Comportamento alimentar

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Comportamento alimentar” e “hábito alimentar” têm definições diferentes para as áreas de Alimentação e Nutrição. Ao se referir a hábitos alimentares, fala-se da relação do consumo e da ingestão dos alimentos, já o comportamento se relaciona com os aspectos psicológicos do indivíduo. Além disso, o comportamento alimentar abrange o contexto sociocultural, subjetivo e individual, consciente e inconsciente, enquanto o hábito alimentar é feito por repetições e pode ser alterado com mais facilidade [1].

O conceito de comportamento alimentar engloba tudo que está preponderantemente ligado ao momento pré-deglutição, o que envolve tanto a cultura, a sociedade e sua experiência com o alimento, como o próprio ato de comer, referindo-se a como e de que forma se come, além de considerar as ações relacionadas ao ato de se alimentar. Não deve ser confundido, portanto, com os elementos da pós-deglutição, que englobam o consumo do alimento [2].

Fatores de influência[editar | editar código-fonte]

Alimentar-se é um ato íntimo norteado por inúmeros fatores capazes de influenciar diretamente a qualidade de vida das pessoas por meio dos determinantes sociais de saúde, levando em conta fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais [3].

Ainda que a necessidade fisiológica por comida muitas vezes nos leve a comer, uma ampla gama de fatores formam a base da maioria das decisões alimentares, que incluem nosso estado de humor (positivo ou negativo), distrações, estímulos sensoriais, e diversas influências psicológicas e sociais [4].

Assim, apesar de muitas vezes impulsivo, o comportamento alimentar pode ser conscientemente definido, dependendo dos nossos sentimentos e da nossa capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento. Ele é parte de nossas atitudes alimentares, as quais são influenciadas por fatores ambientais (como sociedade, cultura, família e religião) e fatores internos (como sentimentos, crenças e tabus), e é caracterizado como um ato particular de cada indivíduo. Dessa forma, ele se molda e se modifica em função de como a pessoa se sente em relação à comida e o que ela conhece e acredita sobre alimentação e nutrição [2].

De modo geral, pode-se afirmar que o comportamento alimentar também se relaciona a modificações naturais que ocorrem ao longo das décadas e que são capazes de moldar novos padrões e, consequentemente, contribuir para o reforço e introdução de novas temáticas. Por isso, devem-se considerar fatores políticos, históricos, sociais e culturais em função dos quais cada grupo populacional se modifica, como a globalização, os adventos tecnológicos e a transição epidemiológica, demográfica e nutricional, que podem levar a mudanças nos padrões de consumo de alimentos, e impactar em uma eventual modificação do comportamento alimentar. Essas modificações também podem estar relacionadas à transformações nos arranjos familiares, à introdução da mulher ao mercado de trabalho, à expansão da oferta e do consumo de alimentos industrializados, à urbanização, à imposição de padrões corporais reforçados através dos meios de comunicação e às pressões psicológicas dela resultantes, entre outros fatores [5] [6].

Transtornos[editar | editar código-fonte]

Considerando-se que o comportamento alimentar não é restrito às capacidades fisiológicas, é importante ressaltar que ele é capaz de gerar inúmeros desafios no que diz respeito a temáticas de Saúde Pública. Isto que inclui questões relacionadas à distribuição e ao acesso aos alimentos, envolvendo também o conceito de Segurança Alimentar [7]. Além de variar de pessoa a pessoa e de acordo com suas diferentes experiências de vida, o comportamento alimentar pode, em algumas situações, levar a transtornos alimentares como Bulimia Nervosa, Anorexia Nervosa, Transtorno do Comer Compulsivo, Vigorexia e Ortorexia, e a várias doenças a eles associados.

É, portanto, um tema complexo e que requer estudo aprofundado e que deve levar em consideração não somente as características de cada pessoa, como o ambiente socioeconômico e cultural no qual elas estão inseridas.

  1. KLOTZ-SILVA, J.; PRADO, S. D.; SEIXAS, C. M. Comportamento alimentar no campo da Alimentação e Nutrição: do que estamos falando?. Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 1103-1123, out. 2016.
  2. a b ALVARENGA, M.; KORITAR, P. Atitude e comportamento alimentar – determinantes de escolhas e consumo. In: ALVARENGA, M. Nutrição Comportamental. Barueri: Manole, 2015. p. 23-50.
  3. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n.1, p. 77-93, abr. 2007.
  4. BUBLITZ, M. G.; PERACCHIO, L. A.; BLOCK, L. G. Why did I eat that? Perspectives on food decision making and dietary restraint. Journal of Consumer Psychology. Hoboken, v. 20, n. 3, p. 239-258, jul. 2010.
  5. COUTINHO, J. G.; GENTIL, P. C.; TORAL, N. A desnutrição e obesidade no Brasil: o enfrentamento com base na agenda única da nutrição. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 24, supl. 2, p. s332-s340, jan. 2008.
  6. SOUZA, E. B. de. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, v. 5, n. 13, p. 49-53, ago. 2017.
  7. BELIK, W. Perspectivas para segurança alimentar e nutricional no Brasil. Saúde e Sociedade. São Paulo, v. 12, n. 1, p. 12-20, jan.-jun. 2003.