Clarice Lispector
Clarice Lispector Хая Пінкасівна Ліспектор | |
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Lispector em 1969 | |
Nome completo | Chaya Pinkhasivna Lispector |
Pseudônimo(s) |
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Nascimento | 10 de dezembro de 1920 Chechelnyk; Oblast de Vinnitsa; República Popular da Ucrânia |
Morte | 9 de dezembro de 1977 (56 anos) Rio de Janeiro, Brasil |
Nacionalidade | |
Cônjuge | Maury Gurgel Valente (c. 1943; div. 1959) |
Filho(a)(s) | 2 |
Ocupação | |
Prêmios | Lista
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Gênero literário | |
Magnum opus | |
Religião | Judaísmo |
Página oficial | |
claricelispector |
Clarice Lispector, nascida Chaya Pinkhasivna Lispector (ucraniano: Хая Пінкасiвна Ліспектор;[1] Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977),[2] foi uma escritora e jornalista brasileira nascida na Ucrânia.[3] Autora de romances, contos e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX.[4][5] Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, reputando-se como uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Quanto às suas identidades nacional e regional, declarava-se brasileira e pernambucana.[6][7]
Nasceu numa família judaica russa que perdeu suas rendas com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a emigrar em decorrência da perseguição a judeus, à época, a qual resultou em diversos extermínios em massa. A futura escritora chegou ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs.[nota 1] Clarice dizia não ter nenhuma ligação com a Ucrânia - "Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo" - e que sua verdadeira pátria era o Brasil. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se mudar para o Recife,[8] onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perdeu a mãe.[9][10] Aos quatorze anos de idade transferiu-se com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro, na Tijuca, na Rua Mariz e Barros, 241, [11] local em que a família se estabilizou e onde o seu pai viria a falecer, em 1940.[12]
Estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conhecida como Universidade do Brasil, apesar de, na época, ter demonstrado mais interesse pelo meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora, logo se consagrando como escritora, jornalista, filósofa, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da Literatura brasileira e do Modernismo, sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É incluída pela crítica especializada entre os principais autores brasileiros do século XX.
Suas principais obras marcam cada período de sua carreira. Perto do Coração Selvagem foi seu livro de estreia, publicado quando Clarice tinha 24 anos de idade; Laços de Família, A Paixão segundo G.H., A Hora da Estrela e Um Sopro de Vida são seus últimos livros publicados. Morreu em 1977, um dia antes de completar 57 anos, em decorrência de um câncer de ovário. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos, crônicas, literatura infantil e entrevistas.[13]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nascimento
[editar | editar código-fonte]Registrada como Chaya Pinkhasivna Lispector (em ucraniano Хая Пінкасівна Ліспектор), Clarice Lispector nasceu em 10 de dezembro de 1920 na aldeia de Chechelnyk, região da Podólia, então parte da República Popular da Ucrânia e hoje parte da moderna Ucrânia. Filha dos judeus russos Pinkhas Lispector e Mania Lispector (nascida Krimgold), seu nascimento se deu em meio aos preparativos da família para a fuga do país, em razão do antissemitismo resultante da Guerra Civil Russa no século XX (1918-1920).[14] Pinkhas Lispector era um comerciante, filho do religioso[15] Shmuel Lispector e da burguesa Heived. Pinkhas e Mania se casaram no ano novo de 1889,[16] por determinação dos pais. Do casamento nasceriam três filhas: Leah, em 1911;[17] Tania, em 1915;[18] e Chaya (ou Haia), em 1920.[19]
A fuga foi cogitada primeiramente por Mania Lispector e sua família, que já havia emigrado em sua maior parte para a América do Sul a fim trabalhar em organizações judaicas.[20] No entanto, Pinkhas concordou com a emigração somente em razão do avanço dos pogroms, no fim da década de 1910. Por volta de 1918, a pobreza fez com que a família se mudasse para a cidade de Haisyn, também na Podólia (no atual Oblast de Vinnitsa), onde ocorreram alguns pogroms. Especulou-se que, durante um deles, por volta de 1919, Mania teria sido estuprada por um grupo de soldados, que lhe teriam transmitido sífilis. Entretanto, tal informação não foi confirmada por nenhum parente ou amigo próximo da escritora.[nota 2][21][22] Sobre o assunto, uma das mais influentes biógrafas da escritora, Nádia Batella Gotlib, ao organizar o livro memorialístico e póstumo da irmã de Clarice, Elisa Lispector ("Retratos antigos (2012)"), esclareceu que há registros de que a doença de Mania era na realidade hemiplegia, ou seja, paralisia parcial de metade do corpo proveniente de trauma, decorrente de violência causada por bolcheviques durante um pogrom. Essa doença manifestou-se na viagem de exílio e paulatinamente se agravou a ponto de, já em Recife, a mãe não mais poder caminhar, fazendo uso permanente de cadeira de rodas. Elisa Lispector menciona ainda que a mãe tinha tremores no corpo causados pelo mal de Parkinson.[23]
A proibição da emigração de judeus fez com que os Lispector buscassem meios ilegais em uma primeira tentativa, que falhou e que fez com que eles se mudassem para uma aldeia mais próxima das fronteiras, Chechelnyk. No inverno de 1921, conseguiram deixar a Ucrânia após alcançarem o rio Dniestre, através do qual foram levados à cidade de Soroco, então pertencente à Romênia e atualmente à República da Moldávia.[24] Lá viveram em um albergue e Mania foi internada em um hospital de caridade. Planejaram a fuga da Europa, com o intento de emigrar para o Brasil ou para os Estados Unidos, opção esta que acabou por ser inviável devido à aprovação do Emergency Quota Act, que dificultava a emigração do Leste Europeu.
Em 27 de janeiro de 1922, o consulado russo em Bucareste concede à família passaportes válidos para a emigração ao Brasil,[25] que foi feita em uma viagem que passou por Budapeste, Praga e Hamburgo. Nesta última cidade, embarcaram no navio brasileiro Cuyabá,[26] que os levou em condições precárias[27] a Maceió, onde a irmã de Mania, Zicela, e seu marido, Joseph (ou José) Rabin os esperavam. No Brasil, os nomes russos foram substituídos por nomes da onomástica da língua portuguesa, com exceção de Tania: Pinkhas passou a ser Pedro; Mania transformou-se em Marieta; Leah virou Elisa; Chaya virou Clarice.[28]
Infância
[editar | editar código-fonte]Em Maceió, a família continuou a viver em condições precárias e enfrentou alguns conflitos decorrentes das dificuldades econômicas e culturais. Para sustentar a família, Pedro tornou-se um pequeno mascate, comprando roupas velhas e usadas em áreas carentes para revendê-las aos comerciantes da cidade,[29] e também deu algumas aulas particulares de língua hebraica para os filhos de alguns vizinhos, além de vender cortes de linho. A situação melhorou somente quando Pedro, ao lado de José, passou a fabricar sabão, como fez na Ucrânia.[30]
Em 1924, aos quatro anos de idade, Clarice ingressou no jardim de infância. Em 1925, após três anos morando em Maceió, mudou-se, pouco depois de seu pai, para Recife com sua mãe e irmãs, possivelmente em consequência dos conflitos familiares e do desejo de Pedro de melhorar as condições da família mudando-se para um centro econômico que apresentava também uma população judaica mais coesa. Viveram no bairro Boa Vista.[31] O pai trabalhava como mercador ambulante, vendendo roupas a prestação pelos bairros mais afastados da cidade.[32]
Em 1928, aos sete anos, aprendeu a ler e a escrever. Em 1930, pouco depois, escreveu, inspirada por uma peça que havia visto, sua primeira peça teatral, Pobre menina rica, de três atos e cujas páginas foram perdidas.[33] Em 1931, enviou contos para a página infantil do Diário de Pernambuco, mas o jornal não publicou seus textos porque “os outros diziam assim: ‘Era uma vez, e isso e aquilo...’. E os meus eram sensações. ... Eram contos sem fadas, sem piratas. Então ninguém queria publicar”.[34][35] Após completar o jardim de infância, ingressou no ensino primário, na Escola João Barbalho, mostrando bastante interesse por Matemática e passando a dar aulas dessa disciplina aos filhos dos vizinhos.
