Conceição Evaristo
Conceição Evaristo | |
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A escritora Conceição Evaristo durante debate no Festival Latinidades 2013 | |
Nome completo | Maria da Conceição Evaristo de Brito |
Nascimento | 29 de novembro de 1946 (77 anos) Belo Horizonte, Minas Gerais |
Nacionalidade | brasileira |
Ocupação | Escritora, poetisa, romancista e ensaísta |
Prémios |
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Género literário | Romance, conto, poesia |
Movimento literário | Pós-modernismo |
Magnum opus | Ponciá Vicêncio |
Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, 29 de novembro de 1946) é uma linguista e escritora afro-brasileira. Agora aposentada, teve uma prolífica carreira como pesquisadora-docente universitária.[2]
É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil,[3] escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio. Como pesquisadora-docente, seus trabalhos focavam na literatura comparada.[4]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de novembro de 1946.[5] Sua mãe, Joana Josefina Evaristo, a teve na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Segundo relato da própria Conceição, trata como pai a Aníbal Vitorino, que se tornou seu padrasto ainda na infância.[6] De ascendência angolana, beninense, nigeriana, serra-leonina, ugandense, sul-africana, norte-africana e indígena,[7] viveu seus primeiros anos na favela do Pendura Saia, uma comunidade extinta na década de 1970, localizada da zona sul de Belo Horizonte. Sua família era muito pobre e numerosa, tendo nove irmãos, sendo a segunda mais velha.[5][8]
Carreira acadêmica e profissional
[editar | editar código-fonte]Conceição foi criada na periferia, tendo sua mãe como principal incentivadora da leitura. Joana Josefina Evaristo Vitorino colecionava cadernos de seus próprios escritos.[9] Mais tarde, Conceição saiu da favela para poder conciliar os estudos do curso normal enquanto trabalhava como empregada doméstica. Concluiu o curso normal em 1971, já aos 25 anos.[5]
Mudou-se então para a cidade do Rio de Janeiro, em 1973, onde passou num concurso público para o magistério, permanecendo ligada aos quadros do município até o ano de 2006; neste ínterim, nas décadas de 1970 e 1980, também foi professora da rede municipal de Niterói.[5]
Prestou vestibular em 1987 para o curso de letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguindo bolsa de pesquisas durante o período. Formou-se no ano de 1990.[10][11] No seio da universidade, ainda na década de 1980, entrou em contato com o grupo Quilombhoje, que a incentivou a iniciar sua escrita. Estreou na literatura em 1990 com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela organização.[12][13]
Entre 1992 e 1996 cursou mestrado em letras-literatura brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).[5] Sua dissertação foi intitulada Literatura Negra:[14] uma poética da nossa afro brasilidade e foi defendida em 1996.[15]
A partir de 1999 licenciou-se da Prefeitura do Rio de Janeiro e passou a lecionar na Universidade Federal Fluminense (UFF), mantendo este vínculo até o ano de 2011.
Em 2008 ingressou no doutorado em letras-literatura comparada da Universidade Federal Fluminense, concluindo os estudos em 2011.[16]
Após seu doutoramento, serviu como professora em diversas instituições, tais como o Middlebury College, a PUC-Rio, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).[15]
Carreira como escritora
[editar | editar código-fonte]Suas obras, em especial o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe.[17] Seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio foi foco de pesquisa acadêmica pela primeira vez, no Brasil, em 2007.[18] A obra foi traduzida para o inglês e publicada nos Estados Unidos em 2007.[19][20]
Em 2017, Conceição Evaristo foi tema da Ocupação do Itaú Cultural de São Paulo.[21] Já em 2019, Conceição Evaristo foi a grande homenageada da Bienal do Livro de Contagem.[22]
No dia 18 de junho de 2018, Conceição Evaristo oficializou sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, entregando a carta de autoapresentação para concorrer à cadeira de número 7, originalmente ocupada por Castro Alves.[23] Segundo o Portal da Literatura Afro-Brasileira, a autora escreveu na carta: “Assinalo o meu desejo e minha disposição de diálogo e espero por essa oportunidade”.[24] A eleição ocorreu em 30 de agosto, Conceição recebeu um voto, acabou eleito o cineasta Cacá Diegues.[25]
A escritora Conceição Evaristo foi laureada, em setembro de 2023, com o Troféu do Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano de 2023.[26] A escritora ganhou o prêmio por conta de sua contribuição à literatura brasileira, bem como também em decorrência do lançamento de ‘Canção para Ninar Menino Grande’, obra literária lançada em 2022, na qual a autora aborda de forma habilidosa as contradições e intricadas nuances que envolvem a expressão da masculinidade por parte de homens negros, explorando também suas repercussões nas relações com mulheres negras.[27]
Conceição foi condecorada com o título de doutora Honoris Causa pelo Instituto Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS),[28] Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB)[29] e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Em 15 de fevereiro de 2024 foi eleita para a cadeira de número 40 da Academia Mineira de Letras, sucedendo a escritora e professora Maria José de Queiroz, falecida em 15 de novembro de 2023.[30] A posse aconteceu no dia 08 de março de 2024.[31] A cadeira de número 40 foi fundada por Pinto de Moura e tem como patrono o Visconde de Caeté.[32]
Obras
[editar | editar código-fonte]Romance
[editar | editar código-fonte]- Ponciá Vicêncio (2003)
- Becos da Memória (2006)
- Canção para Ninar Menino Grande (2022)
Poema
[editar | editar código-fonte]Contos
[editar | editar código-fonte]- Insubmissas lágrimas de mulheres (2011; 2ª edição pela Editora Malê, 2016 )
- Olhos d`água (Editora Pallas, 2014) .
