Comando Militar do Oeste
Comandos Militares do Brasil | |
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CMO Comando Militar do Oeste | |
Região Militar | 9.ª Região Militar |
Fundação | 1985 |
Condecorações | Ordem do Mérito Militar[1] |
Comandante | Gen Ex Anisio David de Oliveira Junior[2] |
Localização | Av. Duque de Caxias, 1628 - Vila Alba (Campo Grande) Campo Grande ![]() |
Página oficial | http://www.cmo.eb.mil.br/ |
Abrangência | Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Aragarças (GO) |
O Comando Militar do Oeste (CMO) é um dos comandos militares do Exército Brasileiro. Sediado em Campo Grande, compreende os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além da cidade de Aragarças, em Goiás. Comanda a 9ª Região Militar, de Campo Grande, 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, de Dourados, 13ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Cuiabá, 18ª Brigada de Infantaria de Pantanal, de Corumbá, e 3º Grupamento de Engenharia e 9º Grupamento Logístico, ambos de Campo Grande. A história do Exército na região data ao século XVIII, mas o comando atual surgiu apenas na Nova República. Sua importância está na extensa faixa de fronteira com a Bolívia e Paraguai, abrangando biomas como o Pantanal e de interesse crescente às autoridades brasileiras devido ao crime transnacional.
Importância[editar | editar código-fonte]
A área abrangida tem mais de um milhão de quilômetros quadrados, incluindo o Pantanal, “considerada uma das mais ricas e cobiçadas reservas biológicas do planeta”, e um extenso trecho (2.525 km) de fronteira com a Bolívia e Paraguai.[3][4] O caráter fronteiriço torna a região prioritária, como o Comando Militar da Amazônia,[5] e assim como a região Norte, possui unidades de fronteira, incluindo em destacamentos dispersos. A 18º Brigada de Infantaria de Fronteira define suas missões em termos comparáveis aos usados pelo Exército para descrever suas atividades no Norte.[6] Em conjunto com o resto das Forças Armadas e os outros órgãos de segurança pública, o Exército aplica poder policial na fronteira para combater o crime transnacional, especialmente o tráfico de drogas, pois a maior parte das drogas consumidas no país entram pelas fronteiras boliviana e paraguaia.[3][7] A fronteira seca é altamente permeável, com baixa densidade populacional e, no Pantanal, restrições de mobilidade.[4]
História[editar | editar código-fonte]
Antecedentes[editar | editar código-fonte]
O CMO considera sua história equivalente à história do Exército na fronteira oeste, e assim, seu embrião foi uma Companhia de Dragões introduzida em 1748, no período colonial, com a fundação da Capitania de Mato Grosso.[8] Os portugueses trouxeram reforços e gradualmente construíram fortificações na bacia do rio Paraguai, seu acesso a Mato Grosso, contestando os limites de seu império com os espanhóis. No século XIX as disputas continuaram entre os novos Estados independentes, e a Campanha do Mato Grosso foi um teatro secundário da Guerra do Paraguai.[9] Em 1889 a região era a terceira em importância para o Exército Imperial Brasileiro, com 5% de seu efetivo.[10]
Na Primeira República, as reorganizações do Exército delimitaram Mato Grosso (o Sul ainda não era independente) como o “7º Distrito Militar” em 1891, “13ª Inspeção Permanente” em 1908, “Circunscrição Militar de Mato Grosso”, subordinada à 6ª Região Militar, de São Paulo, em 1915, “1ª Circunscrição Militar”, independente, em 1919, e novamente “Circunscrição Militar de Mato Grosso” em 1923.[8] De 1908 a 1915 houve no sul do estado a 5ª Brigada Estratégica, de comando cumulativo com a Inspeção Permanente, mas as condições de seus três regimentos eram precárias e eles acabaram sendo também abolidos. Ainda assim a presença do Exército no sul de Mato Grosso era crescente na década de 1920. Até essa época a transferência de oficiais ao estado era usada como punição. Em 1921 surgiu uma brigada mista, de comando cumulativo com a Circunscrição Militar. Sua organização era única no Exército, com três batalhões de caçadores e dois regimentos de cavalaria independente.[11][a]
Os oficiais tinham prestígio na sociedade mato-grossense, e as elites locais procuravam atrair organizações militares. Ao contrário do verificado nos estados mais fortes (São Paulo e Minas Gerais), a Força Pública era mais fraca que o Exército. Os militares envolveram-se nos conflitos pelo governo[12] e lançaram numerosas revoltas. No período do tenentismo, o comando da 1ª Circunscrição Militar participou da Revolução de 1922, a Revolta Paulista de 1924 brevemente adentrou Mato Grosso e a Coluna Prestes atravessou o estado.[11]