Por volta dessa época, mudaram-se para a rua Imperatriz Tereza Cristina. Em 1930, na terceira série, Clarice ingressou no Colégio Hebreu-Iídiche-Brasileiro, onde aprendeu hebraico e iídiche. O estado de Mania agravou-se e Clarice escreveu, para tentar agradá-la, contos e peças,[36] mas em 21 de setembro de 1930, aos quarenta e dois anos, Mania Lispector morreu e foi sepultada no Cemitério Israelita do Barro. Em homenagem à mãe, Clarice compôs sua primeira peça para piano. Em 15 de dezembro, seu pai deu início ao processo de nacionalização, solicitando um documento inicial. Em 17 de junho de 1931, encaminhou um pedido de naturalização.
Adolescência
[editar | editar código-fonte]Em 1932, Clarice, aos doze anos, foi aprovada, ao lado da irmã Tania e da prima Bertha, no Ginásio Pernambucano.[37] Em 1933, decidiu tornar-se escritora quando “[tomou] posse da vontade de escrever ... [viu-se] de repente num vácuo. E nesse vácuo não havia quem pudesse [ajudá-la]”.[38] Em sua última entrevista em vida, disse a respeito de sua formação literária: “Misturei tudo. Eu lia romance para mocinhas, livro cor-de-rosa, misturado com Dostoiévski. Eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores. Misturei tudo. Fui ler, aos treze anos, Hermann Hesse, O Lobo da Estepe, e foi um choque. Aí comecei a escrever um conto que não acabava nunca mais. Terminei rasgando e jogando fora”.[33][39][40] A família mudou-se para uma casa própria na avenida Conde da Boa Vista.
Em 7 de janeiro de 1935, com 14 anos, viajando no navio inglês Highland Monarch,[41] mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde seu pai esperava dar prosseguimento aos avanços de seu negócio e conseguir bons maridos para suas filhas nos círculos judaicos cariocas. Elisa, entretanto, ficou ainda alguns meses no Recife trabalhando, indo para o Rio de Janeiro um pouco mais tarde e prestando concurso para o Ministério do Trabalho. Apesar de ter conquistado as melhores notas, não havia vagas; ela ingressou no cargo graças à amizade da família com o político Agamenon Magalhães, então ministro do Trabalho e anteriormente professor de Geografia[42] de Clarice e Tania. Em 1938, Tania também tornou-se funcionária pública.[43]
Passam a primeira semana no Rio de Janeiro na residência de um casal judaico no bairro do Flamengo e depois moram em uma casa antiga perto do Campo de São Cristóvão. Estabilizam-se na cidade logo em seguida, ocupando parte da casa 341 da rua Mariz e Barros, no bairro da Tijuca. Clarice então cursava o quarto ano do ginásio no Colégio Sílvio Leite, na mesma rua de sua casa.
Em 1936, terminou o ginásio e ingressou, em 2 de março de 1937, em uma escola preparatória, a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, então chamada de Universidade do Brasil. A decisão causou estranhamento na época, tanto por Clarice ser mulher quanto por não pertencer à elite carioca, mas era justificada por seus desejos de mudanças sociais: “o que eu via [no Recife] me fazia como me prometer que não deixaria aquilo continuar”.
De acordo com ela, “como eu não tinha orientação de nenhuma espécie sobre o que estudar, fui estudar advocacia”. Apesar da relutância do pai, que temia mudanças estressantes na filha, ela seguiu com seus planos e tinha um objetivo: “Minha ideia ... era estudar advocacia para reformar as penitenciárias”.
Em 1938, mudou de escola preparatória, passando para o Colégio Andrews, na Praia de Botafogo, onde se declarou nascida em Pernambuco. Por essa ocasião, voltou a dar aulas, desta vez visando ajudar a aumentar a renda familiar através de aulas particulares de Matemática e Português, além de aprender datilografia e Língua inglesa.
No Rio de Janeiro, os negócios de Pedro não obtiveram grande avanço, apesar de ele ter conseguido, com dificuldade, um emprego de representante comercial. Seu desejo de casar as filhas, entretanto, logrou êxito através de Tania, que se casou no início de 1938 com William Kaufmann, um judeu comerciante de móveis e decorador.
Por essa época ocorreu no Brasil o advento do Estado Novo, liderado por Getúlio Vargas, bem como o avanço da Segunda Guerra Mundial[44] e a intensificação informal das relações do Brasil com a Alemanha nazista e outros regimes ditatoriais, que fizeram com que o antissemitismo penetrasse no Brasil e novamente interferisse na vida da família Lispector, cujo pai, sionista, inclusive arrecadava fundos para os judeus na Palestina, apesar dos riscos.
Universidade do Brasil
[editar | editar código-fonte]Direito
[editar | editar código-fonte]Em 1939, morando na rua Lúcio de Mendonça, no bairro do Maracanã, ela ingressou no curso superior na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que trabalhava como secretária em um escritório de advocacia e em um laboratório, além de já estar fazendo traduções de textos científicos para revistas.
Em 1940, aos dezenove anos, seu interesse por Direito havia diminuído ao passo que aumentara sua atenção à Literatura, de modo que ela publicou, em 25 de maio, seu primeiro conto conhecido, Triunfo, na revista Pan,[45] no qual descreve os pensamentos de uma mulher abandonada por seu companheiro. A posição política da revista de apoio aos regimes ditatoriais, que era semelhante às de outras revistas desse período, todas censuradas, não foi levada em conta por Clarice ao publicar o conto.
Em agosto, seu pai passou mal e foi levado a um médico, o qual lhe informou que sua vesícula biliar precisaria ser retirada através de uma cirurgia considerada simples, que foi marcada para 23 de agosto. Após voltar da clínica com uma forte dor, Pinkhas Lispector morreu três dias depois, em 26 de agosto de 1940, aos 55 anos.
