Combate de Campo Maior

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Combate de Campo
Guerra Peninsular
Data 25 de março de 1811
Local Campo Maior, Portugal
Desfecho Vitória anglo-portuguesa
Beligerantes
Reino Unido Reino Unido
Reino de Portugal
França Primeiro Império Francês
Comandantes
Reino Unido William Carr Beresford França Latour-Maubourg
Forças
700[1] 2400
Baixas
168 200
1 canhão

Combate de Campo (25 de março de 1811) foi um combate ocorrido em Campo Maior, Portugal, entre a cavalaria avançada anglo-portuguesa do brigadeiro-general Robert Ballard Long, do exército britânico comandado por William Carr Beresford, e as forças francesas lideradas pelo general-de-divisão Latour-Maubourg. Bem-sucedidos de início, alguns dos cavaleiros Aliados perseguiram as forças francesas. Devido a informações erradas - as quais referiam que as tropas francesas tinham sido capturadas -, Beresford deu ordem de imobilização às suas forças, o que permitiu que os franceses escapassem e recuperassem um conjunto de peças de artilharia. O resultado da batalha foi a vitória anglo-portuguesa e reconquista de Campo Maior.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Durante o Inverno de 1810–1811, o exército francês do marechal André Masséna manteve um cerco ao exército anglo-português de Lord Wellington, que estava aquartelado atrás das Linhas de Torres Vedras, perto de Lisboa. Masséna acabou por ficar sem provisões e retirou-se para Almeida em Março. Entretanto, mais a sul, o marechal Soult montava um cerco a Badajoz a 26 de Janeiro. A fortaleza foi conquistada pelos franceses a 11 de Março.[2]

A 15 de Março, o marechal Édouard Mortier e 4500 tropas do V Corpo, iniciaram um cerco ao Castelo de Campo Maior. O major José Talaya, com uma milícia de 800 portugueses e 50 canhões, defendiam o castelo, localizado a 18 km a noroeste de Badajoz. A força portuguesa conseguiu defender o castelo até 21 de Março, data em que a artilharia francesa quebrou a defesa da fortaleza.[3]

Wellington enviou o marechal-de-campo Beresford com uma força de 18 000 homens para libertar; quando as notícias da queda da cidade chegaram aos Aliados, Beresford continuou o seu avanço com o objectivo de reconquistar Badajoz.[4]

Combate[editar | editar código-fonte]

Esquadrão n.º 26 de Dragões

Mortier escolheu Latour-Maubourg para escoltar um comboio de canhões capturados pelos franceses em Campo Maior, local que estavam a abandonar, para irem para Badajoz. A força francesa incluía três batalhões do regimento n.º 100 da Infantaria de Linha,[nota 1] meia bateria de artilharia puxada por cavalos e oito esquadrões de cavalaria: os n.º2 e n.º10 de ussardos, o n.º 26 de Dragões, e um esquadrão espanhol de um regimento cavalaria ligeira, o n.º 4 de Chasseurs a juramentado (pró-francês). Para interceptar a operação francesa, Beresford enviou o brigadeiro-general Long com uma força de quinze esquadrões e meio de cavalaria: uma brigada britânica de cavalaria pesada, uma brigada portuguesa de cavalaria ligeira e um regimento britânico de cavalaria ligeira. As únicas unidades que entraram em acção foram a 13.ª de Deagões Ligeiros, o 1.º e o 7.º regimentos de cavalaria portugueses e parte da bateria de artilharia dos KGL de Cleeves, num total de 700 sabres e dois canhões.[3]

A 25 de Março, Long lançou o 13.º Dragões Ligeiros (dois esquadrões e meio) contra o 26.º Dragões (três esquadrões), com o 7.º Dragões portugueses a cobrir o flanco esquerdo. Os dragões franceses foram derrotados e o o seu oficial comandante, general Chamorin, foi morto. A força de cavalaria francesa que assegurava o apoio, seis esquadrões, foi derrotada e fugiu em direcção a Badajoz. O historiador Sir John Fortescue escreveu, "Sobre o desempenho do Décimo Terceiro, que não tinha mais de 200 homens, na derrota de uma força duas ou três vezes maior, é difícil dizer mais."[5] A cavalaria britânica, seguida pelo 7.º Dragões portugueses, liderados por Loftus Otway, deram início a uma perseguição aos derrotados franceses. Ficaram frente-a-frente com o comboio de 18 peças de artilharia, derrotaram-nos e continuaram por mais de 11 km. De forma surpreendente, alguns dos homens dos Dragões Ligeiros carregaram contra o talude da fortaleza de Badajoz sendo repelidos pela artilharia. A cavalaria francesa saiu da cidade para expulsar os cavaleiros Aliados. Beresford, que tinha recebido um relatório errado que dizia que o 13.º Dragões Ligeiros tinha sido capturado na sua totalidade, cancelou as operações quando dois dos seus canhões tinham iniciado um ataque a uma coluna francesa, a cavalaria pesada britânica estava preparada para investir e a infantaria britânica se aproximava .[6][7] A decisão de Beresford de cancelar as operações quando tudo indicava que estavam em posição vantajosa para destruir ou forçar a rendição de toda a coluna francesa, foi vista pelos seus críticos com um sinal de falta de visão militar que, mais tarde na Batalha de Albuera, iria mostrar.[8]

