2017 
  10. Diop, Cheikh Anta, Bernard Nantet (ed.), Dictionnaire de l'Afrique, Paris: Larousse, page 96.
  11. Chris Gray, Conceptions of History in the Works of Cheikh Anta Diop and Theophile Obenga (Karnak House:1989) 11-155,
  12. Chris Gray, Conceptions of History in the Works of Cheikh Anta Diop and Theophile Obenga (Karnak House, 1989), 11–155.
  13. Alain Froment, 1991. "Origine et evolution de l'Homme dans la Pensée de Cheikh Anta Diop: une Analyse Critique", Cahiers d'Etudes africaines, XXXI-1-2: 29–64.
  14. UNESCO, (1978), Symposium on the Peopling of Ancient Egypt and the Deciphering of the Meroitic Script; Proceedings, pp. 76–8 and in General Discussion pp. 85–101, 122–4 (passim).
  15. See General History of Africa Volume II – Ancient civilizations of Africa (ed. G. Mokhtar), UNESCO, pp. 27–51.
  16. Lefkowitz, M. R. (1996), Not Out of Africa: How "Afrocentrism" Became an Excuse to Teach Myth as History, pp. 27–193.
  17. F. J. Yurco, "Were the ancient Egyptians black or white?", Biblical Archaeology Review (Vol 15, no. 5, 1989), pp. 24–9, 58.
  18. Frank Yurco, "An Egyptological Review", 1996, in Mary R. Lefkowitz and Guy MacLean Rogers, Black Athena Revisited, 1996, The University of North Carolina Press, pp. 62–100.
  19. Charles Bonnet and Dominique Valbelle, The Nubian Pharaohs: Black Kings on the Nile (AUC Press: 2007), pp. 34–183.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Nations nègres et culture : de l'Antiquité nègre égyptienne aux problèmes culturels de l'Afrique noire d'aujourd'hui, 1954 ISBN 2708706888.
  • L'Unité culturelle de l'Afrique noire, 1959 ISBN 2708704060
  • L'Antiquité africaine par l'image, Paris, Présence africaine ISBN 2708706594.
  • L'Afrique noire précoloniale. Étude comparée des systèmes politiques et sociaux de l'Europe et de l'Afrique noire de l'Antiquité à la formation des États modernes ISBN 2708704796.
  • Les Fondements culturels, techniques et industriels d'un futur État fédéral d'Afrique noire, 1960 ; reeditado por Présence africaine com o título Les fondements économiques et culturels d'un État fédéral d'Afrique Noire, 2000 ISBN 2708705350.
  • Antériorité des civilisations nègres : mythe ou vérité historique ?, Paris, Présence Africaine, 1967 ISBN 2708705628.
  • Parenté génétique de l'égyptien pharaonique et des langues négro-africaines, Dakar-Abidjan, Nouvelles éditions africaines, 1977
  • Civilisation ou Barbarie, Paris, Présence africaine, 1981 ISBN 2708703943.
  • Nouvelles recherches sur l'égyptien ancien et les langues africaines modernes, Paris, Présence africaine, 1988 (lançamento póstumo).

Ligações externas[editar | editar código-fonte]