Tania, por já estar casada e ter uma residência, foi quem a partir de então tomou conta das duas irmãs, insistindo para que elas fossem morar com ela e seu marido no apartamento nos arredores dos jardins do Palácio do Catete (mais precisamente na rua Silveira Martins). Devido ao pequeno tamanho do imóvel, Elisa teve que dormir na sala e Clarice no quarto de empregada, lugar onde passava o tempo estudando e escrevendo.
Nessa época, insatisfeita com o trabalho de escritório, ela buscou entrar na área do jornalismo, apesar das dificuldades levantadas às mulheres. De acordo com o que diria anos mais tarde em uma entrevista, passou a andar pelas redações de revistas oferecendo seus contos, até que provavelmente um dia chegou à redação da revista Vamos Ler!, direcionada ao público masculino de classe alta.
A imprensa na época era estritamente censurada pelo governo de Getúlio Vargas e estava sob o jugo do órgão recém-criado do Departamento de Imprensa e Propaganda, que permitia a circulação de determinados periódicos, como a Vamos Ler!, em cuja redação Clarice mostrou seus textos ao jornalista Raimundo Magalhães Júnior, secretário do ministro de Propaganda, Lourival Fontes.
Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um conto, você não quer publicar?”. Aí me lembro que uma vez foi o Raymundo Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou isto de quem?”. Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: “Então vou publicar”.[33]
Jornalismo
[editar | editar código-fonte]O primeiro texto publicado na revista foi provavelmente Eu e Jimmy, em 10 de outubro de 1940,[45] um conto com temática feminista centrado na relação amorosa entre um homem e uma mulher. Depois disso, de acordo com Tania, Clarice procurou contactar Fontes para conseguir entrar definitivamente na imprensa.
Apesar das dificuldades para entrar na área, na qual, de acordo com Tania, “você não fazia nada se não tivesse relações”, Clarice buscou entrar em contato com Fontes, o qual “gostou dela e a contratou”[43] para trabalhar como tradutora na Agência Nacional, uma agência de notícias do governo. Como não havia vaga para tradutor, foi designada como editora e repórter, a única mulher ali que ocupava tal cargo.
Na equipe da Agência Nacional, conheceu Lúcio Cardoso, um escritor e jornalista mineiro então com 26 anos, já respeitado no meio literário. Desenvolveu uma forte amizade por ele, que compartilhava dos mesmos gostos literários que ela, e chegou a desenvolver uma paixão não-correspondida, pois Cardoso era homossexual.[46][47] A amizade com Cardoso e com o restante da equipe abriu-lhe novas possibilidades profissionais e literárias, que fizeram com que ela passasse então a escrever e publicar prolificamente.
Em 1941, o trabalho como repórter fez com que ela fosse enviada para diversas localidades, como, por exemplo, à inauguração privada do Museu Imperial em Petrópolis, em 1º de maio, onde conheceu Getúlio Vargas; e a Belo Horizonte, em julho. Durante as viagens, publicou textos em periódicos de diversos lugares.
Em 19 de janeiro, publicou o artigo Onde se ensinará a ser feliz no periódico paulista Diário do Povo, sobre um evento presidido pela primeira-dama Darcy Vargas.[48] Em 9 de agosto, o conto Trecho sai pela Vamos Ler!,[49] sobre a espera de uma mulher por seu companheiro em um bar; no dia 30, Cartas a Hermengardo, na verdade uma trilogia de textos,[50] sai no semanário Dom Casmurro, destinado ao público jovem da classe alta, versando sobre uma mulher que aconselha um homem a ouvir seus instintos.
No mesmo ano também escreveu outros contos que seriam publicados somente na coletânea póstuma A Bela e a Fera (1979): em setembro, Gertrudes pede um conselho; em outubro, seu conto de juventude mais longo, Obsessão, cujo protagonista, Daniel, reaparecerá em seu segundo romance, O Lustre (1946), anos mais tarde. O personagem era baseado em Cardoso, um homem pelo qual a narradora apaixona-se e que a guia; e em dezembro, Mais dois bêbados.[49]
Também dá partida a novos projetos na universidade, ainda objetivando o sistema penitenciário, através da colaboração com a revista universitária A Época, onde publicou os ensaios Observações sobre o fundamento do direito de punir, em agosto, e Deve a mulher trabalhar?, em setembro.[49]
O primeiro ensaio chamou a atenção de estudiosos posteriores por dizer que “O homem é punido pelo seu crime porque o Estado é mais forte que ele, a Guerra ... não é punida porque se acima dum homem há os homens acima dos homens nada mais há”, o que foi interpretado tanto como uma justificativa filosófica e maquiavélica para a ditadura e o nazismo quanto um eco de um ateísmo incipiente de Clarice.[51] Depois desse afastamento, no entanto, na mesma ela época passou a aproximar-se novamente da religião através de leituras de Franz Kafka, também judeu, e do filósofo Baruch de Espinoza,[52] de quem foi encontrada, na biblioteca de Clarice, uma antologia francesa datada de 14 de fevereiro de 1941 e que inspirou a escrita de seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem (1942).
Perto do Coração Selvagem
[editar | editar código-fonte]Por intermédio de Cardoso, passou a frequentar o grupo de amigos que se encontrava no bar Recreio, na Cinelândia, e era composto por literatos como Vinicius de Moraes, Cornélio Pena, Rachel de Queiroz e Otávio de Faria. Através da Agência Nacional também conheceu o poeta Augusto Frederico Schmidt, que foi entrevistado por ela a propósito de fibras industriais, mas que, frente à admiração que Clarice expressou por sua poesia, deu início a uma amizade com ela que duraria o resto de sua vida.[53]
Os textos escritos para a Agência Nacional[54] nessa época seguem a linha editorial feita para agradar a censura do regime de Vargas, resumindo-se a entrevistas com coronéis e generais estrangeiros de passagem pelo Brasil e de coberturas de inaugurações de locais ligados ao governo.[55]
Com o primeiro salário de jornalista comprou o livro Felicidade, de Katherine Mansfield, que a influenciaria ao longo da vida e sobre o qual comentou, em sua primeira leitura: "Este livro sou eu!".
Ao final do ano, com a paixão por Cardoso superada, iniciou um relacionamento amoroso com Maury Gurgel Valente, futuro marido e então colega universitário de direito. Maury, nascido em 1921 no Rio de Janeiro. Ele iniciou o curso em 1938, um ano antes dela, e mudou-se de países quase tanto quanto Clarice na infância.
Em 1942, passou as duas semanas das férias de janeiro na fazenda Vila Rica, em Avelar, no Rio de Janeiro, de onde manteve correspondência com Maury. Os dois ansiavam por se casar, mas ele havia sido aprovado em agosto de 1940 no exame para o serviço estrangeiro, transformando-se em diplomata brasileiro e proibido, portanto, pela legislação da época, de se casar com uma estrangeira, no caso Clarice, ainda não naturalizada brasileira.
