Comestíveis (cannabis)

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Um comestível de cannabis (do inglês, cannabis edible), também conhecido como alimento com infusão de cannabis ou simplesmente comestível, é um produto alimentar que contém canabinoides, especialmente o tetra-hidrocanabinol (THC).[1] Embora comestível possa se referir a um alimento ou bebida, bebidas com infusão de cannabis costumam ser referidas mais especificamente como líquidos comestíveis.

A maioria dos alimentos contém uma quantidade significativa de THC, o que pode induzir uma ampla variedade de efeitos, incluindo relaxamento, euforia, aumento do apetite, fadiga e ansiedade.[2] Os alimentos com THC podem ser consumidos para fins recreativos ou medicinais.[3] Alguns alimentos contêm uma quantidade insignificante de THC e, em vez disso, são compostos predominantemente por outros canabinoides, mais comumente o canabidiol (CBD).[4] Os comestíveis de CBD são usados principalmente para fins medicinais[4].

Alimentos e bebidas feitos de produtos de cannabis não psicoativos são conhecidos como alimentos de cânhamo.[5]

História[editar | editar código-fonte]

O primeiro alimento com infusão de cannabis registrado foi no subcontinente indiano, onde as pessoas prepararam comidas e bebidas com bhang por milênios, para fins espirituais e medicinais.[8][9] A solubilidade em gordura dos extratos de cannabis também era conhecida pelosindianos antigos, havendo registros de receitas em sânscrito recomendando que a cannabis fosse refogada em ghi antes de misturá-la com outros ingredientes.[9][10]

O bhang era usado em comidas e bebidas já em 1.000 AC pelos povos hindus no subcontinente indiano. O bhang era tradicionalmente distribuído durante o festival hindu da primavera, conhecido como Holi.[11][12]

O interesse moderno em alimentos com infusão de cannabis é creditado à publicação The Alice B. Toklas Cook Book, de 1954. Toklas incluiu uma receita para "fudge de haxixe", que foi feita em colaboração com o artista Brion Gysin Embora tenha sido omitido nas primeiras edições americanas, o nome de Toklas e seus "brownies" se tornaram sinônimos de cannabis na contracultura da década de 1960.[13]

Em alguns estados dos EUA que legalizaram a cannabis, as vendas de produtos comestíveis tiveram um aumento exprssivo.[14] No entanto, há uma preocupação crescente sobre o perigo que os alimentos representam para crianças e consumidores inexperientes de cannabis,[15] que podem facilmente ingerir muito de uma vez, possivelmente nem mesmo percebendo que o alimento foi infundido em cannabis.[16] Além disso, as chamadas para centros de controle de intoxicação aumentaram drasticamente desde 2008 devido à ingestão de alimentos comestíveis por cães.[17] No Canadá, os produtos alimentícios com infusão de cannabis foram legalizados em outubro de 2019.[18]

Química e farmacologia[editar | editar código-fonte]

A cannabis não contém naturalmente quantidades significativas de THC. Em vez disso, ele contém altos níveis de ácido tetrahidrocanabinólico (THCA), que se converte em THC por meio da descarboxilação, um processo induzido por aquecimento.[19]

A comparação entre os efeitos de produtos comestíveis de maconha e aqueles provenientes da ingestão por baseados é difícil, pois existem grandes margens de erro devido à variabilidade na forma como as pessoas fumam. Com relação à alimentação, diferentes veículos nos quais os canabinoides são dissolvidos para ingestão oral afetam a biodisponibilidade dos canabinoides, que variam de acordo com o metabolismo de cada pessoa.[20][20] No entanto, como as doses orais são processadas pelo sistema digestivo e pelo fígado antes de entrar na corrente sanguínea, os canabinoides que são ingeridos são absorvidos mais lentamente e têm concentrações de pico atrasadas, porém são eliminados mais lentamente em comparação com quando a cannabis é fumada.[20] Devido à circulação enterohepática, geralmente a administração oral leva a dois picos de concentração.[21]

