Colônia Dona Francisca

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Mapa, Friedrich Heeren, 1860

A Colônia Dona Francisca foi uma colônia alemã que deu origem à atual cidade de Joinville, em Santa Catarina.

Antes da Colônia - Domínio Dona Francisca[editar | editar código-fonte]

Origem e história[editar | editar código-fonte]

Mapa, década de 1840

Acertado o noivado da princesa D. Francisca de Bragança (filha do imperador D. Pedro I e irmã de D. Pedro II), com o Príncipe de Joinville (filho de Luís Filipe I de França, o dito Rei dos Franceses), o Governo Imperial Brasileiro, nesse tempo chefiado por D. Pedro II, tratou logo de sancionar uma lei (n° 166 de 29 de setembro de 1840) que garantia o dote que caberia à princesa.

Após estudo e consultas, foi decretado mais tarde que este patrimônio em terras pertencentes à Nação deveria ser de 25 léguas quadradas e localizado na Província de Santa Catarina, entre os rios Pirabeiraba e Itapocu, nas proximidades da baía de São Francisco. Esse patrimônio transferido para o domínio particular da Princesa Dona Francisca, passou a ser conhecido por "Domínio Dona Francisca" e aí a origem do seu nome. Para proceder a medição das terras dotais da Princesa Dona Francisca foi designado Jerônimo Francisco Coelho, Tenente Coronel do Corpo Imperial de Engenheiros. As terras assim demarcadas abrangiam a área de 155.812 hectares.

Por volta de 1843, esta região era quase inteiramente virgem, apenas encontrando alguns moradores da orla marítima e no Planalto de Campo Alegre

A Colônia[editar | editar código-fonte]

História[editar | editar código-fonte]

Em 1849 Léonce Aubé, procurador dos Príncipes de Joinville, firmou contrato com o Senador Christian Mathias Schroeder de Hamburgo para a fundação e colonização das terras. O contrato é aprovado e ratificado em 26 de abril de 1849, pelos Príncipes de Joinville. São entregues gratuitamente ao Senador Schroeder (ou à Companhia que o mesmo teria de organizar) 8 léguas quadradas de terras, obrigando este a colonizá-las com imigrantes trazidos da Europa, ficando a cargo do mesmo todo o trabalho e organização da Colônia.

A organização da Companhia pelo Senador Schroeder com o nome de "Hamburger Kolonisations Verein von 1849", não foi muito fácil. Da data do contrato até a vinda dos primeiros imigrantes demorou-se mais de dois anos.

Preparação para chegada dos imigrantes[editar | editar código-fonte]

No Rio de Janeiro, finalmente, a 15 de maio de 1850, o Cônsul Geral de Hamburgo, Arthur Guiger, no encargo de procurador da Sociedade Colonizadora e assistido por Hermann Liebich consegue a homologação das concessões e privilégios requeridos à Côrte. Três dias após a ratificação, a 18 de maio de 1850, um grupo de nove pessoas que iriam preparar as instalações para os imigrantes, a bordo do patacho costeiro "Dous Irmãos" se encaminham a Santa Catarina em uma viagem de 3 dias até São Francisco do Sul, para depois prosseguir em canoas até as terras dotais. Eram eles:

1 - Louis François Léonce Aubé: Cidadão francês, com 34 anos de idade, Vice-Cônsul da França em Santa Catarina e representante de Suas Altezas Reais, o Príncipe e a Princesa de Joinville;

2 - Louis Duvoisin: Cozinheiro e servente de Aubé, cidadão francês, com 30 anos de idade, emigrara para o Brasil em 1842;

3 - Hermann Guenther: Engenheiro alemão e encarregado do "Hamburger Kolonisations Verein von 1849", com incumbência de receber oficialmente das mãos do representante do Príncipe de Joinville, as 8 léguas quadradas de terras, conforme o contrato;

4 - Peter Schneider: Cidadão Prussiano, com 26 anos de idade, 5 - Maria Catharina sua mulher, 6 - Catharina Schneider sua filha;

7 - Ewert Sebastian von Knorring: Cidadão Sueco, com 33 anos de idade, 8 - Augusta Sophia von Knorring sua mulher, 9 - Mathilde Elisabeth von Knorring sua filha recém-nascida.