A naturalização só poderia ser requerida após o aniversário de 21 anos, em 10 de dezembro de 1941, e o pedido foi organizado logo depois por Samuel Malamud, advogado da Podólia e amigo da família. Em suas tentativas de apressar o processo, chegou a escrever a Getúlio Vargas, pois ele havia perguntado o motivo de ainda não estar naturalizada, mas o processo seguiu o tempo normal.
Em fevereiro, transferiu-se para a redação do jornal A Noite, cuja redação era dividida com a Vamos Ler! e, assim como esta, era uma extensão do órgão governamental para o qual a Agência Nacional também trabalhava. Em 2 de março, ganhou seu primeiro registro profissional,[49] trabalhando oficialmente como redatora sob salário de 600 mil réis.
Teve o primeiro contato com textos de escritores modernistas como Fernando Pessoa, Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, através de leituras feitas com o amigo Francisco de Assis Barbosa. Este último aconselhou-a no processo de escrita de seu primeiro romance.
Em março, começou a planejar seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, concluído em novembro e constituído basicamente de rascunhos e escritos separados, unidos em um livro por sugestão de Lúcio Cardoso, que também sugeriu um título, "Perto do Coração Selvagem", retirado de uma passagem do livro Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce,[nota 3] cujas técnicas, para Cardoso, remetiam às de Clarice. O crítico Álvaro Lins classificou Perto do Coração Selvagem como "[o primeiro romance brasileiro] dentro do espírito e da técnica de Joyce e Virginia Woolf".[56]
Também em março deu início ao seu segundo romance, O Lustre.
Casamento e diplomacia
[editar | editar código-fonte]Em 12 de janeiro de 1943, obteve a naturalização e, em 23 de janeiro, em cerimônia civil, casou-se com Maury Gurgel Valente. Os dois mudam-se temporariamente para a casa dos sogros, Mozart e Maria José Gurgel Valente, no bairro da Glória, e depois para a rua São Clemente, em Botafogo.
Em 3 de maio, recebeu a carteira profissional do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Em 17 de dezembro, ela e seu marido formam-se em Direito. Eles não compareceram à cerimônia de colação de grau.
Perto do Coração Selvagem foi encaminhado para os dirigentes do jornal A Noite, que também contava com uma editora, através da qual foi publicado em dezembro de 1943, com impressão de mil exemplares. A pressão dos jornalistas fez com que o livro fosse publicado, dando à autora cem exemplares em troca dos direitos de venda e lucros posteriores, os quais foram enviados por ela a críticos.
A publicação foi recebida com furor no meio literário, causando principalmente elogios da crítica especializada e comparações com escritores europeus como Virginia Woolf, James Joyce, Jean-Paul Sartre e Marcel Proust, o que irritou Clarice, que anos mais tarde negaria a influência e afirmaria na época não ter lido nenhum livro desses autores. Também então começou-se um processo de mitificação da autora através do início dos boatos de que Lispector era um pseudônimo de um escritor famoso. A principal crítica negativa, de Álvaro Lins, sugeria que “temperamentos femininos” enfraqueciam a obra.
Em 11 de janeiro de 1944, adotou o nome de casada na carteira de trabalho, Clarice Gurgel Valente. No dia 19, mudou-se, sob licença do A Noite, para Belém com o marido devido a suas funções como vice-cônsul. Por essa época, sem ocupações profissionais e por sugestão do professor e crítico literário Francisco Paulo Mendes, dedicou-se à leitura de escritores que desconhecia, como Jean-Paul Sartre, Rainer Maria Rilke, Marcel Proust, Rosamond Lehmann e Virginia Woolf.
Em maio, mostrou algumas partes de seu segundo livro, O Lustre, para Cardoso. Em 5 de julho, um mês após o fim da Segunda Guerra Mundial, recebeu a notícia de que seu marido seria transferido para o consulado brasileiro na comuna italiana de Nápoles.
Em 19 de julho, o casal, após alguns dias no Rio de Janeiro, começou a viagem, parando em uma base norte-americana em Parnamirim, Natal, onde esperariam transporte, que chegaria primeiro a Maury e mais tarde a seus dependentes, no caso Clarice, seguindo as ordens enviadas pelo governo.
Em 30 de julho, embarcou, e no dia seguinte chegou à Libéria, em uma base da força aérea dos Estados Unidos em Fisherman’s Lake. Em 1 de agosto, parou em Bolama, na Guiné portuguesa, e foi para Dakar, no Senegal, onde ingressou em um avião particular que a levou a Lisboa, Portugal.
Em Lisboa, atendeu a um jantar dado pelo poeta e diplomata brasileiro Ribeiro Couto, no qual compareceram o biógrafo João Gaspar Simões, a romancista Maria Archer e a poeta Natércia Freire, com a qual estabeleceria uma longa amizade.
Depois de uma semana e meia, seguiu para Casablanca, Marrocos, e depois para Argel, Argélia, onde se hospedou na casa de seu sogro, Mozart Gurgel Valente. Em 24 de agosto, acompanhada de Mozart e do amigo da família Vasco Leitão da Cunha, chegou a Nápoles na Itália, onde morou na rua Gianbattista Pergoless.
Requisitou às autoridades militares permissão para poder fazer trabalho comunitário em ajuda às enfermeiras em um hospital norte-americano em Nápoles, para onde os casos de guerra mais graves eram enviados. Visitou diariamente o hospital, escrevendo e lendo cartas para os soldados e fazendo o que eles necessitassem.
O Lustre
[editar | editar código-fonte]Em outubro, Perto do Coração Selvagem ganhou o Prêmio Graça Aranha de melhor romance do ano. Em novembro, O Lustre foi concluído, escrito de forma linear, ao contrário do anterior. Esperou que, com o sucesso de seu primeiro livro, pudesse escolher entre editoras e publicar na José Olympio, mas enganou-se e teve que publicá-lo na editora católica Agir, com ajuda de Cardoso.
Em 1945 intensificou a correspondência com os amigos brasileiros, recebendo cartas e livros de, entre outros, Manuel Bandeira, de quem recebeu Poesias completas e Poemas traduzidos. Também passou a reler escritores como Proust, Kafka e a poesia de Emily Brontë, traduzida por Cardoso.
Em 8 de maio, no fim da Segunda Guerra Mundial, em Roma, por sugestão de um amigo em comum, conheceu o pintor surrealista Giorgio de Chirico, que pintou seu retrato, o qual, tanto quanto o artista, não a agradou muito.
Fez viagens pela Itália por Florença, Veneza e novamente Roma, visitando também Córdoba, na Espanha. Conheceu também o poeta e professor italiano Giuseppe Ungaretti. Adotou um cão vira-lata que encontrou em Nápoles, chamado de Dilermando e que inspiraria alguns textos.
Em 23 de novembro, Manuel Bandeira enviou uma carta pedindo o segundo romance e alguns poemas para publicação em antologia. Em resposta à leitura desses poemas, Bandeira enviou uma carta criticando fortemente a poesia de Clarice, o que fez com que ela queimasse todos os poemas que havia escrito. Mais tarde, Bandeira lamentaria ter feito aquele comentário, dizendo: “Você é poeta, Clarice querida. Até hoje tenho remorso do que disse a respeito dos versos que você me mostrou. Você interpretou mal as minhas palavras [...] Faça versos, Clarice, e se lembre de mim”.[57]
Por essa época, em suas cartas, Clarice passa a demonstrar saudades do Brasil e inquietação quanto à vida diplomática. Em dezembro, Maury é promovido a cônsul de segunda classe.
