Conferências do Casino

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As Conferências do Casino foram uma série de conferências realizadas na primavera de 1871 em Lisboa. Foram impulsionadas pelo poeta Antero de Quental, que insuflou no chamado Grupo do Cenáculo o entusiasmo para as realizar. Este poeta estava sob a influência das ideias revolucionárias de Proudhon. Este grupo também passou a ser conhecido como Geração de 70. Tratava-se de um grupo de escritores e intelectuais jovens e de vanguarda. As Conferências do Casino, ou Conferências Democráticas do Casino, são uma réplica da anterior Questão Coimbrã.

Manifesto

A 18 de Maio aparecem no jornal "A Revolução de Setembro", as assinaturas de Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Vieira Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel Arriaga, Salomão Saragga e Teófilo Braga. Estas personalidades assinam um manifesto que aponta as intenções de reflectir sobre as mudanças políticas e sociais que o mundo sofria, de investigar a sociedade como ela é e como deverá vir a ser, de estudar todas as ideias novas do século e todas as correntes do século.

Têm assim em mente uma visão internacionalista e de participação na polis. Recusam que Portugal continue mouco às novas ideias que circulam na Europa. Visavam assim “Abrir uma tribuna onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este movimento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos; ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a sociedade civilizada, procurar adquirir a consciência dos factos que nos rodeiam na Europa; agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência modernas; estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa”.

Conferências Realizadas

Intervenção das Autoridades e Polémica

Quando se preparavam para a sexta conferência os participantes foram surpreendidos por um aviso das autoridades que ilegalizavam a realização das mesmas. As autoridades do Estado alegavam que “as prelecções expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições do Estado”. O que não era de todo infundamentado porque, apesar de liberal, se vivia numa Monarquia e o Catolicismo era muito forte em Portugal. As Conferências veiculavam ideias que eram tidas por perigosas como a República, a Democracia e o Socialismo. À volta da proibição, um acto de censura, levantaram-se variados protestos, choveram cartas aos jornais e foram lavrados opúsculos de polémica entre os quais um famoso ataque de Antero “ao Marquês de Ávila e Bolama”, que foi o autor da proibição


Conferências não realizadas

  • 6. Os Historiadores Críticos de Jesus por Salomão Sáraga
  • 7. O Socialismo, por Jaime Batalha Reis
  • 8. A República, por Antero de Quental
  • 9. A Instrução Primária, por Adolfo Coelho
  • 10. A dedução positiva da Ideia Democrática, por Augusto Fuschini

Balanço

No rescaldo deste importantíssimo episódio da Cultura de expressão portuguesa podemos afirmar que as Conferências do Casino, representaram em Portugal uma afirmação dum movimento de ideias que vingavam na Europa. Era o Historicismo, o interesse pelas Ciências Sociais e Políticas, a crítica positivista à maneira de Taine, o evolucionismo de Darwin, um tímido interesse pelas ideias de Karl Marx, e especialmente Proudhon, o Realismo na arte como locução de um novo ideal de vida, a crença no Progresso das sociedades conseguido através da Ciência.

Eça de Queiroz, posteriormente e sobre as Conferências, afirma nas Farpas: “era a primeira vez que a Revolução sob a sua forma científica tinha em Portugal a sua tribuna”. Alguns dos interventores nestas conferências, cerca de duas décadas mais tarde, juntaram-se no grupo dos auto-intitulados Vencidos da Vida.