Imagem fotográfica da Colônia Dona Francisca datada de 1866. Igreja Católica[1] (lado esquerdo) e uma casa enxaimel (lado direito).

No dia 22 de maio de 1850, as canoas com pessoas e bagagem, atravessavam a baía da Babitonga e a lagoa Saguaçu, subindo o Rio Cachoeira, até chegar à embocadura de um riacho de águas puras e cristalinas. À beira do mesmo encontrava-se uma cabana rústica do cidadão francês M. Frontin, egresso da Colônia do Saí, fracassada anos antes. Os pioneiros chegaram ao anoitecer, e constataram que além deste ponto o Rio Cachoeira não oferecia mais possibilidade de navegação. Então resolveu Aubé, Guenther e demais passar a noite no rancho de Frontin. Foi assim, desta maneira, escolhido o local da futura Colônia Dona Francisca. A Colônia Dona Francisca, teve então o seu marco inicial a 22 de maio de 1850, quando desembarcados os seus primeiros moradores, às margens do Rio Cachoeira, onde havia sido destinada a área de 8 léguas quadradas para o seu estabelecimento.

Subindo o pequeno riacho mais tarde chamado de "Ribeirão Mathias" a uma distância de 220 metros do Rio Cachoeira, começaram com a derrubada da mata virgem. Construiram-se depois dois ranchos espaçosos, nas duas margens do riacho, ligados por uma ponte rústica. As construções eram bastante simples, à maneira nativa, feita de troncos de palmitos ligados com cipó e cobertas com feixes de folhas de palmeiras. Um dos ranchos media 22 x 10 metros e encontrava-se na pequena ilha formada pelos dois braços do ribeirão. Mais tarde com a chegada dos colonos, este rancho foi transformado em casa de oração e escola (1853). A outra casa, construída do lado oposto do ribeirão tinha as mesmas medidas da outra, mas com divisões para seis famílias.

Não foi das mais felizes a escolha das pessoas por parte de Guenther para iniciar o trabalho de preparação da colônia. Lidar com terras cobertas de densa vegetação tropical para recepção dos europeus, construir ranchos e casas de alojamento, preparar o solo pantanoso e úmido para agricultura, exigia homens fortes e trabalhadores rurais experientes. Nenhum dos requisitos ou condições essenciais traziam as duas famílias contratadas. Um dos "colonos", o sueco Von Knorring, um nobre jurista era de físico delicado e saúde frágil, quando estudante na Universidade de Uppsala, na Suécia, fora acometido de infecção pulmonar. Conseqüentemente contrataram-se brasileiros, moradores das redondezas, que ofereceram seus serviços para otimização do trabalho. Enquanto esses desbravadores da região abriram os clarões na mata virgem e preparando o chão para plantações, organizava-se em Hamburgo o despacho do primeiro transporte de colonos para a nova colônia que iria se formar.

De passagem pelo Brasil o filho do Senador Schroeder, Eduard Schroeder e seu amigo Dr. Koestlin, souberam através do procurador Hermann Liebich da firma do velho Senador "Hamburger Kolonisations Verein von 1849", a partida do primeiro navio imigratório saindo de Hamburgo com destino à nova colônia. Resolveram eles então verificar "in-loco" os preparativos. Desembarcaram Eduard Schroeder e Dr. Koestlin no dia 1° de fevereiro de 1851, surgem então pela primeira vez as denominações "Schroedersort" ("Localidade de Schroeder") para a pequena aglomeração de ranchos e choupanas, nas margens do afluente do Rio cachoeira, riacho este que agora havia recebido também uma denominação, a de "Mathias-Bach" ("Riacho Mathias").