No início de 1946, O Lustre é publicado. Clarice é enviada como correio diplomático do Ministério das Relações Exteriores ao Rio de Janeiro entre janeiro e março, em uma rápida visita, durante a qual conheceu novos amigos que marcariam sua vida. Entre outras pessoas, conheceu Bluma Chafir Wainer, esposa do jornalista Samuel Wainer, Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, com quem Clarice teria um romance, após separar-se do marido.[47]
Em 8 de março, é noticiada a transferência de Maury para Berna, Suíça. No dia 21, Clarice volta à Itália através do Egito, onde conheceu a esfinge de Gizé. Ao chegar a Napóles, a mudança já estava preparada e, devido a um rumor falso de que os hotéis suíços não aceitavam cães, teve que abandonar Dilermando.
Em Berna, mudou-se primeiro para o hotel Bellevue-Palace e depois para a rua Ostring. Enfrenta novas dificuldades de adaptação e passa a frequentar os cinemas quase diariamente. Também começa novas leituras de autores como Henrik Ibsen, Theodore Dreiser, Jean Cocteau e Simone de Beauvoir.
Continua escrevendo e publica alguns contos no jornal carioca A manhã, no suplemento Letras e Artes: O crime, em 25 de agosto, inspirado no abandono de seu cão e que mais tarde seria reescrito como O crime do professor de Matemática, seria o primeiro conto do livro Laços de Família. O jantar é publicado em 13 de outubro.
Nesta época a escritora, mais uma vez, nega conhecer Sartre, quando, na verdade, o conhecia suficientemente até para dele se diferenciar, pelo menos desde o seu segundo livro, O Lustre, conforme ela mesma afirmou mais tarde: "Acontece que só vim a saber da existência de Sartre no meu segundo livro." (Cf. BORELLI, 1981, p. 66). De acordo com Nádia Gotlib, inclusive, "uma das possíveis razões de o livro ter sido bem recebido na França pode ter sido mesmo a idéia de que teria tido ele influência do existencialismo" (GOTLIB, 1995, p. 340). Muitos dos trabalhos críticos sobre a obra da autora confirmam a relação daquela com a filosofia existencialista de Sartre.[58]
Um adendo: além de O Lustre, a obra de Clarice A Maçã no Escuro é também entendida como influenciada pelo pensamento filosófico de Sartre. Guimarães compara A Maçã no Escuro ao romance de Sartre A náusea e nota traços de esquizofrenia em Martim, por este apresentar pensamento fragmentado, com ausência de elos. Segundo Guimarães, a consciência tanto de Martim quanto de Roquentin (protagonista do romance de Sartre), "opera por contiguidade, adesão, coexistência em relação aos circunstantes e não por identificação, à maneira psicanalítica".[59] No mais, muitos críticos literários discutiram a influência do existencialismo de Sartre e da discussão e papéis femininos/masculinos de Simone de Beauvoir nas narrativas de Clarice Lispector. Isso pode ser encontrado, por exemplo, nos seguintes textos: BRASIL, Assis. Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Simões, 1969; NUNES, Benedito. O mundo de Clarice Lispector; op. cit.; HERMAN, op. cit., p. 69-74; PONTIERO, Giovanni. The drama of existence in Laços de Família. Studies in Short Fiction, n. 8, 1971 e ANDERSON, Robert K. Myth and existencialism in Clarice Lispector's, 1985.[60]
Neste contexto, e feitas estas considerações pertinentes, é possível pensar uma influência da filosofia formulada por Sartre, Simone de Beauvoir e outros na obra de Clarice, embora fosse temerário considerar a autora como adepta do existencialismo. A verdade é que a filosofia existencialista de Sartre marcou profundamente a geração de intelectuais contemporâneos de Clarice Lispector.[61][62][63][64] No fim do ano de 1946, frequenta o terapeuta Ulysses Girsoler. Ela e Maury passam o réveillon na França, com o casal Wainer, a convite de Bluma.[65]
Maturidade e morte
[editar | editar código-fonte]Em 10 de agosto de 1948, nasce em Berna, Suíça, o seu primeiro filho, Pedro Lispector Valente.[66] Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo Gurgel Valente, o segundo filho de Clarice e Maury, em Washington, D.C., nos Estados Unidos.[67]
Quando criança, seu filho mais velho, Pedro, se destacava por sua facilidade de aprendizado e bom comportamento, porém, na adolescência, sua falta de atenção nos estudos e extrema ansiedade acompanhada de agitação consigo mesmo e com a família, foram diagnosticadas como esquizofrenia. Clarice se sentia culpada, sem saber o porquê, pela doença mental do filho, e teve dificuldades para lidar com a situação, recorrendo a psicólogos, psiquiatras e internações, pois o menino era muito agressivo.[68]
Em 1959, Clarice separa-se do marido, devido ao fato de ele estar sempre viajando a trabalho, exigindo que ela o acompanhasse todo o tempo. Não querendo abrir mão de sua carreira e querendo cuidar do filho esquizofrênico em um local fixo, sem as constantes viagens, que deixavam o menino mais nervoso, sem as constantes mudanças de escola do outro filho, que não estava fazendo amizades, e cansada das desconfianças e ciúmes do marido, Clarice deu um fim na relação. O ex-marido fica na Europa, e ela volta a viver permanentemente no Rio de Janeiro com seus filhos, indo morar com eles em um apartamento no Leme. No mesmo ano assina a coluna Correio feminino - Feira de Utilidades, no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer. No ano seguinte, assume a coluna Só para mulheres, do Diário da Noite, como ghost-writer da atriz Ilka Soares.
Em 14 de setembro de 1966, provoca, involuntariamente, um incêndio ao dormir deixando seu cigarro aceso. O quarto fica destruído e a escritora é hospitalizada, ficando entre a vida e a morte por três dias. Sua mão direita é quase amputada devido aos ferimentos. Mesmo depois de passado o risco de morte, fica hospitalizada por dois meses. Clarice começara a fumar e beber ainda na adolescência, enquanto compunha seus poemas.[66]
Em 1975, Clarice participou do I Congresso Mundial de Bruxaria, em Bogotá, na Colômbia. No congresso, Clarice fez uma pequena apresentação do seu conto O ovo e a galinha, que havia traduzido ao inglês e que, a seu pedido, foi lido por outra pessoa.[69] O conto fez sucesso entre os participantes. Ao voltar ao Brasil, a viagem de Clarice ganha ares mitológicos, com jornalistas descrevendo (falsas) aparições da autora vestida de preto e coberta de amuletos. Essa imagem se consolida e Clarice é referida como "a grande bruxa da literatura brasileira". Sobre sua obra, o amigo Otto Lara Resende declara: "não se trata de literatura, mas de bruxaria[68]".