As forças do sul de Mato Grosso participaram da Revolução Constitucionalista de 1932 sob a liderança do general Bertoldo Klinger. Em 1934 a Circunscrição Militar foi transformada na 9ª Região Militar. Uma das unidades mato-grossenses, o 9.º Batalhão de Engenharia de Combate, integrou a Força Expedicionária Brasileira.[8] Na Quarta República a 2ª Brigada Mista continuou a existir; ela não tinha unidades de apoio para operar de forma autônoma, apenas agrupando unidades territoriais e de segurança da fronteira. Em 1949 surgiu a 4ª Divisão de Cavalaria (DC), com unidades na fronteira do Paraguai; ela era menos importante do que as três divisões de cavalaria no Rio Grande do Sul.[13] A 9ª Região Militar foi incluída na Zona Militar do Centro, de São Paulo, formada em 1946.[14] Juntamente com a 2ª Brigada Mista e 4ª DC estava subordinada ao sucessor da Zona Militar do Centro, o II Exército.[13][b] No golpe de Estado de 1964 o 16º Batalhão de Caçadores foi enviado de Cuiabá a Brasília.[15]
O estado de Mato Grosso foi desmembrado em 1977, e no ano seguinte a 13ª Brigada de Infantaria Motorizada (Bda Inf Mtz) foi fundada em Cuiabá, com dois batalhões da Brigada Mista e o 58º Batalhão de Infantaria Motorizada em Aragarças, Goiás.[16] A presença em Goiás é peculiar, pois as demais unidades no estado pertencem ao Comando Militar do Planalto, na área da 11ª Região Militar. Aragarças é centro regional e fica no eixo da rodovia GO-060, que liga Brasília a Mato Grosso.[17] Em 1980 o II Exército tinha na região a 9ª RM, 13ª Bda Inf Mtz, 4ª DC e 2ª Brigada Mista.[c] A 9ª RM foi a partir desse ano considerada um comando conjunto de Região Militar com Divisão de Exército (DE).[8] A 4ª DC era a última divisão de cavalaria do Exército, e somente em 1980 ela foi convertida em Brigada de Cavalaria Mecanizada (Bda C Mec). Seus regimentos permaneceriam a cavalo até completar sua mecanização em meados da década.[13] Em 1985 a 2ª Brigada Mista deu lugar à 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira.[18]
Formação atual[editar | editar código-fonte]

Em 1986 os quatro Exércitos numerados deram lugar a Comandos Militares. A maior mudança no arranjo territorial foi a criação do CMO pelo desmembramento do II Exército, que passava a ser o Comando Militar do Sudeste. A criação refletia um crescente interesse pela fronteira oeste.[19] Seu comando era o mesmo da 9ª RM/DE até 1989, quando a 9ª RM foi separada, e com a Divisão de Exército até 2005, quando esse termo deixou de ser usado para o CMO.[8] O plano Força Tarefa 2000 incluía a criação de um novo comando de Divisão de Exército, a 11ª, em Mato Grosso, mas isso não ocorreu.[6] A 18ª Brigada deixou de ser denominada “de Fronteira” e passou a ser “de Pantanal” em 2022.[20]
A nível menor, o CMO passou a ter uma unidade especializada no Pantanal, o 17º Batalhão de Fronteira, em 1997. Desde 2003 havia a ideia de decentralizar a Aviação do Exército, incluindo a transferência de seu 3º Batalhão ao CMO,[6] o que ocorreu em 2008.[21] O 20º Regimento de Cavalaria Blindada da 4ª Bda C Mec tem tanques M60; em 2014, essa força blindada do CMO foi avaliada num periódico do Exército como superior aos blindados bolivianos e paraguaios.[22]
Como a faixa de fronteira na região Sul já tem uma estrutura de segurança e comunicações, o Norte tem o Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM) e o Centro-Oeste tem pouco controle e criminalidade transnacional crescente, o Comando Militar do Oeste foi escolhido para o projeto piloto do Sistema de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON). Implantado a partir de 2013 no trecho de fronteira da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, o projeto pretende formar um “muro virtual” de comando e controle em toda a fronteira nacional. Porém, o programa sofre com as flutuações orçamentárias.[23]
Organização[editar | editar código-fonte]
Comando Militar do Oeste - Campo Grande - MS
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Ver também[editar | editar código-fonte]
Notas
- ↑ A organização da Circunscrição Militar pode ser vista em Souza 2018, p. 427.
- ↑ A organização das unidades em 1960 pode ser vista em Pedrosa 2018, Apêndice 3.
- ↑ Vide a organização em Pedrosa 2018, Apêndice 4.
Referências
- ↑ BRASIL, Decreto de 10 de abril de 2001.
- ↑ «INFORMEX Nr 005, de 23 de fevereiro de 2022». Visitado em 12 de maio de 2022
- ↑ a b Santos, Silvana Duarte dos; Freitas, Silvio Domingos de; Budnhak, Gerson Odacir; Guzman, Eduardo Ferrufino; Moro, Antônio Renato Pereira (2014). «A repressão aos crimes transnacionais e sua influência no desenvolvimento socioeconômico da região do Pantanal Sul-Mato-Grossense» (PDF). São Paulo: ENGEMA. Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente. Consultado em 21 de maio de 2022. p. 7-8.
