Confinamento psiquiátrico de Christopher Smart

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Half length and dark portrait of a serious and slightly plump man wearing a black academic gown with white collar, ruffled cuff, and a large mortarboard.
Christopher Smart

O poeta inglês Christopher Smart (1722-1771) ficou confinado em hospitais psiquiátricos de maio de 1757 até janeiro de 1763. Smart foi internado no St Luke's Hospital for Lunatics, Upper Moorfields, Londres, em 6 de maio de 1757. Ele foi levado para lá pelo seu sogro, John Newbery, embora ele possa ter sido confinado em um hospício particular antes disso. Enquanto estava no hospital, ele escreveu Jubilate Agno e Uma Música para David, os poemas que são considerados as suas maiores obras. Apesar de muitos de seus contemporâneos concordarem que Smart era "louco", os relatos de sua condição e suas comorbidades variavam, e alguns achavam que ele havia sido injustiçado.

Smart foi diagnosticado como "incurável" enquanto estava em St. Luke's, e quando os fundos de seu tratamento acabaram, ele foi transferido para o asilo de Mr. Potter's, em Bethnal Green. Tudo o que se sabe sobre seus anos de confinamento é que ele escreveu poesia. O isolamento de Smart levou-o a abandonar os gêneros poéticos do século XVIII que marcaram sua obra anterior e, também, a escrita de poesias religiosas como Jubilate Agno ("Alegrai-te no Cordeiro"). Sua poesia feita no asilo revela um desejo de "revelação sem intervenções", e é possível que a auto-avaliação encontrada em sua poesia represente uma expressão do cristianismo evangélico.

Os críticos do final do século XVIII, sentiram que a loucura de Smart os dava justificativa para ignorar sua poesia Uma Música para David, mas, durante o século seguinte, Robert Browning e seus contemporâneos consideraram que a sua condição seria a fonte de sua genialidade. Não foi antes do século XX, com a redescoberta de Jubilate Agno (não publicada até 1939), que os críticos reconsideraram o caso de Smart e começaram a vê-lo como um poeta revolucionário, possivelmente, uma trama de seu sogro, um editor, para silenciá-lo.

Acontecimentos[editar | editar código-fonte]

Smart ficou confinado a asilos durante um período de debate sobre a natureza da loucura e seu tratamento. Durante o século XVIII, a loucura foi "mantida para revelar a verdade secreta e condenada ao silêncio e à exclusão como algo ininteligível pela razão e, portanto, ameaçadora para a sociedade e para a humanidade".[1] Era comumente considerada uma aflição incurável cujos sofredores deveriam ser isolados da sociedade.[2] O médico William Battie - que mais tarde tratou o Smart - escreveu:

[nós] achamos que a loucura é, ao contrário da opinião de algumas pessoas irrefletidas, tão tratável quanto muitas outras perturbações, que são igualmente terríveis e persistentes, e ainda assim não são encaradas como incuráveis, e que esses objetos infelizes não devem ser abandonados, muito menos trancados em prisões repugnantes como criminosos ou incômodos para a sociedade.[3]

Em particular, Battie definiu loucura como "imaginação iludida".[4] No entanto, ele foi atacado por outros médicos, como John Monro, que trabalhava no Hospital Bethlem. Em suas observações sobre o tratado de loucura do Dr. Battie, Monro explicou que aqueles que estavam loucos tinham as percepções corretas da realidade, mas que não tinham a capacidade de julgar adequadamente. Embora Monro tenha promovido ideias de reforma, seu tratamento sugerido - agredir pacientes - era tão severo quanto a opção preferida de Battie, de isolar completamente os pacientes da sociedade.

Em 1758, Battie e outros argumentaram que aqueles considerados "loucos" foram alvo de abusos pelo sistema de asilo britânico e fizeram pressão por uma ação parlamentar. O Tratado de Loucura de Battie enfatizou os problemas de tratar os hospitais como atrações turísticas e das medidas punitivas tomadas contra os pacientes. Os argumentos de Battie e outros resultaram na aprovação da Lei de Regulamentação de Casas Privadas (1774), porém, era tarde demais para ajudar Smart.[5]

Os críticos modernos, no entanto, têm uma visão mais cínica do uso do termo "loucura" no século XVIII ao diagnosticar pacientes. Por exemplo, o psiquiatra Thomas Szasz via a ideia da loucura como arbitrária e antinatural.[6] Concordando com a posição de Szasz, o filósofo Michel Foucault enfatizou que os asilos eram usados no século XVIII para atacar pontos de vista contrários e que a ideia de loucura era um medo cultural mantido pelo público britânico, e não uma condição médica legítima.[7] Em particular, Foucault considerou o século XVIII uma época de "grande confinamento".[8] Essa descrição é consistente com os escritos de Smart, de 1760, sobre o assunto em que, de acordo com Thomas Keymer, "a categoria de loucura é insistentemente relativizada e parece pouco mais que a invenção de uma sociedade estrategicamente preocupada em desacreditar todas as declarações ou condutas que ameaçam seus interesses e normas".[9]

O tratamento dos pacientes internados no século XVIII era simples: eles deveriam ser alimentados diariamente com uma dieta leve de pão, aveia, um pouco de carne ou queijo e uma pequena quantidade de cerveja, alimentação inadequada para atender às necessidades nutricionais diárias;[10] eles também tiveram contato negado com pessoas de fora, incluindo membros da família;[4] e eles teriam acesso negado àquilo que era considerado a causa de sua loucura (essas causas variavam de álcool ou comida a trabalho externo).[11] Se suas ações aparecessem "novamente e sem causa atribuível", então sua condição seria rotulada como loucura "original" e considerada incurável. Uma instituição como a St. Luke's, administrada por Battie, mantinha pacientes "curáveis" e "incuráveis".[12] Havia poucos lugares disponíveis para os pacientes receberem tratamento gratuito e muitos foram liberados após um ano com o intuito de abrir espaço para novas admissões.[13]

Notas[editar | editar código-fonte]

18em

  1. Smith and Sweeny 1997 p. 16
  2. Keymer 2003 p. 144
  3. Battie 1758 p. 93
  4. a b Mounsey 2001 p. 209
  5. Keymer 2003 pp. 184–185
  6. Szasz 1972 pp. xv–xvi
  7. Foucault 1989 pp. 38–64
  8. Foucault 1989 p. 6
  9. Keymer 2003 p. 183
  10. Mounsey 2001 p. 205
  11. Mounsey 2001 p. 204
  12. Mounsey 2001 p. 206
  13. Mounsey 2001 p. 207