Morte
[editar | editar código-fonte]Pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela, Clarice é hospitalizada, com um câncer de ovário detectado tarde demais e inoperável. A doença se espalhara por todo o seu organismo. Clarice faleceu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, no dia 11 de dezembro. Até a manhã de seu falecimento, mesmo sob sedativos, Clarice ainda ditava frases para sua melhor amiga, Olga Borelli, que sempre estivera ao lado da amiga em seus últimos anos.
Durante toda a sua vida, Clarice foi amiga de grandes escritores, como Fernando Sabino, Lúcio Cardoso, Rubem Braga, San Tiago Dantas entre outros.
Obra
[editar | editar código-fonte]O crítico Alfredo Bosi apresenta três características do estilo narrativo de Clarice Lispector: o uso intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo de consciência e a ruptura com o enredo factual.[56] Bosi afirma que, na gênese das histórias da autora, há uma exacerbação tal do momento interior que a própria subjetividade entra em crise, fazendo com que o espírito procure um novo equilíbrio, trazido pela "recuperação do objeto", "não mais [no nível psicológico], mas na esfera da sua própria e irredutível realidade." Para Bosi, "trata-se de um salto do psicológico para o metafísico".[56] Bosi vê também, na escrita da autora, exemplos de três crises literárias: a crise da personagem-ego ("cujas contradições já não se resolvem no casulo intimista, mas na procura consciente do supra-individual"); a crise da fala narrativa ("afetada agora por um estilo ensaístico, indagador") e a crise da velha fundação documental da prosa de romances.[70]
Como tradutora
[editar | editar código-fonte]Sabe-se que Clarice Lispector dominava pelo menos sete idiomas: português, inglês, francês e espanhol, fluentemente; hebraico e iídiche, com alguma fluência; e russo, com pouca fluência levada da infância. Como tradutora para o português, entretanto, utilizou somente o inglês, o francês e o espanhol.[nota 4]
Além de contos e artigos, traduziu ao todo 35 livros de diversos gêneros e escritores: 13 do inglês; 10 do francês; e 2 provavelmente do inglês ou do francês e talvez do espanhol ou do grego.[72] Contando-se contos, foram mais de 40 traduções.[73]
Em 1941, antes de dar início à sua carreira literária, quando começou a trabalhar na revista Vamos Ler! como repórter, também contribuía com traduções, sendo a sua rimeira o conto Le missionaire, de Claude Farrère.[73]
Em 1963, após um hiato de mais de vinte anos, voltou à ativa com a tradução do inglês do romance The winthrop Woman, de Anya Selton, pela editora Ypiranga.[74][73] Pelos próximos seis anos, lançou mais duas traduções do inglês pela Ypiranga, uma de Agatha Christie[75] e outra de Alistair MacLean.[73]
Publicou, em 1968, na Revista Jóia, a crônica Traduzir procurando não trair, em que comentou suas preocupações no processo de tradução para manter a fidelidade e outras reflexões sobre o ofício.[76][77]
Em 1969, publicou sua primeira e única tradução do espanhol, do conto Historia de los dos que soñaron, de Jorge Luis Borges, no Jornal do Brasil. Em 1973, sua primeira tradução do francês, Lumière allumées, de Bella Chagal, pela editora Nova Fronteira.[73]
No restante de sua vida, publicou diversas traduções, tanto em periódicos quanto em editoras. A última tradução publicada em vida foi a do francês do romance Le bluff du futur, de Georges Elgozy, em 1976, pela editora Artenova.[78] Duas traduções, entretanto, ainda seriam publicadas postumamente, do francês: L’homme au magnétophone, de Jean-Jaques Abrahams, em 1978, pela Imago Editora;[79][73] e da tradução francesa Curtain, de Agatha Christie, em 1987, pela Editora Record.[80][75]
As editoras em que mais publicou foram a Artenova, em um total de 11, a Nova Fronteira, 6, e a Ypiranga, 4. Os anos mais prolíficos foram 1975, com 8, 1976, com 4, e 1974, com 4.[73]
Na sua última década de vida, em 1970, pouco depois de quando começou a escrever textos infantis, também fez três traduções adaptadas direcionadas para o público infantojuvenil,[81] todas pela editora Abril Cultural: publicada em 1973, do inglês, Gulliver’s travels, de Jonathan Swift;[82] The history of Tom Jones, a foundling, de Henry Filding;[83] e postumamente em 1980, do francês, L’Ïle Mystérieuse, de Júlio Verne.[84][73]
Em 1970, publicou uma tradução baseada em O talismã, de Walter Scott, pela Ediouro.[85] Também publicou contos reescritos a partir de traduções de Edgar Allan Poe em 1974 e 1975, que aparentemente foram escritos em um mesmo período e posteriormente reunidos em Histórias Extraordinárias de Allan Poe, pela Ediouro, de data não informada.[86][73]
Traduções no exterior
[editar | editar código-fonte]No total, a obra de Clarice Lispector recebeu mais de 200 traduções para mais de 10 idiomas, sendo mais de 179 traduções integrais de livros e 25 de contos publicados em periódicos. Seus livros mais traduzidos são principalmente romances: A Hora da Estrela, com 22 traduções; A Paixão segundo G. H., também com 22; Perto do Coração Selvagem, com 18; Laços de Família, com 16; e Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, com 15.[87]
As traduções foram iniciadas logo depois do início de sua carreira literária e receberam uma boa acolhida da crítica especializada, sendo os idiomas com mais tradução o espanhol, o inglês e o francês.
Em 1954, seu primeiro livro a ser traduzido foi lançado na França: Perto do Coração Selvagem, em tradução de Denise-Teresa Moutonnier pela editora Plon.[88] A tradução desagradou Clarice, que enviou reclamações sobre erros ao editor, Pierre de Lescure, mas acabou por preferir fingir que a tradução nunca existiu.
Em 1955, veio a primeira tradução para o espanhol: Água viva, por Haydeé Yofre para a Sudamericana.[89] Em 1961, a primeira para o inglês: A Maçã no Escuro, por Gregory Rabassa para a editora da Universidade do Texas.[90]
Em 1963, teve sua primeira tradução para o alemão como a primeira de um de seus livros de contos: Laços de Família, por Marianne Eyre, Margareta Ahlberg e Arne Lundgren, para a Norstedts.[91] Em 1964, também para o alemão: A Maçã no Escuro, por Curt Meyer-Clason para a Classen.[92] Em 1966, duas de suas obras são traduzidas para o alemão: Onde estivestes de noite por Sarita Brandt para a Suhrkamp;[93] e o conto A imitação da rosa por Curt Meyer-Clason para a Claassen.[94]
Em 1969, A Paixão segundo G. H., para o espanhol, por Juan García Gayo para a Monte Avila.[95] Em 1973, a primeira para o tcheco: Perto do Coração Selvagem, por Přeložila Pavla Lidmilová para a Odeon;[96] e também o primeiro livro de contos traduzido para o espanhol, Laços de Família, por Haydeé Yofre Barroso para a Sudamericana.[97]
Em 1974, duas traduções para o espanhol: A Maçã no Escuro, por Juan García Gayo para a Sudamericana;[98] e o conto infantil O mistério do coelho pensante, por Mario Trejo para a De La Flor.[98]
Em 1975, outras duas para o espanhol: Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, por Juan García Gayo para a Sudamericana;[99] e A Via Crucis do Corpo, por Haydeé Yofre Barroso para a Santiago Rueda.[99]
Em 1977, ano de sua morte, tem três obras traduzidas: A Paixão segundo G. H. para o inglês, por Jack H. Tomlins para a Knopf;[100] Perto do Coração Selvagem para espanhol, por Basilio Losada para a Alfaguara;[101] e o conto Uma esperança, de Felicidade clandestina, para o espanhol, sob o título de La araña, por Haydeé Yofre Barroso para a Corregidor.[102]
Depois de sua morte, sua obra popularizou-se cada vez mais, alcançando um ápice na década de 1980, com quase duas traduções por ano, depois da qual recebeu nova tradução em praticamente todo ano.