- ↑ a b Martins, Paulo Cesar Dos Santos (2021). Fronteira Livre - o caso da proposta de Projeto de Lei para implantação de uma Área de Livre Comércio em Corumbá/MS (PDF) (Dissertação de Mestrado). UFGD. Consultado em 22 de maio de 2022. p. 48.
- ↑ Bertazzo, Juliana (dezembro de 2007). «A nova agenda internacional de segurança põe a democracia brasileira em risco?». Revista Brasileira de Política Internacional. 50 (2). Consultado em 21 de maio de 2022. p. 36.
- ↑ a b c Kuhlmann, Paulo Roberto Loyolla (2007). Exército brasileiro: estrutura militar e ordenamento político 1984-2007 (Tese de Doutorado). São Paulo: USP. Consultado em 10 de janeiro de 2021
- ↑ Melo, Carlos Roberto Marques de (2017). Sistema de monitoramento de fronteiras (SISFRON): uma importante ferramenta de apoio à defesa nacional (PDF) (TCC). Uninter. Consultado em 21 de maio de 2022. p. 18.
- ↑ a b c d e «Histórico». Comando Militar do Oeste. Consultado em 21 de maio de 2022
- ↑ Esselin, Paulo M. (2014). «Mato Grosso do Sul na Formação do Estado Nacional Brasileiro» (PDF). In: Buffa, Diego; Becerra, María José (comps.). Sistema productivo, Estructura dominante, Territorialidad y Resistencias sociales en el escenario sudamericano. [S.l.: s.n.]
- ↑ Bento, Cláudio Moreira (1989). O Exército na Proclamação da República (PDF). Rio de Janeiro: SENAI. p. 20.
- ↑ a b Souza, Fernando dos Anjos (2018). Conflitos armados, encontros e combates nas fronteiras do sul de Mato Grosso, nas décadas iniciais do século XX (PDF) (Tese de Doutorado). Dourados: UFGD. Consultado em 18 de abril de 2021
- ↑ Ferreira, Bruno Torquato Silva (2010). «Elementos para a construção de um objeto: os militares e a política em Mato Grosso (1889-1932)» (PDF). Três Lagoas. Anais do Simpósio Internacional de História, X Encontro de História de Mato Grosso do Sul e XIII Semana de História da UFMS/CPTL. Consultado em 28 de abril de 2021. p. 272-273.
- ↑ a b c Pedrosa, Fernando Velôzo Gomes (2018). Modernização e reestruturação do Exército brasileiro (1960-1980) (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: UFRJ. Consultado em 28 de dezembro de 2020
- ↑ Decreto-Lei nº 9.120, de 2 de Abril de 1946. Lei da Organização dos Quadros e Efetivos do Exército.
- ↑ D'Aguiar, Hernani (1976). A Revolução por Dentro. São Cristóvão: Artenova. p. 171-173.
- ↑ «Histórico». 13ª Bda Inf Mtz. Consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Mendonça Filho, Marajá João Alves de; Almeida, Maria Geralda de (novembro de 2008). «Quartéis do Exército em Goiás: a influência das frentes pioneiras na estrutura de defesa». Mercator. 4 (7). Fortaleza. Consultado em 27 de abril de 2022. p. 31.
- ↑ AHEx (2020). «Catálogo de destino dos acervos das Organizações Militares do Exército Brasileiro» (PDF) 2ª ed. Rio de Janeiro: Arquivo Histórico do Exército. Consultado em 6 de março de 2021. p. 383.
- ↑ Hudson, Rex A. (ed.) (1997). Brazil: a country study 5ª ed. Washington: Federal Research Division, Library of Congress. p. 380-381.
- ↑ Decreto nº 11.007, de 24.3.2022. Altera a denominação da 18ª Brigada de Infantaria de Fronteira para 18ª Brigada de Infantaria de Pantanal.
- ↑ «Histórico». 3º BAvEx. Consultado em 22 de maio de 2022
- ↑ Veras, Tiago Eduardo Siqueira (2019). «Comparação do Carro de Combate M60 A3 TTS, da 4ª Bda C Mec, com os Carros de Combate dos países limítrofes ao CMO». Ação de Choque (12). Consultado em 16 de fevereiro de 2021
- ↑ Fagundes, Flávia Carolina de Resende (2019). Políticas de segurança e defesa nas fronteiras internacionais do Brasil. Boa Vista: Editora da UFRR. p. 129-135.
- ↑ «Relação de unidades do CMO» (PDF). Visitado em 14 de janeiro de 2022
- ↑ «Comando Militar do Oeste – Passagem de subordinação». Exército Brasileiro
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- Correia, João Denison Maia; Vidal, Luciano Müller (2019). «O sistema de defesa do arco Central e a fronteira: Exército Brasileiro e Marinha do Brasil». Fronteiras do Brasil: uma avaliação do arco central, volume 4. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada