Conto do Príncipe Condenado

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O Conto do Príncipe Condenado, também referido como a História do Príncipe Predestinado, é uma história egípcia antiga datada da XVIII dinastia. Escrito em texto hierático, a narrativa sobrevive parcialmente no verso do Papiro Harris 500 e atualmente encontra-se no Museu Britânico. O papiro foi queimado em uma explosão; por causa deste dano a conclusão da história está faltando. Alguns estudiosos especulam que o final desaparecido era provavelmente feliz e que o conto poderia ser mais apropriadamente chamado "O Príncipe que foi ameaçado por três destinos" ou similar.[1]

Há dezenas de traduções desta história de uma grande variedade de estudiosos. As interpretações de Miriam Lichtheim e William Kelly Simpson da década de 1970 são ambas versões amplamente aceitas.

Sinopse[editar | editar código-fonte]

A história é a seguinte:

O rei do Egito estava muito triste por ainda não ter um filho. Ele ora aos deuses, e naquela noite sua esposa concebe uma criança. Quando seu filho nasce, as sete Hator (deusas, que pronunciam o destino de cada criança ao nascer) predizem que ele morrerá por um crocodilo, cobra ou cão. Seu pai, receoso com a segurança de seu filho, constrói um palácio isolado para o menino nas montanhas, a fim de mantê-lo afastado do perigo. O príncipe vê de seu palácio um homem com um cão. Ele pede um cachorro a seu pai. O rei cautelosamente dá ao príncipe um cão, não desejando que seu filho seja infeliz. Quando o príncipe cresce, ele decide enfrentar sua desgraça, viajando para o exterior a Nahrin. Lá ele encontra um grupo de jovens que competem pelo coração da princesa. O príncipe consegue ganhar o coração da princesa saltando (possivelmente voando) para a janela da sala onde ela está trancada. Ele não diz ao rei a verdade sobre si mesmo, mas diz que era filho de um cocheiro, e explicou que teve que sair de casa por causa de sua nova madrasta. Eventualmente, o rei concorda em deixar o príncipe disfarçado casar com sua filha, depois de ver os méritos do jovem. Depois de se casar com a princesa, ele conta a ela sobre suas três condenações. Ela insiste que ele mate o cão, mas o príncipe não pode suportar matar o animal que ele criou desde que era um filhote. Sua esposa cuida dele obedientemente, e impede uma cobra de morder o príncipe em seu sono. Assim, um de seus destinos é derrotado. Algum tempo depois, ele vai passear com seu cachorro. O cão começou a falar (possivelmente ele morde o príncipe), e disse que ele estava destinado a ser morto pelo cão. Fugindo do animal, ele corre para um lago onde é agarrado por um crocodilo que, em vez de matá-lo, pede ajuda em sua luta contra um demônio (ou um espírito de água)
É aqui que o conto é interrompido.

Significado[editar | editar código-fonte]

Esta história é um exemplo de um conto popular egípcio. Mostra a existência de tradições escritas e orais na cultura egípcia antiga. A história também enfatiza a importância do conceito de destino à sociedade egípcia. A ideia de sorte, destino ou condenação certamente desempenhou um papel integral na vida das pessoas. O conto também destaca a percepção de coragem e heroísmo. O príncipe realiza um feito de heroísmo ousado para resgatar e conquistar a princesa. Além disso, nesta história algo pode ser visto na relação entre marido e mulher. O marido é honesto com sua esposa, e ela o protege. Outro ponto importante é o fato de que o príncipe deixa o Egito e vai para o exterior buscar sua sorte. Detalha aspectos da vida do príncipe, uma vez que ele deixa sua terra natal.

Tema[editar | editar código-fonte]

Alguns de seus temas reaparecem em contos de fadas europeus posteriores.

  • O nascimento de uma criança está muito atrasado.(cf. A Bela Adormecida)
  • A morte é predita no nascimento (cf. A Bela Adormecida, O Jovem que foi Condenado a Ser Enforcado [2])
  • A tentativa de evitar a condenação por medidas de isolamento do ambiente natural (cf. A Bela Adormecida)
  • Três é o número dos perigos/tarefas que aguardam o protagonista
  • Morte da mãe, substituída por uma madrasta que odeia o(s) protagonista(s) (cf. Branca de Neve, João e Maria, Cinderela)
  • Deixando o lar para encontrar o destino/sorte
  • Escondendo a verdadeira identidade (cf. Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho[2])
  • Libertando uma princesa trancada em uma torre alta (cf. Rapunzel)[3]
  • Animais falantes (cf. A Princesa e o Sapo)
  • Uma pessoa/animal (muitas vezes desagradável) que estabelece condições para ajudar o protagonista (cf. A Princesa e o Sapo, O Anão Saltador)
  • Enganando a morte, a capacidade de superar a desgraça.

Referências

  1. Lichtheim, op.cit., p.200
  2. a b Anderson, op.cit., p.122
  3. Anderson, op.cit., p.121
  • William Kelly Simpson, ed., The Literature of Ancient Egypt: An Anthology of Stories, Instructions, and Poetry (New Haven: Yale University Press, 1973), 85–91.
  • Gaston Maspero, Popular Stories of Ancient Egypt, Kessinger Publishing 2003, ISBN 0-7661-7637-1, pp.185ff.
  • M. Lichtheim, Ancient Egyptian Literature, vol.2, (Berkeley: University of California Press, 1976), 200-203.
  • Graham Anderson, Fairytale in the Ancient World, Routledge 2000, ISBN 0-415-23702-5
  • Wiedemann, Alfred, Volksmund, Band VI. Alfred Wiedemann Altaegyptische Sagen und Maerchen", Deutsche Verlagsaktiengesellschaft Leipzig, 1906, pp. 78 – 85
  • Chris Eyre, On Fate, Crocodiles and the Judgement of the Dead: Some Mythological Allusions in Egyptian Literature, Studien zur Altägyptischen Kultur
  • Vol. 4 (1976): 104-114, consultado em 04 de fevereiro de 2017, URL: http://www.jstor.org/stable/25150002.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]