Depois de traduções por diversos tradutores para diversas editoras, editoras específicas começaram um processo de edição criterioso de suas obras, com tradução e projeto gráficos padronizados, dando um novo ápice de tradução da obra de Clarice Lispector, iniciado na década de 2000 e que ainda continua.
Das novas traduções destaca-se a série liderada por Bejamin Moser para a editora britânica Penguin Books na década de 2010,[103] que foi iniciada com a publicação da biografia Why this world, em 2011, e tinha como intuito traduções mais fiéis que as anteriores. O objetivo da série, de acordo com Moser, que convidou outros quatro tradutores para a tarefa, é disponibilizar ao público anglófono traduções mais fieis do que as anteriores, que teriam tentado corrigir certas características da escrita da autora.[104]
A série faz parte de uma outra maior dedicada à difusão da Literatura latina e foi publicada em 2014, contando com quatro traduções: Perto do Coração Selvagem, pela tradutora australiana Alison Entrekin;[105] Água viva, pelo editor Stefan Tobler;[105] A Paixão segundo G. H., pela poeta e acadêmica Idra Novey;[105] Um Sopro de Vida, pelo professor universitário brasileiro Johnny Lorenz;[105] e A Hora da Estrela, por Moser.[105][104]
Encontra-se colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.[106]
A Paixão segundo G.H. (filme)
[editar | editar código-fonte]A Paixão segundo G.H.[107] é um filme brasileiro dirigido por Luiz Fernando Carvalho.[108][109][110][111][112][113] Adaptado por Melina Dalboni a partir do livro homônimo de Clarice Lispector, publicado em 1964.[114]
O processo criativo do filme deu origem ao livro "Diário de um filme" (Editora Rocco, 2024)[115], da roteirista Melina Dalboni. A publicação também reúne as transcrições das palestras das Oficinas Teóricas de nomes como José Miguel Wisnik, Nadia Battella Gotlib, Yudith Rosenbaum, além de fotos, frames cadernos do diretor.[116]
O longa teve sua estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2023, com ingressos esgotados em apenas 8 minutos.[117] Também fez parte da seleção oficial do Festival do Rio 2023.[118][119] Estreou comercialmente em 11 de abril de 2024, nos cinemas brasileiros. Em Portugal, foi distribuído pela Nitrato Filmes a partir de fevereiro do mesmo ano.
O filme foi selecionado para os festivais de IFFRotterdam (2023), BAFICI 25º (2024), laureado com o Grande Prêmio e Prêmio Melhor Atuação para Maria Fernanda Cândido, e FILMADRID (2024)[120], com duas menções especiais do Júri Jovem para o filme e para atuação da atriz Maria Fernanda Cândido.
Recepção da crítica
[editar | editar código-fonte]"A prosa altamente filosófica de Clarice Lispector encontra uma representação cinematográfica que supera todas as expectativas. O filme combina o confessional, o experimental e o psicológico para alcançar um horror existencial com ecos de Através de um espelho (1961), de Ingmar Bergman, e Repulsa ao sexo (1965), de Roman Polanski"
—Cristina Álvarez López, IFF Rotterdam[108]
A obra foi celebrada pela crítica após as exibições nos festivais do Rio, São Paulo, Roterdã e Buenos Aires[121]. O crítico Carlos Alberto de Mattos descreveu o filme como extraordinário, corajoso e requintado não se amofina diante dos desafios do original. Em vez disso, mergulha no seu tecido escamoso e delirante para daí extrair uma pérola de cinema.[122]
Para a crítica Mónica Delgado, que viu a exibição em Rotterdam, a potência dos monólogos é explorada por Carvalho desde uma predominância do primeiro plano. E assim, o diretor brasileiro empatou com os mais de noventa anos de A Paixão de Joana d’Arc, de Carl Theodor Dreyer. A extraordinária atriz Maria Fernanda Cândido, G.H., é uma Maria Falconetti glamourosa e vive no Rio de Janeiro em uns esplendorosos anos 50.[123]
Nas palavras da crítica argentina Marta Casale, após a exibição no BAFICI, em Buenos Aires, o filme de Carvalho é surpreendentemente sensorial; brinca com texturas, sons e cores; move-se entre close-ups fortes.[124][125]
Maria Fernanda Cândido, na resenha da crítica Susana Schild, conduz essa odisseia particular com potência luminosa, etérea, através do olhar e dos poros. [126] Ainda segundo o autor Mario Sergio Conti, é um filme cuja beleza não tem paralelo no cinema nacional recente... é melhor do que o romance da autora Clarice Lispector no qual ele se baseia.[127][128][129][130][131][132][133][134][135][136][137][138][139]
Homenagem
[editar | editar código-fonte]Além da obra cinematográfica, Luiz Fernando Carvalho assina um dos posfácios do relançamento da obra completa da escritora pela Editora Rocco.[140]
As vendas do livro de Clarice Lispector aumentaram 69% nas livrarias após a estreia do filme no Brasil, de acordo com a Editora Rocco, responsável por toda a obra da autora.[141]
Correio Feminino (minissérie)
[editar | editar código-fonte]Correio Feminino é uma minissérie em oito episódios, criada e dirigida por Luiz Fernando Carvalho a partir de almanaques femininos escritos por Clarice Lispector, sob o pseudônimo de Helen Palmer nas décadas de 1950 e 1960. Adaptada por Maria Camargo, a série foi exibida em 2013. Figurino de Thanara Schönardie e Luciana Buarque, fotografia de Miqueias Lino e edição de Marcio Hashimoto. A atriz Maria Fernanda Cândido interpretou Helen Palmer. No elenco, Luiza Brunet interpreta a mulher madura, e Alessandra Maestrini, a mulher jovem. A adolescente é Cintia Dicker, modelo internacional e lançamento da minissérie como atriz. Para a crítica Patricia Kogut, a série "faz leitura inspirada de Clarice Lispector".