O consumo de THC pela ingestão resulta na absorção pelo fígado e, por meio de processos metabólicos, na conversão de uma proporção significativa dele em 11-hidroxi-THC.[21]

Tipos[editar | editar código-fonte]

Assados[editar | editar código-fonte]

Uma variedade de bolos espaciais, comuns em Amsterdã, Holanda
Gomas de cannabis


Um produto assado com infusão de cannabis é um tipo de comestível de cannabis. Esse tipo de produto inclui bolachas, brownies e bolos espaciais (space cakes). Um sabor suave de cannabis pode ser detectado dependendo das quantidades que foram utilizadas na preparação.

Bebidas[editar | editar código-fonte]

Uma loja de bhang lassi (bebida com infusão de cannabis) em Jaisalmer, Rajasthan, Índia

Uma bebida com infusão de cannabis, também conhecida como líquido comestível (do inglês, liquid edible), é uma bebida que contém canabinoides, especialmente o THC. As bebidas tradicionais com infusão de cannabis, como lassi e thandai, preparadas com bhang, são originárias do subcontinente indiano.

Nos estados dos EUA que legalizaram a cannabis para uso recreativo, as bebidas representavam cerca de 4% do mercado de cannabis em 2014, mas caíram para cerca de 1,5% do mercado em 2016.[22] As bebidas com infusão de cannabis podem vir em várias formas, como refrigerantes, chás e cervejas.[23]

Cápsulas[editar | editar código-fonte]

Uma cápsula contendo THC ou CBD que não é vendida como um produto farmacêutico regulamentado também é considerada comestível, fornecendo o mesmo efeito que os alimentos e bebidas.[24]

Ingredientes[editar | editar código-fonte]

Tintura[editar | editar código-fonte]

A tintura de cannabis é um extrato de cannabis armazenado em óleo em temperatura ambiente. Geralmente, caules e folhas da planta cannabis são usados como matéria-prima porque contêm grandes quantidades de canabinoides, mas são indesejáveis para fumar. Quando infundido em álcool à base de grãos de alta resistência, como a bebida Everclear, a tintura se torna o que é popularmente conhecido como green dragon. O Creme de Gras (que pode ser traduzido literalmente para "creme de gordura") é um licor feito de cannabis.[10] Pode ser adicionado ao café e outras bebidas.

Óleo[editar | editar código-fonte]

O óleo de cannabis é um produto à base de óleo de cozinha infundido em canabinoides por meio da mistura de cannabis com o óleo aquecido. Óleos alimentares de cannabis estão disponíveis para pacientes que utilizam cannabis medicinal em uma variedade de misturas voltadas a aplicações culinárias.[25]

Manteiga[editar | editar código-fonte]