- Histórias de leves enganos e parecenças (Editora Malê, 2016)
Participações em antologias
[editar | editar código-fonte]- Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990)
- Contos Afros (Quilombhoje)
- Contos do mar sem fim (Editora Pallas)
- Questão de Pele (Língua Geral)
- Schwarze prosa (Alemanha, 1993)
- Moving beyond boundaries: international dimension of black women’s writing (1995)
- Women righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction (Inglaterra, 2005)
- Finally Us: contemporary black brazilian women writers (1995)
- Callaloo, vols. 18 e 30 (1995, 2008)
- Fourteen female voices from Brazil (EUA, 2002), Estados Unidos
- Chimurenga People (África do Sul, 2007)
- Brasil-África
- Je suis Rio, éditions Anacaona, juin 2016.
Obras publicadas no exterior
[editar | editar código-fonte]- Ponciá Vicencio. Trad. Paloma Martinez-Cruz, Austin: Host Publications, 2007. ISBN 0-978-0-924047-34-3
- L'histoire de Poncia, traduzido por Paula Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona. 2015. ISBN 978-2-918799-75-7
- Banzo, mémoires de la favela, traduzido por Paula Anacaona, collection Terra, éditions Anacaona. 2016. ISBN 978-2-918799-80-1
Referências
- ↑ «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 1 | Nº 220, terça-feira, 21 de novembro de 2023». Imprensa Nacional. 21 de novembro de 2023. p. 11. Consultado em 25 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 21 de novembro de 2023
- ↑ «Conceição Evaristo: Poemas da recordação e outros movimentos». Portal Vermelho. Vermelho.org.br. 27 de fevereiro de 2012. Arquivado do original em 9 de agosto de 2017
- ↑ «Literatura negra incomoda e faz pensar, diz Conceição Evaristo». Agência Brasil. 6 de setembro de 2023. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ CARVALHO, Dayane Aparecida de; CUSTÓDIO, Raquel Cardoso de Faria (2018). «ONDE VOCÊ SE ENCONTRA?». Anais da Mostra Nacional de Iniciação Científica e Tecnológica Interdisciplinar (MICTI)-e-ISSN 2316-7165. 1 (11). Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ a b c d e «Conceição Evaristo: biografia, principais obras - Brasil Escola». Meu Artigo Brasil Escola. Consultado em 6 de fevereiro de 2020
- ↑ «Conceição Evaristo». Literafro. 23 de abril de 2021
- ↑ «Origens | Conceição Evaristo faz teste de DNA e descobre de onde veio». www.uol.com.br. Consultado em 12 de março de 2023
- ↑ «O luto de Conceição Evaristo». Quatro Cinco Um: a revista dos livros. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ «Maternidade - Ocupação Conceição Evaristo». Ocupação. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ DUARTE, Eduardo de Assis. «O Bildungsroman afro-brasileiro de Conceição Evaristo». Rev. Estud. Fem. vol.14 no.1 Florianópolis Jan./abril 2006. Scielo.br
- ↑ «Coquetel de lançamento - Conceição Evaristo e Amélia Dalomba». NEAA. Uel.br. 7 de dezembro de 2011
- ↑ Dias, Maria José Carneiro (2020). «A literatura como arte do espetáculo». Cadernos de Literatura Comparada (42): 139–149. ISSN 2183-2242. doi:10.21747/21832242/litcomp42a9. Consultado em 2 de março de 2022
- ↑ «Maria da Conceição Evaristo, a voz da mulher negra na literatura». R7.com. 11 de julho de 2019. Consultado em 6 de fevereiro de 2020
- ↑ «Conceição Evaristo - Literatura Afro-Brasileira». www.letras.ufmg.br. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ a b «Conceição Evaristo: escritora negra comprometida etnograficamente - Crítica - Literatura Afro-Brasileira». www.letras.ufmg.br. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ Cultural, Instituto Itaú. «Conceição Evaristo». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 6 de fevereiro de 2020