Lista de obras
[editar | editar código-fonte]Romance
- Perto do Coração Selvagem (1943)
- O Lustre (1946)
- A Cidade Sitiada (1949)
- A Maçã no Escuro (1961)
- A Paixão segundo G.H. (1964)
- Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969)
- Água Viva (1973)
- A Hora da Estrela (1977)
- Um Sopro de Vida (1978)
Contos
- Alguns contos (1952)
- Laços de Família (1960)
- A Legião Estrangeira (1964)
- Felicidade Clandestina (1971)
- A Imitação da Rosa (1973)
- Onde Estivestes de Noite (1974)
- A Via Crucis do Corpo (1974)
- O Ovo e a Galinha (1977)
- A Bela e a Fera (1979)
Literatura infantil
- O Mistério do Coelho Pensante (1967)
- A Mulher que Matou os Peixes (1968)
- A Vida Íntima de Laura (1974)
- Quase de Verdade (1978)
- Como Nasceram as Estrelas (1987)
Crônicas
- Para Não Esquecer (1978)
- A Descoberta do Mundo (1984)
Correspondências
- Correspondências (2002)
- Minhas Queridas (2007)
Entrevistas
- Entrevistas (2007)
Artigos de jornais
- Outros Escritos (2005)
- Correio Feminino (2006)
- Só para Mulheres (2006)
Ver também
[editar | editar código-fonte]- A Paixão segundo G.H. - Filme
- Lista de brasileiros naturalizados
- Lista de ganhadores do Prêmio Jabuti
- Elisa Lispector
- Casa de Clarice Lispector (Recife)
Notas
- ↑ Clarice dizia ter chegado ao Brasil aos dois meses de idade, mas os documentos atestam que ela nasceu em 10 de dezembro de 1920, e os passaportes para o Brasil só foram concedidos em 27 de janeiro de 1922; portanto optou-se por manter a informação comprovável por mais de uma fonte.
- ↑ Fonte terciária dada pela escritora Claire Varin, em uma entrevista concedida ao biógrafo Benjamin Moser, em Laval, Québec, no dia 7 de janeiro de 2006. Outras fontes atribuem os problemas de Mania a outros eventos. Não há depoimento dos filhos ou parentes que confirme a hipótese do estupro.
- ↑ A frase de Joyce que inspirou o título do romance de Clarice Lispector é: "Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do coração selvagem da vida".
- ↑ Aprendeu português no Brasil; inglês, francês e espanhol na adolescência; hebraico e iídiche no Colégio Hebreu-Iídiche-Brasileiro, atual Colégio Israelita Moisés Chvarts,[71] do Recife. Alguns biógrafos afirmam que também aprendeu um pouco de russo através do contato com familiares.
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O filme combina o confessional, o experimental e o psicológico para alcançar um horror existencial com ecos de "Through a Glass Darkly" (1961) de Ingmar Bergman e "Repulsion" (1965) de Roman Polanski. (...) A paixão segundo G.H. é um filme incrivelmente sensorial com enquadramentos e cortes precisos como um bisturi, movimentos de câmera suntuosos, uso constante de distorção visual e uma trilha sonora sofisticada.
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Para que eu filme uma mulher não é apenas preciso, como dizem por aí, acessar meu lado feminino. É preciso muito mais. A consciência da impossibilidade na mediação com o feminino me arrasta até o centro de G.H., ou de Clarice – como preferirem. G.H. é o feminino em sua potência máxima, libertadora. Diria mesmo revolucionária. Ela nos ensina que há um limite, sim. Mas é necessário ir além do mundo patriarcal, além do homem.
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A inquietação existencial e estética de Clarice Lispector encontra um interlocutor à altura. E o cinema brasileiro ganha um grande filme
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A Paixão Segundo G.H.’ é um deleite poético
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Na paisagem reduzida de um quarto de empregada, toda a dinâmica social de um país que se dá a ver
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Poético e sofisticado. Adaptação maravilhosa, conduzindo o olhar do público aos detalhes, onde o simples transmite muita informação e emoção
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Espetáculo fílmico indomável
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Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Da autora
[editar | editar código-fonte]- Lispector, Clarice (1954). Près du coeur sauvage. Paris: Plon
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Traduções da autora
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- Elgozy, Georges (1976). O blefe do futuro. [S.l.]: Artenova
- Abrahams, Jean-Jaques (1978). O homem do gravador. [S.l.]: Nova Fronteira
- Christie, Agatha (1987). Cai o pano: o último caso de Poirot. [S.l.]: Record
- Swift, Jonathan (1973). Viagens de Gulliver. [S.l.]: Abril Cultural
- Filding, Henry (1973). Tom Jones. [S.l.]: Abril Cultural
- Verne, Júlio (1980). A ilha misteriosa. [S.l.]: Abril Cultural
- Poe, Edgar Allan. Histórias Extraordinárias de Allan Poe. [S.l.]: Ediouro
- Scott, Walter (1970). O talismã. [S.l.]: Ediouro
Sobre a autora e sua obra
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- Gilio, Maria Esther (1976). Tristes trópicos: Com Clarice Lispector en Rio. [S.l.]: Triunfo
- Gotlib, Nádia Battella (2008). Clarice - Fotobiografia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. ISBN 9788570606891
- IMS (2004). Clarice Lispector. Col: Cadernos de Literatura Brasileira. Volume 7. [S.l.]: Instituto Moreira Salles
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Ligações externas
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- «Biografia». www.releituras.com. Consultado em 27 de novembro de 2004. Arquivado do original em 10 de julho de 2017
- "Autores Judeus". Com prefácio de Moacyr Scliar.
- Arquivo pessoal da escritora, localizado na Fundação Casa de Rui Barbosa
- «JBlog Hoje na História: 9 de dezembro de 1977 – Morre Clarice Lispector. Chega A Hora da Estrela». www.jblog.com.br. Consultado em 9 de dezembro de 2010. Arquivado do original em 18 de dezembro de 2011
- «Conto: "Mineirinho"». www.ip.usp.br. Consultado em 29 de setembro de 2015. Arquivado do original em 18 de novembro de 2017. Por Clarice Lispector.
- «A arte de Clarice Lispector» (entrevista de Hélène Cixous a Betty Milan)
- Nascidos em 1920
- Mortos em 1977
- Clarice Lispector
- Agraciados com a Ordem do Mérito Cultural
- Alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Brasileiros de ascendência ucraniana
- Brasileiros nascidos no exterior
- Contistas do Brasil
- Cronistas do Brasil
- Escritoras do Brasil
- Escritoras do século XX
- Escritores da Geração de 45 do Brasil
- Escritores modernistas do Brasil
- Judeus asquenazes
- Judeus de Pernambuco
- Mortes por câncer de ovário
- Mortes por câncer no estado do Rio de Janeiro
- Mulheres ganhadoras do Prêmio Jabuti
- Novelistas do Brasil
- Mulheres romancistas do Brasil
- Tradutores do Brasil
- Tradutores para a língua portuguesa
- Ucranianos expatriados no Brasil
- Brasileiros de ascendência russa
- Judeus brasileiros naturalizados