Claudia Jones

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Claudia Jones
Claudia Jones
Nome completo Claudia Vera Cumberbatch
Nascimento 21 de julho de 1887
Port of Spain, Trindade e Tobago
Morte 11 de outubro de 1962 (75 anos)
Londres, Inglaterra, Reino Unido
Nacionalidade trinitária-tobagense
Ocupação jornalista e ativista

Claudia Jones, nascida Claudia Vera Cumberbatch (Port of Spain, 21 de fevereiro de 1915Londres, 24 de dezembro de 1964), foi uma jornalista e ativista nascida em Trindade e Tobago. 

Ainda criança, migrou com a família para os Estados Unidos, onde se tornou um ativista política e nacionalista negra através da atuação comunista, usando o nome falso Jones como "desinformação de auto-proteção".[1] Como resultado de suas atividades políticas, foi deportada em 1955 e, posteriormente, residiu no Reino Unido. Fundou o primeiro grande jornal negro da Grã-Bretanha, The West Indian Gazette, em 1958.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Claudia nasceu em BelmontePort of SpainTrinidad, em 1915. Quando tinha nove anos, sua família emigrou para Nova Iorque após a crise do preço do cacau, em Trinidad. Sua mãe morreu cinco anos mais tarde. Jones ganhou o Prêmio Theodore Roosevelt de Boa Cidadania em sua escola de ensino médio. Em 1932, devido às más condições de vida, ela teve tuberculose, uma condição que irremediavelmente afetou seus pulmões pelo resto de sua vida. Ela se formou no ensino médio, mas a sua família era tão pobre que não teve como pagar para assistir à cerimônia de formatura.[3]

Vida nos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Espaço em Eastlake Park, em Phoenix, onde, em 1948, Jones falou para um público de 1.000 pessoas sobre a igualdade de direitos para os afro-estadunidenses..[4]

Apesar de ser academicamente brilhante, classificada como uma imigrante mulher ela sofreu severas limitações em suas escolhas de carreira e, em vez de ir para a faculdade Jones começou a trabalhar em uma lavanderia e, posteriormente, encontrou um emprego no comércio, no Harlem. Durante esse tempo, ela se juntou a um grupo de teatro e começou a escrever uma coluna chamada "Claudia Comments" para um jornal do Harlem.[5]

Em 1936, tentando encontrar organizações que apoiassem os Scottsboro Boys,[6][7] ela se juntou à Young Communist League USA, uma organização comunista.[8] Em 1937, ela se juntou à equipe editorial do Daily Worker, tornando-se em 1938 editorado caderno semanal Weekly Review. Depois de a Liga tornar-se American Youth for Democracy na II Guerra Mundial, Jones tornou-se editora do jornal mensal Spotlight. Após a guerra, Jones tornou-se secretária-executiva da Comissão Nacional das Mulheres, vinculada ao Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA) e, em 1952, assumiu a mesma posição no Conselho Nacional da Paz. Em 1953, ela assumiu a direção da política associada a assuntos afro-estadunidenses.[9]

"Um fim para a negligência com os problemas da mulher negra!"[editar | editar código-fonte]

O texto mais conhecido de Jones, "An End to the Neglect of the Problems of the Negro Woman!", apareceu em 1949 na revista Political Affairs. Apresenta o desenvolvimento por parte de Jones ao que mais tarde ficou conhecido como análise "interseccional" dentro de um escopo marxista. Nele, escreveu:

Deportação[editar | editar código-fonte]

Membro eleito do Comitê Nacional do Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA), Jones também organizou e falou em eventos. Como resultado de sua participação no CPUSA e de várias actividades associadas, em 1948, ela foi presa e condenada, para o primeiro de quatro períodos de prisão. Detida na Ellis Island, ela foi ameaçada de deportação para Trinidad.[11]

Após uma audiência no Serviço de Imigração e Naturalização, ela foi considerada em violação do McCarran Act por ser um estrangeira (não-cidadã dos EUA) que entrara para o Partido Comunista. Várias testemunhas certificaram sua atuação em atividades de partidos e ela identificou-se como um membro do partido desde 1936. Ela foi condenada a ser deportada, em 21 de dezembro de 1950.[12]