- ↑ Arruda, Aline Alves (4 de setembro de 2007). «"Ponciá Vicêncio",de Conceição Evaristo: um Bildungsroman feminino e negro». Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ Santos de Araújo, Flávia (30 de abril de 2007). «Uma escrita em dupla face: a mulher negra em Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo» (PDF). PPGL UFPB
- ↑ ARRUDA, Aline Alves. «Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo: Um Bildungsroman Feminino e Negro» (PDF). Literafro - UFMG. Letras.ufmg.br[ligação inativa]
- ↑ «Conceição Evaristo - Lançamento do livro "Insubmissas lágrimas de mulheres"». Geledés Instituto da Mulher Negra. Geledes.org.br. 7 de dezembro de 2011
- ↑ «Ocupação Conceição Evaristo leva literatura ao Itaú Cultural». Catraca Livre. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ Gerais, Universidade Federal de Minas. «Contagem recebe terceira edição da Bienal do Livro». Universidade Federal de Minas Gerais. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ «Conceição Evaristo é oficialmente candidata à Academia Brasileira de Letras - Literatura Afro-Brasileira». www.letras.ufmg.br. Consultado em 24 de abril de 2023
- ↑ «Conceição Evaristo entrega carta oficializando sua candidatura à Academia Brasileira de Letras - Negro Belchior». Negro Belchior. 19 de junho de 2018
- ↑ «Como a escritora negra Conceição Evaristo perdeu sua cadeira na ABL». The Intercept. 30 de agosto de 2018
- ↑ «Conceição Evaristo vence troféu Juca Pato 2023 como intelectual do ano». Brasil de Fato. 17 de setembro de 2023. Consultado em 20 de setembro de 2023
- ↑ «Conceição Evaristo vence troféu Juca Pato 2023 como Intelectual do Ano». Estadão. Consultado em 20 de setembro de 2023
- ↑ «Campus Machado sedia reunião do Conselho Superior (Consup): Posse de membros e entrega de homenagens marcam encontro trimestral». IFSULDEMINAS. Consultado em 6 de dezembro de 2023
- ↑ «Consuni aprova concessão dos primeiros títulos de Doutor Honoris Causa». UFOB. Consultado em 6 de dezembro de 2023
- ↑ Barbosa, Daniel (15 de fevereiro de 2024). «Conceição Evaristo é a nova integrante da Academia Mineira de Letras». Estado de Minas. Consultado em 15 de fevereiro de 2024
- ↑ «CONCEIÇÃO EVARISTO TOMA POSSE NA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS, COM TRANSMISSÃO AO VIVO, PARA TODO O BRASIL | Academia Mineira de Letras». Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ Redação, Da (15 de fevereiro de 2024). «Conceição Evaristo é eleita a nova imortal da Academia Mineira de Letras». Hoje em Dia. Consultado em 15 de fevereiro de 2024
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Entrevista no projeto da jornalista Maria Fortuna: Conversas para Iluminar o Mundo
- Eu-Mulher, poema de Conceição Evaristo
- Entrevista para a revista Conexão Literatura
- Eu não sei cantar - Entrevista para a revista Raça Brasil
- MENDES, Ana Cláudia Duarte. Eco e Memória: "Vozes-Mulheres", de Conceição Evaristo. Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários - Volume 17-A (dez. 2009)
- Nascidos em 1946
- Naturais de Belo Horizonte
- Alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro
- Alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
- Alunos da Universidade Federal Fluminense
- Escritores de Minas Gerais
- Contistas do Brasil
- Escritores afro-brasileiros
- Escritoras do Brasil
- Feministas afro-brasileiras
- Professores da Universidade Federal Fluminense
- Brasileiros de ascendência angolana
- Brasileiros de ascendência beninense
- Brasileiros de ascendência indígena
- Brasileiros de ascendência nigeriana
- Doutores honoris causa de universidades do Brasil
- Comendadores da Ordem de Rio Branco