Manteiga com infusão de cannabis, ou mantegonha,[26] é um produto composto por manteiga com infusão de cannabis.[27] A preparação para consumo consiste no aquecimento de flores limpas e secas em manteiga derretida.[27]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Drug Alert: Marijuana Edibles | Just Think Twice». www.justthinktwice.gov (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2020 
  2. «What are marijuana's effects?». National Institute on Drug Abuse (em inglês). National Institute on Drug Abuse. Julho de 2020. Consultado em 24 de setembro de 2020 
  3. Oregonian/OregonLive, Noelle Crombie | The (2 de junho de 2016). «Oregon's recreational marijuana market expands to edibles and extracts starting Thursday». oregonlive (em inglês). Consultado em 24 de setembro de 2020 
  4. a b Terps, Tyler. «10 Little-Known Uses for CBD Oil». HighTimes.com (em inglês). Consultado em 20 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 21 de outubro de 2017 
  5. Pierre Bouloc (16 de setembro de 2013). Hemp: Industrial Production and Uses. [S.l.]: CABI. ISBN 978-1-84593-793-5 
  6. Staelens, Stefanie. «The Bhang Lassi Is How Hindus Drink Themselves High for Shiva». Vice.com (em inglês). Consultado em 10 de agosto de 2017 
  7. Ayyagari S (2007). «"Hori Hai": A Festival of Colours!! (review)». Johns Hopkins University Press. Asian Music. 38 (2): 151–153. doi:10.1353/amu.2007.0029 
  8. Staelens, Stefanie (10 de março de 2015). «The Bhang Lassi Is How Hindus Drink Themselves High for Shiva». Vice.com. Consultado em 10 de agosto de 2017 
  9. a b Drake, Bill (2002). The Marijuana Food Handbook. [S.l.]: Ronin Publishing. p. 18. ISBN 0-914171-99-2 
  10. a b Gottlieb, Adam (1993). Cooking with Cannabis: The Most Effective Methods of Preparing Food and Drink with Marijuana, Hashish, and Hash Oil. [S.l.]: Ronin Publishing. ISBN 0-914171-55-0 
  11. «Right kick for day-long masti». Times of India. Consultado em 17 de março de 2014 
  12. «Holi 2014: Festival Of Colors Celebrates Spring (SONGS, PHOTOS)». Huffington Post. Consultado em 17 de abril de 2014 
  13. Eplatt, Layla (20 de abril de 2015). «Go Ask Alice: The History of Toklas' Legendary Hashish Fudge». Scientific American. Consultado em 22 de setembro de 2016 
  14. Lacsamana, Pauline. «Edible Marijuana Sales Continue to Rise, With Gummies and Mints Topping Sales». TheDailyMeal.com. Consultado em 10 de agosto de 2017 
  15. «The Buzz without the High: Checkout this Popular Cannabis Trend in 2019». New England Leaf (em inglês). Consultado em 28 de agosto de 2019. Cópia arquivada em 5 de agosto de 2019 
  16. «The rise of legal weed in America». TheWeek.com (em inglês). Consultado em 10 de agosto de 2017 
  17. ByTara MahadevanChicago-based journalist // @mhdvn (25 de fevereiro de 2019). «People Keep Calling Poison Control After Their Dogs Eat Edibles». Complex. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  18. Emma Davie (9 de maio de 2019). «Canadians' enthusiasm wanes for legal pot and edibles, study finds». CBC News. Consultado em 11 de maio de 2019 
  19. «What Is Decarboxylation, and Why Does Your Cannabis Need It?». Leafly (em inglês). 30 de abril de 2016. Consultado em 28 de agosto de 2019 
  20. a b c Huestis, MA (2005). «Pharmacokinetics and metabolism of the plant cannabinoids, delta9-tetrahydrocannabinol, cannabidiol and cannabinol.». Handbook of experimental pharmacology (168): 657–90. PMID 16596792. doi:10.1007/3-540-26573-2_23 
  21. a b Gottlieb, Adam (1993). Cooking with Cannabis: The Most Effective Methods of Preparing Food and Drink with Marijuana, Hashish, and Hash Oil. Ronin Publishing. [S.l.: s.n.] ISBN 0-914171-55-0 
  22. Borchardt, Debra (29 de junho de 2016). «Marijuana Drinks Not Causing a Buzz». Forbes (em inglês) 
  23. «Company Introduces Marijuana Soda». ABC News. 29 de janeiro de 2011. Consultado em 28 de julho de 2017 
  24. «The Best Types of Edibles». High Times. 3 de junho de 2018. Consultado em 18 de junho de 2018 
  25. «Cooking With Cannabis | New Haven Independent». New Haven Independent (em inglês). 25 de julho de 2017. Consultado em 28 de julho de 2017 
  26. Ferreira, Yuri (14 de fevereiro de 2020). «Mantegonha: Receita de bolo de banana com maconha prova versatilidade da erva». Hypeness. Consultado em 24 de setembro de 2020 
  27. a b Noelle Carter (20 de abril de 2018). «Happy 4/20! Celebrate with homemade canna-butter». Los Angeles Times (em inglês). Consultado em 18 de novembro de 2019 


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