Referências

  • Ainsworth, Edward G. and Noyes, Charles. Christopher Smart: A Biographical and Critical Study. Columbia: University of Missouri, 1943. 164 pp. OCLC 217192259
  • Anderson, Frances E. Christopher Smart. New York: Twayne Publishers, Inc., 1974. 139 pp. ISBN 0-8057-1502-9ISBN 0-8057-1502-9
  • Battie, William. Treatise on Madness. London, 1758. OCLC 181708957OCLC 181708957
  • Binyon, Laurence. "The Case of Christopher Smart". The English Association No. 90 (December 1934). OCLC 1903700OCLC 1903700
  • Boswell, James. The Life of Samuel Johnson. Ed. Christopher Hibbert. New York: Penguin Classics, 1986. ISBN 0-14-043116-0ISBN 0-14-043116-0
  • Brain, Russell, Some Reflections on Genius and Other Essays. London: Pitman, 1960. OCLC 217570OCLC 217570
  • Browning, Robert. Parleyings with Certain People. London: Smith, Elder, & Co., 1887. 268 pp. OCLC 758148OCLC 758148
  • Curry, Neil. Christopher Smart. Devon: Northcote House Publishers, 2005. 128 pp. ISBN 0-7463-1023-4ISBN 0-7463-1023-4
  • Foucault, Michel. Madness and Civilization: A History of Insanity in the Age of Reason trans. Richard Howard, London: Routledge, 1989. ISBN 0-679-72110-XISBN 0-679-72110-X
  • Guest, Harriet. A Form of Sound Words: The Religious Poetry of Christopher Smart. Oxford: Oxford University Press, 1989. 312 pp. ISBN 0-19-811744-2ISBN 0-19-811744-2
  • Hawes, Clement. Mania and Literary Style: The Rhetoric of Enthusiasm from the Ranters to Christopher Smart. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. xii, 241 pp. ISBN 0-521-55022-XISBN 0-521-55022-X
  • Hunter, Christopher. The Poems of the late Christopher Smart. Reading, 1791. OCLC 78233305OCLC 78233305
  • Ingram, Allan. Patterns of Madness in the Eighteenth Century. Senate House: Liverpool University Press, 1998. ISBN 0-85323-982-7ISBN 0-85323-982-7
  • Jacobs, Alan. "Diagnosing Christopher's Case: Smart's Readers and the Authority of Pentecost". Renascence: Essays on Values in Literature 50, 3–4 (Spring-Summer 1998): 183–204.
  • Keymer, Thomas. "Johnson, Madness, and Smart" in Christopher Smart and the Enlightenment. Ed. Clement Hawes. New York: St. Martin's Press, 1999. ISBN 0-312-21369-7ISBN 0-312-21369-7
  • Mathews. "Thin Partitions" in The Academy. Volume LX. London: Oxford University Press, 1901.
  • Mounsey, Chris. Christopher Smart: Clown of God. Lewisburg: Bucknell University Press, 2001. 342 pp. ISBN 0-8387-5483-XISBN 0-8387-5483-X
  • Piozzi, Hester. "Piozziana". Gentleman's Magazine CLXXXVI (July 1849).
  • Rieger, Branimir. Dionysus in Literature. Bowling Green: Bowling Green State University Popular Press, 1994. ISBN 0-87972-649-0ISBN 0-87972-649-0
  • Rosen, Charles. Romantic Poets, Critics, and Other Madmen. Cambridge: Harvard University Press, 1998. ISBN 0-674-77951-7ISBN 0-674-77951-7
  • Sherbo, Arthur. Christopher Smart: Scholar of the University. Michigan State University Press, 1967. 303 pp. OCLC 358625OCLC 358625
  • Smart, Christopher. The Poetical Works of Christopher Smart, I: Jubilate Agno. Ed. Karina Williamson. Oxford: Clarendon, 1980. 143 pp. ISBN 0-19-811869-4ISBN 0-19-811869-4
  • Smart, Christopher. The Poetical Works of Christopher Smart, II: Religious Poetry 1763–1771. Ed. Marcus Walsh and Karina Williamson. Oxford: Clarendon, 1983. 472 pp. ISBN 0-19-812767-7ISBN 0-19-812767-7
  • Smith, Ken and Sweeny, Matthew (editors). Beyond Bedlam: Poems Written Out of Mental Distress. London: Anvil Press Poetry, 1997. 160 pp. ISBN 0-85646-296-9ISBN 0-85646-296-9
  • Szasz, Thomas. The Manufacture of Madness. London: Paladin, 1972. OCLC 57487OCLC 57487
  • Toynebee, P. and Whibley, L. (editors) Correspondence of Thomas Gray, Ed. P. Toynbee and L. Whibley Oxford: Oxford University Press, 1935. OCLC 310472708OCLC 310472708
  • Youngquist, Paul. Madness & Blake's Myth. University Park: Penn State University Press, 1989. ISBN 0-271-00669-2ISBN 0-271-00669-2

Ligações externas[editar | editar código-fonte]