Cocaleiro

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Cocaleiro
Cocaleiro

Denomina-se cocaleiro ou cocaleira à pessoa em Bolívia, Colômbia e Peru que se dedica ao cultivo das plantas: coca Huánuco (Erythroxylum coca, também chamada coca boliviana) e coca Trujillo.[1][2] Também se utiliza para denominar a quem migram estacionalmente ao lugar de cultivo para colher as folhas da coca.[3][4]

Labor[editar | editar código-fonte]

Colheita[editar | editar código-fonte]

A colheita das folhas maduras dos arbustos é uma atividade realizada principalmente por mulheres.[5][6][7] É uma atividade manual e deve-se evitar danificar à planta e seus ramos.[8] O antropólogo Anthony Henman descreve o processo da seguinte maneira em base a suas observações da colheita da coca no sul do Cauca:

... esta es una actividad considerada más apropiada para mujeres y niños. Lo mismo que hilar o tejer, la cosecha es un proceso largo y laborioso que no requiere fuerza bruta sino una considerable paciencia y la repetición incansable de los mismos movimientos. La rama de coca debe asirse firmemente con una mano, mientras que con la otra se arranca cada hoja individualmente y se coloca en una bolsa o canasta.
Simplemente dejar resbalar la mano a lo largo de una rama, arrancando las hojas todas en un solo movimiento, se considera un signo de pereza y mala técnica, ya que con frecuencia causa daño a las extremidades de la rama. Estos cogollos contienen el potencial para el nuevo crecimiento de hojas y, por consiguiente, la mala recolección conducirá a una significativa disminución de las futuras cosechas del mismo arbusto.
Mamacoca (2005): 235.
Henman, Anthony[9]

Importância cultural e económica das folhas[editar | editar código-fonte]

Mulheres coletando folhas de coca em Bolívia, gravado em madeira circa 1867.

Uso tradicional[editar | editar código-fonte]

Ver artigos principais: Acullico, Kintu e Mate de coca

As folhas da coca cultivadas e colheitas pelos cocaleiros têm sido e são utilizadas tradicionalmente por comunidades indígenas e tradicionais nos Andes de Argentina, Bolívia, Chile, Equador e o Peru. O uso das folhas de coca na área andina remonta-se, quando menos, a uns seis mil anos dantes de nossa era.[10] Acharam-se #evidência arqueológicas e arqueobotánicas em várias culturas localizadas no Período Formativo como Valdivia até o Horizonte Tardio como a Inca.[11]

O acullico (também chamado chacchado) das folhas de coca faz parte integral da tradição cultural andina e sua cosmovisão. Para a maioria de utentes em ande-los, a folha de coca segue tendo um carácter sagrado e cumpre funções tónicas, terapêuticas, sagradas e sociais.[12]

Dentro das práticas rituais com folhas de coca, encontra-se o uso das mesmas como oferenda em forma de kintu e como meio de adivinhação na leitura de folhas de coca.[13][14][15][16]

Uso contemporâneo[editar | editar código-fonte]

Desde 1886, a bebida gasosa Coca-Bicha contém extratos da folha de coca e a noz de cola.[17]

Para além dos usos tradicionais, em Peru as folhas de coca colheitas pelos cocaleiros são adquiridas pela Empresa Nacional da Coca e depois exportadas comercialmente a Estados Unidos. As folhas são recebidas e processadas pela empresa Stepan Chemicals de Chicago, Illinois. Desta companhia, a empresa The Coca-Bicha Company recebe extractos da planta <i id="mwYw">Erythroxylum novogranatense</i> var. <i id="mwZA">truxillense</i> (Coca Trujillo) para a elaboração de Coca-Cola. As folhas de coca são adquiridas legalmente (115 toneladas anuais aproximadamente) com licença do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.[18][19] A empresa Mallinckrodt Pharmaceuticals em Saint Louis, Misuri, elabora clorhidrato de cocaína com os restos da planta que recebe da Companhia Stepan e o distribui ao resto do país com fins médicos.[20][21]

Também lha utiliza de forma caseira, constituindo parte da medicina tradicional ou naturista andina, já seja para aliviar dores de cabeça ou curar feridas.[22]

As folhas também são utilizadas em Peru e Bolívia para a elaboração de produtos como o mate de coca (carteira filtrante) e farinha de coca, entre outros produtos.[23]

As folhas de coca também são utilizadas ilegalmente por narcotraficantes para a produção de derivados da folha como clorhidrato de cocaína, massa básica de cocaína e craque que serão distribuídas e comercializadas no mercado negro de vários países em América do Sul e fora de América do Sul, entre estes últimos Espanha, Estados Unidos, Holanda e México.[24][25][26]


Estados Unidos e o narcotráfico em Bolívia[editar | editar código-fonte]

Estados Unidos pressiona para erradicar a folha de coca utilizando como ferramenta de intervenção à luta antidrogas. Os cocaleiros resistem-se porque a coca é importante para o sustento económico, mas sobretudo porque faz parte da cultura tradicional andina, pelo que as políticas de erradicação norte-americana representam umas agressão ao modo de vida andino e a seus costumes.

