Chinês clássico

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
The Classic of Poetry (詩經 or Shījīng)
O Clássico da Poesia (詩經 ou Shījīng), uma coleção de poesia chinesa, composta por 305 obras que datam dos séculos XI a VII a.C.

O chinês clássico, também conhecido como chinês literário [nota 1] (古文 gǔwén "texto antigo", ou 文言wényán "falar texto", que significa "língua/fala literária"; vernáculo moderno: 文言文 wényánwén "texto falar texto", que significa "linguagem literária escrita"), é a língua da literatura clássica do final do período das Primaveras e Outonos até o final da dinastia Han, uma forma escrita do chinês antigo (上古漢語, Shànɡɡǔ Hànyǔ). O chinês clássico é um estilo tradicional de chinês escrito que evoluiu da língua clássica, tornando-o diferente de qualquer forma falada de chinês moderno. O chinês literário foi usado em quase toda a escrita formal na China até o início do século XX, e também, durante vários períodos, no Japão, nas Ilhas Ryukyu, Coréia e Vietnã. Entre os falantes do chinês, o chinês literário foi amplamente substituído pelo chinês vernacular escrito, um estilo de escrita semelhante ao mandarim falado moderno, enquanto os falantes de línguas não chinesas abandonaram amplamente o chinês literário em favor de seus respectivos vernáculos locais. Embora as línguas tenham evoluído em direções únicas e diferentes da base do chinês literário, muitos cognatos ainda podem ser encontrados entre essas línguas que historicamente foram escritas em chinês clássico.

Definições[editar | editar código-fonte]

O chinês clássico por vezes é definido como a língua escrita do período clássico da literatura chinesa, que vai desde o final do período das Primaveras e Outonos (início do século V a.C.) até o final da dinastia Han (220 d.C.).[1] Já o chinês literário é visto como a forma de chinês escrito usada desde o final da dinastia Han até o início do século XX, quando foi substituído pelo chinês vernáculo escrito. Há também uma definição mais estrita para o período clássico, variando de Confúcio (551-479 aC) até a fundação da dinastia Qin.[2] [3]

O chinês literário é muitas vezes também referido como "chinês clássico", mas os sinólogos geralmente o distinguem da língua do período inicial. Durante este período, os dialetos da China tornaram-se cada vez mais díspares e, assim, a língua escrita clássica tornou-se cada vez menos representativa das variedades do chinês, similar ao que aconteceu com o latim clássico, que foi contemporâneo da dinastia Han, e as línguas românicas da Europa. Embora os autores procurassem escrever no estilo dos clássicos, a semelhança diminuiu ao longo dos séculos devido à compreensão imperfeita da língua mais antiga, à influência de sua própria fala e à adição de novas palavras. [4]

Missionários cristãos cunharam o termo Wen-li ("os princípios da literatura", "a linguagem do livro em oposição ao coloquial") para o chinês literário. Embora composto de raízes chinesas, este termo nunca foi usado nesse sentido em chinês,[5] e foi rejeitado por sinólogos não missionários.[6]

O chinês clássico foi usado na comunicação internacional entre o Império Mongol e o Japão. Esta carta, datada de 1266, foi enviada de Khubilai Khan ao "Rei do Japão" (日本國王) antes das invasões mongóis do Japão.

Uso histórico[editar | editar código-fonte]

O chinês literário foi adotado na Coréia, Japão e Vietnã. O Oxford Handbook of Classical Chinese Literature argumenta que essa adoção veio principalmente de laços diplomáticos e culturais com a China.[7] O chinês literário é conhecido como kanbun (漢文, "Escrita Han ") em japonês, hanmun em coreano (mas ver também gugyeol ) e văn ngôn (文言) [8] ou Han văn (漢文) em vietnamita.

Uso moderno[editar | editar código-fonte]

A maioria dos documentos do governo na República da China (Taiwan) foi escrita em chinês clássico até as reformas na década de 1970, em um movimento liderado pelo presidente Yen Chia-kan para mudar o estilo escrito para o chinês vernacular.[9] [10]

O uso contemporâneo do chinês clássico no Japão é principalmente no campo da educação e no estudo da literatura. Aprender a maneira japonesa (kanbun) de decodificar o chinês clássico faz parte do currículo do ensino médio no Japão.[11] O Japão é o único país que mantém a tradição de criar poesia clássica chinesa baseada nos padrões tonais da dinastia Tang.[12]

Notas

  1. Alguns estudiosos distinguem o chinês clássico como estritamente a língua dos clássicos antigos e o chinês literário como o estilo clássico de escrita usado ao longo da história chinesa antes do Movimento de Quatro de Maio.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Jerry Norman (1988). Chinese. [S.l.]: Cambridge University Press. pp. xi, 83. ISBN 0-521-29653-6 
  2. Peyraube, Alain (2008). «Ancient Chinese». In: Woodard. The Ancient Languages of Asia and the Americas. Cambridge, New York, Melbourne, Madrid, Cape Town, Singapore, São Paulo: Cambridge University Press. ISBN 9780521684941 
  3. Pulleyblank, Edwin (1995). Outline of Classical Chinese Grammar. Vancouver: UBC Press. ISBN 0774805056 
  4. Norman (1988), pp. 83–84, 108–109.
  5. Chao, Yuen Ren (1976). Aspects of Chinese Sociolinguistics: Essays by Yuen Ren Chao. [S.l.]: Stanford University Press. ISBN 978-0-8047-0909-5 
  6. Jost Oliver Zetzsche (1999). The Bible in China: The History of the Union Version or the Culmination of Protestant Missionary Bible Translation in China. [S.l.]: Monumenta Serica Institute. ISBN 3-8050-0433-8 
  7. Denecke; Nguyen (2017). Denecke; Li; Tian, eds. Shared Literary Heritage in the East Asian Sinographic Sphere (PDF). [S.l.: s.n.] doi:10.1093/oxfordhb/9780199356591.013.33 
  8. Nguyễn, Tri Tài (2002). Giáo trình tiếng Hán. Tập I: Cơ sở. [S.l.]: Nhà xuất bản Đại học Quốc gia Thành phố Hồ Chí Minh 
  9. Tsao, Feng-fu (2000). «The Language Planning Situation in Taiwan». In: Baldauf; Kaplan. Language Planning in Nepal, Taiwan, and Sweden. 115. [S.l.]: Multilingual Matters. pp. 75–76. ISBN 978-1-85359-483-0 
  10. Cheong, Ching (2001). Will Taiwan Break Away: The Rise of Taiwanese Nationalism. [S.l.]: World Scientific. ISBN 978-981-02-4486-6 
  11. 文部省 (1951). Diretrizes de Orientação - Complemento a parte do ensino médio do Curso de Estudo da Língua Japonesa (em japonês). [S.l.: s.n.] Cópia arquivada em 15 de dezembro de 2009 
  12. «五言絶句編 - 漢詩の作り方 - [学ぶ] - 関西吟詩文化協会»