Clube Negro de Cultura Social

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O Clube Negro de Cultura Social foi uma associação brasileira de ativismo negro sediada na cidade de São Paulo.

Idealizado por José de Assis Barbosa e José Correia Leite,[1] sua fundação ocorreu em 1º de julho de 1932 como uma oposição à linha de atuação da Frente Negra Brasileira, que vinha se direcionando para o fascismo e o integralismo.[2][3] No grupo inicial encontravam-se ativistas como Osvaldo Santiago, Raul Joviano do Amaral, Benedito Vaz Costa, Luís Gonzaga Braga, Sebastião Gentil de Castro, Manoel Antônio dos Santos e Henrique Antunes Cunha, entre outros, alguns deles colaboradores do jornal O Clarim da Alvorada.[2][4]

Apenas oito dias depois deflagrou-se a Revolução Constitucionalista, vários membros ingressaram nas fileiras da Legião Negra, e o Clube ficou esvaziado, retomando suas atividades em dezembro do mesmo ano, elegendo-se a primeira diretoria, e tendo como primeiro presidente Correia Leite. O Clube passou então a organizar uma série de atividades recreativas como bailes, festas e jogos, passeatas cívicas, saraus literários, musicais e poéticos, excursões e outras, além de enfatizar as práticas esportivas e criar uma boa biblioteca. Todas essas atividades eram revestidas de um caráter político centrado na luta contra o racismo e a discriminação e na "elevação da raça", advogando que os negros assumissem o protagonismo nas suas reivindicações.[2][4]

Em 1934 o Clube mudou-se para uma sede maior e iniciou a publicação do periódico Cultura — Revista da Mocidade Negra, uma das primeiras revistas do estado de São Paulo produzida por negros e para eles voltada, contendo as seções Editorial, Página de Honra, Vida Social, Música, Esportes, Página Literária e Movimento Associativo. No Editorial geralmente era apresentado um artigo substancial tratando das questões negras mais prementes. A seção Página de Honra era destinada a homenagear lideranças e vultos históricos da negritude, como Cruz e Souza, Luiz Gama e José do Patrocínio. Havia ainda espaço para artigos avulsos e publicidade divulgando serviços e produtos voltados especificamente para o consumidor negro. Sua orientação era de que a luta antirracista devia ser suprapartidária e buscar a unificação do movimento negro em torno de causas comuns a todos, como o aprimoramento moral, material e cultural, e a inserção do negro na sociedade brasileira.[2]

A revista publicou apenas cinco números, e foi substituída em 1935 por outra intitulada O Clarim, mais politizada, dando mais espaço para informações sobre a situação política nacional e internacional, denúncias de casos de discriminação racial, conscientização para a reconquista da dignidade e da auto-estima, incentivo à participação das mulheres, e reivindicações de melhorias na educação formal dos negros, considerando a educação como uma das principais estratégias para a superação da marginalização. Também esta revista teve vida curta, circulando apenas quatro números.[2]

Em 1938 o Clube teve participação central na organização das comemorações do Cinquentenário da Abolição da Escravatura, promovendo uma grande manifestação pública, uma romaria ao Cemitério da Consolação para homenagear o túmulo de eminentes abolicionistas, e um ato solene no Teatro Municipal. Foi sua última atividade importante. Com o início da ditadura de Getúlio Vargas, o movimento negro foi reprimido e o Clube Negro de Cultura Social foi fechado pelas autoridades.[2]

Segundo Eugênio & Vitorino e Flores & Melo, o Clube foi uma das entidades negras que se destacaram em São Paulo na década de 1930.[5][6] Para Maria Consuelo Campos, ele ajudou "a forjar um novo afro-brasileiro, menos acomodado diante das manifestações racistas e mais competitivo no mercado de trabalho",[7] e para Petrônio Domingues, "o Clube Negro de Cultura Social foi, acima de tudo, um pólo de resistência cultural, que teve, entre outros méritos, a preocupação permanente de reforçar os laços de união étnica de um grupo específico. [...] A despeito de ter sido abortado discricionariamente, o CNCS cumpriu um papel valioso: representou mais um passo do negro brasileiro na efetiva conquista de direitos civis e na construção de uma identidade racial específica".[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Literafro - O portal da literatura Afro-Brasileira. José Correia Leite. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, 14/12/2020
  2. a b c d e f g Domingues, Petrônio. "Paladinos da liberdade: A experiência do Clube Negro de Cultura Social em São Paulo (1932-1938)". In: Revista de História, 2004 (150): 57-79
  3. Vila, Ivonete Costa. A escolarização, a educação política e a consciência racial de velhos trabalhadores negros que vivem em Rondonópolis-MT. Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso, 2005, p. 33
  4. a b Paulo, Emília Catarina Guimarães de. Os impactos da Conferência de Durban sobre o combate ao racismo no Brasil. Centro Universitário de Brasília, 2011, p. 35
  5. Eugênio, Kátia Maria & Vitorino, Artur José Renda. "A luta pelo reconhecimento e a Lei 10.639/03 no combate ao racismo institucionalizado brasileiro". In: Revista @mbienteeducação, 2013; 6 (2)
  6. Flores, Maria Bernardete Ramos & Melo, Sabrina Fernandes. "A libertação de Cam: discriminar para igualar. Sobre a questão racial brasileira". In: Rodrigues, C. C.; Luca, T. R.; Guimarães, V. (orgs.). Identidades brasileiras: composições e recomposições. Editora UNESP / Cultura Acadêmica, 2014, pp. 31-86
  7. Apud, Silva, Edmar da. A história da África e afro-diaspórica no Brasil narrada na Revista da ABPM: temas, problemas e procedimentos. Mestrado. Universidade Estadual de Maringá, 2020, p. 24