Também se utilizaram mecanismos legais que autorizam a produção de coca em algumas regiões, enquanto outras ficaram como zonas ilegais, afetando às famílias camponesas, e as chamando de criminosas, como encobridoras do narcotráfico. Foi um período de muita violação de direitos humanos, e assassinatos por parte do governo boliviano como dos Estados Unidos, a partir das incursões militares.[27]

A erradicação da coca é a chave para que Bolívia possa aceder a ajudas internacionais por parte dos Estados Unidos e de organismos como o Banco Mundial e o FMI. Estados Unidos invade a soberania nacional de Bolívia por meio de leis que ditam o que deve fazer.

Por outra parte, Estados Unidos nunca teve em conta que a folha de coca é um cultivo tradicional da zona andina, vinculado ao mau de altura, a medicina tradicional e diferentes rituais religiosos.

No entanto o movimento cocaleiro consegue a ressignificação da folha de coca. Mediante uma hábil batalha ideológica, consegue libertar a folha de coca de sua associação com o narcotráfico e a cocaína, construindo uma corrente de equivalências que permite o trânsito da significação da folha de coca como “a folha do antepassado” a ser o símbolo da defesa da dignidade nacional e sua memória, bem como da soberania em frente a Estados Unidos, convertendo num tema de importância nacional. Assim a folha em se não nos fala de uma simples folha: perde seu significado enquanto a defesa desta não se remete só à folha, nos fala de um tema de dignidade nacional; de defesa em frente ao intervencionismo, um resgate da memória de antepassados, etc.[28]

Estados Unidos está tão interessado em manter militarizada a região andina como Bolívia é uma grande reserva de gás, e possui grandes reservas petrolíferas, pelo que é importante a manter controlada.[29]

Veja também[editar | editar código-fonte]

  • Comissão Nacional para o Desenvolvimento e Vida sem Drogas (Peru)
  • Greve de cocaleros em Aguaytía de agosto de 2010
  • Guerra contra as drogas
  • Nancy Obregón (líder cocalera peruana)