No seguimento das ordens de Beresford, a infantaria francesa continuou o seu caminho, cruzando-se com uma cavalaria ligeira aliada que estava de regresso, recapturando o comboio e seguindo, com sucesso, até Badajoz. No entanto, a cavalaria aliada conseguiu manter um dos canhões capturados, um obus.[9][nota 2]

Resultado[editar | editar código-fonte]

Marechal Beresford

A força francesa de 2400 homens, sofreu 200 baixas, das quais 108 do esquadrão n.º 26 de Dragões, ao que se junta a perda de um canhão. A força Aliada perdeu 168 homens. O esquadrão n.º 13 de Dragões Ligeiros sofreram dez mortos, 27 ferido e 22 capturados. Os regimentos portugueses tiveram 14 mortos, 40 feridos e 55 capturados. O resultado final da batalha foi a recaptura de Campo Maior pela força anglo-portuguesa.[3]

A perseguição à força de Latour-Maubourg fracassou apesar do número superior de homens dos britânicos e dos portugueses. A razão deste fracasso foi, posteriormente, alvo de controvérsia entre os apoiantes do brigadeiro Long e marechal Beresford. O combate da cavalaria em Campo Maior viria a ser um assunto muito controverso. Beresford considerava que Long tinha perdido o controlo da sua cavalaria ligeira. Também dizia que o facto de ele próprio ter assumido o comando da brigada de cavalaria pesada, tinha prevenido que Long tivesses dado ordens para um ataque à infantaria francesa, o qual teria sido desastroso.[10] Long tinha a opinião, sendo apoiado pelo historiador Sir William Napier,[11] de que se Beresford tivesse enviado a brigada britânica de dragões pesados, teria sido capaz de repelir a restante cavalaria francesa (dois esquadrões que não tinham sido atacados pelo 13.º de Dragões Ligeiros), que apoiava a sua infantaria e, consequentemente, forçar a infantaria francesa a render-se.[6]

Outros três incidentes onde a cavalaria de Wellington atacou sem coordenação foram os do regimento n.º 20 de Dragões na Batalha do Vimeiro; do regimento n.º 23 de Dragões Ligeiros na Batalha de Talavera; e da brigada de Sir John Slade na Batalha de Maguilla.[12] A operação seguinte, teria lugar no sector sul, na Batalha de Albuera.[13]

Rescaldo[editar | editar código-fonte]

Wellington, depois de receber o relatório de Beresford sobre o combate em Campo Maior, emitiu uma nota em que repreendia o 13.º Dragões Ligeiros, lhes chamava "uma turba" e ameaçava de lhes tirar os cavalos e os enviar para prestar serviço em Lisboa. Os oficiais do regimento responderam a Wellington detalhando a acção. Wellington terá respondido que, se soubesse o que realmente se tinha passado, jamais teria emitido tal reprimenda.[14] A publicação da história da Guerra Peninsular de Napier' nos anos 1830, relançou a controvérsia sobre Campo Maior, e deu origem a uma campanha insultuosa entre Napier e o sobrinho de Long, de um lado, e Beresford e seus apoiantes, por outro.[15]

Notas

  1. Fontes franceses referem dois batalhões - num total de 1200 homens. Lapène, p. 137.
  2. Napier regista que a peça de artilharia era um obus, pois um obus, devido ao seu cano mais curto, seria mais fácil de carregar.

Referências

  1. Smith, p 357. As forças e as perdas têm origem em Smith
  2. Smith, p. 355
  3. a b c Smith, p. 357
  4. Oman (1911), pp. 249-251
  5. Fletcher, p. 140.
  6. a b McGuffie, pp. 73–81
  7. Fletcher, pp 132 e 142
  8. Fletcher, pp. 138-139.
  9. Oman (1913), p. 105
  10. Oman (1911), pp. 258–265
  11. Napier pp. 309–310
  12. Oman (1913), p 104-105
  13. Fletcher, p. 149.
  14. Fletcher, pp. 136-137.
  15. Napier, W.F.P. History of the War in the Peninsula and the South of France 1807-1814, London 1828-1840, Vol. III (2nd Ed.), pp. xxi-xxv, e A Letter to Lord Viscount Beresford in Napier, Vol. VI, pp. xxxv-xxxvi.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Fletcher, I. (1999) Galloping at Everything: The British Cavalry in the Peninsula and at Waterloo 1808-15, Spellmount, Staplehurst. ISBN 1-86227-016-3.
  • Lapène, E. (1823) Conquête de l’Andalousie Campagne de 1810 et 1811 dans le Midi de l’Espaigne, Paris.
  • McGuffie, T. H., ed. (1951), Peninsular Cavalry General: (1811–13) The Correspondence of Lieutenant General Robert Ballard Long, George G. Harrap ;
  • Napier, Sir William (1842), History of the War in the Peninsula, II 4th ed. , Carey and Hart, consultado em 22 de maio de 2008 ;
  • Oman, Sir Charles (1911), A History of the Peninsular War: Volume IV, December 1810 to December 1811, ISBN 1-85367-618-7, Greenhill Books (publicado em 2004) ;
  • Oman, Charles. (1913) Wellington's Army, 1809-1814. London: Greenhill, 1993. ISBN 0-947898-41-7
  • Smith, Digby. (1998) The Napoleonic Wars Data Book. London: Greenhill, . ISBN 1-85367-276-9

Ligações externas[editar | editar código-fonte]