Em 1951, com apenas 36 anos e na prisão, ela sofreu seu primeiro ataque cardíaco.[9] Nesse mesmo ano, ela foi julgada e condenada com 11 outras pessoas, incluindo sua amiga Elizabeth Gurley Flynn, por "atividades anti-americanas", com base no Smith Act,[13] especificamente, atividades contra o governo dos Estados Unidos.[3] A Suprema Corte recusou-se a ouvir seu apelo. Em 1955, Jones começou sua sentença de um ano e um dia no reformatório para mulheres de Alderson, West Virginia.[9] Ela foi solta em 23 de outubro de 1955.[14]

Foi-lhe negada a entrada em Trinidad e Tobago, em parte, porque o governador colonial britânico, o general de brigada Sir Hubert Rance, considerou que "ela poderia criar problemas".[13] Foi-lhe eventualmente oferecida residência no Reino Unido por razões humanitárias; autoridades federais concordaram em permitir a mudança, desde que ela cessasse de contestar sua deportação.[15] Em 7 de dezembro de 1955, no Harlem 350 pessoas reuniram-se para vê-la ir embora.[9]

Reino Unido[editar | editar código-fonte]

Jones chegou em Londres duas semanas mais tarde, na época da construção da comunidade Empire Windrush e da vasta ampliação da comunidade afro-caribenha. No entanto, ao envolver-se com política em seu novo país de residência, ficou desapontada ao descobrir que muitos comunistas ingleses eram hostis a uma mulher negra.[16]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Ao desembarcar na Inglaterra, em um momento em que muitos estabelecimentos, lojas e até mesmo edifícios governamentais expunham cartazes como "Proibido a irlandes, negros e cães", Jones encontrou uma comunidade que precisava de organização ativa.[13] Ela começou a se envolver com a comunidade afro-caribenha para organizar o acesso a serviços básicos e o movimento pela igualdade de direitos.[11]

Apoiada por seus amigos Trevor CarterNadia CattouseAmy Ashwood GarveyBeryl McBurniePearl Prescod e seu mentor Paul Robeson, Jones fez uma campanha contra o racismo na educação, habitação e emprego. Ela falou em marchas pela paz e no Congresso de sindicatos, além de visitar o Japão, a Rússia e a China, onde ela se reuniu com Mao Tsé-Tung.[17]

No início da década de 1960, apesar de estar com a saúde abalada, Jones ajudou a organizar campanhas contra a Lei de Imigração 1876, o que tornaria mais difícil para os não-brancos de imigrarem para a Grã-Bretanha. Ela também participou da campanha para a libertação de Nelson Mandela e denunciou o racismo no local de trabalho.[13]

West Indian Gazette e Afro-Asian Caribbean News, 1958[editar | editar código-fonte]

A partir de suas experiências nos Estados Unidos, Jones sabia que o "povo sem voz era como cordeiros indo ao matadouro."[17] Portanto, em 1958 no andar de cima de um barbeiro, em Brixton,[13] ela fundou e, posteriormente, editou o jornal anti-imperialista e antiracista West Indian Gazette e Afro-Asian Caribbean News.[18] O jornal tornou-se um fator-chave para a ascensão política na comunidade negra britânica.[17]

Jones escreveu em seu último ensaio publicado, "A Comunidade do Caribe na Grã-Bretanha", em Freedomways (verão de 1964):[19]

Sempre precisando de dinheiro, o jornal aguentou oito meses e quatro edições depois da morte de Jones, em dezembro de 1964.[9]

A revolta de Notting Hill e o Carnaval Caribenho, 1959[editar | editar código-fonte]

Placa em homenagem a Claudia Jones, em Notting Hill

Quatro meses após o lançamento do jornal de Jones, revoltas raciais ocorreram, em agosto de 1958, em Notting Hill, Londres, e em Robin Hood Chase,  Nottingham.[20] Por conta da dimensão racial, Jones começou a receber visitas de membros da comunidade negra britânica e também de vários líderes nacionais para responder às preocupações dos seus cidadãos, incluindo Cheddi Jagan da Guiana inglesaNorman Manley da Jamaica, Eric Williams de Trinidad e Tobago, bem como Phyllis Shand Allfrey e Carl La Corbinière da Federação das Índias Ocidentais.[9]

Como resultado, Jones identificou a necessidade de "tirar o gosto de Notting Hill e Nottingham de nossas bocas".[9] Foi sugerido que a comunidade negra britânica deveria ter um carnaval; como era dezembro de 1958, a próxima pergunta foi: "No inverno?". Jones usou suas conexões para conseguir um espaço municipal e, em janeiro de 1959, organizou o primeiro Mardi-Gras,[21] televisionado nacionalmente pela BBC. Essas primeiras celebrações foram evidenciados com o slogan: "A arte de um povo é a gênese de sua liberdade."[20]

Uma nota de rodapé na capa do folheto de suvenir original de 1959 afirmava: "Uma parte das receitas [da venda] deste folheto será usada para ajudar a pagar as multas de jovens negros e brancos envolvidos nos eventos de Notting Hill."[22] Jones e o West Indian Gazette também organizaram cinco outros carnavais caribenhos, considerados os precursores do Carnaval de Notting Hill.[20]

Morte[editar | editar código-fonte]

Jones morreu na véspera do Natal, em 24 de dezembro de 1964, aos 49 anos, em Londres. Ela foi encontrada no Dia de Natal em seu apartamento. Uma autópsia posterior declarou que ela havia sofrido um infarto agudo do miocárdio, devido a uma doença cardíaca e à tuberculose.[13]

Seu funeral, em 9 de janeiro de 1965, foi um grande cerimônia política, com seu sepultamento selecionado para ser localizado à esquerda de seu herói, Karl Marx, no Cemitério de Highgate, no Norte de Londres.[23] Uma mensagem de Paul Robeson foi lida em voz alta:[13]

Legado[editar | editar código-fonte]

O Conselho de Membros Negros do Sindicato Nacional dos Jornalistas organiza um importante evento anual em memória a Claudia Jones, para celebrar sua contribuição ao jornalismo negro.

A Organização Claudia Jones foi fundada em Londres, em 1982, para apoiar e capacitar as mulheres e as famílias afro-caribenhas.[24]

A peça de Winsome Pinnock, de 1989, "A Rock in Water", foi inspirada na vida de Claudia Jones.[25]

Jones é listada entre os 100 mais importantes britânicos negros.[26]

Em agosto de 2008, uma placa azul foi exposta na esquina da Rua Tavistock e Portobello Road, em que se celebra Claudia Jones como a "Mãe do Carnaval Caribenho na Grã-Bretanha".[27]

Em outubro de 2008, o Royal Mail celebrou Jones com um carimbo de postagem especial.

Ela foi o tema de um documentário de Z. Nia Reynolds, Looking for Claudia Jones.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Leituras complementares[editar | editar código-fonte]