Referências

  1. Durand Guevara, Anahí (1 de maio de 2005). «El movimiento cocalero y su (in)existencia en el Perú. Itinerario de desencuentros en el río Apurímac». Bulletin de l'Institut français d'études andines (em espanhol) (34 (1)): 103–126. ISSN 0303-7495. doi:10.4000/bifea.5651. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  2. «Colombia: los cocaleros piden el cumplimiento de los acuerdos de paz». France 24. 15 de fevereiro de 2019. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  3. Klein, Herbert S. (1995). Haciendas y ayllus en Bolivia : [la región de La Paz], ss. XVIII y XIX. [S.l.]: Instituto de Estudios Peruanos. p. 3. ISBN 84-89303-45-2. OCLC 246277358. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  4. ASALE, RAE-. «cocalero, cocalera | Diccionario de la lengua española». «Diccionario de la lengua española» - Edición del Tricentenario (em espanhol). Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  5. Matteucci, Silvia Diana; Morello, Jorge (1997). «Aspectos Ecológicos del Cultivo de la Coca.» (PDF). Grupo de Ecología del Paisaje y Medio Ambiente (GEPAMA) de la Universidad de Buenos Aires: 22. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  6. Rottman, April (1 de janeiro de 1998). «Erythroxylum: The Coca Plant». Ethnobotanical Leaflets. 1998 (1). Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  7. «El cultivo de la coca, el salvavidas de muchas familias colombianas». ELMUNDO (em espanhol). 10 de agosto de 2019. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  8. ECOTOP, ADEPCOCA (2010). «Manual de producción orgánica de la hoja de coca (erithroxylum coca)» (PDF). Asociación Departamental de Productores de Coca: 17. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  9. Henman (2005): 235.
  10. Dillehay, Tom D.; Rossen, Jack; Ugent, Donald; Karathanasis, Anathasios; Vásquez, Víctor; Netherly, Patricia J. (1 de dezembro de 2010). «Early Holocene coca chewing in northern Peru». Antiquity (em inglês). 84 (326): 939–953. ISSN 0003-598X. doi:10.1017/S0003598X00067004. Consultado em 9 de maio de 2019 
  11. Lathrap, Donald W. (1975). El Ecuador antiguo: cultura, cerámica y creatividad (3000-300 A.C.). [S.l.]: Chicago, Estados Unidos: Field Museum of Natural History. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  12. «Paquete informativo sobre el Proyecto Cocaína (ES)» (PDF). Organización Mundial de la Salud. 1995. 37 páginas. Consultado em 20 de janeiro de 2020 
  13. Fuenzalida, Fernando (1980). «Santiago y el wamani: aspectos de un culto pagano en Moya». Debates en Sociología (em espanhol) (5): 155–187. ISSN 2304-4284 
  14. Allen, Catherine J. (1981). «to be Quechua: the symbolism of coca chewing in highland Peru». American Ethnologist (em inglês). 8 (1): 157–171. doi:10.1525/ae.1981.8.1.02a00100 
  15. Flores, Eugenia (31 de dezembro de 2016). «Las artes de leer e interpretar las hojas de coca». PROA Revista de Antropologia e Arte (em espanhol) (6). ISSN 2175-6015. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  16. Amodio, Emanuelle (1 de janeiro de 1993). «Cocacha mamacha. Prácticas adivinatorias y mitología de la coca entre los quechuas del Perú». Société Suisse des Américanistes Bulletin (57-58). Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  17. Fahey, David M.; Miller, Jon S. Alcohol and drugs in North America : a historical encyclopedia. [S.l.: s.n.] p. 183. ISBN 978-1-59884-479-5. OCLC 862370636. Consultado em 30 de janeiro de 2020 
  18. «Playing Coca Politics in Bolivia Time/CNN». Consultado em 28 de janeiro de 2020. Arquivado do original em 24 de agosto de 2013 
  19. Clifford D (1 de julho de 1988). «How Coca-Cola Obtains Its Coca». El laboratorio Stepan en Maywood, NJ, es único importador comercial de Estados Unidos de la hoja de coca fresca, que se obtiene principalmente de Perú y, en menor medida, de Bolivia. Además de producir el agente saborizante de coca para la Coca-Cola, Stepan extrae la cocaína de las hojas de coca, que vende a Mallinckrodt Inc., St. Louis fabricante de productos farmacéuticos que es la única compañía en los Estados Unidos con licencia para purificar el producto para uso medicinal. 
  20. Service, Michael M. Phillips, States News. «COCAINE FLOODING INTO U.S. BUT NOT FOR MEDICINAL USE». chicagotribune.com (em inglês). Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  21. «New Jersey Plant Nation's Only Legal Importer Of Cocaine». AP NEWS. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  22. «Usos de la Hoja de Coca y la Salud Pública. (1997)» (PDF) 
  23. Lujerio, Obregón; Félix, Abner (2010). «Transformación de la hoja de coca (erythroxylum coca lamarck) en pan para consumo humano y su impacto socio económico - ambiental en las ciudades del alto huallaga». Universidad Nacional de Trujillo. Consultado em 16 de janeiro de 2020 
  24. Riley, Kevin Jack,. Snow Job : the War Against International Cocaine Trafficking First ition ed. [S.l.: s.n.] ISBN 978-1-351-29280-1. OCLC 1004175192. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  25. Brouwer, Kimberly C.; Case, Patricia; Ramos, Rebeca; Magis-Rodríguez, Carlos; Bucardo, Jesus; Patterson, Thomas L.; Strathdee, Steffanie A. (janeiro de 2006). «Trends in Production, Trafficking, and Consumption of Methamphetamine and Cocaine in Mexico». Substance Use & Misuse (em inglês). 41 (5): 707–727. ISSN 1082-6084. doi:10.1080/10826080500411478. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  26. Zaitch, Damian (2003). Siegel, ed. Global Organized Crime: Trends and Developments. Col: Studies of Organized Crime (em inglês). [S.l.]: Springer Netherlands. pp. 7–17. ISBN 978-94-007-0985-0. doi:10.1007/978-94-007-0985-0_2. Consultado em 28 de janeiro de 2020 
  27. «La economía de la coca La dimensión silenciada de la dependencia .Mayarí Castillo Gallardo (2012)» (PDF) 
  28. «ENTRE LA REPRESIÓN Y LA CONCERTACIÓN: LOS COCALEROS EN EL CHAPARE Y EN EL PUTUMAYO Maria Teresa Pinto Ocampo (2014)» (PDF) 
  29. «Berniola Gonzales, Susana. El conflicto cocalero en Bolivia como resultado del imperialismo estadounidense. Universidad autónoma de México. En Nómadas. Revista critica de ciencias sociales y jurídicas. N° 17. Enero 2008.» (PDF)