Constatação[editar | editar código-fonte]

Desembarcando nas margens lodosas do Rio Cachoeira, Eduard Schroeder e Dr. Koestlin constatam que as construções rústicas e as poucas plantações em nada correspondiam aos gastos excessivos de dinheiro da Sociedade Colonizadora e aos relatórios enviados por Guenther a Hamburgo. Vendo o fracasso da missão do engenheiro, Eduard dispensou-o imediatamente, assumindo a direção do pequeno núcleo para adiantar ao máximo possível os preparativos para a recepção da primeira leva de imigrantes já em viagem. Daí em diante o ritmo de trabalho não mais cessaria até a chegada dos imigrantes. A velha picada do Jurapé transformava-se em caminho transitável, logo após ela foi denominada de "Mathias-Strasse" (Rua Mathias).

A chegada dos imigrantes[editar | editar código-fonte]

O veleiro Colon vindo de Hamburgo finalmente alcança a ilha da Paz em São Francisco do Sul trazendo os primeiros 124 imigrantes. Na viagem que durou quase 2 meses e meio, morreram 7 passageiros e os responsáveis pela embarcação notificaram a entrada de uma criança, trazida por uma das famílias de forma clandestina. Eram portanto 118 colonos suíços e alemães (maioria suíços[2]) vindos de Hamburgo. Quase no mesmo dia chegam 74 noruegueses procedentes do Rio de Janeiro. Destes, permaneceram 61, retornando 13 a bordo da barca Colon no dia 28 de março.

Estes imigrantes estabeleceram-se às margens do Ribeirão Mathias nas acomodações construídas anteriormente. Um mapa datado de 6 de janeiro de 1860 dá o número de 185 colonos para os primeiros povoadores da colônia, estes estabelecidos desde 10 de março de 1851, data que ficou considerada como oficial da respectiva instalação.

O ponto exato de desembarque dos primeiros imigrantes é: 26°18'5.74"S 48°50'30.11"W (pode ser visto no google earth)

O primeiro diretor da colônia foi o súdito alemão: Eduard Schroeder, filho do Senador. Em fins de 1852 a direção já estava em mãos de outro súdito alemão: Benno von Frankenberg.

O Diretor Benno Von Frankenberg[editar | editar código-fonte]

Como novo diretor da Colônia, Frankenberg foi constantemente confrontado por desafios. Uma disenteria bacilar disseminou-se na colônia, levando muitos dos brasileiros que trabalhavam no desmatamento das terras a abandonar seu serviço, que ficou então a cargo de imigrantes inexperientes na obra. Em 1854 a Sociedade Colonizadora passou por uma crise financeira e algumas subvenções prometidas pelo governo imperial não estavam sendo remetidas. Por isso, em 28 de março de 1855, Frankenberg decidiu que era hora de deixar a direção da Colônia e continuar auxiliando a crescente localidade de outros modos.[3]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ficker, Carlos, História de Joinville, Crônica da colônia Dona Francisca, 2ª edição, Joinville, 1965.
  • Ternes, Apolinário, História de Joinville, uma abordagem crítica, Joinville, Meyer, 1981.
  • Sociedade Amigos de Joinville, Álbum Histórico do Centenário de Joinville 1851 - 9 de março - 1951, Curitiba, 1951.

Referências

  1. «Vistas Photographicas da Colonia Dona Francisca». Consultado em 29 de agosto de 2012. Arquivado do original em 3 de setembro de 2012 
  2. Eduard Schroeder. «" Einwanderungs-Journal" (Lista dos primeiros imigrantes da Colônia Dona Francisca)». unmoralisch. Consultado em 22 de junho de 2014 
  3. Pinheiro, Patrik Roger. «Benno von Frankenberg». Projeto Memória CVJ. Consultado em 19 de julho de 2023 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]