  • Davies, Carole Boyce, Left of Karl Marx: The Political Life of Black Communist Claudia Jones. Duke University Press, 2007.[28]
  • Gore, Dayo. Radicalism at the Crossroads: African American Women Activists in the Cold War. NYU Press, 2011.
  • Guy-Sheftall, Beverly, Words of Fire: an Anthology of African-American Feminist Thought. The New Press, 1995.
  • Hinds, Donald, Colin Prescod & Marika Sherwood, Claudia Jones: A Life in Exile. Lawrence & Wishart, 2000.
  • Howard, Walter T. We Shall Be Free!: Black Communist Protests in Seven Voices. Philadelphia, PA: Temple University Press, 2013.
  • Marable, Manning, & Leith Mullings, Let Nobody Turn Us Around: Voices of Resistance, Reform, and Renewal. Rowman & Littlefield, 2009.
  • Washington, Mary Helen, "Alice Childress, Lorraine Hansberry and Claudia Jones: Black Women Write the Popular Front", in Bill V. Mullin and James Smethurst (eds), Left of the Color Line: Race, Radicalism and 20th Century United States Literature. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2003.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «CRB • Excavating Claudia • Jeremy Taylor». caribbeanreviewofbooks.com. Consultado em 26 de dezembro de 2016 
  2. Thomson, Ian (28 de agosto de 2009). «Here to stay». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  3. a b Boyce Davies, Carole (2007). Left of Karl Marx: the Political Life of Black Communist Claudia Jones. [S.l.]: Duke University Press 
  4. «City of Phoenix; AFRICAN AMERICAN HISTORIC PROPERTY SURVEY» (PDF). Consultado em 27 de dezembro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 10 de outubro de 2014 
  5. Azikiwe, Abayomi (7 de fevereiro de 2013). «Claudia Jones defied racism, sexism and class oppression». Workers World. Consultado em 26 de dezembro de 2016 
  6. «Page not found – Rebel Researchers Collective». Consultado em 26 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 6 de março de 2014 
  7. 4, B. L. Phillip | September; Reply, 2010 at 6:15 pm | (2 de março de 2010). «Claudia Jones, Communist». The Marxist-Leninist. Consultado em 26 de dezembro de 2016 
  8. Society, People’s Printing Press. «Claudia Jones: Communist, anti-racist and feminist». Consultado em 27 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 11 de outubro de 2016 
  9. a b c d e f g «Claudia Jones and the 'West Indian Gazette'». Institute of Race Relations. Consultado em 27 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 9 de abril de 2010 
  10. «Daughters of Africa». Wikipedia (em inglês). 17 de dezembro de 2016 
  11. a b «blackhistorymonthuk.co.uk». Black History Month UK. Consultado em 27 de dezembro de 2016 
  12. Times, Special To The New York (22 de dezembro de 1950). «OUSTER ORDERED OF CLAUDIA JONES; Hearing Officer Finds Her an Alien Who Became Member of Communist Party Alien Registration Affidavit Additional Charge Sustained». The New York Times. ISSN 0362-4331 
  13. a b c d e f g «Claudia Jones: the black Communist who founded the carnival». Socialist Worker (Britain) 
  14. Times, Special To The New York (10 de novembro de 1955). «CLAUDIA JONES LOSES; Communist Facing Ouster Is Denied Stay to Aid Charney». The New York Times. ISSN 0362-4331 
  15. Times, Special To The New York (18 de novembro de 1955). «Red Agrees to Leave Country». The New York Times. ISSN 0362-4331 
  16. BBC. «BBC - Radio 4 Woman's Hour - Timeline:Claudia Jones». www.bbc.co.uk. Consultado em 27 de dezembro de 2016 
  17. a b c «Claudia Jones». Arquivado do original em 7 de abril de 2012 
  18. Schwarz, Bill (2003). «Claudia Jones and The West Indian Gazette: Reflections on the Emergence of Post-colonial Britain». Twentieth Century British History 
  19. «Jones, Claudia (1915-1964) | The Black Past: Remembered and Reclaimed». www.blackpast.org. Consultado em 27 de dezembro de 2016 
  20. a b c Townsend, David, Emru, and Tamu. «Claudia Jones». www.blackhistorypages.net. Consultado em 27 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 31 de dezembro de 2016 
  21. «In 1958 vicious race riots erupted across London... | CITY AIR MAKES ONE FREE». CITY AIR MAKES ONE FREE. Consultado em 27 de dezembro de 2016 
  22. «Notting Hill Carnival — the untold story». Evening Standard (em inglês). 7 de agosto de 2014 
  23. «Claudia Jones at Highgate Cemetery». Arquivado do original em 23 de março de 2014 
  24. Busby, Margaret; Reynolds, Nia (5 de março de 2014). «Buzz Johnson obituary». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  25. Peacock, D. Keith (1 de janeiro de 1999). Thatcher's Theatre: British Theatre and Drama in the Eighties (em inglês). [S.l.]: Greenwood Publishing Group. ISBN 9780313299018 
  26. «100 Great Black Britons - 100 Nominees». www.100greatblackbritons.com. Consultado em 27 de dezembro de 2016 
  27. «Claudia Jones Blue Plaque unveiled - itzcaribbean». itzcaribbean (em inglês). 22 de agosto de 2008 
  28. Left of Karl Marx by Dr. Carole Boyce-Davies: Related articles and reviews.